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11. Deixe De Ser Criança, Andy

Zoe não esperou um segundo antes de ir atrás de Andy. Chamou seu nome mais de uma vez, mas ele disparou escadas acima e, se a ouviu, não olhou para trás.

A mulher sentiu um misto de dor e angústia, além de uma pontada de raiva. Samira podia não ter sido sua irmã de sangue, mas ela a considerava uma tanto quanto Andy, e a perda da melhor amiga a sufocava lentamente. Ela tentara entender Andy – ele vira muito –, mas jogá-la contra a parede daquela forma, olhar em seus olhos com aquela descrença, beirava o egoísmo, senão a infantilidade.

Sua mãe estava trancada no quarto e não respondia aos chamados de ninguém, nem mesmo da filha. E ela não podia dar-se ao luxo de ignorar a violência que podiam sofrer a qualquer momento. O cianeto que Samira tomou acabou com sua vida, foi rápido, ela não sofreu como sofreria se a pegassem com vida. No entanto, ainda assim, os Corvos não eram estúpidos. Andy fugiu. E, se ao menos um deles ainda estava por lá, vivo, vagando pelas terras que tomaram por suas, iriam atrás dele até encontrá-lo. Era uma questão de tempo até acharem aquele lugar.

Zoe entrou no quarto de Andy sem bater, os pensamentos a mil. Viu o amigo transtornado, os pés batendo no chão com força ao andar, as unhas roídas em um hábito que ela achou que ele há muito tivesse deixado. Os olhos vermelhos a encararam.

– Agora não, Zoe – vociferou.

Ela não lhe deu ouvidos. Encostou a porta às suas costas.

– Você não é o único que está sofrendo com a perda dela, Andy – a mulher grunhiu entre os dentes cerrados. – Ela também era a minha irmã.

– Então por que quer jogar o sacrifício dela no lixo? – Ele parou de andar de um lado para o outro. Quis escancarar as janelas, deixar o ar entrar, abrir as portas, fazer algo para que se sentisse menos sufocado dentro daquele prédio.

Zoe ficou vermelha de ódio.

– Deixe de ser criança, Andy!

– O que q-

– Sam nos deu tempo – ela o interrompeu, os punhos cerrados –, e eu sempre serei grata por isso. Mas eles sabem que estamos perto, agora. Não são estúpidos. O quanto acham que vocês dois andaram pra ir até o IBMAL? Eles são bilhões, Andy, porra! E nós, até onde sabemos, somos menos de duas centenas. Então, engula a merda do seu orgulho e abaixe esse nariz. Eu nunca tiraria o mérito de Samira por ter nos dado mais uma chance. Mas não vamos dar descarga no que ela fez por nós.

Andy calou-se. Não esperava por aquilo. Conhecia Zoe mais da metade de sua vida, desde antes do mundo como conheciam desmoronar. Aproximou-se dela durante os anos, e sabia o quanto ela era dura na queda. Tanto quanto fora Sam. E, mesmo assim, nunca a imaginou furiosa daquela forma, ainda mais com ele.

O ódio de Andy apaziguou-se quando a porta se escancarou. Tanto ele quanto Zoe olharam para a figura que jazia debaixo do batente; Benji tinha o rosto choroso, o lábio inferior trêmulo, olhos marejados e uma postura que tentava mostrar-se firme, mas bambeava como se o menino estivesse com as pernas fracas.

– Ben? – Zoe chamou.

– Vocês mentiram – Benji segurou as lágrimas, mas a voz denotou o esforço que fazia para que elas não rolassem. – A Sam não foi pra campo, não é?

Zoe congelou. Não queria ter que lidar com aquilo agora. Não sabia se conseguiria.

Ela olhou para trás, para Andy, e viu-o com a boca entreaberta, os olhos petrificados.

– Querido, o que...? – Zoe tentou dizer, percebendo a incerteza na própria voz.

– O dia inteiro as pessoas tem me olhado com... com dó. E eu sei que não tem a ver comigo. Eles estão falando da Sam como se...

Benji procurou por respostas nos olhares. Elas estavam lá, tanto nos de Zoe quanto nos do irmão. As lágrimas rolaram, o corpo chacoalhava com os soluços, mas aquela vírgula de esperança no peito o fazia precisar de confirmação.

– Onde está a Sam, Andy? – Benji indagou ao irmão. Eles cruzaram olhares, enfim. Andy não sabia como fazer aquilo. Benji tremia, as mãos a segurarem no batente da porta. – Onde ela está?!

Andy retomou um choro compulsivo, uma criança que não conseguia dizer à outra que a irmã mais velha deles não voltaria.

Não foi preciso.

Os joelhos de Benji foram ao chão, e ele gritou.

Andy congelou. Zoe precisava fazer alguma coisa. Ela andou a passos largos em direção a Benji, mas, antes que pudesse ao menos alcançá-lo, o garoto se levantou e, com a ligeireza que apenas ele tinha, correu pelos corredores outra vez.

– Ben, espera...

Benji deu de encontro com alguém logo antes de conseguir alcançar as escadas. Ele logo identificou o cheiro de segurança e conforto quando Raquel envolveu-o com os braços.

Zoe viu-os. A mãe finalmente saíra do quarto. E agora Benji sabia. E ela esperava, mesmo que duvidasse, de que as coisas melhorassem a partir dali.




Existe um momento enevoado entre acordar e perceber onde está.

Às vezes, Sam ficava no quarto de Zoe por horas depois de anoitecer. Conversavam e conversavam até que adormecessem, sem perceber. E Sam acordava no escuro da madrugada achando que estava em seu quarto, ao lado de Benji, antes de perceber que se esquecera de subir as escadas para seu colchão.

Um segundo de paz a tomou antes de abrir os olhos. Por um instante, teve certeza de que estava no seu quarto, em Pedra Branca, e que acordaria ao lado do irmão mais novo, pronta para mais um dia.

Quando entreabriu as pálpebras, a paz de outrora fora quase torturante. Estava longe de casa, e sabia que não iria mais voltar.

Samira sentiu o peso do corpo pendurado pelos punhos no encanamento, a dor das farpas do sisal arranhando sua pele em carne viva. Ela ajeitou o tronco, sentando-se no chão insalubre daquela prisão. Os movimentos eram vagarosos, como se seu corpo estivesse acordando por partes. Quando se sentou, a perna gritou, e ela engoliu um gemido agudo de dor. Sam olhou para baixo, para onde esperava encontrar a perna fatiada. Espantou-se ao ver uma faixa envolvendo-a, estancando o sangramento. Estava ensopada com seu sangue, e Samira deixou uma exclamação de pesar escapar. Ela esperava que morresse logo, que sangrasse até a morte. Mas, não. Até isso a negaram. Iriam rasgá-la e remendá-la outra vez, o quanto fosse preciso, até ela abrir o bico.

– Por quê?

Ela assustou-se com a voz. Os olhos vagaram em volta da sala até pararem bem à sua frente. Do outro lado do recinto o dono dos olhos azuis a encarava, agora com as orbes bem abertas, as sobrancelhas arqueadas em dúvida e incredulidade.

– Por que fez isso? – ele repetiu, e Sam distinguiu a voz grave e rouca do homem pela primeira vez.

À princípio, não entendeu. Um instante depois, entretanto, ligou os pontos. Ela o defendeu quando ele era apenas um moribundo mergulhado no próprio sangue e vômito. E, por isso, fora ela quem sofrera nas mãos do coronel.

– Estamos quites – Sam murmurou. Um último débito pago antes de morrerem.

Olhos azuis trêmulos a fitavam, descrentes, e Sam estava desconfortável com aquela visão.

– Eu ouvi tudo – o homem disse, quase uma confissão.

Samira sabia que fora levada apenas à sala ao lado. O som devia ter sido facilmente reverberado pelas paredes, escorrido por debaixo da porta. Então, aquela foi a tortura dele. Ouvi-la. Ouvir Samira gritar, implorar por misericórdia, e saber que logo seria ele.

O homem abriu a boca para dizer algo mais, mas logo a calou. Bom, Sam pensou. Não aguentaria ouvir que ele sente muito.

Ela encostou a cabeça na parede, o olhar morto fitando a perna que latejava.

– Eles não vão nem nos deixar morrer em paz – murmurou, não sabendo de onde vinha aquilo. Talvez precisasse de mais palavras trocadas com alguém enquanto ainda estavam sãos.

O homem a olhava do outro lado da sala, o tronco inclinado para frente como se quisesse poder fazer algo por ela, nem que fosse estar mais perto.

Samira finalmente conseguiu olhá-lo com calma. Tinha tantas perguntas, mas sabia que provavelmente estavam sendo ouvidos e que era melhor que nenhuma delas fosse respondida. Mas, de onde ele veio? Teriam outros sobreviventes por aí, vivendo próximos deles? Como? Onde? Enquanto pensava, o estudava. Os cabelos castanhos eram um emaranhado de ondas. Ele exibia um tronco esguio e definido por debaixo da camiseta preta. Ele parecia estudá-la também. Sam tentou imaginar o quanto estava destruída.

– Não vamos morrer aqui – ele murmurou, e a frase machucou a mulher. Ela já aceitara aquela realidade, porque ele insistia? Sam estava convicta desde que acordara outrora, antes de tentarem arrancar dela as informações que ela guardava a sete chaves. E não sabia se sentia pena por ele pensar assim, ou cólera por ele tentar lhe dar esperanças.

– Caia na real – ela detestou ser estraga-prazeres –, nós vamos.

Ele abriu a boca para contestá-la, mas não pôde dizer nada antes da porta se abrir. Um gélido arrepio subiu pela espinha dos dois.

Seis soldados entraram pela sala, mas não exibiam mais a postura de antes. Eram de patente mais alta, tanto Sam quanto o homem à sua frente perceberam.

Eles olharam para o dono dos olhos azuis. É isso, Samira pensou. Vão matar suas esperanças também.

No entanto, entre eles, Samira distinguiu um deles a olhar para ela. Era ele, o sargento em que ela cuspiu no rosto, que a arrastou pelos cabelos até a sala ao lado. Que a olhou com a mesma maldade que olhava agora. Ele deu um passo à frente, e a mulher esqueceu como se respirava.

– Levem ele pro coronel – sua voz ordenou para três deles, a cabeça apontando para o homem de olhos ordinários. – Eu tenho um assunto pra tratar com essa aqui.

Ele tornou a olhá-la, e Samira congelou. Os olhos arregalaram de medo, e as lágrimas tornaram instantaneamente. Passaria milhares de vezes pelo que passou nas mãos do coronel, mas não pelo que viria. O sargento desabotoou as calças, e Sam desabou em um choro assustado antes de bater as costas na parede, tentando desaparecer dentro dela.

O homem de olhos azuis olhou dela para os sargentos, incrédulo. Pouco deu importância para os que vinham desatar seus punhos e o levar para a sala ao lado.

– Ei! – gritou. – Não encostem nela! – E percebeu que não fazia isso porque se importava com alguém que acabara de conhecer, e nem porque ela fez isso por ele, mas porque aquilo era baixo, sujo demais até para eles.

Samira gritou e esperneou. Viu os lábios implorarem para que se afastassem dela, a perna saudável chutando o ar para mantê-los longe. Em vão. Um deles cortou a corda de seus punhos e o sargento puxou-a pela perna fatiada. Sam gritou com a dor, o corpo arrastando no chão áspero até dar com as costas no chão. Três deles a olhavam de cima. Ela tentou se levantar, mas um deles lhe pisava nos cabelos.

– Acho que você é descartável para o coronel, garota – o homem murmurou, fitando-a de cima. – Então, ele me deixou brincar com você.

A sala era o caos. Samira implorava, o homem dos olhos azuis lutava, porque não conseguia conceber a ideia de vê-la passar por aquilo. Não era uma luta justa, e o som dos punhos dos soldados em seu corpo, tentando derrubá-lo, misturaram-se à atmosfera.

O primeiro sargento chutou a perna ensanguentada de Samira, e ela não pôde lutar por um segundo, mergulhada em dor. Ele aproveitou para ajoelhar sobre ela, as pernas dos lados de seus quadris, e foi para lá que as mãos sujas rumaram, apertando-lhe para senti-la, subindo e descendo por seu corpo, tateando cada curva.

Os gritos de Samira eram quase mudos de tão desesperados. Ela tentou empurrá-lo, arranhá-lo, socá-lo, mas nada o atingia. Os Corvos eram fortes, mais do que gente como ela. Então, sentiu as mãos dos outros dois em seus antebraços. Empurraram-na para o chão, e Sam sentiu o solado das botas pisarem sobre seus punhos feridos, prendendo-a ao chão. Ela bradou de dor, a física e a emocional. Se antes queria morrer, agora era uma urgência. Antes que aquilo continuasse.

Ela ouviu o homem dos olhos azuis gritar, bradar para que não encostassem nela, lutar para não ser levado também e, entre seus gritos, ouviu o sargento abaixar o rosto para perto do dela e murmurar:

– Mas eu vou poupá-la de ver o que vou fazer com você, querida – a falsa doçura em sua voz fez Samira abrir os olhos. Ela viu quando, do bolso de trás da calça, o sargento tirou uma tesoura de hastes compridas e afiadas, que reluzia à luz artificial da sala. Ele a empunhou como uma faca, e o peito de Samira subiu e desceu com força, o coração doendo de tão forte que batia. E ela lembrou-se da frase doentia daquele mesmo homem.

Eu tiraria os olhos, antes.

Não – Sam grunhiu, e ele inclinou-se sobre ela, o sorriso sádico na boca que cheirava a cigarro barato.

Ele segurou o rosto de Sam com uma das mãos, e levou a tesoura em direção aos seus olhos.

Samira gritou, esperneou, fez de tudo para soltar-se das mãos daqueles três, e perguntou-se se seria possível morrer de medo, literalmente, porque já não aguentava-o mais, e aquilo seria demais para ela. Ouvia-os rir de seus desespero, o sadismo transbordando pelas risadas, e ela não conseguia livrar-se do peso deles sobre ela.

Ela sentiu a ponta da tesoura em seu olho esquerdo e virou o rosto com força para o lado. A pele cortou, e a dor fez com que as súplicas quase a sufocassem.

– Parem! Soltem ela! – Samira ainda conseguia ouvir o homem dos olhos azuis gritar. Esperava que ele não presenciasse aquilo.

Sam debateu o rosto de um lado para o outro, os olhos bem fechados e apertados. Sentia a ponta afiada da tesoura a cortar-lhe as bochechas, as têmporas, e não sabia como fugiria daquilo. A bota que pisava em seu cabelo aproximou-se das raízes, e a dor a desconcertou, fazendo arquear o tronco para cima. Um dos sargentos ajoelhou em seu punho e segurou seu rosto com as duas mãos, firme. Ela não conseguia mais mexê-lo.

E aquele era o fim.

Ela sentiu a tesoura sobre seu olho, as hastes entreabertas procurando espaço entre as pálpebras, a aflição tomando conta de tal forma que achou que fosse desmaiar.

E talvez fosse melhor, porque não queria sentir o que fariam com ela a seguir.

Era o fim.

Sam lutou até o fim.

Quando desistiu de lutar e aceitou a dor do que viria, o som de um tiro atravessou a sala, tão próximo de sua cabeça que ela achou, por um segundo, que fosse direcionado a ela.

A sala mergulhou em silêncio, por um milésimo de instante, e Samira abriu os olhos ao sentir a tesoura cair ao lado de sua cabeça. O sargento sobre ela, que sorria ao torturá-la, já não tinha mais sorriso no rosto. Ela viu a vida escorrer daqueles olhos negros e, de orelha a orelha, viu o furo da bala, agora alojada na parede manchada de respingos vermelhos.

Demorou a entender. Os outros dois foram arrancados de cima dela. Não houve tempo de pegarem as próprias armas e logo já estavam com os miolos estourados.

Um alívio repentino a abraçou.

Alguém veio por ela.

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