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34 - O mel e a abelha

Summer sorriu, apesar de minha idiotice. Ela pareceu ficar envergonhada e, ao mesmo tempo, lisonjeada. Creio que mais uma parte do que outra. O sorriso dela era doce como mel e você entenderá logo porque usei tal alimento adocicado na associação. A vancouverite mexeu no cabelo, parecendo nervosa, mas não tanto quanto eu estava. Acabara de tentar conquistá-la e pareceu não dar muito certo. 

— Você nos achou como? — Perguntou, quase como se estivesse fingindo que eu não disse nada. Talvez estivesse mesmo fingindo. 

— Frankie. — Respondi como quem não queria nada.

— Esse Frankie... — Ela deu uma risadinha e olhou para os próprios pés. Havia algo de muito interessante neles. Parou de rir subitamente e pude ver uma áurea melancólica a rodear. — Você não se despediu.

— O quê? — Engoli em seco, dando uma de esquecido.

— Você não se despediu quando saiu da minha casa. — Explicou, a voz arrastada.

— Estava...

— Ocupado demais para se despedir da garota que dormiu ao seu lado durante uma noite inteira, sem segundas intenções? — Olhou-me e foi como se estivesse me dando um tiro.

— Com pressa. — Completei, sentindo-me um imbecil.

— É claro. — Riu com descrença aparente.

— Não sou muito bom com despedidas. — Defendi-me da maneira que consegui.

— Percebe-se.

— Summer...

— O que foi? — Ela cruzou os braços.

— Desculpe. — Fui sincero em minhas desculpas, mesmo sem dizer muito.

— Você se desculpa muito, mas não age da forma que deveria. 

— Desculpe se não consigo ser perfeito.

— Ninguém é perfeito, Ethan!

— Você é.

— Estou longe da perfeição. — Voltou a não me olhar.

— Por que acha isso?

— É um simples fato, Ethan.

— Não concordo. — Olhei para o lado ao perceber que a música parara. Hayden parecia não querer mais cantar sozinho.

— Não concordamos em muita coisa, não é mesmo? Talvez seja por isso que me afaste tanto. — Ouch! Essa fala dela me machucou. Senti-me um idiota completo. Talvez o fosse. — Bem, Hayden precisa de mim. — Deu um sorriso fraco e deu dois passos para trás, sem deixar de me olhar. Piscou algumas vezes antes de dizer algo, o que me indicou que ficou vários segundos ali. Ainda me olhando. Então deu um sorriso mais intenso e disse. — Talvez você consiga fazer o que quer quando eu acabar a próxima música. — Piscou, obviamente brincando. Saiu para se juntar a Hayden e meu coração de um solavanco. Ela estava falando mesmo sobre minha péssima cantada?

Deus.

Eu iria enlouquecer muito nas mãos de Summer Young. Ainda.

Então ela resolveu começar o próximo dueto, o qual disse a todo que se chamava Honey And The Bee... Adivinha de quem!? Pois é.

A melodia da música me deixou instantaneamente feliz, o que me deixou confuso. Mas não tão confuso quanto a música, a qual foi cantada por Summer e Hayden enquanto ela olhava para mim. Outra indireta? Veremos com a música. Há versos lindos e poéticos no começo, como sempre, os quais devem ser muito bem interpretados. E em seguida há um corvo e uma lavoura de feijão, melhores amigos do cara da música, mas mesmo assim ele precisa de um abraço. Bem, não sei se fez sentido, mas na minha cabeça fez. É um verso sobre um cara que até tem amigos, mas só precisa de um abraço daqueles. Há versos fofinhos e a garota começa a cantar. Ou melhor, Summer começa a cantar. Sobre ser um passarinho apaixonado pelo céu, mesmo que seja óbvio que isso não é muito para se vangloriar. Bem, eu entendo isso como ser uma pessoa apaixonada por sonhos, o que não podemos mesmo usar para nos vangloriar em uma sociedade como a nossa. 

Bem, continuando... Ela canta sobre ter provado o mel... Viu? Olha ele aí de novo! Falei que faria sentido! Enfim. Ela cantou sobre ter provado o mel, mas nunca ter visto a colmeia, o que interpreto como ver apenas o que há diante de si, sem saber a origem. E há o refrão, o qual retomarei em partes no final de minha análise. Depois Hayden cantou que "nós somos o mel e a abelha" e eu só pensei que isso não fazia sentido para eles, mas fazia para mim. Ou eu queria que fizesse. Sabe porque? Porque um quintal de borboletas o rodeavam, e ela se apaixonou por ele (espero que não por Hayden, mas sim pelo cara que ela estava encarando) como as abelhas pelo mel. Isso era brilhante! Romântico e brilhante! 

Agora a parte linda que não deixa de ser um pouquinho bizarra. Ele jurou que havia um monte de legumes do lado de fora, os quais brotam para o ar. E ainda assim ele nunca pensou que eram duas ervilhas em uma vagem, florescendo de repente. E então ele soube que sempre a amaria. Eu imagino que se descobrisse que Summer e eu somos como duas ervilhas em uma vagem, bem, eu imaginaria o mesmo. Ou melhor, saberia o mesmo. Porque ser duas ervilhas em uma vagem significa algo semelhante a ser quase inseparável, ou ter nascido para ficar juntos. E ela concorda que também sempre o amará. Isso é meio romântico. Não que eu saiba o que é romantismo. Só os filmes me dizem isso. 

E o refrão se repete algumas vezes, mas eu não me liguei muito a ele. Não até a música acabar. Eu não o entendera muito bem até chegar ao fim, na verdade. Há uma parte dele que fala sobre a possibilidade de segurar a mão da garota. Parece não significar nada, certo? Vejamos então. Durante 90% da música ele canta "se eu alcançasse sua mão os seus olhos arregalariam?", o que pode não significar nada. Só que o final muda todo meu olhar sobre ele. Há uma pequena modificação. Pequena e considerável. O verso se torna então: "E se eu alcançasse sua mão pelo resto da minha vida". 

Pelo. 

Resto.

Da.

Minha.

Vida.

Sabe o que isso significa?

Que você tem medo que os olhos dela se arregalem quando segura sua mão, pois tudo que quer fazer é segurá-la para sempre. Deixar tudo em seu corpo entregue a uma nova e intensa paixão. Ter espaço para romantizar vegetais e para falar de animais. Ter liberdade para seus sentimentos. Ter liberdade para ser o que quiser ser. É engraçado. E muito fantasioso ao mesmo tempo. Mas não deixa de ser bom.

Logo depois desse verso, Summer finalizou com "Quem sabia que o outro lado poderia ser tão verde?" e foi o que me perguntei. Quem poderia me dizer que a imaginação de uma paixão fosse tão abaixo do que poderia ser de fato? Digo, se apaixonar te leva para uma grama bem mais verde do que a que você se encontrava anteriormente. Porque sentir é muito mais do que imaginar tais sensações. E eu só queria entender uma coisa.

Será que Summer e eu poderíamos nos beijar e, em seguida, decidir se éramos mesmo como o mel e a abelha?

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