51 - Fiz o certo?
Era a música Plant Life do Owl City de novo. Eu via fantasmas ao redor, um sentado de cada lado. Ou melhor, flutuando. Fantasmas não sentam, certo? Apenas assombram. E os tubarões não nadavam na pia, como na música. Os tubarões nadavam ao meu redor, junto aos fantasmas. Ou melhor, eles também eram fantasmas. Eram as mesmas pessoas. Os mesmos seres. Os que me assombravam! E eu não esperava que margaridas aparecessem do nada. Meus companheiros a matariam com toda certeza!
— Olá Ethan! — Ela disse com um sorriso torto.
— Como me encontraram?
— Temos nossos contatos. — Ele respondeu.
Ótimo. E eu tenho meu azar!
— E por que vieram aqui? — Cruzei os braços, irritado com a invasão de privacidade. Se eu não queria dizer onde estava, era porque não queria que me encontrassem!
— Viemos te ver, filho. Para ter um pouco de tempo em família. — Ele respondeu com sinceridade. Ele sempre foi o melhor dos dois. Compreensível na medida que ela deixava ele ser.
— E viemos checar se está estudando, mas já vimos que não. — Ela tinha um tom forte de reprovação.
— Eu tenho coisas a fazer em meu tempo livre. Não vivo como um condenado em minhas férias. Tenho um pouco de vida fora minhas obrigações! — Afinal, não tenho mais 8 anos, não é mesmo? Não sou mais uma criança!
— Ethan! — Ela me repreendeu com seu olhar feio, fazendo-me encolher. Odeio o poder que ela tem sobre mim! Ela não bateria em mim na frente daquelas pessoas, não é?
— Desculpe. — Murmurei.
— O que você está fazendo no hospital? — Papai perguntou.
— Estou esperando os resultados do exame de uma amiga saírem.
— Amiga, hum? — Ele me olhou de forma maliciosa, rindo em seguida. Fiquei envergonhado.
— É.
— E você anda estudando? Abrindo livros?
— Mãe, meu curso não precisa de livros.
—Sei... — Ela ignorou.
— E eu não preciso estudar nas férias!
— Com toda a dificuldade que tem...
— Querida!
— Mas é verdade!
— Ok mãe. Mais alguma recomendação cruel?
— Ethan!
— Certo, estou estudando.
— Como?
— Desenhando.
— O quê?
— Na verdade, é quem. — Dei um sorrisinho tímido e meu pai sorriu de volta.
— Está apaixonado?
— Talvez. — Tentei conter o sorriso, mas não deu ao pensar em Summer.
— E ela tem uma família bem estruturada? — Minha mãe perguntou, obviamente já querendo julgar minha musa.
— A mãe dela é muito séria e ensinou diversas coisas. — Sorri, feliz por estar sendo sincero. — E ela está lá com a filha agora.
— Ah, a sua amiga e sua paixão são a mesma pessoa? — Papai brincou e eu concordei. — Legal.
— É. — Eu estava muito envergonhado.
— E o pai dela? — Lá ia minha mãe ser inconveniente!
— Ela não tem pai. — Respondi baixinho.
— O quê?
— Ela não...
— Eu ouvi isso, Ethan! — Ela me repreendeu. — Mas o que isso significa?
— Significa que o pai dela morreu.
— Ah.
E ela ficou sem fala!
— Mas a mãe dela a criou muito bem sozinha.
— É? E com o que ela trabalha?
— Eu não sei bem.
— Não?
— Não.
— Mas a casa delas é grande? — Papai perguntou. Normal, ele é dono de uma imobiliária.
— O apartamento é pequeno, mas elas vivem bem lá.
— Entendo.
— Hum. — Eu já estava vendo eles julgando.
— Ela trabalha? — Mamãe perguntou.
— Summer?
— É o nome da garota?
— Sim.
— Então sim. Ela trabalha? — Perguntou novamente.
— Ela é voluntária em uma ONG de leitura para crianças.
— Então não trabalha. — Concluiu, desgostosa.
— O fato de ela não receber não significa que não trabalhe! Ela se dedica até mais do que quem ganha salário! — Protestei. — Além disso, ela é a melhor aluna do seu curso na faculdade. E escreve livros!
— Ah é? E posso comprar? — Papai se interessou.
— Bem... Ela não publicou.
— Certo... — Minha mãe parecia cada vez mais desgostosa. — Ethan, acho que você está muito focado na fantasia e não percebe que esse relacionamento não é prático.
Eu me levantei, irado.
— E por que não? Só porque ela não é rica como nós? Porque se preocupa em cuidar dos outros em vez de lucrar?
— Vocês moram em cidades diferentes, Ethan. — Papai tentou amenizar a gravidade dos fatos. Ela estava sendo preconceituosa e ele estava ignorando!
— Vocês também moravam! E isso não os impediu de casarem.
— Mas casamos cedo. — Lembrou.
— E daí? O que há demais nisso?
— Eu não quero que você case cedo. Não com uma menina assim.
— Quem falou de casar? — Cruzei os braços. — E mesmo que eu quisesse me casar com ela, o que me impede?
— O dinheiro. — Mamãe disse. Eu sabia! — O que te garante que ela não vai te dar um golpe da barriga para ficar com seu dinheiro?
— O caráter dela!
— Você não a conhece!
— Muito menos vocês! — Estava fulo da vida! — Não podem falar assim da única garota completamente íntegra que conheci!
— Ethan... Eu não queria falar isso, mas...
— Fala! — Desafiei-a, completamente irritado. Eu poderia explodir se não tivesse medo deles.
— Se você insistir nesse relacionamento com essa garota, farei a vida dela um inferno.
— Você não ousaria!
— Experimente me desafiar.
Eu sabia que ela estava falando a verdade. E eu sabia como seria péssimo ter minha mãe como sogra. E Summer não merecia ter meus pais como sogros. Ela merecia mais. Muito mais! Eu não poderia condená-la a isso. Mesmo que a amasse!
— Tudo bem.
Bem, há uma verdade sobre minha vida. Se você ama, deixe-a livre. Ela viverá melhor sem você. Sofrerá menos sem você.
É.
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