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Olhos curiosos

Você abriu seus olhos pela primeira vez, eu lembro de dar um sorriso enorme e sussurrar:

_ Bem vindo ao mundo, bebê.

Depois de tanta dor e agonia, estava tão cansada, suada, descabelada, me sentia a mulher mais horrorosa da face da Terra, mas aí você chegou, esqueci de mim mesma e dei as boas vindas ao meu bebê nesse mundo. Talvez não tenha sido a melhor recepção, você chorava tanto, deve ter sido o frio aqui fora depois de nove meses em um lugar quentinho, estar pelado com certeza não ajudou nem um pouco para aliviar, ou as luzes que não tinha costume de ver pois estava no escuro desde o início, ou a separação que parece dolorosa porque éramos um corpo, você fazia parte de mim, e bruscamente, sem sua permissão, cortaram o cordão que nos unia. Eu só queria te fazer parar de chorar, mas não pude porque te levaram para outro lugar.

Foi assim que tudo começou, e coloquei em minha mente que iria te apresentar o mundo, as coisas maravilhosas que tem nele, e até outras nem tão boas assim. A primeira coisa que te apresentei foi meus seios, peguei você em meu colo e falei baixinho:

_ Ei bebê, está vendo isso? Se chama seio. Mamãe vai colocar em sua boquinha, é para que possa se alimentar e crescer bem forte e saudável.

A enfermeira olhou para mim com desdém, e afirmou:

_ Sabe que está parecendo meio esquisita, né? Ele acabou de nascer, não vai entender nada.

Ah, bebê, você nem imagina a vontade de chorar que eu senti, queria tanto dar um tapa na cara daquela mulher arrogante e dizer que nós não somos idiotas, você me entende perfeitamente e eu apenas estava conversando, foi difícil controlar a raiva.

Após um certo tempo, em silêncio fomos para nossa casa depois da alta da maternidade, e aí te apresentei ao papai. Sei que ele ficou ali do lado o tempo todo acompanhando seu nascimento, mas ele não havia te visto de verdade, ninguém entende como ele vê, não informaram nada e eu estava no meio do tumulto de modo que não pude ajudá-lo, deixando-o meio confuso. Papai não enxerga com os olhos, mas sim com os sons, cheiros e sensações.

Papai sentou na poltrona da sala, eu coloquei você deitado em seu colo, peguei as mãos dele e fui te apresentar por meio do toque:

_ Amor, essa aqui é cabecinha do nosso bebê, ele quase não tem cabelo mas um dia terá. Olhe, isso são as mãozinhas, bem pequenas, né? Ele está usando um macacão azul felpudo, com desenho de nuvens brancas, e aqui são os pezinhos.

_ Papai gostou de te conhecer e já te ama muito, bebê _ ele disse, sorrindo.

Essas foram as primeiras apresentações, mas vieram muitas outras conforme você crescia, e apresentar o mundo era uma tarefa tão prazerosa que eu não conseguia parar. Seus olhos sempre foram grandes e observadores, olhando para todos os lugares, ávidos por visualizar novidades, e você sorria quando eu mostrava algo diferente.

Você havia começado a engatinhar, o que deixava sua vovó meio preocupada porque seu pai não te via e poderia acontecer algum acidente caso eu não fosse atenta. Um dia você descobriu a tomada, dois buraquinhos chamativos na parede, deve ter se perguntado o que tinha nos buraquinhos e pra quê servia, estendeu o dedinho e quase enfiou ali, mas te peguei à tempo e comecei a falar:

_ Bebê, é perigoso, você pode se machucar. Certas coisas não é bom testar dessa forma, entende?

Não, você não me entendeu, pois havia iniciado um choro insistente, queria porque queria conhecer cada pedaço daquela tomada, e aí te apresentei a frustração:

_ Sabe por que está chorando, bebê? Isso é frustração, um sentimento ruim que surge quando algo não acontece do jeito que queremos, aí ficamos chateados. A frustração pode ocorrer quando alguém impede, igual a mamãe fez te proibindo de colocar o dedinho na tomada, mas também pode ocorrer de outras formas que talvez conheça depois.

Você me olhou com aqueles olhos enormes, parecia atento às minhas palavras, e depois que percebeu que eu terminei minha explicação, você sorriu. Aquele sorriso meio banguela, mas muito fofinho que tanto aquecia meu coração de mãe.

O tempo se passou e já não era mais um bebê, havia se tornado um menino bastante agitado, quando saía da escola costumava se pendurar no papai igual a todos os outros meninos faziam, mas um dia aconteceu algo estranho para você. Seus coleguinhas corriam e seus pais conseguiam andar na direção deles e pegar seus filhos no colo, aí você decidiu fazer o mesmo, mas seu pai não andou na sua direção, você não parou de correr e bateu a cara na parede.

Lembro que meu menino chorou bastante, e entre os soluços disse:

_ Eu me machuquei! Por que o papai não me segurou?

Jamais havia pensado na possibilidade de que você não soubesse a resposta, a mim parecia óbvio que seu papai era diferente dos demais papais, mas você estava em choque, completamente confuso e chorando de tristeza e de dor por ter ido de encontro à parede, a tristeza pela suposta rejeição naquele momento com certeza era maior do que a dor. E aí tive que apresentar mais uma vez você ao papai, mas dessa vez de um jeito bem diferente:

_ Filho, o papai não te viu, na verdade papai não enxerga igual eu ou você enxergamos. Já fechou os olhos? Vemos tudo preto e escuro de olhos fechados, só que papai vê desse jeito até de olhos abertos, ele é um papai diferente.

Você agora chorava mais baixinho, e tentava argumentar o abandono paterno que sentia:

_ Papai sabe quando eu estou chegando perto e diz "oi". Então como não enxerga?

_ Filho, ele enxerga, mas não com os olhos. Papai ouve o barulho de você chegando, ouve muito bem, até aqueles barulhinhos baixinhos, e ele também consegue ler um livro sem qualquer tipo de letras apenas usando as mãos. Ele enxerga com os ouvidos e com as mãos, mas como aqui na frente da escola tem muitos outros barulhos, papai ficou perdido e não conseguiu te enxergar do jeito dele.

Meu menino, que já não mais chorava pois havia enxugado as lágrimas com as mãos, agora montava um quebra-cabeça mental, decifrando o que tinha acabado de conhecer.

_ Então papai é diferente? _ você perguntou e confirmei que sim com a cabeça.

_ Mamãe, ele é que nem um super-herói? Com poderes que fazem ele ser diferente?

Eu ri da sua afirmação, sua inocência e forma de enxergar o mundo me surpreendia, e para terminar tudo respondi:

_ Depende da maneira que você vê, se quer vê-lo como um herói, ele será o seu herói.

Você olhou para seu pai com um sorriso e olhar de admiração, como se ele fosse o melhor homem de todos, um herói que o inspirava a ser um filho cada vez melhor. Foi assim que te apresentei o papai real, não mais igual a tantos existentes na porta da escola, mas sim aquele com suas diferenças e dificuldades, embora você tenha o visto como um herói.

O meu menino foi crescendo enquanto conhecia o mundo, apresentei-lhe cores, animais, números, objetos, comidas, todos os tipos de coisas.

Ainda quando era menino, uma noite estávamos em um campo, e você viu pequenas luzes entre o gramado, me puxou pelo braço e disse:

_ Mamãe! Mamãe! Olhe, as estrelas estão caindo! Podemos colocar elas lá em cima de novo?

Sua visão era tão diferente e isso me divertia, respondi-lhe:

_ Vamos observar essa estrelinha que caiu, tem uma bem ali.

Você foi correndo até o local e não encontrou a tal estrela, mas seus olhos curiosos encararam o que parecia um besouro iluminado. Então expliquei:

_ Isso aqui é um vagalume, de longe parece estrela, mas de perto vemos que não é. Acontece de nos enganarmos e nem sempre o que pensamos que estamos vendo realmente é aquilo ali.

Foi divertido ver você procurar mais e mais vagalumes entre as folhagens, estava admirado por esses bichinhos que lembram luzinhas pisca-pisca douradas de decoração natalina, ou como você havia dito, lembravam estrelas caídas.

E aí chegou o tempo em que você era um rapazinho e a mamãe se deu conta de que outras pessoas apresentavam o mundo, não apenas eu ou seus professores.

Me senti impotente porque não tinha total controle sobre você, não podia escolher suas amizades, seus sentimentos, sua personalidade. Você tinha individualidade, era um ser único e queria mostrar isso em tudo, seus gostos, roupas, os grupinhos de amigos, e isso me preocupava.

Um dia você chegou um pouco mais tarde da escola, todo sorridente, distraído, pensativo, e desconfiei de algo diferente. Não conseguia parar de pensar em inúmeras possibilidades do que poderia ter acontecido, até que naquela noite decidi perguntar para aliviar de vez minhas paranoias:

_ Filho, o que aconteceu? Mamãe percebeu que chegou mais tarde da escola.

Você pareceu tímido, ficou calado, não quis me falar nada, o que me trazia mais agonia. Eu precisava acabar com essa tensão, então falei:

_ É que vi que você estava muito feliz e um pouco distraído, queria saber o motivo disso, mas se não quiser contar hoje, tudo bem.

Meu rapazinho agora estava vermelho de vergonha. Olhando para o chão, sussurrou:

_ Mamãe, eu beijei uma garota na boca.

Deveria estar esperando um beijo nessa idade, talvez. Mas ainda assim me surpreendi, é provável que minha cara deve ter te dado tanta vontade de se esconder ou de voltar uns segundos no tempo sem ter contado isso. Acho que pouca gente diz essas coisas para os pais por esse motivo, parece um pouco constrangedor, vergonhoso, mesmo quando desejamos que eles nos ouçam e fiquem felizes conosco. Respirei fundo e comecei a falar sobre isso:

_ Que bom, parece que gostou bastante disso. Você está apaixonado por essa garota?

_ Talvez..._ pela sua resposta parecia estar confuso sobre seus sentimentos. Questionei:

_ Por que talvez? Não beijou sem gostar dela, certo?

Você simplesmente não conseguia olhar para mim, agora encarava o teto, e eu não queria te deixar desconfortável, estava prestes a sair do seu quarto e te deixar em paz, afinal não era mais uma criança. Então ouvi sua resposta:

_ Meus amigos perguntaram se eu já tinha beijado, respondi que sim, que beijei várias e que as garotas gostam de mim, essas coisas que te fazem parecer legal e popular. Mas era mentira, e então beijei a garota bem em um corredor movimentado, agora todo mundo deve estar sabendo.

Sua resposta me deixou triste, meu filho. Tive empatia pela garota, eu não gostaria que se aproveitassem de mim dessa forma, apenas para ter popularidade e aprovação de amigos. Foi aí que te apresentei algo mais complexo:

_ É melhor ficar sozinho e fazer o certo, do que ser popular fazendo coisas erradas. Você fica livre de um peso na consciência, não tem arrependimento algum quando faz a coisa certa. E não brinque com os sentimentos das garotas assim, só beije se você quiser e se realmente gostar dela. Acho que não iria querer que alguém se aproveitasse de você, te usasse para ter popularidade, e logo te descartasse feito lixo, né?

Você chorou e eu te abracei e falei:

_ Meu filho, isso se chama arrependimento. Doloroso, eu sei.

Você cresceu, e foi bastante, até levei um susto porque espichou, um estirão de crescimento do nada, e assim veio o momento mais difícil de todos na minha vida. Agora você havia se transformado em um homem.

Um dia você havia passado muito mal, tinha desmaiado, te levei ao hospital e após tantos exames, tantas saídas e entradas de consultório em consultório, a pior notícia chegou. Sabe quando tudo está perfeito, você desliza tranquilamente por um chão liso e sem obstáculos, e do nada surge um buraco? E o buraco é tão fundo que a queda parece ser infinita? Foi assim que eu me senti.

Tão jovem, inteligente, bonito. Tinha tanta coisa pela frente, tantos sonhos a realizar, mas tudo foi tirado de você. Ao se ver tão frágil, doente e sem poder agir, ia definhando a cada dia que passava, não havia mais esperanças. E aí aconteceu minha penúltima apresentação de todas, entrei no seu quarto sabendo o que iria acontecer, mas tentei agir com calma:

_ Oi, meu filho. Mamãe te ama muito, e é difícil para mim ter que te dar essa notícia...

Fui interrompida:

_ Mãe, não diga. Por favor, finja que não é real, podemos viver felizes imaginando que tudo ficará bem e que irei terminar a faculdade, irei realizar meus sonhos, dará certo.

Eu chorei, porque era complicado demais ver sua tristeza e falta de vontade de conhecer a realidade. Mas não podia te deixar viver numa ilusão, então afirmei:

_ Sua leucemia entrou em metástase, o câncer se espalhou bastante e por isso terá pouco tempo de vida segundo os médicos.

Te ver chorar desenfreadamente foi angustiante, em minha frente um homem perdia a esperança e morria lentamente. Mas não qualquer homem, pois esse homem era meu amado filho.

E pela primeira vez foi você que me apresentou algo.

_ Mamãe, essa é a vida. Com coisas boas e ruins, positivas e negativas, progressos e derrotas. Eu só quero pensar nos melhores momentos, e não ficar aqui esperando a morte chegar. Você me apresentou tantas coisas incríveis, e podemos fingir que não conheço nada, e será surpreendente e inesperado conhecer novamente como se fosse uma novidade.

Dei um abraço carinhoso, e assim que saímos daquele hospital, fomos naquele campo pela última vez. Ali vi seus belos olhos curiosos, como se retornasse à infância. Suas últimas palavras foram:

_ Olhe, mamãe! Estrelas caindo do céu.

Respondi com um sorriso:

_ São vagalumes, meu filho.

Você perseguiu os vagalumes alegremente, se cansou, pediu que voltassemos para casa pois queria um descanso.

E dormiu. Um descanso terno e cheio de paz, com um sorriso no rosto. Não sei o que estava sonhando naquela noite, mas esse sonho ainda não acabou e nunca acabará.

Talvez esteja em um sono eterno brincando com estrelas caídas.

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