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❝ CAPITULO TREZE ❞
treze; um jogo injusto !
ASSIM QUE O JOGO COMEÇOU fomos separados em diferentes vielas, cada uma montada para parecer uma réplica perfeita de um bairro, como aqueles onde crianças brincávamos no fim de tarde. Portões falsos, paredes descascadas.
Eu e o 062 paramos ao lado um do outro, tentando entender o que estava por vir. Logo, um guarda triângulo se aproximou e nos entregou um pequeno saco com dez bolinhas de gude para cada um.
—————— Você sabe jogar? ————— perguntou o 062, com um sorriso nervoso, olhando para as bolinhas na palma da mão.
—————— Já vi os garotos do meu bairro jogando, às vezes ————— respondi, lembrando que sempre eles apostavam doces e moedas.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a voz mecânica preencheu o ambiente.
—————— Cada jogador recebeu dez bolinhas de gude. Seu objetivo é usar essas bolinhas para vencer o seu oponente. Quem obtiver todas as bolinhas do adversário será declarado vencedor. O tempo limite para o jogo é de 30 minutos. Jogadores que não completarem o desafio dentro do prazo serão eliminados. Boa sorte.
Olhei para o 062, esperando que ele dissesse algo, mas ele parecia tão chocado quanto eu.
—————— Que merda... —————— murmurei, sentindo um peso no peito. —————— Então a gente vai ter que jogar um contra o outro.
Ele engoliu em seco, os olhos ansiosos e as mãos tremendo ligeiramente. Não disse nada. Me sentei no chão, com as bolinhas ainda no saco, tentando pensar em qualquer estratégia.
Afinal, não havia como os dois saírem vivos dali.
Assim que fizemos o desenho no chão, delineando um pequeno círculo para jogar as bolinhas de gude, eu respirei fundo, tentando manter a calma diante da situação.
—————— Estratégico com recursos limitados—————— falei, tentando parecer segura de mim mesma, embora a adrenalina estivesse a mil. ———— Vamos jogar assim.
O 062 me olhou, surpreso.
—————— Você sabe fazer isso? ————— perguntou, claramente duvidando da minha ideia.
—————— Fui a primeira da classe na minha sala de economia ————— respondi, sentindo uma pontada de orgulho. Não era mentira. ————— E fui estagiária de administração de contas por dois anos. Então, sim, sei o que estou falando.
Ele parecia mais desconcertado agora, mas logo acenou com a cabeça, começando a entender onde eu queria chegar.
Ele pensou por um momento e então assentiu.
—————— Isso faz sentido ————— disse, ainda meio inseguro, mas agora com uma pitada de esperança na voz.
Eu sorri, sem muita confiança, mas era o melhor plano que eu tinha no momento.
Cada bolinha que caía no chão fazia meu coração acelerar. Eu sabia que a estratégia que havíamos usado não era infalível, e logo percebi que perder algumas das bolinhas era inevitável.
Enquanto tentávamos pegar as bolinhas um do outro, não pude deixar de falar. Precisava fazer ele desistir.
—————— O que você vai fazer se ganhar? —————— perguntei, sem esconder um certo cansaço na voz, enquanto observava atentamente as bolinhas no chão.
O 062 olhou para mim, o olhar sério. Ele pensou por um momento antes de responder.
—————— Reconquistaria a minha ex esposa —————— disse, com uma expressão de determinação. —————— Faria qualquer coisa para ter ela de volta. Ela e o meu filho. Eu preciso deles.
Ele estava jogando por amor, por uma chance de refazer sua vida. Eu, por outro lado, estava tentando sobreviver, fazer o possível para sair desse jogo, por mim e por Jiwoo.
Eu olhei para ele, respirando fundo.
—————— Deixa eu vencer. ————— minha voz saiu baixa. —————— Eu tenho um motivo maior.
O 062 ficou em silêncio por um instante, apenas olhou para mim, como se tentasse entender o que eu estava dizendo.
Eu não queria prejudicá-lo, mas sabia que a única chance que eu teria de sair viva daquele lugar seria vencendo.
O 062 parecia frustrado, sua expressão endurecendo à medida que mais uma das jogadas não dava certo. Eu via a irritação crescer nele.
—————— A chance da sua esposa querer você de volta é mínima, abaixo de 50%. ————— falei, tentando atingir o ponto mais sensível dele.
Ele me olhou com raiva, os olhos escuros fixos em mim.
————— Volta a jogar. ————— ele mandou, a voz firme, mas com um tom de desespero, como se tentasse se convencer de algo, como se precisasse focar no jogo para não perder o controle de si mesmo.
Eu estava jogando sujo, mas a situação pedia isso. Eu só tinha quatro bolinhas agora e a vitória estava se tornando cada vez mais difícil de alcançar.
Respirei fundo e, tentando alcançar o ponto mais fraco dele, falei com uma voz que não parecia minha.
————— Eu tenho uma filha. Se eu morrer, ela nunca vai superar isso. A sua ex-mulher... ela vai superar. Ela vai encontrar outra pessoa, vai seguir em frente. —————olhei para ele, tentando ver se aquelas palavras surtiam algum efeito. ————— Você precisa deixar eu vencer.
Eu podia ver que ele estava abalado, uma mistura de dor e hesitação no seu olhar.
O 062 olhou para as bolinhas, para a minha expressão, e então para o chão, como se tivesse que decidir entre o que era certo e o que sua mente estava lhe pedindo para fazer.
————— Tudo o que eu queria era ela de volta... Mas as apostas, as dívidas... eu perdi tudo... e ela ficou... cheia de dívidas... ————— o 062 disse cheio de dor e arrependimento.
Eu apertei sua mão que ainda segurava todas as bolinhas de gude, olhando nos seus olhos, eu precisava fazer ele desistir.
—————— Minha filha me ama. A sua esposa... ela não te ama mais. Não tem mais por que tentar voltar.
Ele soltou um soluço, as lágrimas caindo, e começou a chorar. Eu sabia o que ele sentia, mas não podia deixar isso me afetar. Não poderia permitir que a dor dele me paralisasse.
————— Olha... quando eu sair daqui, eu vou atrás da sua esposa. Vou pegar todas as dívidas dela, vou tentar ajudar.
Ele me olhou, ainda chorando, como se não acreditasse nas minhas palavras. Mas algo na minha voz fez ele hesitar, e ele perguntou.
————— Você faria isso mesmo?
————— Sim. Eu prometo. Me diz o nome dela, onde ela mora ————— eu concordei, sem hesitar.
Ele me olhou um momento, como se estivesse processando o que eu acabara de dizer, e então, com um suspiro, respondeu.
————— Kim Soo-yeon... de Gangnam ————— o 062 disse entre soluços, enquanto me entregava todas as suas bolinhas. Ele estava completamente destruído, a dor em seu rosto era visível, mas ele cumpriu o acordo.
Eu aceitei os sacos com as 20 bolinhas, sentindo o peso de sua derrota.
Levantei os sacos de bolinhas, caminhando até o guarda com uma expressão fria.
————— Olha, eu ganhei ———— eu disse, firmemente, mostrando os dois sacos cheios de bolinhas.
O guarda olhou para os sacos, verificou e então, com um gesto simples, eu ganhei.
Assim que o guarda confirmou minha vitória, eu me virei, tentando não olhar para o 062. Tudo que eu ouvi foi o som baixo de seu choro, ecoando na viela vazia, até que o som seco e ensurdecedor de um tiro cortou o silêncio.
( . . . )
Fui uma das primeiras a voltar para o dormitório. Assim que entrei, vi a 212 deitada em uma das camas, mexendo distraída no tecido do uniforme. Quando me viu, ela se levantou e me olhou de cima a baixo com aquele jeito provocador de sempre.
—————— Já voltou? ———— ela perguntou, com um tom irônico.
—————— Por que você ainda tá viva? ————— questionei incrédula.
Ela deu uma risada curta, jogando o cabelo para trás.
————— Os guardas falaram que eu sou uma fracote. Igual aquelas crianças que ninguém escolhe pra jogar na educação física. ————— Ela riu sozinha, debochando da situação. —————— Eles disseram que, como não tinha dupla pra mim, eu devia voltar pra cá. Tipo uma compensação, sabe? Aparentemente, eu sou tão inútil que nem valia a pena me eliminar.
Ela me olhou de cima a baixo com aquele ar debochado de sempre e soltou uma risada curta.
—————— Não acredito... Você ganhou do professorzinho? ————— ela perguntou, os olhos brilhando de provocação. ————— Não é que a vaca é esperta mesmo?
Abri a boca para responder, mas antes que qualquer palavra saísse, o som de passos interrompeu a conversa. Olhei para a porta e vi o Sangwoo entrando.
Só ele. Sem o Ali.
Meu coração deu um salto estranho, mas não era alívio. Era algo mais pesado, sufocante. Ele passou por nós sem dizer nada, com o olhar baixo, o rosto cansado.
Caminhei até o Sangwoo, hesitando a cada passo.
Ele não me olhava, apenas encarava o chão como se estivesse tentando apagar algo da memória. Quando parei ao lado dele, a pergunta escapou antes que eu conseguisse pensar.
————— O que aconteceu com o Ali?
Ele finalmente ergueu o olhar, frio, sem qualquer traço de emoção.
————— O que você acha que aconteceu? ————— respondeu, a voz baixa, quase irritada.
Minhas mãos começaram a tremer, e antes que pudesse controlar, as lágrimas começaram a cair. Sangwoo bufou, visivelmente incomodado, e falou mais firme.
————— Para com isso. Para de chorar! ————— ele me encarou irritado. ————— Você queria o quê? Que eu tivesse morrido no lugar dele? É isso que você preferia?
Eu não respondi. Não conseguia. Apenas chorei mais, tentando segurar o nó na garganta. Ele fechou os olhos por um instante, a mandíbula tensa, antes de dar um passo à frente.
De repente, senti os braços dele ao meu redor, firmes e quentes, segurando-me como se quisesse me manter inteira.
—————— Para... Por favor. Não faz isso. —————— a voz dele parecia mais baixa agora, quase um sussurro.
Continuei chorando contra o peito dele, enquanto Sangwoo não soltava o abraço, como se aquele momento fosse a única coisa que o mantinha de pé.
Não deixe flopar os comentários😭
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