❝ CAPITULO ONZE ❞
onze; conversas profundas !

                                           QUANDO VOLTAMOS, o horário da janta estava perto, cada um pegou um milho inteiro para comer e se sentamos nas escadas novamente. Assim que voltamos pro dormitório, a 212 não parava de falar.

—————— Nossa, aquela estratégia parecia aquele filme, sabe? Aquele que os caras iam pra trás... —————— disse ela gesticulando exageradamente.

—————— Matrix! ————— o 199 respondeu.

Ela virou os olhos, enojada.

—————— Você assiste filme em vez de trabalhar? Tá explicado.

—————— Ei, 218! Como você teve essa ideia genial de dar três passos pra frente? Juro que achei que a gente ia cair junto com eles! ————— se virando para Sangwoo, ela o chamou com sua voz aguda.

Antes que ele respondesse, o 199 interveio.
—————— Mas você nem achou que a ideia ia dar certo.

—————— E você achou que ia? Fica quieto! Vai ver nem deveria estar aqui. Veio ilegalmente pro país, foi? —————— a 212, visivelmente irritada perguntou pro 199.

O 199 ficou desconcertado, tentando evitar mais discussão, enquanto Sangwoo suspirava, claramente sem paciência para aquele tipo de conversa.

A 212 cruzou os braços e apontou para o 199 com um olhar de desprezo.

—————— A gente devia mesmo deixar o imigrante no nosso time? ————— disse com a voz cheia de provocação.

—————— Cala a boca. Você já tá me irritando —————— perdi a paciência na hora.

—————— Tá bom, madame sensível. Mas eu acho que tá na hora de reestruturar esse time aqui. —————— então ela virou-se para Sangwoo, com um sorriso que parecia falso. —————— Bonitão, você é o líder, não é? Fala sério.

Sangwoo a encarou sem expressão.

—————— Não tem líder aqui. Todo mundo é igual.

A 212 soltou uma risada curta e balançou a cabeça.

Sangwoo apenas desviou o olhar, ignorando as provocações dela, enquanto eu cruzava os braços, pronta para cortar qualquer outra gracinha que ela decidisse fazer.

—————— Senhora, por que o grupo do 101 te expulsou? ————— Gi-hun perguntou tentando quebrar o clima tenso.

—————— Lindo, não me chama de senhora. Pra você, é Mi-nyeon, tá? ————— a 212 lançou um olhar afiado para ele. ————— E, segundo, eu não fui expulsa. Eu que quis sair daquele time.

Ri baixo, sem conseguir me conter.

—————— Claro que quis. Eles deram as costas pra você e te trocaram por homens mais fortes. ————— apontei achando graça das mentiras dela.

—————— E você acha que eu me importo? Eles vão se arrepender, pode apostar ————— ela se virou para mim com um olhar cortante.

—————— É curioso... até parece que eles sabiam o que o jogo ia ser. ————— Sangwoo murmurou.

O comentário dele pairou no ar, deixando todos em silêncio por um instante, enquanto cada um parecia digerir a ideia.

—————— Faltam 30 minutos para as luzes se apagarem.

Olhei ao redor, sentindo o peso daquela frase. Não precisava ser dito em voz alta: todos estavam pensando na possibilidade de mais uma noite caótica.

—————— Pode acontecer outra briga. Precisamos estar preparados dessa vez. ————— Sangwoo quebrou o silêncio.

—————— Certo, vamos organizar ————— Gi-hun disse, assumindo um tom prático. —————— Vamos fazer uma barreira.

Começamos a mover as camas em um círculo apertado, criando uma espécie de fortaleza improvisada. Cada um ajudava como podia, mas o cansaço era visível em todos nós.

( . . . )

Quando as luzes se apagaram, o dormitório mergulhou em um silêncio apenas por alguns murmúrios distantes e a respiração pesada dos jogadores exaustos.

Havíamos nos dividido em duplas para nos proteger. Eu estava dormindo, mas sabia que Sangwoo e Ali tinham ficado de vigia naquela noite.

Enquanto o silêncio reinava, Sangwoo quebrou o gelo, olhando para o companheiro ao seu lado.

—————— Seu nome é Ali, certo? ———— perguntou, —————— Quantos anos você tem?

—————— Trinta e três, senhor...

—————— Pode me chamar de Sangwoo.

Sangwoo, apoiou os cotovelos nos joelhos enquanto olhava para frente. ————— Por que você está aqui?

—————— Dinheiro. Eu precisava pagar as contas... cuidar da minha esposa e do meu filho. Ele tem só um ano.

As palavras de Ali pareceram acertar algo dentro de Sangwoo. Ele ficou em silêncio por um momento, o rosto rígido enquanto processava aquilo.

—————— E como é ser pai? ————— Sangwoo finalmente perguntou. A pergunta que tava presa na cabeça dele desde a primeira vez que ouviu sobre a Jiwoo.

Ali sorriu com um brilho de orgulho nos olhos, apesar da situação em que estavam.

————— É assustador, mas é bom ao mesmo tempo, É como segurar o mundo todo nos braços e ter medo que ele quebre. Você não tem filhos?

Sangwoo hesitou antes de responder, a voz ficando mais baixa.

—————— Tenho, sim. Uma menina. ————— ele respondeu.

—————— Então você sabe do que estou falando —————— Ali abriu um sorriso caloroso.

Sangwoo não sabia. E talvez fosse isso que incomodava tanto ele.

Quando chegou a hora de trocar de turno, me levantei com o corpo ainda pesado pelo sono e me sentei ao lado do 001.

Ele estava parado, com os olhos fixos nos outros grupos que dormiam amontados, como se o caos ao nosso redor não o afetasse. Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que decidi quebrar o gelo.

—————— Sabe... o senhor me lembra um vizinho que eu tinha quando era pequena —————— comecei, sem olhar diretamente para ele.

————— É mesmo? ————— ele respondeu, com um sorriso.

Fiz uma pausa, olhando para as mãos.

—————— Ele fazia algodão doce. Sempre ficava na frente do parquinho e dava de graça pras crianças. Eu pegava vários... Mas minha mãe sempre brigava comigo porque dizia que eu não podia comer tanto doce.

—————— Sua mãe devia estar certa. Muito doce não faz bem, sabe? ————— murmurou.

—————— Acho que só vou saber quando a minha filha crescer. Tenho certeza de que ela vai gostar muito de doce também. ————— eu sorri timidamente só de pensar na Jiwoo. Ver ela crescer, e brincar.

O 001 soltou uma risada leve.

—————— Seu marido deve ser um homem de muita sorte, por você ser uma mãe tão dedicada.

Minhas mãos apertaram a barra da blusa por um instante, e meu olhar se voltou instintivamente para o Sangwoo, que estava se ajeitando para dormir um pouco mais à frente. Suspirei e voltei a olhar para o 001.

—————— Não tenho marido.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso, mas logo abriu um sorriso caloroso.

—————— É mesmo? Então eu acho que vou ter que apresentar você para um dos meus filhos.

Por um segundo, fiquei confusa, mas a forma como ele riu logo depois me fez rir também.

——————— É um bom homem. Tenho certeza de que ia gostar de você.

A risada escapou de mim, quando ele riu de volta, o som da gargalhada foi interrompido por um gemido baixo de dor.

——————— Senhor, está tudo bem? —————— perguntei, observando-o.

Ele balançou a cabeça com um sorriso cansado.
——————— Estou bem, só um pouco cansado...

Mas algo no seu rosto me dizia o contrário. Quando toquei sua testa, senti o calor intenso.

——————— Você está com febre! —————— exclamei, franzindo o cenho.

——————— Não se preocupe comigo, menina. ——————— ele tentou protestar.

Ignorei sua tentativa de minimizar a situação e me ajoelhei ao lado dele.

—————— Eu tenho uma técnica que funciona sempre. Quando a febre da minha filha sobe de madrugada, isso ajudou bastante.

O 001 apenas me observou, cansado demais para argumentar. Ajudei-o a deitar na cama e rasguei um pedaço de um dos lençóis velhos que estavam jogados por ali. Enquanto procurava uma garrafa de água.

Molhei o pedaço de pano e torci o excesso de água. Com cuidado, coloquei o tecido frio ao redor da testa e do pescoço dele. Ele fechou os olhos por um momento, aliviado pelo frescor.

——————— Agora descanse, senhor. Isso vai ajudar.

Ele abriu os olhos levemente, o sorriso pequeno ainda presente no rosto.

——————— Você realmente é uma boa mãe...

( . . . )

Enquanto eu voltava a vigiar sozinha, o silêncio do dormitório era quebrado apenas pelo som de gente dormindo.

De repente, ouvi passos suaves atrás de mim. Era Sangwoo, esfregando os olhos enquanto caminhava em minha direção.

——————— Tá sozinha? —————— ele perguntou, a voz rouca pelo sono.

——————— O 001 não tá bem. Deixei ele descansar.——————— suspirei, sem olhar diretamente para ele.

Sangwoo franziu a testa, preocupado, mas não fez mais perguntas sobre o idoso. Em vez disso, ele se sentou ao meu lado.

——————— Vou ficar acordado com você.

—————— Não. Vai dormir. Você vai precisar de energia pra amanhã. —————— eu disse, quase como uma ordem.

Ele apenas me olhou por um instante, sem dizer nada, e, em vez de responder, se acomodou ao meu lado no chão.

O silêncio não durou muito, Sangwoo se virou pra mim como se segurasse uma pergunta na ponta da língua.

—————— O que a Jiwoo gosta? —————— ele perguntou.

—————— Ela gosta de estrelas... Acho que vai ser astronauta. ——————— Eu hesitei por um momento antes de continuar.

—————— Por que?

Eu não soube o que responder, apenas me calei por um momento, meu coração apertado com a saudade que crescia. Não queria dizer pra ele, que ele, era o motivo dela gostar de estrelas.

——————— Não ferra com tudo... Por favor, Sangwoo —————— olhei pra ele, finalmente dizendo .

Senti minha mão se estender até ele, e quando ele segurou, o mundo ao redor pareceu desaparecer.

Ele não disse nada, apenas se inclinou em minha direção, seu rosto se aproximando do meu. Então, seus lábios encontraram os meus, em um beijo silencioso.

Não ferra com tudo.

Gente não deixem flopar os comentários por favor!!😭