❝ CAPITULO UM❞
um; jogos estranhos !

                                              FOI COMO SE O MUNDO se apagasse por completo e, voltasse do nada. Quando abri os olhos, me vi em um dormitório gigantesco, com camas empilhadas umas sobre as outras, formando torres de metal.

O lugar tinha uma iluminação fria e sem alma, como se estivesse em um sonho ruim do qual eu não conseguia acordar.

Havia dezenas, talvez centenas de pessoas ao meu redor. Todos usavam o mesmo uniforme verde, com números bordados no peito.

Olhei para mim mesma e vi que eu também usava um. 031.

Antes que eu pudesse me levantar ou entender o que estava acontecendo, um barulho alto chamou minha atenção. Gritos e insultos.

Um círculo de pessoas havia se formado e no meio dele, um homem enorme, com uma tatuagem de cobra que corria pelo rosto com o número 101, jogava uma garota muito menor que ele no chão como se ela fosse um boneco de pano.

A garota, com o número 067 no peito, estava caída no chão, mas mesmo assim mantinha a cabeça erguida.

————— Não acredito que dei de cara com você ————— ele cuspiu, se aproximando mais dela. ————— Eu te dei comida, uma casa... te ensinei tudo o que eu sabia... e você me traiu?

———— Você já tirou de mim muito mais do que eu te devia ———— garota limpou o canto da boca com as costas da mão.

Ele parecia ainda mais furioso, e sem hesitar, a derrubou no chão de novo, segurando-a pelo braço com tanta força que eu quase senti a dor dela.

Meu coração começou a acelerar, e por um momento pensei em intervir, mas antes que eu pudesse me mover, alguém atravessou o círculo de pessoas.

Era um homem mais velho, talvez na casa dos quarenta, com um uniforme igual ao nosso e o número 456 bordado no peito.

————— Onde está o meu dinheiro, trombadinha? ————— ele perguntou.

A 067 não recuou. Ela ainda estava no chão, mas não parecia intimidada. Mas antes que ela pudesse responder, o 101 se aproximou, o corpo tenso, a mandíbula travada, como se ele fosse pular no pescoço do 456.

————— Qual é a relação entre você e ela? ————— perguntou o 101, claramente irritado.

O 456 olhou para ele com um sorriso de desdém, como se a pergunta fosse absurda.

————— Relação? ————— riu, um riso cortante. ————— Não tenho nenhuma relação com ela. E você? Qual é a sua relação com a ela? Todo mundo aqui sabe que vocês estão roubando juntos.

O 101 ficou em silêncio por um momento, claramente abalado pela acusação.

Quando o 101 avançou para socar o 456, o ambiente pareceu congelar por um momento. Mas antes que o soco o atingisse, o 456 gritou, sua voz aguda e cheia de pânico.

————— AAAAAAH, ALGUÉM ME AJUDE! ————— ele berrou, seus olhos arregalados, como se estivesse em uma verdadeira luta pela vida. ———— ESSE BANDIDO ESTÁ TENTANDO ME BATER!

O grito dele ecoou pelo dormitório, e no mesmo instante, ouvimos o som pesado de uma porta de metal se abrindo com um rangido alto.

O pânico foi imediato, e o 456 rapidamente mudou de postura, apontando para o 101 e a 067, uma expressão de puro desespero no rosto dele.

————— TEM UM BANDIDO AQUI! ———— o 456 gritou. ————— E UMA TROMBADINHA! ESTÃO ROUBANDO AQUI, PRECISAM SER PARADOS!

O clima na sala ficou ainda mais pesado, como se uma pressão invisível tivesse se entrado no ambiente. Figuras mascaradas, com uniformes escuros e círculos grandes e distintos nas máscaras, entravam na sala.

————— Boas-vindas a todos vocês ————— o guarda com um quadrado na máscara disse. ————— A partir de agora, vocês irão participar de seis jogos durante seis dias. Aqueles que vencerem os seis jogos, ganharam um prêmio com uma quantidade exuberante em dinheiro.

A sala ficou em completo silêncio por um momento.

————— E como vamos confiar em vocês? ———— o 118 perguntou confuso. ————— Vocês nos sequestraram, pegaram nossos celulares e nossos pertences, e nos colocaram nesse lugar estranho. Por que deveríamos acreditar no que vocês estão dizendo?

O Quadrado não se abalou com a acusação.

————— Tudo será devolvido no fim dos seis jogos. Seus celulares, seus pertences... tudo. O que queremos aqui é que todos joguem de forma justa. Não há truques.

Foi quando eu, sem conseguir mais guardar a curiosidade e a angústia, levantei a mão.

————— Por que vocês usam máscaras? ————— perguntei, a voz trêmula, mas firme.

————— As máscaras são para preservar a nossa identidade ————— explicou, sem hesitar. ————— Isso garante imparcialidade nos jogos. A identidade de todos deve ser mantida em anonimato, para que o jogo seja justo.

Eu ainda sentia um nó na garganta. As respostas não eram satisfatórias, mas o que mais poderíamos fazer além de aceitar?

————— Eu não confio em vocês. ————— sua voz ecoou pelo dormitório. ————— Essas máscaras não são para garantir imparcialidade. Elas são para esconder o que estão fazendo, porque sabem que é algo ilegal.

A voz dele atravessou o silêncio como um choque direto no meu peito. Sangwoo.

Ele estava ali. Por um instante, o mundo ao meu redor parou. Eu o reconheceria em qualquer lugar, mesmo depois de tudo. Mas parecia que ele ainda não tinha me visto.

Sem hesitar, o quadrado estendeu a mão para um controle remoto preso ao uniforme e apertou um botão.

Uma tv mostrava vários jogadores jogando aquele jogo de Ddakji, o mesmo jogo que havia me trazido até ali, e pelo jeito, não só eu.

————— Jogador 218, Cho Sang-Woo, 46 anos. ————— sua voz parecia dar mais peso a cada palavra. ————— Antigo chefe da equipe da empresa Joy Investimentos. Acusado de desviar dinheiro das contas de clientes da empresa. Atualmente, deve 650 milhões de wones.

Sang-woo permaneceu imóvel, com os olhos fixos na tela, sem demonstrar nenhuma reação. Mas eu... Eu mal conseguia respirar, ele estava aqui. No mesmo lugar que eu, e é volvido na mesma situação.

O silêncio tomou conta da sala enquanto a televisão continuava a exibir mais jogadores, um por um.

————— E qual é o valor do prêmio em dinheiro? ————— 456 foi quem quebrou o silêncio com a pergunta.

Todos os olhares se voltaram para o teto, onde um enorme porco de vidro começou a descer lentamente, preso por cabos de metal.

————— Após cada jogo, o dinheiro acumulado será acumulado nesse porquinho. O valor exato será informado após o primeiro jogo ————— o quadrado apontou para o porco de vidro enquanto falava.

Houve uma pausa, e ele olhou ao redor, avaliando nossas reações. O porco brilhava, como uma promessa de riqueza que parecia tão perto.

————— Agora ———— continuou ele, a voz grave e séria. ————— Se alguém aqui não quiser participar, nos avise imediatamente.

O silêncio voltou a dominar a sala.

Olhei ao redor, esperando que alguém erguesse a mão, que alguém quebrasse aquele momento de tensão. Mas ninguém se mexeu.

Eu mesma fiquei imóvel. Eu não queria estar ali, mas também sabia que não tinha escolha. Jiwoo precisava de mim. Minhas dívidas me prendiam naquele lugar, mas o amor por minha filha me mantinha de pé.