33 - Aquela música...
Eu fiz uma das coisas mais estúpidas de minha vida. Sim, sim, sei que faço muitas coisas estúpidas. Sei que sou um completo idiota às vezes, mas eu me superei. Sem sombra de dúvidas me superei! Com um maldito louvor! Quer saber como consegui essa proeza? Bem, é extremamente fácil de explicar. Eu fiquei desconfortável pelo que estava sentindo, principalmente ao ver como a vancouverite estava sendo carinhosa comigo. Fiquei sem fala, o que não é muito novo para mim, mas que agrada pouquíssimo a garota. Ouvi-a mencionar que Hayden poderia chegar a qualquer momento, pois os dois combinaram algo muito legal em público. Ela me chamou para ver, mas eu não achei uma boa ideia. A mãe de Summer apareceu. Ofereceram todo tipo simples de café da manhã. Comi um pão com presunto e queijo, depois fiz a idiotice. Dei tchau para a mãe da garota, enquanto esta estava se arrumando para o dia, e, logo em seguida, saí correndo do apartamento.
Aliás, adorei a mãe de Summer.
Só que não posso dizer muita coisa.
Ou melhor, posso. Sou um idiota!
***
Eu fiquei me odiando o resto do dia. Pensei em tudo que poderia acontecer, ou no que poderia ter acontecido. Pensei em como Summer devia estar me odiando novamente. Pensei em minha covardia. Pensei em meu conflito interno. Pensei em tudo que já fiz para ela. Pensei em tudo que ela já fez para mim. Mas, acima de tudo, pensei em qual deveria ser o combinado de Summer e Hayden. Essa definitivamente não foi uma boa ideia! Você não deve pensar na garota que deseja, muito menos quando a imagina com o outro. Eu só queria entender qual era a relação dos dois. O que eu poderia esperar dos dois? O que eu poderia esperar de mim?
Se você acha que sabe o que deve esperar de mim, acho que está muito mais atento do que eu. Não entendi o que aconteceu comigo quando, ao assistir o finzinho de Amizade Colorida (não foi uma boa ideia, considerando tudo que estava acontecendo comigo), enfiei meus tênis de qualquer jeito nos pés e, sem mais nem menos, saí correndo do Hotel. Sem rumo. Apenas eu, a rua e meu celular barulhento. Minha mãe estava me enchendo de mensagens, perguntando sobre minha localização e fazendo um longo monólogo sobre a saudade. Nem me atrevi a pensar em responder. Tinha coisas mais importantes em mente. Tinha uma pessoa mais importante em mente. Desculpe, mãe, mas não consegui controlar!
Talvez meu problema fosse justamente esse. Não saber controlar meus sentimentos. Ou minhas ações. Ou o que fosse. Eu simplesmente decidira sair, sem rumo. Bem, não completamente sem rumo. Eu tinha um rumo hipotético em mente. Soube, no momento em que virei a esquina, que estava correndo atrás de encrenca. Minha ideia nada genial era descobrir onde Summer e Hayden estavam. E o que eu faria depois? Ficaria escondido, observando o que planejaram. Na verdade, bem lá no fundo, eu desejava que o planejamento deles desse errado. E, ao mesmo tempo, eu queria que desse certo, pois assim entenderia qual o padrão das ações deles. Ou pelo menos tentaria encontrar um.
Usei de uma artimanha infalível e injusta para encontrá-los: Frankie. E ele foi ainda mais prestativo do que eu esperava. Disse o local, a hora exata e qual o motivo da surpresa. Eles mostrariam um pouco de um dos talentos de Hayden ao mundo. Franzi o cenho ao ouvir Frankie dizer isso, mesmo sabendo que ele não poderia me ver. A voz no celular foi ficando mais baixa, como se ele estivesse me contando segredos mortais. Desliguei quando considerei que conseguira informações suficientes. Depois corri de novo, dessa vez não para fugir.
Tudo aconteceu em um shopping, em uma das partes mais bonitas de Vancouver, pelo menos em minha opinião. Andei rapidamente pelos corredores, procurando os dois. Sei que poderia usar a palavra "casal" agora, mas simplesmente não soa bem. Não me contrarie, por favor! Não soa nada bem! Enfim... Não foi difícil encontrá-los, principalmente porque eles estavam em cima de um palco e, para o azar deles, a platéia não era muito grande. Talvez o azar tenha sido todo meu, já que eu pensei em me esconder. Pensei, não é mesmo? Só pensei, porque não tinha como me esconder no meio de meia dúzia de pessoas. Oh Deus, eu tinha me metido em uma furada.
Pensei isso de novo quando vi Hayden segurando um violão.
E quando vi Summer segurando um microfone.
E quando ele começou a dedilhar.
E quando ela fechou os olhos, se concentrando.
E quando ele começou a cantar.
E quando ela me viu.
Isso só pode ser carma! Eu não sabia que música eles estavam cantando, mas depois Summer me deu todas as informações possíveis. A música era, como todos devem imaginar, do Owl City e seu nome é The Saltwater Room, que, aliás, Summer depois me disse que apresenta mais de uma versão. Como poderia morrer sem saber que essa música tem duas versões, não é mesmo? A música era obviamente romântica, fator que me irritou um pouquinho. Imagine como se sentiria se visse seu rival cantando para sua pretendente! Ainda mais uma música que parecia combinar tanto comigo!
O comecinho já "mostrava" um cara que abriu os olhos, na noite passada, vendo outra pessoa na luz baixa. Dava para perceber rapidamente que a outra pessoa era uma garota, mas isso ficaria evidente mesmo sem a letra mostrar. A menção de uma praia só me fazia lembrar da minha noite anterior, aventurando-me em rochas com uma Summer Young excessivamente destemida. Ouvir Summer cantando que o tempo "juntos nunca é suficiente" fez meu estômago revirar. Mesmo que ela estivesse olhando para mim de forma carinhosa. Só porque o dueto estava sendo com Hayden. E algo como "quando estamos sozinhos, nunca me senti tão em casa"... Bem, eu quis me estrangular por enxergar tanta verdade nisso, principalmente porque sabia que o outro sentia o mesmo.
Isso é carma!
Só pode!
Eu quase repeti o que Summer cantou em uma parte, apenas porque gostaria de saber a resposta. O verso era interrogativo, perguntando ao seu par sobre "O que é preciso para quebrar este toque de amor?" ou algo assim. Isso só pode ser uma indireta! Só preciso descobrir de quem. Ou para quem. Eu concordo com Adam sobre a resposta para tudo ser o tempo, seja quanto a acabar com o toque de amor ou sobre se apaixonar. Eu não desejava o tempo todo que nos apaixonássemos, digo, eu e Summer, mas como aconteceu... Bem, prefiro que permaneça sendo o tempo todo.
Não há muito mais do que isso, creio eu, pois a atmosfera de praia e romance já diz tudo.
Ou não tudo.
Há uma coisa.
Apenas: "Se é isto que eu chamo de casa, por que me sinto tão sozinho?" ou algo assim. Nunca tenho certeza se ouvi direito, mas diz muito da mesma forma. Era só pensar na casa que eu tinha com meus pais. Ou, agora, no quarto de hotel. É bem provável que eu tenha tomado decisões tão precipitadas porque não queria ficar sozinho lá, justamente por ter percebido que me sentia ainda mais sozinho sem Summer.
Essas revelações são um inferno!
E aquela cena deles estava me fazendo lembrar da festa pós lançamento de Rebeca, um ano antes. Do karaokê entre amigos e familiares. Dos duetos que fez com Tom. Do coro para os dois se beijarem. Do beijo nojento dos dois. Só coisa ruim!
Decidi focar apenas na garota sorrindo para mim. Summer ainda cantava com o amigo, mas parecia não se dar conta do fato. Era como se ela cantasse para mim. Talvez tenha sido algo da minha cabeça, mas gosto mais de ver assim. Ou talvez fosse algo causado pela atmosfera. Eles terminaram a apresentação. Hayden deu um sorriso falso. Ele olhou em minha direção, carrancudo. Summer ainda sorria, mesmo que tivesse um leve olhar de desaprovação acompanhando. Entregou o microfone ao amigo, quase como se o estivesse abandonando. Depois virou para sair do palco, em passos pequenos e sem pressa. Foi assim que vi, pelo menos. Tudo em câmera lenta. Talvez fosse mais um surto meu, mais uma alucinação. Eram várias as possibilidades, mas eu preferia ser positivo. Pelo menos naquele momento.
Meu cérebro dizia que ela estava feliz por me ver. Meu coração dizia que eu deveria me declarar. Minha boca avisou que não conseguiria sorrir por mais tanto tempo. Minha visão ficou levemente turva e estremeci. Será que aquilo tudo era real ou fora criado por aquela música?
Aliás, o que dizer sobre aquela música?
O cabelo dela estava próximo!
Era a hora!
Era a hora!
A hora perfeita!
Vai, Ethan!
Essa é com você!
Sua chance de brilhar!
Sua chance de salvar a estação mais quente do ano!
Sua chance de...
— Você é tão linda que estou até com vontade de te beijar.
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