023
˖࣪ ❛ FRANCÊS
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─ ISTO É DE UM AMIGO. ─ informou Wandinha ao entrar na colmeia, tio Fester estava escondido então ela teve a ideia dele ficar lá.
Fester ficou maravilhado. — Já fizeram um amigo, estou surpresa com a Winnie. ─ a mencionada sorriu, mas sentindo-se orgulhosa dela. ─ Essa pobrezinha voltará para casa em um saco para cadáveres. Oh, hum... ─ ele foi até uma casinha onde as abelhas dormiam. ─Eu gosto de esconderijos que vem com comida.
─ As abelhas estão hibernando, são filhas do Eugene. Quer dizer que você não pode comer. — falou com voz mandona ao ver que seu tio havia tirado uma abelha.
Tio Fester se virou, ambos se desafiando com o olhar. Winnie apenas os observava. O homem apenas balançou a cabeça e colocou a abelha de volta no chão.
─ Wandinha, quando você me dá aquele olhar letal de desaprovação, você me lembra sua mãe. ─ a garota de cabelos negros baixou o olhar com a comparação. ─ Falando em coisas assustadoras, você sabe que tipo de monstros você está enfrentando?
Wandinha pegou um desenho que Xavier fez e se aproximou para mostrar a ele.
— Não consegui identificá-lo.
─ Uuh.. ─ exclamou ele pegando a folha, mostrando intriga. ─ Isso é um Hyde.
─ Você o conhece? — Winnie perguntou, e Fester assentiu.
— Você já viu um antes. — comentou Wandinha, lembrando-se de uma das coisas que o tio Fester lhe disse.
─ Ah sim, em 1983 nas minhas férias no South Institute for the Criminally Insane. Foi lá que fiz minha primeira lobotomia, lobotomias são como tatuagens, não dá pra fazer uma só. ─ ele deu de ombros, mas Winnie não entendeu o que aquilo tinha a ver com o monstro.
─ Eu não entendi.
─ Eu sentia falta de conversar com você sobre as coisas e você nunca entendia. ─ Fester riu, lembrando daqueles 'velhos' tempos. ─ Ainda não entendeu as dicas, Winnienini?
─ Eu nunca vou entendê-los, careca.
─ Pare de mudar de assunto. ─ interrompeu Wandinha, era sempre a mesma coisa com tio Fester e Winnie. ─ Conte-nos sobre o Hyde.
— Certo, certo. — ele se concentrou. — Olga Malacova, ela tinha de tudo... Beleza, astúcia e um carinho pela necrofilia. ─ ele riu e Winnie sorria, Wandinha olhava para os dois sem achar graça. ─ Olga era pianista concertista, lembrava-me Winnienini, até que uma noite se transformou no meio de uma sonata de Chopin. Ela massacrou uma dúzia de membros do público e também três críticos!
— O que desencadeou isso? ─ Wandinha perguntou antes de desviar o assunto novamente. ─ Ou foi à vontade?
─ Não faço ideia. Eu só a vi na terapia de eletrochoque em grupo.
— Os Hyde nunca foram mencionados na literatura dos proscritos, e Never More tem a reputação de ter a melhor coleção. — Wandinha disse com raiva, o olhar de Winnie seguindo-a enquanto ela começava a andar pela sala.
─ Você viu no diário de Nathaniel Faulkner? — Fester perguntou fazendo as duas garotas olharem para ele. — Mhm... Antes de fundar Never More, Faulkner viajou o mundo e catalogou todas as comunidades excluídas.
─ Como você sabe disso?
─ Você acha que seus pais não podem tirar as mãos de você agora? Pronto. ─ ele balançou a cabeça como se estivesse traumatizado. ─ Certa noite, fui sem avisar ao quarto de Homer, digamos que não interrompi uma guerra de travesseiros.
─ Por que você sempre diz luta de travesseiros? Eu sinto que faz outro sentido, mas não entendo, eles estavam se matando? ─ Tio Fester olhou para Winnie, rindo, Winnie olhou confusa para Wandinha que apenas revirou os olhos com o que seu tio estava fazendo. ─ O que?
─ Tio Fester. ─ o olhou em advertência, o homem fez como se tivesse um tapa na boca, dando a entender que não falaria nada com Winnie. ─ O diário, onde está?
─ A biblioteca escura, seu pai me trancou lá e me disse que eu ficaria por um tempo. E foi aí que encontrei um pequeno cofre. Eu esperava um estoque de dinheiro ou joias. Em vez disso, encontrei um diário.
─ Vamos para a biblioteca oculta esta noite, enquanto isso seja discreto. ─ Wandinha ordenou e começou a ir para a saída, Winnie acenou adeus.
─ Adeus, careca.
─ Adeus, Winnienini. ─ disse Fester. ─ E cuidado, você pode encontrar guerra de travesseiros em qualquer lugar, sempre bata na porta antes de entrar... Embora também aconteça em lugares públicos, você não quer ficar traumatizada. ─ ele riu e Winnie olhou para ele sem expressão, Wandinha parou na porta lançando-lhe um olhar mortal. Tio Fester deu de ombros, bancando o inocente.
─ Se te descobrirem, vou te deserdar e vou cobrar a recompensa que derem pela sua captura. ─ Wandinha informou.
— Eu não esperaria nada menos. — Fester sorriu e acenou quando ambas finalmente saíram.
Winnie olhou para Wandinha confusa quando ela parou, gesticulando para que ela esperasse alguns segundos antes de reabrir a porta, revelando o tio Fester abrindo o apiário.
─ Deixe as abelhas em paz! ─ fechou de novo a porta ouvindo a risada do tio.
Winnie riu. — Senti muita falta dele, que bom que ele está aqui. ─ sorriu feliz e entrelaçou a mão na dela, encostando em seu ombro. ─ Você também está feliz, não está?
─ Talvez. ─ a ruiva sorriu ternamente ao sentir Wandinha acariciar sua mão com o polegar. ─ Está quase na hora de escrever, você vai com Enid ou ficar comigo?
Winnie engasgou. — É verdade! Enid! Devo contar-lhe absolutamente tudo ou ela vai me fazer dormir no chão. ─ mordeu o lábio nervosamente. ─ Eu vejo você mais tarde? Não sei se volto com você ou fico com Enid e Yoko por alguns dias, elas estão muito felizes por termos festas do pijama todos os dias.
— Isso não me incomoda. — ela deu de ombros, fingindo desinteresse, mas a verdade era outra, ela gostava quando Winnie lhe desejava boa noite e ela estava começando a se acostumar a ser acordada por alguns beijinhos em seu rosto.
─ Farei o possível para desejar boa noite e... Quem sabe te acordar com beijinhos. ─ ela deu de ombros um pouco pela vergonha que sentiu ao dizer isso.
─ Vou esperar o quanto for preciso, Cara mía. ─ Winnie sorriu animada e se inclinou para beijá-la na bochecha.
─ Eu te amo muito, Mon cheri.
─ Eu também, Mon amour. ─ a ruiva estranhou o novo apelido, mas sorriu.
─ A propósito... O que significa a luta de travesseiros?
─ Winnie.
─ Ah, não vou te pedir mais nada. ─ ela cruzou os braços, indignada.
★
Winnie espiou enquanto abria a porta do quarto, vendo como Wandinha guardava as páginas de seu romance. Ela sabia quando sua hora de escrever terminava, então esperou até poder ir, Wandinha era muito pontual, o que ela não era tanto.
Ela fechou a porta e se aproximou dela até ficar de lado, deixando espaço para ela acomodar tudo sem problemas.
— Estou de volta. — ela sorriu um tanto divertida, sabendo que era óbvio que Wandinha já a notara muito antes dela se aproximar.
─ Você voltou. ─ brincou junto, Winnie se sentiu bem em perceber.
─ Enid voltou meio zangada, o que aconteceu? ─ ela se apoiou na mesa quando Wandinha já tinha tudo em ordem.
─ Eu disse a ela que não estava mais incomodada, e posso ter dito a verdade.
─ Verdade?
─ Que ela ronca quando dorme, que faz milhares de atividades e depois reclama, que passa o tempo naquele aparelho e muitas outras coisas.
— Ah, Wandinha...
─ Ela também reclamou de coisas que eu faço, que ela não se faz de vítima. ─ ela contra-atacou, Winnie só negou diante da teimosia de ambas. ─ Além disso, ela zombou três vezes em menos de 24 horas, é óbvio demais.
─ Ela apenas sente sua falta, e espera algo de você.
─ Continue esperando. ─ foi a última coisa que ela disse e Winnie suspirou, ela não queria que elas continuassem brigando. Ela odiava ir de um lugar para outro quando antes as três sempre iam juntas, e ela sabia que Wandinha sentia falta disso, embora ela não quisesse admitir.
─ Bem... Que tal colocarmos uma música antes de você ir com o tio Fester? ─ Wandinha olhou para ela, perguntando com os olhos se ela não iria acompanhá-los. ─ Desculpe, mas Yoko me pediu uma coisa e eu disse a ela para me esperar porque eu estava vindo te ver.
─ Tudo bem. ─ Wandinha assentiu e viu como a ruiva foi até a vitrola e segundos depois ouviu-se uma leve música de suaves notas de piano, ela notou que Winnie estava indecisa se falava algo ou não. ─ O que está acontecendo?
─ É que... ─ ela se afastou um pouco até ficar no meio da sala, com as mãos cruzadas atrás das costas parecendo nervosa. ─ Você... Bem, a dança foi arruinada e mesmo que eu não esteja reclamando do que nós fizemos, ou bem, você fez, um dos momentos que eu queria para aquela noite era que... Dancemos...
— Nós já dançamos. — disse ela como se fosse muito óbvio, Winnie balançou a cabeça.
─ Vamos dançar... Uma música lenta. ─ Winnie a olhou nervosa com a reação de Wandinha. ─ Por favor, mesmo que seja uma parte.
Wandinha hesitou, mas acabou concordando, não podendo negar algo a Winnie, lembrando que a dança que tanto a excitava havia sido arruinada por alguns normies estúpidos e imaturos.
Winnie sorriu enquanto se levantava de sua cadeira e se aproximava com passos lentos, mas determinados, a suave melodia ainda tocando quando as duas finalmente ficaram cara a cara.
Wandinha aproximou-se até que os dois corpos se tocassem, levando uma mão à cintura da menor e a outra entrelaçando-a com a dela. Não era coisa dela, mas ela tinha visto seus pais dançarem, e Winnie estava muito animada para realizar um de seus desejos para arruiná-lo por causa de sua inexperiência.
A ruiva não parava de sorrir com a nova lembrança que ela tinha certeza que seria uma de suas favoritas, ainda mais quando notou que Wandinha lhe deu um pequeno sorriso. Ela estava se soltando cada vez mais e isso a fazia se sentir melhor.
Ela colocou a mão no ombro da mulher de cabelo preto e ambas começaram a balançar seguindo a música. Nenhuma das duas desviaram o olhar, muito imersas em seu momento para se preocupar com o que as cercava e que estavam se aproximando do fim.
A música mudou para uma onde só se ouvia o violino, mas elas continuaram em seu mundo, ainda havia tempo para o reencontro de Wandinha com tio Fester.
Winnie descansou a cabeça no ombro de Wandinha enquanto a mulher de cabelos negros descansou a cabeça na dela. Ambas param de entrelaçar as mãos para se abraçar, ainda balançando lentamente.
─ Ti amo, Cara mía.
Winnie olhou para cima, assustada. Foi a primeira vez que Wandinha disse 'eu te amo', mesmo que fosse em outro idioma, mas ainda assim foi lindo e único. Tão Wandinha Addams.
─ Moi aussi je t'aime, mon cheri. ─ ela sorriu com ternura e se aproximou lentamente até conectar os dois lábios em um beijo lento que transmitia tudo o que ambas sentiam uma pela outra.
Tudo o que Wandinha não conseguia expressar.
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