IDLAH
23h23min é a hora exata que os dois rapazes alcançam o chão do estacionamento, fora da escola. Sabem disso porque não demoram em caçar algum sinal em seus celulares, enquanto se afastam das paredes do prédio.
Na realidade, não se decidem entre: pedir ajuda pelo aparelho; averiguar o perímetro para ter certeza que não há nenhuma ameaça fora do colégio; e buscar um modo rápido de se distanciar dali. Tudo isso sem ousar sequer olhar os corpos dos estudantes que caíram pela janela. Ao que parece, zublyes não são resistentes como os clássicos zumbis.
— Ainda sem sinal — revela Howard em um murmúrio, acompanhando os passos silenciosos de seu amigo pálido, o qual segue tentando abrir a porta dos automóveis espalhados sob a noite. — Não podemos sair daqui andando...
— E muito menos esperar que minha mãe venha nos buscar. — Brian se volta ao moreno magro, alteando levemente o tom do sussurro. Balança a cabeça e torna a verificar as portas, assim como faz o menor. — Tantos adolescentes desatentos e nenhum se esqueceu de fechar o carro?
— Josh Gray — pronuncia a resposta com alívio e nostalgia.
— Mas o carro do Josh nem porta te... — O jovem de cabelo platinado demora segundos, porém compreende a proposta. — Vamos procurar o dele.
“Parecer forte é uma das piores características do ser humano. Camuflar fraqueza, tristeza, medo ou dor. Sem chorar... Não podemos lamentar pela Mandy agora, não por sermos fortes, mas somente para não servirmos como gatilho à fraqueza um do outro.”
— Ali está. — O Lewis indica o conversível vermelho, então seguem juntos até o veículo caro. — Vou dar partida usando ligação direta.
— Você sabe fazer isso? — O mais novo indaga em um tom maior de surpresa do que de curiosidade.
— Nunca tentei, mas já assisti um tutorial. — Sem abrir a porta, o moço com sobrepeso entra no automóvel rebaixado que baixa um pouco mais. — Vamos ver...
Howard ignora o fato de seu amigo está desemaranhando alguns fios e também o fato de existir tutorial para isso. Então foca somente no espaço ao seu redor e em qualquer possibilidade de ameaça.
Ainda constata certa movimentação através das janelas do colégio, mesmo que a falta de energia não permita tanta visibilidade. Calcula as chances de haver mais sobreviventes.
Inesperadamente, o celular do jovem Williams começa a vibrar na mão dele, tomando toda sua atenção. Deveria apresentar também um alarme se não estivesse no modo silencioso. O que o aparelho apresenta é um chamado do aplicativo de emergência e rastreamento: idlaH.
HW: Acho que está na hora de explicar para você o surgimento deste aplicativo... Pois bem, em mais uma de minhas crises existenciais do passado, decidi que seria uma boa precaução se eu e meus amigos pudéssemos pedir ajuda de uma maneira rápida e fácil. Ou se pudéssemos, ao menos, localizar uns aos outros sem necessitar de sinal.
Por isso criei um programa de rastreamento. O que não foi tão difícil, considerando que sou filho de um analista de sistemas. Contudo, algo deu errado na programação e, por algum motivo, a imagem ficou ao contrário.
Não seria tão complicado consertar o problema, porém nós, Zumbis, vimos àquilo como algo que tornou o aplicativo único, por isto continuou assim. Foi dali que nasceu a ideia para o que deveria estar escrito na tecla que iniciaria o rastreamento.
“idlaH” foram os dígitos postos, uma vez que, de ponta-cabeça, parecem-se com: “Help!”. Em seguida, decidimos em consenso que eu deveria consertar a falha da programação, mas ainda manter os caracteres. Portanto, o que poderia ser considerado um erro, ou ainda um código, é, na verdade, apenas uma questão de perspectiva.
— Bri... — O moço de cabelo preto próximo aos ombros requisita o olhar do outro e apresenta a tela do telefone. Nela se exibem um radar azulado e uma seta da mesma cor.
— Não pode ser a Mandy, não é? — O rapaz eriça seu semblante ornado com orbes verdes e não demora em sair do carro.
— O rastreador aponta numa direção diferente da sala do jornal. — O esperançoso Williams se volta à instituição e estira um pouco as mãos que seguram o celular com cuidado. — Só pode ser ele. É o Stephan.
— O que vamos fazer? — questiona pouco após o longo suspiro de seu amigo.
— Não posso pedir que entre comigo novamente — começa o mais novo, mirando os olhos do outro —, mas eu preciso entrar lá. Continue procurando ajud...
— Como pretende ajudar ele?
— Eu não sei, porém não posso perder mais uma pessoa. — Não falta muito para que seja alcançado pelo desespero. Respira fundo. — Se ele ativou o chamado, então está vivo e precisando de mim.
— Entendo... — Por incrível que aparente ser, Brian ainda possuía um doce em seu bolso da calça, o qual ele põe na boca. Arregaça as mangas de sua camisa social preta e mostra confiança. — Vamos fazer isto juntos então.
— Você não preci...
— Vamos logo, Howard. — O moço toma a frente e segue em direção à entrada mais próxima.
O menor o segue, e vão até os poucos degraus que dão acesso ao auditório, entretanto, obviamente, a passagem está trancada por um cadeado. Aproximam-se mais da porta, e só então escutam um choro silencioso que gera curiosidade.
— Olá? — O mais velho pronuncia. Talvez apenas queira saber o que os espera após a entrada.
— Oi, precisamos de ajuda. Alguns alunos começaram a... atacar como se fossem bichos — revela como se duvidasse de sua própria fala. Realmente não é tão fácil entender tudo isto. — Nos trancamos aqui no auditório. Eles não podem nos pegar, mas esta é a única saída, e esquecemos que ela tem um cadeado por fora. Estamos presos e não conseguimos sair! Pode abrir a porta? — A chorosa voz feminina exclama em desesperação. — Por favor...
— Espera só um pouco, precisamos achar uma forma de... — a fala de Brian é interrompida pela chave que desliza por debaixo da porta e se apresenta magicamente para eles — abrir.
O platinado não demora em pegá-la e logo abre a passagem.
— Muito obrigada! — Conseguem enxergar o brilho da esperança nos olhos marejados da moça bem vestida que permanece de cócoras ao lado de outra deitada, provavelmente, desmaiada.
— Vocês estão bem? — Howard indaga enquanto seu amigo averigua o ambiente. Uma grande sala repleta de acessórios, vestimentas, enfeites, objetos, e tudo que pode ser usado em apresentações artísticas. Uma completa bagunça.
— Ela só desmaiou de cansaço, ou medo, não sei. Eu estou bem, e os outros estão lá fora, tentando manter nós todos seguros — declara indicando a porta oposta ao lado que os rapazes entraram.
Antes mesmo de olhar o que é apontado, o menor dos Zumbis verifica seu celular. O rastreamento mostra que o aparelho usado para ativar o idlaH não está tão longe, todavia afasta-se cada vez mais. Percebendo isto, ele não pensa em nada além de encontrar seu amado. Anda entre o caos artístico e atravessa a abertura, encontrando o palco do auditório mal iluminado.
— Então conseguiram abrir a porta? — interroga um dos adolescentes que se encontram sentados entre as centenas de cadeiras do recinto amplo.
Um Berseker e duas Patroas se acomodam no centro das arquibancadas vazias, enquanto mais dois rapazes da República Olímpicos permanecem próximos da porta dupla, no ponto mais longe do palco, onde Howard e Brian surgiram.
— Sim... — O Lewis afirma ao direcionar a lanterna de seu celular na direção dos jovens, cujas vistas são incomodadas pela recente luminosidade.
— Vamos sair logo deste inferno então! — comemora o jogador quando se ergue.
A dupla de atletas deixa de vigiar a entrada e segue até o grupo, da mesma maneira os dois Zumbis vão até eles.
— Mas e o Stephan? — Uma das meninas toma a atenção ao levantar, assim como a outra faz.
— O que tem o Stephan?! — Empacando logo após descer do palco, sobrepõe sua voz aquele que convive com HIV.
— Devíamos esperar por ele aqui — revela a outra moça loira ao mostrar certa curiosidade em relação à reação dele, bem como os outros mostram.
— Pra onde ele foi? — insiste nas indagações. Logo se encontram todos os sete, juntos o suficiente para que não seja mais necessário altear a voz. Cabelos bagunçados, roupas caras ensanguentadas, olhos avermelhados e semblantes aflitos.
— Ele disse que precisava salvar alguém, então saiu — resume o jogador levemente alterado pelo álcool que aparenta lutar contra seu sistema, o qual, por sua vez, lhe força a manter algum controle. — Eu mesmo não vou esperar por esse maluco suicida.
“Um dia desacreditei de sua paixão... Hoje não preciso de mais provas. Eu só necessito de você. Por favor, continue vivo.”
Howard se segura para não dizer nada e acabar atraindo abutres aos seus sentimentos, ou chamar a atenção dos zublyes fora dali. Os cinco estudantes ultrapassam os dois amigos que permanecem parados. Andam em direção ao tablado. Não podem ser julgados por desejarem apenas sair da escola o quanto antes.
— Espera, como o Golding fez isso? E o perigo lá fora? — Howard persiste ao virar-se no sentido dos adolescentes.
— Seja lá o que todos se tornaram, eles não enxergam bem neste escuro. — Apenas um dos atletas volta-se com propósito de respondê-lo. — Percebemos que, se você não atrair tanta atenção, eles não vão te atacar.
— Então é só...? — A interrogação do mais novo é cortada por um grande barulho, este se originando na sala em que são guardados os itens para apresentações.
Todos ali correm na direção do acesso que leva ao âmbito próximo do palco, no entanto, antes que ingressem ali, somente uma das moças sai de dentro e tranca a porta em total sobressalto. Descabelada e arfando, declara:
— Não podemos mais fugir por aqui.
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