❝ CAPITULO QUINZE❞
quinze; ponte de cristal !

ASSIM QUE ENTRAMOS NA ENORME TENDA, todos nós olhamos ao redor, confusos e assustados. Era um espaço gigantesco, brilhando com as luzes refletidas nas superfícies de vidro a nossa frente.

A voz robótica ecoou, fria e sem emoção.

————— O quinto jogo irá começar. À sua frente, há uma ponte composta de dois tipos de blocos de vidro: vidro temperado e vidro comum. O vidro temperado pode suportar o peso de até duas pessoas. O vidro comum se quebrará com o peso de apenas uma pessoa.

Todos ficamos em silêncio.

————— Os jogadores devem atravessar a ponte em ordem numérica, começando pelo número 1. Vocês têm 16 minutos para concluir a travessia. Retirem seus sapatos imediatamente.

Um silêncio pesado tomou conta do grupo enquanto assimilávamos as regras. O jogador com o número 1, visivelmente apavorado, começou a tirar os sapatos com mãos trêmulas.

O mesmo aconteceu com todos os outros, inclusive eu. Enquanto tirava meus sapatos, olhei para Sangwoo ao meu lado. Ele parecia calmo, mas eu sabia que sua mente estava girando a mil.

O jogador número 1 subiu no primeiro bloco, hesitante, e deu o primeiro passo para a travessia.

Assim que o jogador número 1 pisou no segundo bloco, tudo aconteceu em um piscar de olhos. O vidro comum se estilhaçou sob o peso dele, e ele despencou no abismo. O som do corpo dele caindo lá embaixo, como um golpe seco que fez meu estômago revirar.

Meu coração batia tão forte que parecia querer sair do peito, e o murmúrio de choque entre os jogadores atrás de mim foi abafado pelo som de passos hesitantes da jogadora número 2, agora próximo ao início da ponte.

Antes que eu pudesse me perder no pânico, senti as mãos de Sangwoo segurando firme meus ombros.

—————— Nós vamos dar um jeito nisso. Eu vou te tirar daqui, não importa o que aconteça. Sempre dou um jeito —————— ele se inclinou levemente para mim, seu rosto próximo ao meu ouvido, e sussurrou com uma voz baixa e firme.

Eu virei a cabeça ligeiramente, encarando os olhos dele.

Ele parecia tão calmo, tão controlado, mas eu podia ver as engrenagens girando por trás daquele olhar. Sangwoo estava pensando rápido, como sempre fazia, mesmo em situações extremas como essa.

Sangwoo sempre parecia saber o que fazer. Eu só tinha que acreditar que ele sabia como passar por aquela ponte infernal.

Enquanto os jogadores à frente tentavam decidir seus passos, o caos aumentava a cada movimento errado. A número 3 hesitou por tempo demais e, ao tentar pisar no vidro, escorregou e despencou, desaparecendo no abismo.

—————— Só temos que esperar eles passarem. Assim fica mais fácil pra gente ————— Gi-hun disse tentando achar alguma esperança na situação.

—————— Não é tão simples assim ———— murmurei.

Gi-hun parou e olhou para mim com uma expressão de dúvida.

—————— O que você quer dizer com isso?

—————— Se os primeiros ficarem travados pelo medo, vão demorar tanto que o tempo vai acabar. Ou pior, eles podem se recusar a continuar. ————— Sangwoo explicou.

Eu olhei para Sangwoo, sentindo a ansiedade em cada palavra dele. Ele sempre via a situação de um ângulo mais cruel, mas também mais prático.

—————— Então o que você sugere? —————perguntei baixinho, com medo de ouvir a resposta.

Sangwoo me encarou, a expressão sombria.

—————— Se eles hesitarem por muito tempo... alguém vai ter que forçar o jogo a andar.

( . . . )

Assim que todos os jogadores estavam na ponte, eu pulei nos vidros já confirmados com cuidado, sentindo cada músculo do meu corpo tenso, e Sangwoo estava logo atrás de mim. Quando finalmente cheguei ao meio da ponte junto dos outros, o ar parecia mais sufocante.

O jogador 101 estava no início da fila, parado ele olhou para os outros jogadores, o rosto pálido de medo, e gritou.

—————— Ei seus filhos da puta! quem quiser passar, passa! Eu não vou mais!

Todos se entreolharam, o silêncio pesado apenas quebrado pelo som dos vidros estalando sob nossos pés. Foi então que a 212, atrás dele, soltou uma risada amarga e cheia de desprezo.

—————— Você é mesmo patético, sabia?

O 101 virou-se para ela, os olhos arregalados, claramente irritado, mas também apavorado.

—————— Você é um idiota, Deok-su! —————— ela gritou, as palavras afiadas como navalhas. —————— Você passa o tempo todo bancando o machão, aterrorizando todo mundo, mas quando é a sua vez de liderar, você congela feito uma criança!

Deok-su cerrou os dentes, mas não conseguiu dizer nada. Ele olhou para o vidro à frente e depois para ela, hesitando.

——————Então vai você, sua puta! Vai na frente, quero ver!

—————— Eu vou! —————— a 212 respondeu sem hesitar, o tom desafiador. Ela deu um passo em direção a ele, o olhar fixo em seus olhos.

Ele ergueu as mãos como se estivesse se rendendo.

Assim que a 212 deu o passo em direção ao vidro onde o 101 estava, ele começou a resmungar, claramente irritado e desconfiado.

——————— Escolhe direito!

Mas, ao invés de responder, ela parou bem na frente dele e, para a surpresa de todos, o abraçou forte.

——————— O que você tá fazendo?! ————— ele gritou, tentando afastá-la.

Ela sorriu com desdém, o rosto colado ao dele, e sussurrou.

——————— Eu te avisei que ia te matar, lembra?

Os olhos de Deok-su se arregalaram, o pânico estampado em seu rosto.

Antes que ele pudesse reagir, ela deu um passo para trás, levando-o com ela para o vidro a frente. Assim que os dois pisaram juntos, o vidro se partiu sob o peso deles.

O grito de Deok-su ecoou pela ponte, mas a 212 não parecia aterrorizada. Enquanto caíam, o som do vidro quebrando misturava-se ao impacto de seus corpos desaparecendo no abismo.

O silêncio que ficou depois disso era ensurdecedor. Eu me vi parada, incapaz de desviar o olhar, com o coração disparado.

Observei que só havia mais um jogador à minha frente, o 017. Enquanto eu o via hesitar, me aproximei um pouco mais, o coração batendo rápido demais.

—————— O que você tá esperando? Anda logo! —————— eu perguntei, tentando manter a voz firme, mas o nervosismo estava evidente.

Ele se abaixou, estudando o vidro à sua frente com uma expressão concentrada.

—————— Calma. Eu já trabalhei numa fábrica de vidro ————— ele respondeu, sem olhar para mim.—————— O vidro temperado, quando exposto à luz, tem uma marca leve... é quase invisível, mas eu consigo ver.

Então, com precisão, ele deu um passo no próximo vidro e... nada aconteceu. Ele acertou.

—————— Isso... ————— murmurei, seguindo atrás dele junto com Gi-hun, Sangwoo e Sae-byeok.

O 017 continuou se abaixando para examinar os vidros, e a cada vez que ele acertava, meu alívio era substituído pela pressão de que não podíamos errar de jeito nenhum.

—————— Se você sabia disso, por que não disse antes? —————— Gi-hun gritou de repente, a raiva e o desespero transparecendo em sua voz. —————— Todas aquelas pessoas morreram! Você podia ter salvado elas!

O 017 se levantou devagar e olhou para Gi-hun com uma expressão sombria.

—————— Salvar elas? ————— ele disse, com um tom amargo. ————— Vocês acham que alguém ia me ouvir? Desde que eu pisei nessa ponte, todos só queriam me empurrar pra frente como um rato de laboratório!

Ele voltou a abaixar para examinar o próximo vidro enquanto continuávamos atrás dele.

Quando chegamos ao último vidro, tudo desmoronou em segundos. As luzes que iluminavam a ponte se apagaram, deixando tudo escuro, exceto pelas luzes fracas ao longe, próximas da saída.

—————— O que aconteceu? —————— Gi-hun murmurou, a voz tremendo.

—————— Droga! ————— Sae-Byeok sussurrou, puxando o ar com força.

Olhei para o 017, que estava agachado, tentando desesperadamente enxergar os vidros.

—————— Anda logo! Qual deles é o temperado? —————— eu gritei, a respiração acelerada, eu tava começando a entrar em pânico com o tempo acabando.

—————— Eu... eu não consigo ver! Sem a luz, é impossível! ————— ele respondeu, a voz tomada pelo pânico.

—————— Isso é brincadeira?! —————— berrei, sentindo a raiva e o desespero tomarem conta de mim. —————— Você disse que sabia distinguir!

—————— Eu sabia! Com a luz! ————— ele gritou de volta, levantando-se devagar, mas incapaz de dar o próximo passo.

Olhei para trás, para Sangwoo, buscando alguma saída. Ele estava me encarando, sério e com os olhos fixos. Então murmurou baixo, quase inaudível.

—————— Faz isso.

Eu entendi imediatamente.

Pulei no vidro ao lado do 017, fazendo o coração dele disparar enquanto ele se afastava ligeiramente para manter o equilíbrio.

—————— Anda logo! Escolhe um vidro e vai! —————— eu disse, pressionando-o.

Ele balançou a cabeça freneticamente, a respiração dele agora tão descontrolada quanto a minha.

—————— Eu... eu não consigo...!

A raiva e o pânico me consumiram. Sem pensar duas vezes, coloquei as mãos nas costas dele.

—————— Vai logo, porra!

Empurrei o 017 com toda a força que eu tinha. Por um segundo, o tempo pareceu parar. Ele tentou se agarrar ao ar, os olhos arregalados, mas não houve nada que o salvasse.

O vidro comum se partiu, e o grito dele ecoou pela ponte antes de ser silenciado pelo som do impacto no chão.

————— Anda logo! ————— Sangwoo gritou atrás de mim.

Tremendo, pulei para o vidro restante, agora sabendo que era o temperado. Gi-hun, Sangwoo e Sae-Byeok me seguiram rapidamente, e juntos finalmente atravessamos o fim da ponte.

Assim que chegamos ao final da ponte, o alívio mal teve tempo de se instalar. Tudo aconteceu rápido demais.

Um som estrondoso preencheu o ar. A ponte atrás de nós começou a explodir, pedaço por pedaço, lançando estilhaços de vidro em todas as direções.

Os pedaços brilhantes cortavam o ar como lâminas, indo em nossa direção. Meu instinto foi me encolher, mas antes que eu pudesse reagir, senti Sangwoo puxar meu braço.

Antes que eu percebesse, estava encolhida entre seus braços, o rosto pressionado contra o peito dele enquanto ele se inclinava para me proteger.

Os estilhaços vieram como uma chuva mortal, cortando o ar ao nosso redor. Senti o impacto no corpo dele, o som dos vidros batendo e arranhando como algo distante.

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