❝ CAPITULO DEZENOVE❞
dezenove; eu ou você !
NÓS LEVARAM PARA O CAMPO onde tudo começou, aquele campo do primeiro jogo, mas dessa vez com um peso muito maior nos ombros. A lula desenhada no chão parecia enorme, quase sufocante, com suas formas geométricas nos cercando como uma armadilha.
Gi-hun apertava a faca na mão, olhando para o chão, visivelmente lutando com a ideia do que teria que fazer. Eu podia ver o conflito em seus olhos – ele não queria fazer parte disso, mas não havia escolha.
Sangwoo, por outro lado, estava com a expressão fria, a faca firme em sua mão como se já estivesse preparado para o que viria. Ele me lançou um olhar rápido, mas não disse nada. Eu sabia o que aquele olhar significava.
Ele estava disposto a fazer qualquer coisa.
—————— Eu não sei jogar isso ————— murmurei assustada.
—————— As regras são simples ————— o guarda disse, com aquele tom indiferente que parecia zombar de nós. —————– Os jogadores em ataque devem entrar no corpo da lula, passar pela defesa e tocar a cabeça. Já o jogador na defesa deve impedir que isso aconteça, jogando os atacantes para fora do corpo da lula.
Olhei para o campo enorme à nossa frente, sentindo meu peito apertar. O desenho no chão parecia tão inocente no início, mas agora parecia o palco de uma execução inevitável.
—————— E se um dos jogadores morrer? —————— perguntou Gi-hun.
O guarda virou a cabeça lentamente em sua direção, a máscara fria escondendo qualquer traço de humanidade.
—————— Então o último jogador restante será o vencedor —————— ele respondeu, de forma seca.
Enquanto o guarda explicava as regras, eu só conseguia ouvir meu coração batendo forte. Cada palavra que ele dizia era mais um golpe.
Quando ele confirmou que apenas um jogador sobreviveria caso os outros fossem eliminados, senti meu estômago revirar.
Eu senti o sangue gelar. Me virei para Gi-hun e Sangwoo, tentando processar o que estava prestes a acontecer.
Quando deram início ao jogo, o som do apito ecoou no campo, e Gi-hun foi o primeiro a avançar, pulando com apenas uma perna até o primeiro círculo da lula.
Sangwoo estava à frente, na linha de defesa, empunhando a faca com firmeza, seus olhos fixos em Gi-hun como um predador pronto para atacar.
—————— Você lembra? ————— Gi-hun perguntou enquanto se aproximava, ofegante. —————— A gente jogava muito isso quando era criança...
Sangwoo não respondeu de imediato, mas sua postura rígida deixou claro que ele não estava interessado em nostalgia.
—————— Sabe o que acontece se eu passar essa linha? ———— continuou Gi-hun, com um tom que misturava desespero.
—————— Para com essas besteiras ——————retrucou Sangwoo.
Nesse instante, Gi-hun com um punhado de areia do chão o jogou nos olhos de Sangwoo.
—————— Filho da put! ————— gritou Sangwoo, recuando e esfregando os olhos enquanto Gi-hun aproveitava a oportunidade para avançar para o próximo círculo.
O silêncio no campo foi quebrado por um misto de gritos de frustração de Sangwoo.
A chuva começou a cair com força, transformando o campo em um mar de lama, tornando cada movimento mais difícil e pesado.
As gotas batiam no chão como pequenos tambores, mas o som das facas se chocando e dos gritos abafados de Gi-hun e Sangwoo era mais alto.
Os dois estavam encharcados, com as roupas pesando sobre os corpos exaustos. O jogo já não importava mais; a luta havia se tornado algo pessoal, visceral.
Gi-hun tentou se defender, mas Sangwoo foi impiedoso, avançando contra ele com a faca em mãos. O som da lâmina cortando o ar foi abafado pelo choque dos dois caindo no chão.
Quando ambos derrubaram as facas, a briga se tornou uma troca feroz de socos.
Em um movimento rápido, Sangwoo tirou o paletó e o enrolou em torno do pescoço de Gi-hun, puxando com força enquanto este lutava desesperadamente para respirar.
Gi-hun se debatia, tentando alcançar qualquer coisa ao seu redor. Seus dedos finalmente tocaram a faca caída na lama, e ele a segurou com todas as forças.
Num ato de desespero, ele a enfiou no braço de Sangwoo, que soltou o paletó com um grito de dor e cambaleou para trás, segurando o ferimento.
Mesmo ferido, Sangwoo voltou a avançar, chutando Gi-hun no rosto com brutalidade, fazendo-o cair pesadamente na lama.
Gi-hun cuspiu sangue, o olhar desesperado, mas determinado. Os dois estavam no limite, a luta agora mais sobre quem cederia primeiro ao cansaço, à dor, e à própria humanidade.
—————— Você lembra daqui? ————— gritou Sangwoo, a voz rouca e carregada de raiva e dor. —————— Foi aqui que tudo começou! Onde a gente jogou aquele maldito batatinha frita 1, 2, 3. Todo mundo que já pisou aqui morreu... e só sobramos nós!
Gi-hun, deitado no chão, coberto de lama e sangue, olhou para Sangwoo com ódio e lágrimas nos olhos.
—————— A gente chegou longe demais pra voltar atrás, Gi-hun! Não tem mais como! ————— gritou Sangwoo.
Antes que Gi-hun pudesse reagir, Sangwoo levantou a faca e começou a golpeá-lo. Uma, duas, três vezes, os movimentos desesperados, quase automáticos, enquanto ele gritava com cada golpe.
Gi-hun gemia de dor, tentando empurrá-lo, mas não tinha mais forças.
—————— É sua culpa! ————— gritou Gi-hun, entre soluços e gritos de dor. ————— Você matou eles... todo mundo...
O som dos golpes se misturava com o estrondo da chuva, até que Sangwoo parou, ofegante, a faca ainda nas mãos, enquanto o corpo de Gi-hun estava imóvel debaixo dele.
Eu só conseguia enxergar os olhos de Gi-hun, que me encaravam como se ele quisesse dizer algo, mas não tinha mais forças.
Ele abriu a boca, tentando falar, mas tudo que saiu foi um sussurro baixo demais para eu entender. Então, com um último suspiro, seus olhos perderam o brilho, e sua cabeça tombou de lado.
Tudo que restava agora era o silêncio da morte, misturado ao som da chuva.
————— Jogador 456, eliminado.
( . . . )
Quando me aproximei do campo e da linha de ataque, olhei para Sangwoo que se levantava deixando corpo sem vida do Gi-hun de lado. Sangwoo deu um passo em minha direção, com a faca ainda firme em sua mão ensanguentada, enquanto seus olhos me encaravam com uma mistura de raiva e algo que parecia desespero.
Eu ainda segurava a faca na mão, tremendo levemente de desespero.
—————— Ela ia morrer de qualquer jeito. —————— Sangwoo falou, ainda segurando a faca firme na mão.
—————— Ela tava viva! — eu respondi, dando um passo à frente, a chuva escorrendo pelo meu rosto. —————— Tinha como salvar ela.
—————— Por isso eu matei ela ————— ele respondeu. —————— Você ia dar a sua vida pra salvar ela. Porque você é assim. Você é ingênua. Você cairia no papo de coitadinha dela.
Fiquei em silêncio por um momento, apenas olhando pra ele. Ele respirava pesado, quase trêmulo.
—————— Você tem razão. ————— minha voz saiu baixa no começo, mas foi ganhando força. —————— Eu sou ingênua.
Ele me olhou, confuso, como se não esperasse aquilo.
—————— Fui ingênua porque caí no seu papo de coitado. —————— completei, minha voz quebrando com a dor, mas cheia de verdade.
Sangwoo se aproximou com um olhar frio, como se já soubesse o que estava por vir. Ele largou a faca dele, a mão dele se uniu à minha, pressionando a lâmina contra nossas mãos.
—————— Vamos, Su-min... ————— ele disse com uma voz carregada de desdém, mas também de uma certa resolução. ————— Eu ou você.
A chuva caía mais forte, fazendo com que tudo ao redor ficasse embaçado, como se o tempo tivesse desacelerado, a tensão nos envolvendo. Olhei nos olhos dele, tentando entender a dor por trás da crueldade, mas não consegui encontrar nada.
O que eu via era um reflexo do que ele se tornara: alguém disposto a tudo, até mesmo a destruir quem ainda tinha um pingo de humanidade.
Minha respiração ficou pesada enquanto meu corpo tremeu, não de medo, mas da necessidade de uma escolha impossível.
—————— Mata logo! ————— ele gritou, sua voz carregada de ódio. ————— Se você não me matar, eu vou ter que te matar, Su-min!
Ele balançava meu braço com violência, como se quisesse me quebrar, forçando-me a tomar uma decisão que eu não queria.
—————— Não seja fraca! ————— ele gritou, os olhos cheios de ódio. ————— Eu trouxe você até aqui, pra você viver!
A lâmina da faca tremia entre as nossas mãos, e eu continuei a olhar diretamente nos olhos dele, sem desviar, sem me deixar intimidar.
E antes que Sangwoo pudesse gritar mais uma vez. Ouvimos a faca atingir alguém, o som da lâmina entrando sobre uma pele com força. Nossos olhos se olharam arregalados de medo.
Sangwoo não sentiu dor. Eu senti.
Com a faca pressionada em cheio na cicatriz da minha cesárea. Forcei a faca na minha direção, quase como um pedido de socorro, um pedido de ajuda.
Eu lentamente caí de joelhos no chão, sentindo a dor aguda abaixo do meu estômago. Sangwoo ficou em silêncio por um momento, seus olhos arregalados ao me ver cair no chão. A faca estava em minhas mãos, a lâmina cravada com força na cicatriz, o sangue começando a escorrer.
Sangwoo se ajoelhou na minha frente, com os olhos cheios de pânico, segurou meu rosto com as mãos tremendo. Sua voz, antes firme e cruel, agora estava cheia de desesperança.
—————— Não... não, não, não... ————— ele repetia, a voz quebrando.
Eu podia sentir o calor do sangue, e a dor só aumentava. Meu corpo parecia ceder, a pressão no peito aumentando, e tudo ao meu redor se tornava cada vez mais distante.
Segurei os braços de Sangwoo com força, tentando manter a consciência, mas as palavras saíam fracas.
—————— Ta doendo... ————— eu murmurei, a voz rouca, lutando para respirar.
Ele olhou desesperado ao redor, a mão tremendo enquanto segurava a minha. Seus olhos estavam injetados de pânico.
—————— Seu filho da puta! ————— ele gritou com toda a força na direção do guarda. ————— Faz alguma coisa! Ela... ela vai morrer!
Mas ninguém apareceu. O eco do seu grito soou vazio no espaço ao nosso redor. Sangwoo me sacudia, a tensão no rosto dele transbordando em pura angústia.
—————— Su-min, não! Por favor! ————— ele implorou, tentando estancar o sangue, mas sua expressão de desespero não era suficiente para mudar a realidade da situação.
Enquanto a visão escurecia ao meu redor, o som da minha respiração ofegante e fraca era tudo o que eu conseguia ouvir.
Sangwoo ainda estava ali, segurando meu rosto, mas tudo ao meu redor parecia distante, como se eu estivesse caindo em um abismo.
—————— Cuida... da nossa filha... ————— minha voz estava falha, mas eu consegui sussurrar, sentindo as forças se esvaírem.
Eu fechei os olhos por um momento, sentindo o peso do meu corpo afundando. Mesmo em meio à dor insuportável, tentei sorrir, meu último pensamento sendo ela.
—————— Quando... quando você conhecer ela... diga... que fui pra lua ficar no seu lugar... ————— minha voz mal saia, mas o que eu sentia era um alívio estranho, como se finalmente pudesse descansar.
Sangwoo apertou meu corpo, as lágrimas caindo sem controle.
————— Não... não faz isso... Su-min! Não faz... ————— ele estava desesperado, mas as palavras não podiam me trazer de volta.
E então, tudo se apagou.
Sangwoo ficou ali, com o corpo de Su-min em seus braços, o rosto afundado no cabelo dela. Ele parecia perdido, seus gritos ecoando pelo silêncio.
Ele a apertava contra si como se pudesse trazê-la de volta, seus lábios pressionados contra a pele fria dela, um ato desesperado, um último esforço para reverter o que já estava feito.
Mas nada mudaria. O jogo tinha tirado tudo deles, e agora, ele estava sozinho.
————— Por favor, não me deixa sozinho... ————— a voz dele, quebrada e sem esperança, era tudo o que restava.
————— Jogadora 031, eliminada.
enganei vocês.
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