Capítulo 5
Espero que gostem:
PS: será que alguém se emociona?
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Fechei o diário e o guardei. Fernanda já havia me chamado para almoçar duas vezes e com certeza queria saber o que aconteceu. Ouvi uma batida na porta. Terminei de vestir minha blusa e abri.
- Você tem que me contar! - Fernanda disse sorrindo.
- Tá bom - revirei os olhos e abri um sorriso como o dela. - Foi assim...
Comecei a contar sentando na minha cama. Ela me ouvia atentamente, como se em sua cabeça visualizasse cada momento. Ela ficou entusiasmada quando contei do Arthur, desde o momento que eu o conheci até o encontro de hoje de manhã. Não pude evitar um sorriso enquanto falava dos seus olhos. Ela pedia detalhes que eu dei animadamente. Assim que terminei me senti bem falando com alguém como Fernanda, como se ela fosse minha...
Parei por um instante ao ver que poderia estar contando tudo isso para minha mãe se ela não tivesse ido embora. Senti meus olhos encherem de lágrimas, por mais que não quisesse admitir, sentia falta dela.
- O que foi querida? - Ela perguntou.
- Sinto falta dela - confessei, sentindo uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto.
Fernanda para minha surpresa, não disse nada. Apenas me envolveu em seus braços; me apertei contra ela, aspirando seu perfume de flores. Eu solucei enquanto ela acariciava meu cabelo.
Era tão difícil pegar o telefone e ligar? Pensei.
Eu lembro daquele dia.
Flashback on
Eu espiava quietinha em um canto da sala onde eles não me viam. Mamãe e papai estavam conversando mas eu não conseguia ouvir direito, mas eu via algumas malas. Eu queria ir até lá e abraçar a mamãe mas fiquei com medo de ela reclamar que eu estava amassando sua roupa. Como fez no meu último aniversário, de 9 anos. Papai tinha mandado eu e os meus irmãos para o quarto, mas eu achei chato ficar sozinha com minhas Barbies, e fui chamar a mamãe para brincar, mesmo sabendo que ela não ia aceitar. Ela dizia que estava muito ocupada e saía para pintar as unhas.
- Essa é sua decisão final? - papai perguntou
- Sim, preciso viver minha vida Paulo - ela respondeu.
- Mas e seus filhos Clara? Nossos filhos! Não pensa neles? - papai disse irritado.
- Por que você acha que vou deixa-los com você? - ela pegou sua bolsa - Tudo o que eles precisam está nessa casa. Dinheiro. Conforto. Tudo! Adeus, não se esqueça do meu cheque com o valor das ações da empresa - ela pegou suas duas malas e andou até a porta.
- Como pude me casar com você? - papai perguntou. Ela não respondeu. Saí de onde eu estava e corri para ela. Eles me olharam espantados. Agarrei na perna da mamãe.
- Mamãe... - olhei para ela - Não vai não. Prometo que nunca mais te chamo pra brincar de boneca e nem amasso sua roupa - implorei. - Por favor! - eu comecei a chorar. Senti papai me pegando no colo, me debati.
- Mamãe... - estendi os braços, torcendo para ela me pegar e me abraçar sem se importar com sua roupa. Ela apenas olhou para mim pegou a chave do carro e foi. - Mamãe! - gritei por entre as lágrimas.
Vi meus irmãos aparecerem na sala. Acho que eles entenderam antes de mim, porque vi lágrimas no rosto de Juliano. Comecei a me soltar, subi as escadas correndo e fui para meu quarto. Tropecei nas minhas bonecas que estavam no chão e vi pela janela ela colocar as malas no carro, entrar e ir, sem nem olhar para trás.
- Mamãe... - sussurrei. Rogério entrou no meu quarto e me abraçou. Ele tinha 13 anos (como Juliano) e acho que por isso eles entenderam o que estava acontecendo antes de mim. Chorei nos braços do meu irmão até adormecer. Acho que foi nesse dia que ficamos mais próximos e Juliano se afastou um pouco. Queria que tudo fosse um pesadelo, e que quando eu acordasse, encontraria ela na sala no telefone com uma de suas amigas. Mas quando acordei, o telefone estava no lugar. Os esmaltes e a escova também.
Ela foi embora.
Flashback off
- Helena, você não vai... - Rogério entrou no quarto, mas parou assim que me viu chorando. Ouvi Fernanda sussurrar alguma coisa e vi a compreensão e tristeza no rosto dele em seguida. Ele veio até mim e Fernanda saiu do quarto enquanto dessa vez, quem me abraçou foi ele.
- Não se preocupa com nada - sussurrou. - Eu vou sempre estar aqui.
- Sinto falta dela - eu disse olhando nos olhos dele. Eu sabia o que ele estava pensando. Como eu poderia sentir falta, se ela nem me dava atenção. Mas eu sinto. Ela é minha mãe. Sinto falta de uma. Cresci no meio dos meus irmãos e do meu pai, faz falta alguém para conversar. Tenho Fernanda, mas é diferente, ela não é minha mãe.
- Pode parecer estranho - ele disse depois de alguns minutos. - Mas eu também.
Olhei espantada para ele. Sim, era estranho. Nunca vi ele chorando como Juliano ou gritando para ela não ir como eu. Ele nos apoiou, ele... Foi aí que eu me dei conta. Ele nos apoiou. Ele fez o que meu pai deveria ter feito, ao invés de se trancar em seu escritório.
- Obrigada - disse apertando ele mais.
- Pelo quê?
- Por ser meu irmão.
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Nem Rogério nem eu falamos mais nada o resto da tarde. Decidi ficar no quarto. Fernanda trouxe meu almoço e sem muita vontade comi, enquanto ela tentava me animar para fazer algo. Eu sei que ela está tentando me ajudar, mas não quero fazer nada...
- Onde está meu pai? - perguntei. Com certeza ela falou com ele. Fernanda ficou calada por um tempo, decidindo o que dizer.
- Ele está... Ele trabalha muito querida... - ela disse, mas por dentro eu conseguia ver que ela queria dizer mais. Não me surpreendi. Trabalho era sua prioridade. Não falei mais nada, apenas abaixei a cabeça e continuei a comer.
Ouvi gritos no andar de baixo. Parecia uma briga, Reconheci as vozes do meu pai e de Rogério, mas a porta abafava suas palavras. Comecei a levantar, alarmada, mas Fernanda me impediu.
- Melhor não. - deu um sorriso fraco, pegou meu prato e saiu. Eu fiquei sozinha. Sozinha...
Fiz a única coisa que poderia naquele momento. Abri um pequeno caderninho e peguei a caneta.
Olá, querido diário,
Como tudo pode passar de felicidade para tristeza tão rápido? Horas atrás eu estava tão feliz com tudo o que aconteceu na escola, apesar de tudo. Me sentia feliz pelas pessoas que conheci, e agora, estou triste pela pessoa que não conheci. A pessoa que deveria me ver crescer, mas preferiu outro país e um cheque. Se ela nunca se importou comigo, por que insisto em chorar por ela? Por que? Eu devia fingir que ela nunca existiu, como Juliano sempre fez, mas não consigo. A cada sorriso que dou, meu subconsciente me faz lembrar que ela podia estar aqui para compartilha-lo. Olha tudo o que aconteceu hoje. Reencontrei um menino que fez meu coração acelerar, fiz dois amigos no meu primeiro dia e ela não está aqui para ver. Nem um telefonema. Nem isso. Um telefonema foi com o que eu sempre sonhei, ouvir a sua voz me perguntando se eu estou bem, e dizer... "Eu te amo, filha."
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O que acharam do capítulo de hoje? Se gostaram que tal comentarem? Seu voto também é muito importante. Bom, vamos parar com essa enrolação rsrsrs Beijos e até o próximo!
Ma
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