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❝ CAPITULO VINTE E UM❞
vinte e um: me fez lembrar !
A NEVE CAIA SILENCIOSAMENTE lá fora, cobrindo tudo com um manto branco que parecia tão frio quanto o vazio dentro de mim. Meus passos eram pesados enquanto me aproximava do orfanato.
Quando entrei, o ambiente era pequeno e acolhedor, mas ainda assim carregado de uma tristeza invisível. No centro do quarto, entre brinquedos espalhados, um garotinho estava sentado em uma cama pequena.
Ele balançava os pés lentamente, os olhos fixos no chão.
Respirei fundo, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar. Eu me aproximei, cada passo ecoando suavemente no piso de madeira, e parei na frente dele. Ele levantou os olhos para me encarar, e eu senti meu coração apertar.
—————— Você deve ser o Cheol, não é? —————— minha voz saiu baixa, quase um sussurro.
O garotinho piscou algumas vezes, como se estivesse tentando entender quem eu era. Ele parecia desconfiado, mas também curioso.
—————— Quem é você? ————— ele perguntou, a voz tão pequena quanto ele.
—————— Você parece muito com a sua irmã, sabia? —————— eu disse, me abaixando para ficar na altura dele.
Ele inclinou a cabeça, curioso.
—————— Você conhecia ela?
Assenti, com um sorriso pequeno e doloroso.
—————— Eu era uma amiga dela.
Os olhos dele brilharam por um momento, mas logo ele perguntou, com a voz baixa: —————— E você sabe onde ela tá?
Meu coração apertou, mas respirei fundo. Me aproximei mais, estendendo a mão para segurar a dele com cuidado.
—————— Ela... teve que ir embora para um lugar muito longe. Mas ela me pediu pra cuidar de você.
Cheol olhou para baixo, os pequenos pés ainda balançando.
—————— Ela me disse que ia voltar.
—————— Eu vou cuidar de você agora, Cheol —————— ele balançou a cabeça devagar, esperando minha resposta. —————— Significa que eu vou cuidar de você a partir de agora. Vou pagar seus estudos, comprar tudo o que você quiser e garantir que você tenha tudo o que precisa.
Ele piscou, como se estivesse tentando processar tudo o que eu havia dito.
—————— E... e eu não vou ficar mais aqui?
Balancei a cabeça, sorrindo suavemente.
—————— Não, você não vai. Você vai morar em uma casa cheia de gente pra cuidar de você, com muito espaço para brincar e aprender.
Cheol olhou para mim com algo entre surpresa e esperança.
—————— Você promete?
Segurei a mão dele com mais firmeza, olhando em seus olhos.
—————— Prometo.
Ele hesitou por um instante, mas então deu um passo à frente e me abraçou, apertando-me com força.
—————— Obrigado... ————— ele sussurrou, e naquele momento, senti que, de alguma forma, estava cumprindo minha promessa a Sae-byeok.
O abraço foi interrompido pelo som pesado de passos e um leve pigarrear vindo da porta. Quando me virei, vi os homens de terno preto, alinhados e sérios, como se já estivessem ali há um tempo, apenas esperando.
—————— Senhorita Su-min ————— um deles disse com a voz firme. ————— Temos outro compromisso.
Assenti, respirando fundo e afastando-me de Cheol com cuidado. Ele me olhou confuso, como se não entendesse o que estava acontecendo.
—————— Até logo, Cheol.
—————— Até logo... ————— ele murmurou, com um pequeno aceno de volta, sem tirar os olhos de mim.
Com passos firmes, caminhei até a porta, os homens de terno me acompanhando em silêncio. Mas, enquanto atravessava o corredor, senti um peso familiar no peito.
Promessas eram fáceis de fazer, mas cumpri-las... Era isso que faria valer a pena.
( . . . )
O edifício Sky era deslumbrante, grandioso e silencioso, o elevador subiu sem emitir um som sequer, e quando as portas se abriram, me deparei com o que parecia ser um mundo isolado.
O quarto era imenso, mas vazio de vida, exceto pela cama enorme no centro, rodeada por aparelhos médicos. A janela estava coberta pela neve que caía lentamente, criando uma paisagem tranquila, embora o cenário no interior fosse tudo, menos pacífico.
Aproximei-me com passos lentos, então, na cama, vi o Il-nam Ho, frágil e pálido, deitado, com a respiração difícil.
Ele olhou para mim ao perceber minha presença, e, com um esforço, retirou a máscara de oxigênio que cobria seu rosto.
—————— Um copo de água, por favor.
Sem hesitar, fui até a mesa ao lado, peguei um copo e o enchi com água. Me aproximei dele e, com cuidado, entreguei o copo, observando seus olhos cansados enquanto ele o segurava.
Ele bebeu devagar, como se estivesse tentando absorver mais do que a água, tentando recuperar algo de si mesmo.
—————— Obrigado ————— ele disse, sua voz fraca.
—————— Você está morrendo? ————— me atrevi a finalmente perguntar.
Ele não respondeu de imediato, ao invés disso, seu olhar se desviou para a janela, para lá, para a neve caindo suavemente.
—————— Olha aquele homem lá fora, deitado na neve ————— ele começou, com a voz grave e um tom distante. ————— Já está ali há um tempo, provavelmente bêbado, mas não se mexe. Vai morrer congelado.
—————— Vai finalmente me dizer... Por que me deixou viva depois do jogo? –————— questionei, tentando segurar a emoção em minha voz.
Ele se virou lentamente, como se finalmente me notasse de novo, mas seu olhar estava duro, indiferente.
—————— O que você faria nessa situação? —————— ele perguntou, a voz arrastada pela fraqueza que sentia. —————— Ajudaria aquele pobre lixo de homem na rua, lá fora, deitado na neve?
Eu o encarei, sem hesitar.
—————— Foi por isso que você me ajudou? —————— perguntei, com o tom mais cortante que consegui reunir. ————— Você me ajudou porque sentiu pena de mim? É isso?
Ele ficou em silêncio.
Ele olhou para mim com uma expressão que era uma mistura de curiosidade e algo próximo de pena, mas eu já não sabia distinguir.
—————— Você ainda confia nas pessoas, Sumin? —————— ele perguntou, como se ele já soubesse a resposta.
Engoli em seco, mas não tive tempo de responder antes que ele continuasse.
—————— Fiquei sabendo que você aceitou a oferta para ficar na ilha. Que aceitou ser a nova sub-líder dos jogos. ————— ele fez uma pausa, inclinando a cabeça levemente, os olhos fixos nos meus. —————— E não voltou para a sua filha. Por quê?
—————— Depois de tanta morte... eu nunca mais consegui ser a mesma pessoa. Cada rosto, cada grito, cada decisão que tomei... tudo isso ainda me assombra. —————— desviei o olhar para a janela, observando os flocos de neve caindo, tentando encontrar alguma paz no caos interno que eu sentia. ————— Aminha filha ficaria mais segura longe de mim.
Ele riu baixinho, um som quase sarcástico, como se minha resposta tivesse apenas confirmado algo que ele já suspeitava.
—————— Segura longe de você? ————— ele repetiu, como se saboreasse as palavras. —————— Ou segura longe do que você se tornou?
Eu não respondi. Mas ele estava certo, eu estava doente de um sentimento sombrio dentro de mim.
—————— Você quer saber por que eu te salvei nos jogos, não é? ————— assenti, embora ele não estivesse olhando diretamente para mim. —————Foi porque... foi graças a você que eu consegui lembrar de algo que não me vinha à mente há muito tempo. Minha esposa. Você me fez lembrar dela.
Fiquei em silêncio, atordoada pelas palavras. Ele desviou o olhar para a janela, um pequeno sorriso quase imperceptível no rosto cansado.
Ele me encarou de novo, seus olhos cheios de algo que eu não conseguia nomear.
—————— Foi muito divertido jogar com você, Sumin.
Quando o relógio bateu meia-noite, o som suave das badaladas ecoou pelo quarto, misturando-se ao silêncio opressor que já preenchia o espaço. Eu observei enquanto ele fechava os olhos devagar, como se estivesse cedendo ao sono, mas não era sono.
Os aparelhos ao redor começaram a emitir um som constante. Um bip longo e contínuo preencheu o ambiente, anunciando o que eu já sabia no fundo.
Ele morreu.
Coloquei meu casaco, pronta para sair daquele lugar. Foi quando ouvi o som suave do elevador se abrindo. Virei a cabeça e vi Hwang In-ho entrar silenciosamente.
Ele parou por um momento, seu olhar indo direto para a cama onde Il-nam agora repousava, imóvel.
Parei ao seu lado, observando o rosto impassível dele enquanto encarava a cena.
—————— Você chegou tarde ————— murmurei, minha voz quebrando o silêncio pesado do quarto. ————— Ele já morreu.
In-ho não respondeu, não disse uma única palavra.
Eu dei um último olhar para ele antes de continuar meu caminho, passando ao seu lado em direção ao elevador.
Agora, eu fazia parte do jogo. Parte das mortes, das decisões cruéis que eu um dia tanto odiei. A culpa me rondaria para sempre, como um fantasma que jamais partiria.
Mas não importava mais.
Eu carregaria esse peso, como uma penitência pela vida que escolhi levar. Pelo menos, em algum lugar distante daquele inferno, Jiwoo e Sangwoo estavam juntos. Vivos. Bem.
Era uma consolação pequena, mas era a única coisa que me dava forças para seguir em frente.
Minha miserável existência continuaria, enquanto eles podiam ter a chance de recomeçar. Mesmo que o preço disso fosse minha própria alma.
FIM...
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