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38 - Esse não é o fim

Entrei em desespero. Mergulhei no exato momento em que percebi a gravidade dos acontecimentos. Poderia tê-la matado com a idiotice, mas o universo não permitiu. Peguei-a pelas costas, como sabia que deveria fazer. Puxei-a para a superfície e ela começou a tossir com força, provavelmente porque se engasgara com o susto e a água. Ela se acalmou quando a abracei por trás, apenas para começar a chorar intensamente. Ela estava péssima! E a culpa era minha! Nadei naquela mesma posição, ainda com ela de costas para mim, levando-a para a margem. Auxiliei em sua saída, logo vendo-a ficar em posição fetal, ainda chorando. Ver as lágrimas em seu rosto piorava meu estado de espírito.

— Desculpe! — Pedi, esperando que isso a fizesse parar, nem que fosse por um segundo. Lágrimas me matam, ainda mais vindo de olhos tão brilhantes. — Eu não sabia que você não sabe nadar! — Uma desculpa quase esfarrapada, exceto que era verdade. Engoli em seco. Eu estava sendo idiota! Tentei me explicar: — Pensei que, como mora em uma cidade litorânea, saberia nadar perfeitamente. — Ela fez que não com a cabeça e eu suspirei. — Desculpe!

— Não é culpa sua. — Disse, a voz fraca e baixa. As lágrimas ainda estavam presentes. Saí da piscina, sentando bem à sua frente.

— Claro que é! Eu disse que não ia te jogar!

— Não, você não tinha como saber. — Passou uma das mãos pelo cabelo, parecendo não saber bem o que falar. Não a culpo. Mas me culpo. Muito! — Eu não disse nada. Não deixei nada escapar, nem por um segundo.

— E não precisava! Quando pediu para não jogá-la...

— Ethan...

— Eu deveria ter entendido e...

— Ethan...

— Não era difícil entender...

— Ethan! — Ela aumentou um pouco a voz, justamente o que me conteve. — Está tudo bem.

Grave uma coisa: Eu odeio quando ela diz que está tudo bem, pois sei que não está. Nunca está! Ela só diz isso para me fazer parar, mas nunca significa que está tudo bem!

— Não está! Eu deveria ter te perguntado sobre isso antes! — Estava exaltado e morrendo de raiva de mim mesmo.

— Ainda pode fazer isso. — Disse, uma gota de água caiu de seu nariz, não sei se era da piscina ou de seu olho.

— Posso? — Estava inseguro quanto a isso.

— Pode.

Ela estava permitindo que minha curiosidade tomasse conta de todo o meu ser. Foi inevitável após a liberação.

— Por que não sabe nadar? — Perguntei lentamente, ansioso pela resposta.

— Por causa de meu pai. — Respondeu com a mesma velocidade, o rosto se comprimindo. 

— Como assim? — Será que eu deveria ter parado a primeira pergunta? Não sei dizer.

— É complicado...

— Entendo.

— É uma história longa.

— Não vou dormir tão cedo. — Não com minha musa chorando diante de meus olhos.

— Tem certeza? — Summer mordeu o lábio inferior.

— Absoluta. — Apesar de estar com medo do que pudesse vir.

— Bem... — Ela olhou para as mãos, como se apenas isso lhe desse coragem para continuar. — Quando eu tinha sete anos, caí em uma piscina e me afoguei. — Curta e grossa, não? Bem, estava óbvio que havia mais aí. — Achei que ia morrer, pois não sabia nadar, mas meu pai pulou o mais rápido que pôde, salvando-me. — Ela ficou em silêncio por bastante tempo, mas não sabia se poderia interrompê-lo. Ela então continuou: — Nesse dia ele prometeu que me ensinaria a nadar, mas demorou alguns meses para começar a me dar aulas. — Vi-a fechar os olhos com força. — Só nunca chegamos ao fim. — Abriu-os novamente, com lentidão. — Sabe aquela música que Frankie te mostrou, que define minha vida? — Fiz que sim com a cabeça, mas ainda assim ela completou. — This Isn't The End, do Owl City?

— Sei.

— Então... — Ela suspirou. Hesitou. E disse: — Ela meio que é real.

Ai meu Deus! Paralisei. 

— É?

— Sim. — Summer de repente pareceu achar os azulejos da piscina muito interessantes. — Um pouquinho depois de fazer oito anos, algo terrível aconteceu. — Engoliu em seco. — Sei que vai parecer mentira, já que a música é idêntica, como pode perceber já no começo. — Respirou fundo. — Sabe? "Uma garota de oito anos teve um ataque de pânico porque o pai que amava partiu e nunca olhou para trás"? — Recitou rapidamente e, mesmo sem ver que eu balançara a cabeça, continuou: — Meu pai partiu, não apenas da minha vida, mas da própria. — Fechei os olhos, sentindo sua dor imediatamente. — A música não foi feita para mim, mas, quando a descobri, decidi que poderia ser para mim. — A intensidade de suas palavras me espantou. Doía falar disso, obviamente. — Como o pai da música, ele me prometeu que ficaria bem, mesmo estando endividado até o pescoço. Eu não sabia disso na época, mas procurei saber depois de me identificar com a canção. — Ela olhou-me, os olhos repletos de lágrimas. — Ele se matou, Ethan! — As lágrimas escorreram e senti meu coração sangrar. — Não sei se com um tiro, ou cortando os pulsos, ou se jogando de um prédio... Nunca quis saber, pois isso só me faria imaginar. Mas ele se matou! E eu nunca mais tive vontade de aprender a nadar!

— Summer... — Minha voz era quase inexistente.

— Eu sempre achei que ele fora embora por minha causa, porque eu não era a filha perfeita.

— Sun... — Aquilo estava doendo mais em mim do que eu tinha imaginado.

— E demorei mais de 7 anos para descobrir a verdade! Ele não foi forte como a minha mãe! Deixou tudo nas costas dela! E ela contornou toda a situação perfeitamente! Porque é uma guerreira! — Ela estava exaltada e ainda chorava muito. Era uma cena muito dolorosa de ver. As palavras estavam me perfurando. — Mas sabe uma coisa que aprendi com o Adam? — Neguei em um movimento sutil, não tendo forças para dizer nada. — Esse não é o fim. — Apesar da mensagem positiva, ela chorou ainda mais. Deixei uma lágrima insistente descer pela maçã do meu rosto e precipitei-me para abraçá-la com força. Suas lágrimas poderiam molhar minha camiseta se ela já não estivesse molhada, mas eu não daria a mínima. Eu não dava a mínima, na verdade. Só queria reconfortar Summer e esperava que o que eu sentia por ela pudesse fazer isso. Beijei sua testa, deixando-a chorar em silêncio, sabendo que eu sempre estaria lá por ela.

E eu decidi então que, mesmo longe, arranjaria uma forma de ser seu conforto. Não importava o que viesse a acontecer. Eu sempre estaria lá por Summer, pois é o que quem se importa de verdade faz.

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*O vídeo está em inglês e mostra Adam Young explicando como e porque criou a música. Se não entenderem, posso explicar nos comentários. Espero que gostem!

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