18 - O Rei das Ovelhas
Hana ficou parada olhando para cima sem se mexer. O estrondo veio tão rápido que ela nem viu o que acertou o homem que estava em cima dela. Ouviu mais estrondos e gritos para todo lado. Mas, ela não conseguia se mexer.
Quando ela conseguiu mover os olhos , viu um rapaz mais ou menos da sua idade dar passos pesados na direção dela, a aura vermelha saía por seu corpo. Era um rapaz magro, baixinho e cabelos da cor do fogo. Tinha expressão de poucos amigos e os olhos tão azuis quanto os dela. Estava com a mãos nos bolsos, e tinha uma presença marcante. Chegou bem próximo a ela e tirou a jaqueta verde escura que vestia e colocou sobre o corpo dela.
Ela chorava sem parar. Ele olhou com certo desdém pensou em deixá-la lá, mas estendeu a mão e a ajudou a se levantar. Ela soltou a mão dele e se ajoelhou no chão e se curvou diante dele.
-Eu serei eternamente grata! - Ela disse engasgando as palavras.
-Levante-se! - Ele disse com a voz grave. Ele parecia estar sempre furioso.
-Obrigada. Por favor aceite minha gratidão! - Ela chorava sem parar jogada aos pés dele.
-Ta tudo bem. O que faz aqui? Vocês não são daqui. Vir a um lugar desses sozinhas! Francamente!
-Uma... grande idiotice. Já me arrependi.
-Da próxima vez vou deixar que eles se divirtam. Não gosto de burgueses como você que pensam que podem fazer o que quiserem.
-Eu... juro que nunca mais volto aqui.
Hana ficou olhando para o garoto que desviava o olhar toda vez que seus olhos se cruzavam. Tinha um rosto delicado, muito branco, de olhos azuis
-Hana! - Himeno correu até a amiga e a abraçou. - Que bom que você está bem! Me perdoe!
-Tá tudo bem...
-Obrigada por nos salvar. - Ela disse se virando para o rapaz.
-Vamos embora Himeno. Pra mim já deu.
Elas seguiram pelo caminho contrário, sendo observadas pelo ruivo. Ele cogitou deixá-las, mas por alguma razão, ele demonstrou compaixão.
-Hey. Eu vou escoltar vocês. - Ele disse se aproximando.
-Mesmo? - Hana arregalou os olhos.
-De longe. Caso alguém tente alguma coisa. - Ele disse sério.
Hana ficou agradecida e abriu um largo sorriso. Ela não percebeu, mas o rapaz desviou o rosto e corou de leve.
Ele as seguiu de longe como havia combinado e ficou olhando o cabelo branco da jovem. Parece neve. Ele pensou enquanto via os fios esvoaçantes.
-Aqui é o ponto. Daqui em diante estão seguras. - Ele disse com a voz firme.
-Sou imensamente grata. - Hana disse mais uma vez.
-E não voltem mais aqui. - Ele colocou o capuz cinza na cabeça.- Mas... se resolverem cometer a loucura de voltar. Diga que vocês estão com o Rei das Ovelhas.
Hana arregalou os olhos e apertou a jaqueta que ele havia dado para ela vestir contra seu corpo. Sentiu um arrepio quente e ficou olhando para o jovem se afastar.
-Himeno... Era O Rei das Ovelhas... - Hana disse espantada com os olhos fixos no rapaz.
-Quase morremos... O perigo estava bem atrás de nós.
-Mas, eles nos salvou... né?
Hana e Himeno tiveram uma péssima experiência, voltaram para casa da Himeno já vestidas com o uniforme que haviam saído de casa. Com medo de que os pais descobrissem. Para a sorte delas, chegaram a tempo de pelo menos fingir que estavam na escola. Se o pai de Hana descobrisse ela jamais sairia de casa desacompanhada.
Ela levou para casa a jaqueta do rapaz que salvou sua vida. Ao chegar em casa, com o motorista que comprou a ideia de que ela havia ido e voltado com o pai de Himeno, ela desceu do carro com o coração acelerado. Ela subiu correndo as escadas e evitou falar com todos na casa, entrou no quarto trancou a porta e depois deitou-se na cama abraçada a jaqueta do rapaz, sentindo o cheiro do perfume dele que ainda estava marcado na roupa. O Rei das Ovelhas.
Segundo o que Himeno havia dito, era uma organização mafiosa formada apenas por crianças e adolescentes em sua maioria resgatados das ruas. O líder delas era um rapaz ruivo muito temido por onde passava e que ficou conhecido com a alcunha de Rei das Ovelhas.
No outro dia, Hana ficou pensando na situação que havia passado o dia todo, e toda vez que se lembrava do Rei das Ovelhas seu coração se aquecia.
Se passaram duas semanas desde aquele dia e Hana queria voltar até Suribachi e devolver a jaqueta ao rapaz, mas a experiencia havia sido muito negativa. E ela tinha muito medo.
Mas, em contrapartida a vontade de ver o Rei das Ovelhas mais uma vez deixava seu coração palpitando cada vez mais forte.
Saiu escondido de manhã e foi a pé até Suribachi. Respirou fundo quando chegou na entrada da cidade, agarrou a jaqueta muito bem limpa e guardada numa sacola de papel e saiu correndo em direção à cidade.
Os olhares amedrontadores a faziam tremer, mas a garota mantinha a cabeça baixa. Andou, até o local onde havia encontrado com o rapaz, mas sem sucesso. Não fazia ideia de onde encontrá-lo.
Parou na barraca de crepe do outro dia e sentou-se diante da dona. A senhora, já de idade avançada, um pouco acima do peso, com o aspecto cansado se aproximou e deu um sorriso de lado.
-Você de novo, menina? A experiência foi boa da outra vez?
-Foi horrível... - Hana disse suspirando.
-Então, o que faz aqui de novo? Gosta de sofrer? Vocês burgueses... - a dona debochou.
-Eu tô procurando uma pessoa... - Hana disse abraçando a sacola mais uma vez.
-Se eu puder ajudar... conheço quase todo mundo aqui.
-Eu... tô procurando... O Rei das Ovelhas... - A última frase saiu quase num sussurro.
-Você é maluca? Se soubesse sobre ele estaria bem longe daqui! - o sorriso havia sumido de seus lábios.
-Eu, preciso entregar uma coisa... - Hana corou de leve.
A velha deu um largo sorriso quando percebeu a jovem corada.
-Ah... agora faz sentido do porquê ainda estar viva. Você pode andar livremente por aqui menina. Ninguém vai te encostar um dedo.
-Como assim? - Hana ficou confusa
-Se você está com ele, ninguém é burro de te fazer mal.
-E-eu não estou com ele! - Hana ficou vermelha e sentiu o rosto queimar.
-Sei... uma garota rica vem até este lugar esquecido por Deus, arriscar sua vida por... nada?
Hana ficou pensativa e não conseguiu responder.
-Tudo bem. Não precisa dizer nada. Mas, se quer encontrar ele, talvez ele esteja na região comandada pelas Ovelhas. É só chegar lá e aguardar. Ele te encontra.
Hana obedeceu a senhora e seguiu rumo ao território comandado pelas Ovelhas. No local havia muitas crianças e adolescentes. Ela encostou em um local bem visível e esperou por alguns minutos. Em determinado momento uma das crianças cochicha para a outra e uma delas sai correndo.
Cerca de dez minutos depois, o ruivo surgiu de longe com as mãos nos bolsos e acenou com a cabeça para que ela fosse até ele. Ela o seguiu receosa. Ele foi até um beco mais afastado.
-Você é muito burra por voltar aqui. - Ele disse franzindo o cenho.
-Eu... vim te devolver. - Ela entregou a jaqueta a ele.
-Você... veio até aqui... só por isso? - Ele recebeu a jaqueta com o olhar surpreso.
-E também porque... se não fosse por você... - Ela abaixou a cabeça envergonhada.
-Não ligue para isso, não fiz porque eu sou legal, fiz porque era o certo.
-Mesmo assim, foi muito importante para mim. - Ela estava vermelha.
-Agora pode ir. Já agradeceu. - Ele desviou o olhar mais uma vez.
-Tudo bem... - Ela ficou sem graça.
O rapaz ficou olhando para ela de cabeça baixa. Ele sentia algo estranho quando estava com ela, como se o coração batesse mais rápido. Ele não sabia nada além de matar, se defender, ameaçar. E ao ver aquela jovem tão doce diante dele ele ficava sem reação.
-Eu queria continuar vendo você... - Ela disse finalmente.
-Você... sabe quem eu sou, né? - ele disse erguendo uma sobrancelha.
-Na verdade... não ainda. Mas, eu queria te conhecer.
-Não sou um cara para você conhecer.
-Eu gostaria de eu mesmo descobrir. - Hana o encarou com seus grandes olhos.
-Tsc. - Ele deu de ombros. - Vai se arrepender, burguesinha.
-Eu posso voltar aqui? - seus olhos brilhavam.
-Não. Não volte mais aqui.
-Eu devo te passar meu endereço, meu numero de telefone? Por favor! - Ela implorava.
-Que insistência! Volte para sua casa e viva sua vida! Não tem nada para você aqui.
Ela tocou seu braço de leve e encarou seus olhos fixamente.
-Eu só queria poder achar uma forma de te agradecer, e... eu queria mesmo passar só mais um pouco de tempo com você. Se mesmo assim depois ainda não querer me ver, eu nunca mais te procuro.
Ele a observou. O rosto bonito, olhos grandes e de um azul metalizado profundo, os cabelos brancos como a neve de longe a pele parecia tão macia quanto a de um bebê. Anos mais tarde ele se perguntaria do porquê ter tido aquela reação.
-Ok, que assim seja então. Vá embora, eu te acho.
Os dias depois daquele seria um breve Prólogo de uma tragédia. Um instante de felicidade antes de tudo ruir na vida de Hana.
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