1 - Eu poderia ter evitado
Tudo aconteceu no verão de 2015. Viajei para o Canadá por dois motivos: encontrar meus melhores amigos de nacionalidades diferentes e começar os preparativos para a faculdade. Eu conheci Rebeca, minha escritora favorita e melhor amiga de Harry, um de meus melhores amigos. Meu coração disparou quando isso aconteceu, pois já tinha por ela o que Harry chamava de "paixonite". Como isso aconteceu antes de eu a conhecer da fato? Bem, Rebeca é escritora e seu livro foi responsável por me fazer amar ler, aos 16 anos de idade. Com 17 eu já era melhor amigo dela, e ela conseguiu esquecer seu coração partido. Por ora... Quem fez isso? Sean Petter Johnson, um canadense famoso por suas músicas e por seu relacionamento com Taylor Smith, uma atriz tão famosa quanto ele e por quebrar o coração de uma das britânicas mais encantadoras do mundo. Sean namorava Becky antes de se tornar famoso, mas a largou pra ficar com Taylor. Ele é um completo idiota pelo que fez!
Mas não foi bem assim.
O canadense tinha uma boa desculpa, fato que foi péssimo para mim, pois estava completamente apaixonado por Rebeca. E ainda estou. Sou um babaca por não esquecê-la, mas você precisa entender meu lado antes.
Rebeca é uma das garotas mais incríveis que já pisou na Terra. Linda por fora, ainda mais encantadora por dentro. Mestre das palavras; sempre humilde e caridosa; forte e decidida; romântica incurável; amante dos animais; inteligente até dizer chega; cultura pura. A representação exata do amor... Ou não. Depende do que você pensa que é amor. Mas o que diabos é o amor? Aquela história mela a cueca chamada de "Romeu e Julieta"? Os triângulos amorosos recorrentes em filmes hollywoodianos? O que acontece entre Percy Jackson e Annabeth Chase? Não tenho uma resposta para isso ainda.
Rebeca. Oh Rebeca, como é encantadora!
Eu a chamei de Belle por muito tempo, pois seu filme favorito era A Bela e a Fera (versão de 2014)... Infelizmente, isso durou apenas cerca de seis meses. Não achei certo continuar tendo um apelido especial para ela quando se tornou comprometida novamente. Infelizmente, seu namorado não era eu. Não tive tanta sorte. Mesmo com os diversos encontros sem segundas intenções, mesmo com nossas conversas sérias sobre política, mesmo com o errôneo romantismo de filme. Ela fora responsável por acabar com minha timidez e minha repulsa por toques alheios, mas eu não fora bom o suficiente para ela. Rebeca Fletcher amava Sean Johnson e eu, Ethan Pearce, amava Rebeca Fletcher. Nunca poderei conquistá-la, não importa o que eu faça, pois nunca serei metade do que Sean é. Ele não é sensível como eu, nem tão apaixonado por livros, nem tão apaixonado por sua própria cultura como eu sou. Ele é um artista de Hollywood completo, e eu sou um australiano que não conseguiu nem reconhecimento na faculdade por meus desenhos depressivos. Por que ela iria querer trocar ele por alguém como eu?
O pior é que Sean não é uma pessoa ruim, muito pelo contrário. Não importa quanta idiotice ele tenha feito com Rebeca, todos concordam que mereceu seu perdão. E que a ama ainda mais do que eu a amo. É um fato incontestável e cruel para meu coração idiota. Gostaria de não ser tão idiotamente previsível! Um triângulo amoroso nunca foi meu desejo de vida; na verdade, eu os repugno. Não que todos sejam ruins, não é isso. Apenas nunca quis cair em um. Mas parece que nada na vida acontece como queremos. Nada mesmo!
Quer a prova para isso?
Em minha cabeça, Sean e Rebeca nunca ficariam juntos novamente e eu a faria minha namorada. Rebeca se apaixonaria por mim aos poucos e perceberia que eu era perfeito para sua vida. Em um determinado ponto de sua vida não me agradeceria mais por ter feito a arte da capa de seu primeiro livro, mas por ter mudado sua vida com nosso amor. E se Sean aparecesse, eu o odiaria. Isso quase aconteceu. Quando nos vimos pela primeira vez (creio que tenha sido pela primeira vez, mas não tenho certeza; minha memória é péssima), xinguei Sean de uma forma que nunca fizera com alguém antes. Foi idiotice e completamente rude. A situação foi tensa, mas nada justifica minha ação. Desculpei-me em um encontro posterior.
Em minha cabeça, Sean seria um completo babaca e nunca seria legal comigo, independente da situação. Assim, seria fácil odiá-lo. Ele me xingaria com todo seu vocabulário chulo, sem economizar uma palavra que fosse. Infelizmente, seu comportamento era tão polido quanto o meu, talvez até mais. Ele também seria bem menos do que eu, mas, como tudo no destino não concorda comigo, Sean era tudo que eu nunca seria. Famoso, charmoso, extrovertido, bom para criar assunto. Um cara nada desinteressante, ao contrário do que diziam de mim.
Em minha cabeça, quando Rebeca tivesse seu coração consertado, minha timidez seria extinta. Meu amor seria correspondido, eu deixaria de ser tão depressivo e sem graça. Não. Nada disso! Sean conseguira tudo de bom e o coração partido da vez era o meu.
Estamos no verão de 2016 e estou lhes contando um pouco sobre minha vida desinteressante. Comecei a escrever inspirado em Becky, mas não pretendia mostrar isso para ela nunca. Ainda não pretendo. Escrevo isso para me perdoar por amar uma garota comprometida e por fugir sem dizer nada.
Meu refúgio foi Vancouver, a cidade de James Doohan (o engenheiro Scotty de "Star Trek"), com uma vasta vida selvagem, situada entre mar e montanhas. Vancouver, com o mercado de Graville Island e três de seus mais importantes museus em Vanier Park. A cidade com um dos maiores parques do mundo, Stanley Park. Com a beleza impressionante de Grouse Mountain e sua própria Chinatown, além do inconfundível Science World. Também há em Vancouver uma das atrações que era mais importante para mim: Blue Water Cafe, um restaurante de frutos do mar e sushi (as coisas que mais amo comer) muito indicado por Becky. Foi o lugar que escolhi para meu primeiro jantar em Vancouver, completamente sozinho, mas bem menos depressivo do que antes. Sushi pode mudar sua vida.
Adentrei no restaurante pouco depois das sete horas da noite de uma sexta-feira, determinado a comer mais do que já comera antes em minha vida. Meu trabalho freelance como capista estava aumentando os zeros em minha conta bancária e, consequentemente, meus jantares em restaurantes diferentes. Eu estava determinado a descobrir qual o melhor sushi do Canadá, e o lugar da vez era o Blue Water Cafe. Perguntara aos vancouverites se o estabelecimento era bom e eles me disseram que é a principal escolha dos viajantes. Eu, como viajante, não vi nada de ruim nisso. Então, fiz uma pesquisa sobre a comida e boa parte do cardápio me agradou. Havia um tumulto em um canto do restaurante, envolvendo uma garota baixa e com cabelos castanhos avermelhados, alguns adolescentes e uma câmera. Fui acomodado justamente em uma mesa ao lado da garota, o que me fez franzir o cenho. O que ela estava fazendo? Fiz meu pedido e fiquei observando o grupo incomum.
Os olhos da garota encontraram o meu e ela sorriu, fazendo-me desviar o olhar. Odeio quando descobrem que estou encarando as pessoas! É algo que faço sempre, mas não quer dizer que aceite ser descoberto. Depois de alguns segundos envergonhado, olhei para ela novamente. A câmera estava posicionada para filmar seu rosto oval e, principalmente, para captar seus olhos cor de âmbar e o brilho contido neles. A garota era estonteante e, ouso dizer, ainda mais bonita que Rebeca Fletcher. Senti um frio na barriga nunca sentido antes ao observá-la conversar com as pessoas ao seu entorno. Ela ria sem parar de algo que a garota ao seu lado dissera; uma risada tão contagiante que até me fez sorrir. Isso é estranho demais para mim, sabe? Nunca sorrio sem motivo algum e eu estava sorrindo porque uma garota desconhecida estava rindo. Engoli em seco, controlando o sorriso e tentando não ser descoberto por ela. E então, ouvi sua voz baixa e animada dizer.
— Olá, Summer! Hoje é sexta-feira e vou lhes mostrar o melhor sushi de Vancouver, para enriquecer o quadro "Melhor de Vancouver". Estão prontos para isso?
A garota dos cabelos escuros e avermelhados sorriu, a luz do estabelecimento deu uma piscada. Eu poderia ter evitado o que aconteceu depois.
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