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57 - Conflito

Antes que eu pudesse me perguntar quando eles filmaram aquilo, vi a mensagem final do vídeo. Havia a campanha e "abaixo encontrará o link da continuação desse clipe". Fiquei com cara de tacho. Suspirei e entrei em um conflito intenso. Deveria ou não abrir? Fiquei minutos nisso, até que decidi abrir. E veio outro conflito em seguida, pois o site pediu minhas informações. Por que eles precisavam do meu login? A curiosidade pela enésima vez foi mais forte, então coloquei meu nome completo e meu número de celular. Estava dentro! 

— Ethan Pearce entrou! — Vi Sean encarar a tela de um computador. Eles estavam ao vivo, parecendo esperar algo.

— Parece que existem milhões de Ethan Pearce em Toronto, porque esse é o décimo quinto de hoje. — Summer apareceu atrás dele e revirou os olhos. Eles pareciam estar dentro de uma daquelas vans de filmes de espiões. — Eu prefiro acreditar que é outro trote do que acreditar que o verdadeiro Ethan Pearce aceitou assistir a um vídeo no Youtube.

— É o número dele. — Sean disse de volta, fazendo-a encarar a tela rapidamente.

— Será que agora é de verdade? — Os olhos da garota brilharam, repletos de esperança.

— Só há um jeito de saber! — Sean levantou e pegou um violão, sendo seguido por Summer. Ela não segurava nada.

— Aceita pagar mico comigo? — Ela disse para ele, fazendo-o rir.

— Aceito, mas não vamos pagar mico. — Olhou diretamente para a câmera. — Se você for o Ethan Pearce de verdade, apareça na janela.

Pisquei. Os dois saíram da van, sendo seguidos pelo câmera. O local que apareceu era o mesmo do fim do clipe, meu prédio. Engoli em seco e caminhei até a janela, cauteloso. Vi Sean, parado lá e encarando minha janela. Ele sabia que eu estava lá! Acho até que me viu. Mas não foi isso que fez minha respiração falhar. Foi o que vi atrás dele. Summer. Aproximei-me mais da janela quando ele posicionou o violão. Summer ficou ao seu lado, claramente nervosa.

— Bem, eu nunca pensei que faria uma serenata. — Summer comentou, sendo focada pela filmagem. — Mas acho que vale a pena arriscar em nome do amor. — Ela deu um sorriso brincalhão. — Aliás, tive que deixar Owl City de lado, em nome do amor. — Riu. Ela estava parafraseando minha música! — Então tive que recorrer à outra música. — Ela acenou com a cabeça para Sean e então disse: — Essa é Scarecrow, de Alex & Sierra. 

https://youtu.be/S8R8oATk7NU

Então Sean começou a tocar uma melodia no violão. Os dois olhavam para a minha janela, provavelmente esperando que eu aparecesse por completo. Não me movi e Sean começou a cantar.

"Eu estou em pé ainda sem você

No maior vazio dos campos

Queria poder dizer o que está em minha mente"


Pisquei algumas vezes, tentando entender o que isso significava. Foi a vez de Summer.

"A palha que enche o seu coração

Para que você nunca tenha que sentir

Você diz que você só precisa de um pouco de tempo"


O quê? Sean:

"Em dias como estes

Eu enterro cada e toda palavra

E escondo elas debaixo dessas árvores solitárias"


Summer:

"A lua cheia é mau

Eu sei que você foi ferido

Eu juro que eu estou aqui para o bem, eu nunca vou partir"


Certo, agora estava fazendo sentido. Aproximei-me mais da janela, abrindo-a e fazendo-os me olharem. Summer deu um sorriso típico e eu me senti bem, mesmo sem entender muito bem o que eles estavam fazendo.

Sean: É aqui que começa hoje à noite

Summer: Se você abrir seu coração hoje à noite


E os dois se juntaram para o que era, obviamente, o refrão:

"Você está olhando pela janela

Eu estou aqui fora na rua

Você fica lá como um espantalho

Eu estou te implorando para falar

Você costumava ser minha terra firme

Agora eu estou me afogando no mar

Eu só quero acreditar em você e eu

Sim, eu só quero acreditar em você e eu"


Droga! Dá para acreditar em como isso combina com tudo? Acho que ela escolheu de propósito, pensando em todos os detalhes. Ou melhor, tenho certeza! Ela continuou:

"Você costumava ser tão cheio de vida

Não apenas uma concha vazia

Você está lá fora sozinho, eu me pergunto por que"


Ouch. Essa foi a indireta mais direta da vida. Não preciso nem explicar, não é? Sean continuou, obrigando Summer a olhá-lo:

"As peças continuam a cair

E eu as busco eu mesmo

Mas eu deixaria você roubar os botões dos meus olhos"


Confesso que fiquei um tanto quanto enciumado pelo modo que sorriam um para o outro. Precisava sair! Virei as costas e comecei a correr, saindo do meu apartamento sem sequer lembrar de trancá-lo. Não havia tempo! Corri para a parte de fora do prédio. Desci as escadas correndo, sem deixar de olhar o celular. Eles cantavam o refrão enquanto eu tentava alcançá-los. Cheguei ofegante para vê-los revesarem versos. Era bonito de se ver, mesmo levando o ciúmes em consideração.

Summer: Você disse que iria abrir para mim

Sean: Bem, nada é o que parece ser

Summer: Como posso fazer você sentir de novo?

Sean: Só você pode me fazer real novamente

Foi só então que eles me notaram. Os olhos de ambos brilharam, felizes por minha aparição. Summer se aproximou de mim enquanto cantava. Sean não deixara de cantar também. Era uma cena, no mínimo, inusitada. Ela ficou a alguns passos de mim, olhando-me como se não soubesse o que fazer. Continuou cantando. E, quando percebi que estava finalizando, cantei os últimos versos com ela.

Você está olhando pela janela
Eu estou aqui fora na rua
Você fica lá como um espantalho
Eu só quero acreditar em você e eu


E ficamos nos encarando, sorrindo, até que alguém tivesse coragem de se pronunciar.

— Oi. — Foi ela quem disse. — Eu não sei bem o que dizer. Gastei tudo com a música. — Suas bochechas ficaram de um tom rosado muito fofo. Deu vontade de apertá-la. E de fazer outra coisa.

— Então não fale nada! — Disse, enlaçando sua cintura com meu braço e beijando-a. Beijei-a com intensidade e carinho, uma mistura de saudade e desejo. Dei tudo de mim naquela demonstração de carinho, mesmo sabendo que estávamos sendo filmados e transmitidos online para quem quisesse ver. Ela fizera uma baita prova de amor e eu estava retribuindo com outra, mostrando ao mundo que estava determinado a tentar.


Eu só quero acreditar em nós.

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