021
˖࣪ ❛ ANIVERSÁRIO
— 21 —
WINNIE SE ENCOLHEU com alguma coisa, tentando se forçar a não surtar, que com certeza era apenas o vento.
Wandinha tentou chamar Goody, mas quando ela pensou que tinha conseguido, foi apenas Enid interrompendo a sala. E enquanto conversavam, um bilhete com recortes de revista apareceu por baixo da porta.
E enquanto o bilhete era mais para Wandinha, Winnie e Enid a acompanharam até Crackstone Crypt, a primeira mais para se certificar de que ela estava bem do que qualquer outra coisa.
─ Elas insistiram em me acompanhar. ─ Wandinha disse sobre as duas ao ver que Enid arrancava suas garras e Winnie ficou no meio das duas para se sentir protegida.
Wandinha havia dito para ela não ir, se algo acontecesse seria direto com ela e não usar a outra como refém. Mas Winnie insistiu em ir porque não confiava muito.
— Eu estava bem sozinha. — acrescentou e voltou a caminhar, subindo algumas escadas até chegar à entrada do local.
─ Era necessário à noite? Eu não acho que seja uma coisa boa, Wandinha, nada de bom acontece em filmes de terror. — disse Winnie rapidamente, olhando ao redor em pânico. — E menos em lugares abandonados e no meio da mata. ─ acrescentou sem perceber que Enid a olhava.
─ Apenas fique perto de mim. ─ Wandinha disse a ela e notou que a porta estava entreaberta. — Parece que nosso informante aprendiz já está aqui.
─ O que morreu? — Enid murmurou fazendo cara de nojo.
— Cheiros da minha infância ─ comentou Wandinha. ─ Venham. — ela abriu a porta e entrou, Winnie rapidamente a seguindo e segurando seu antebraço para se sentir segura, mas Enid permaneceu onde estava.
─ Mas eu te espero aqui, certo?! ─ mas Wandinha fechou a porta assim que elas entraram, deixando-a do lado de fora.
— Acho que não foi uma boa ideia deixá-la sozinha.
— Ela pediu, eu dei a ela. — Wandinha respondeu como se fosse muito óbvio, começando a caminhar junto com a ruiva.
Apenas seus passos podiam ser ouvidos, as folhas secas esmagando sob elas. Algo como um rato se movendo rapidamente as fez se virar, acendendo a lanterna.
─ Nunca gostei de filmes de terror, muito menos de vivê-los de verdade. ─ Winnie respirou fundo tentando se acalmar. ─ E se for melhor voltarmos? Eu sinto que isso não vai funcionar, ou alguém apenas armou para você, ou...
— Vamos fazer isso rápido, ok? — Wandinha a interrompeu ao perceber que ela estava ficando paranóica, Winnie assentiu não muito convencida. ─ Volte para Enid, eu a seguirei.
─ E não saber se algo aconteceu com você? Não mesmo. ─ Winnie recusou e agarrou-se firmemente ao antebraço novamente, caminhando novamente com passos lentos e usando sua audição mais do que tudo.
Quando deram mais alguns passos, ouviu-se uma tosse, ambas iluminando atrás do caixão de Crackstone. Wandinha deu um passo obrigando Winnie a ficar atrás dela, se algo acontecesse ela teria tempo de sair.
─ Seja você quem for, mostre-se. ─ ordenou mas só recebeu silêncio. ─ Se você tentar algo, perderá um membro.
Ninguém esperava que os meninos do Never More saíssem de trás do caixão, cantando uma canção de aniversário como se não tivessem quase dado um ataque cardíaco em Winnie com o susto que levou.
─ Parabéns para você! ─ eles cantaram em uníssono, Enid se aproximando com um bolo e velas acesas.
Wandinha nem se mexeu, olhando para eles com sua expressão habitual. Winnie estava olhando para eles como se fossem loucos, quase morrendo de choque que ela tinha certeza que Wandinha já estava odiando.
Quando eles pararam de cantar Wandinha deu a lanterna para Mãozinha, Winnie olhou para ele com ternura ao vê-lo usando um chapéu de festa.
— Eu deveria saber que isso foi ideia sua. Que parte de nenhuma festa sob pena de morte você não entendeu? — Wandinha sussurrou com raiva e Mãozinha se encolheu.
─ Gostei muito do design do meu bolo. ─ Xavier comentou fazendo Wandinha olhar para eles.
— O balão rosa foi meu toque. — acrescentou Enid, espalhando o bolo que tinha a morte de chocolate. — Agora, faça um desejo. ─ disse ela mas Wandinha desviou o olhar, achando uma escrita mais interessante que o estúpido bolo que nem se deu ao trabalho de provar.
As velas se apagaram mas Wandinha nem percebeu, curvando-se para ver o que ele dizia.
— Isso é latim. — disse ele, iluminando as palavras. — Vai chover fogo, quando subir.
— Ok... Isso não é um desejo.
— Metade dessa frase pegou fogo na escola. — Wandinha a ignorou completamente. — Não pode ser coincidência.
— Ei, não vamos comer bolo, vamos? — Ajax perguntou genuinamente.
Winnie olhou para eles e balançou a cabeça, murmurando que Wandinha não levou em consideração seu aniversário mais do que 'mais um ano perto de sua morte'. Ela olhou para Wandinha novamente e percebendo que outra visão estava vindo para ela. Winnie rapidamente se aproximou para apoiá-la antes que ela caísse no chão.
★
Winnie se aproximou de Wandinha quando a notou ao lado da grama queimada que havia sido deixada alguns dias atrás, com as mãos atrás dela segurando uma pequena caixa preta.
No pescoço ela usava orgulhosamente o cachecol que Enid fez para as três, apesar de Wandinha ter dito que era melhor para uma ocasião especial.
— Um funeral. — era óbvio.
Winnie se posicionou ao lado dela e ficou olhando as letras formadas, lembrou que quando aconteceu ela estava com Enid enquanto Wandinha era solicitada por Weems em seu escritório.
─ Wandinha... ─ ela murmurou depois de alguns minutos de silêncio, não era desconfortável, felizmente nunca foi. Wandinha olhou para ela com o canto do olho, esperando que ela continuasse. ─ Trouxe um presentinho para você, espero que goste.
Winnie estendeu a caixa e Wandinha olhou para ela, estendendo a mão para abri-la. Ela sempre soube que Winnie lhe dava algo incomparável com o que seus pais lhe davam, enquanto eles lhe davam caixões ou piñatas com aranhas em vez de doces, Winnie dava-lhe cartinhas e acessórios feitos por ela.
Winnie esperou pacientemente, observando-a pegar uma pulseira pastel com um pingente W. Ela sorriu enquanto a inspecionava cuidadosamente.
─ E olha! ─ ela ergueu o pulso, notando que tinha outra pulseira igual mas em preto e branco, o pingente em forma de W. ─ Sei que provavelmente você não gosta da cor, mas achei que faria mais sentido, é como se fôssemos parte uma da outra . Você gosta? ─ ela perguntou com medo, Wandinha olhou para ela por alguns longos segundos que pareceram eternos.
Mas ela não disse nada, em vez disso foi direto colocar a pulseira em seu pulso direito, enquanto Winnie estava com o esquerdo. A ruiva sorriu, fez menção de abraçá-la, mas parou ao lembrar que estavam ao ar livre e ainda havia pessoas ao seu redor.
─ Obrigada, Winnie ─ Wandinha agradeceu, com o olhar fixo na pulseira, surpreendentemente ela ia deixá-la à vista não importa o que os outros pensassem. ─ É... Muito... Gentil da sua parte.
— Estou feliz que você gostou. — ela suspirou de alívio. — Você vai visitar Eugene? Prometi às meninas que sairíamos um pouco.
─ Eu envio minhas saudações de você. ─ Wandinha concordou, Winnie sorriu agradecida.
★
— Aqui está: — Wandinha olhou para o desenho e depois para a entrada da casa dos Gates.
─ Por que são sempre casas abandonadas? — Winnie fez uma careta ao ver tudo.
─ É a parte divertida. ─ Wandinha respondeu guardando o desenho que havia feito depois da visão. ─ Vamos.
Elas se aproximaram do portão, percebendo que o cadeado estava aberto. Wandinha olhou para trás para se certificar de que não havia ninguém por perto e a abriu, fechando-a novamente quando as duas estavam dentro da propriedade.
— Goody me ensinou isso por algum motivo. — ela comentou enquanto elas começavam a andar, Winnie entrelaçando sua mão com a dela para sentir segura. — Devo descobrir seu segredo... Ou morrer tentando.
— Addams! ─ Winnie olhou para ela com reprovação, a mulher de cabelos negros abriu a boca, mas interrompeu. ─ Nem pense nisso, ou eu vou embora. ─ a mais velha olhou para ela com o canto do olho e fechou a boca sabendo que ela iria, e que nem falaria com ela por dias.
Elas se aproximaram da entrada, mas alguns barulhos dentro da casa as fizeram parar de tentar aguçar os ouvidos. Vendo que algo se movia no vidro, Wandinha reagiu e fez com que as duas rapidamente se afastassem para se esconder.
Winnie franziu a testa ao notar o prefeito parando perto de seu veículo para falar ao telefone. Wandinha ordenhou Mãozinha para distrair enquanto as duas se aproximavam do carro, ouvindo que ela havia encontrado a pessoa por trás de tudo o que as deixou intrigados.
─ Você está louca ? ─ Winnie sussurrou ao ver que Wandinha abriu o porta-malas do carro. ─ Juro que não falo mais com você se ele nos descobrir. ─ ela entrou no carro e Wandinha a imitou, esperando que Mãozinha entrasse para poder fechar.
Por sorte não o fez, passando pela mata até chegar à aldeia. Elas olharam por cima do banco de trás quando ouviram o prefeito sair, vendo que elas estavam perto do Weathervane e o xerife Galpin estava sentado em uma das mesas.
Mas ninguém esperava que um carro azul claro e branco viesse em grande velocidade e não parasse um segundo, fazendo-o correr contra o prefeito e atropelá-lo. Mas o veículo seguiu em frente, sem placa e sem conseguir ver quem estava dentro.
As duas saíram, o xerife notando-as enquanto gritava por uma ambulância. Os três foram parar em uma das mesas do refeitório, os dois na frente do homem.
— Ele está vivo. Apenas... ─ Winnie observou a ambulância sair com o prefeito, sentindo pena dele. ─ Vou levá-las de volta depois de sua declaração.
— Já o demos aos seus oficiais. — respondeu Wandinha. — Cadillac azul sem placa à vista.
─ Sim, eu sei. ─ ele assentiu mas pegou um rádio para gravar a conversa. ─ Mas eu quero um melhor, o que você estava fazendo no caminhão do prefeito?
Winnie olhou para Wandinha, ficando quieta porque sabia que iria estragar tudo se falasse.
─ Fomos até a casa de Gates e o vimos sair da mansão.
─ Você o viu na mansão? O que vocês estavam fazendo aqui?
─ Imóveis. ─ o xerife assentiu, sem saber se acreditava ou não, mas Wandinha continuou. ─ Nós ouvimos a mensagem que você deixou. Isso nos intrigou.
─ Quando o prefeito era xerife havia muitas teorias de que... Havia casos que ele não conseguia resolver, então discutimos aqui mesmo naquela mesa. ─ ele apontou para a mesa atrás. — Na maioria das vezes não era nada.
— Chame-me de antiquada, mas quando alguém é atropelado ao dar informações importantes à polícia, significa que descobriu algo, e os sinais apontam para a família Gates e aquela casa.
Winnie baixou o olhar por alguns segundos, incomodada com o assunto, mas escondeu.
— A família Gates? — o xerife riu, incrédulo. Como? Eles estão mortos, todos eles, e eu não acredito em fantasmas.
— Talvez devesse. — Wandinha respondeu, desligando o rádio e se levantando, fazendo Winnie imitá-la, ambas saindo do lugar.
Elas esperaram que o xerife as levasse para a Academia e imediatamente foram solicitadas no escritório de Weems. Winnie estava com a cabeça baixa quando foi repreendida pela mulher, embora a repreensão não fosse para ela, mas foi muito intimidante para ela. Ainda mais com essa altura e esse papo tão certo.
─ Como você consegue acabar no centro de todas as coisas terríveis que acontecem neste lugar? ─ ela foi em direção a Wandinha, andando de um lado para o outro fazendo seus saltos estalarem no lugar. ─ E isso, a propósito, arrasta a Srta. Cowen para suas más decisões?
─ Com muita sorte, e ela não tem culpa de nada. ─ Wandinha respondeu.
─ A partir de agora a escola está em confinamento — Weems continua. ─ E seus privilégios fora do campo serão revogados até novo aviso.
Winnie levantou a cabeça quando ouviu a última coisa, mas nenhuma delas queria continuar aumentando o problema, então elas apenas foram para o quarto.
— Eu preciso que você faça algo para mim. — Winnie olhou para ela confusa enquanto subiam as escadas. — Peça a esse que nos leve até a mansão.
─ Esse? ─ repetiu sem entender, mas logo soltou uma gargalhada ─. Tyler agora é um 'esse'?
─ Seu nome me enoja.
─ Por que você me diz isso? Achei que você não queria saber mais nada sobre 'esse'.
─ É só ele nos levar, depois ele vai embora, não quero ele por perto.
─ Então, em poucas palavras, vamos usá-lo? Você sabe que eu odeio usar as pessoas, me sinto mal.
─ Quando chegarmos, vou dizer a ele que vai ser um encontro e ele vai ser o castiçal, em segundos ele vai embora, e se não for eu vou enterrá-lo vivo. ─ a ruiva quase para em choque, olhando para Wandinha. ─ Você deve entender que não tem vantagem, Cara mía.
─ Nossa... ─ ela soltou sem conseguir dizer mais nada, impressionada demais com o que Wandinha disse. ─ Nossa, não pode ser que eu nunca tenha percebido que era ciúme romântico e não amizade.
— Eu odeio ciúmes, isso faz meu estômago revirar e eu quero me dar um soco. — Wandinha fez uma cara de nojo, mas Winnie sorriu divertida.
— Bem... Talvez eu possa fazer algo para fazer você parar de se sentir assim. — ela ergueu a cabeça animada com sua ideia e as duas pararam, Wandinha olhando para ela e se preparando para encará-la.
─ Se não for uma faca ou a notícia de que ele está morto, não quero nada.
─ Certamente você gosta mais do que uma faca e a morte de alguém... ─ Winnie concordou um pouco apavorada com o pensamento disso, mas ela rapidamente o dissipou com um sorriso e se aproximou até que ela passou os braços em volta do pescoço dela, Wandinha olhou para ela atentamente. ─ Posso?
Wandinha assentiu, inevitavelmente chamando toda a atenção para os lábios rosados de Winnie, esquecendo-se completamente de tudo o que havia acontecido antes.
─ Não posso recusar, Cara mía.
─ Eu gosto que você me chame assim, Mon cher. — ela sorriu emocionada, mas antes que pudesse diminuir a distância, ela se surpreendeu que a mulher de cabelos pretos o fizesse primeiro.
Winnie quase recuou quando não esperava, mas as mãos de Wandinha em suas costas a fizeram ficar em seu lugar e corresponder a ela depois de se recuperar.
Winnie amava o relacionamento de Morticia e Gomez, e ela amava ainda mais poder ter um quase o mesmo. Pareciam uma versão jovem e feminina, mas com uma essência própria, que a tornava especial e única.
★
Faltavam 5 minutos para as 20h, ambos já estavam prontos para partir mas Wandinha teve a ideia de levar Enid com eles. Por via das dúvidas, se algo acontecesse e ela tivesse que agir, Winnie não estaria sozinha.
Wandinha parou de olhar para o relógio e foi até Enid que estava deitada em sua cama.
─ Eu estava pensando em minha resposta sem entusiasmo e antipatia à sua surpresa velada. ─ a loira olhou por cima do ombro. ─ E devo admitir que me arrependo de não ter mostrado minha gratidão a você adequadamente.
Enid recostou-se com um sorriso, não mais tão deprimida.
─ Você está falando sério?
─ Aceite, Enid. ─a mencionada ficou feliz. ─ Se ao menos houvesse uma maneira de sair do campus e refazer a festa. Três melhores amigas. Pena que a escola está em confinamento. ─ comentou fingindo pena, Winnie olhou para ela com uma sobrancelha erguida ao perceber que ela estava fazendo chantagem. ─ Que linda lua cheia.
Winnie piscou olhando para ela quando ela disse a última, sentindo-se envergonhada. Mas Enid engasgou interrompendo aquele momento.
— Oh, que tal eu dizer que estou prestes a virar lobo e eles me dão um passe para as gaiolas de lupinos e vocês se oferecem para me levar!
Wandinha olhou para ela com um sorriso. — Minha maldade está finalmente passando para você. — Enid sorriu com orgulho, Winnie apenas olhou para elas como se não as conhecesse. — Mãozinha. ─ o mencionado parou de brincar com o rubik, concentrado. ─ Você já sabe o que fazer, não é?
Mãozinha levantou o polegar e Winnie se levantou da mesa de Wandinha, todas as três prontas para sair, mas Enid as impediu.
─ Ouh, temos que usar nosso laço! — Wandinha olhou para ela odiando que ela se lembrasse disso, Winnie sorriu e foi pegar a dela assim como Enid.
— Bem, acho que deixei minha esgrima. — disse ela, mas Winnie sabia que tinha feito isso de propósito e quase riu quando viu Enid segurando-a.
─ Você deixou no Vane. ─ ela estendeu para ela, Wandinha amaldiçoou por dentro. — Felizmente Bianca trouxe.
─ Minha sorte.
Tyler apagou as luzes do carro, esperando pacientemente. Olhando para a direita, ele se assustou quando Wandinha apareceu de repente na janela, com um olhar que só mostrava o quanto ela queria matá-lo.
Ela subiu no banco do passageiro, não querendo que Winnie se sentasse perto dele.
— Vá em frente. — Wandinha ordenou.
─ Ah, olá, que bom ver você também... — ele soltou uma risada nervosa, rezando porque realmente era um passeio e não que Wandinha dissesse a Winnie para mentir para que no final fosse apenas para sua própria morte. ─ Winnie virá... Certo?
─ Será?
Duas portas se abriram, revelando Winnie e Enid, Tyler e Enid compartilhando um olhar confuso.
─ O quê? ─ perguntou a loira sem entender nada, quase com nojo de vê-lo. ─ Ele é o motorista do Uber?
─ Motorista Uber? — Tyler repetiu, olhando confuso para as outras. — Ah, pensei que isso fosse uma caminhada para consertar os passes.
— Achei que fosse uma noite de amigas. — continuou Enid.
Winnie deu uma risada nervosa, Wandinha apenas olhou para frente.
— Uh... Mudança de planos? — a ruiva respondeu, embora soasse mais como uma dúvida.
─ E por que o estranho uniforme/cachecol/xale? — Enid tocou sua rede com indignação.
— Não pergunte, apenas comece. — Wandinha ordenou novamente.
Tyler suspirou um pouco desapontado, ele pensou que finalmente poderia alcançar algo mais, mas estava claro que Wandinha não iria facilitar para ele. Ele olhava para Winnie pelo espelho retrovisor de vez em quando, mas Winnie nunca olhou de volta, mais focada em confortar Enid por mentir para ela.
─ Fala sério, quer entrar aí? ─ Enid perguntou quando chegou atrás das grades da mansão. ─ Este lugar assusta o medo.
— Eu sei. — Wandinha respondeu com orgulho, quase sorrindo.
Ela se aproximou para abrir o cadeado que agora estava fechado, Winnie decidiu ficar com Enid, sentindo-se muito culpada por também deixá-la sozinha.
─ Ok, eu não concordei em fazer isso.
─ Eu também não.
— Você pode ir agora. — ela disse a Tyler, nem mesmo olhando para ele.
─ Com licença?
─ Só estava nos trazendo aqui, pode ir agora.
Tyler franziu a testa, olhando para Winnie esperando que ela lhe dissesse o que estava errado, mas a ruiva desviou o olhar.
— Eu não entendo. — ele riu incrédulo. — E deixá-las entrar lá? Nem louco.
─ Quer saber? É melhor você ficar, se algo acontecer você será nosso sacrifício. ─ ela deixou escapar de repente, Winnie olhou para ela assustada sabendo que ela faria isso, Enid fez um som de cachorrinho assustado e Tyler olhou para cada uma esperando que fosse uma piada dela.
— Que piada boa...
— Não é. — Wandinha terminou a conversa e entrou na propriedade, os três ficaram um tanto paralisados até que finalmente a seguiram.
Chegaram à entrada e Wandinha tentou abri-la, sem resposta. Tyler pediu permissão para fazer isso, mas também sem sorte, Winnie nem tentou, sabendo que não iria, então Enid foi. Acabando por abri-lo depois de algumas tentativas.
— É coisa de lobo. — ela disse a Tyler, que estava olhando para ela com espanto, e eles entraram.
Pareciam ter entrado na garagem, Wandinha acendeu a luz mas era apenas uma luz vermelha que piscava sem iluminar muito. Ela foi notar algo sendo coberto, movendo o cobertor revelou um carro.
— É o carro que atropelou o prefeito. — disse ela, e Winnie apertou a lanterna na tentativa de acalmar o tremor.
─ Ei, isso já ficou feio. ─Enid falou. ─ Temos que ligar ao pai do Tyler, mas agora, está bem?
─ Por quê? — Wandinha olhou para ela. — Para que ele nos leve de volta ao Never More e nos expulse? Isso não vai acontecer. — ela respondeu e passou por outra porta, Winnie suspirou e abraçou o braço de Enid para segui-la, Tyler atrás.
Tudo estava completamente silencioso, exceto por seus passos e respirações, Winnie iluminava qualquer canto, não importando se era insignificante ou não. Chegaram a um quadro onde mostrava a família, era mais um quadro do que uma foto.
Winnie olhou para Adam, ela se sentiu mal por saber a verdade, mas ela iria esconder até que Adam quisesse fazer o contrário.
Chegaram ao que parecia ser a biblioteca. Wandinha foi direto para as prateleiras, procurando um livro. Em uma, ela pegou Tyler olhando para ela.
— Já é o suficiente? —─ ele perguntou querendo ir embora dali, odiava que mentiram para ele.
Mas ele estava odiando mais Wandinha.
Wandinha não respondeu, ao invés disso sua atenção foi mais para a estante atrás dele. Percebendo que em uma parte faltava um objeto e na outra sim. Ela levou a mão até o objeto e o empurrou, fazendo com que um som fosse ouvido e a prateleira do meio corresse para a direita. Atrás havia uma pequena alcova, uma pintura Cracsktone e muitas velas.
─ Quem não tem um altar escuro na biblioteca de sua casa? — Enid disse ironicamente.
─ O nosso está na sala. ─ Wandinha respondeu como se nada tivesse acontecido. — Assentos extras para o Día de los Muertos. — Tyler assentiu, perturbado. Enid fez outro barulho de cachorrinho assustado enquanto se agarrava ainda mais a Winnie.
Wandinha aproximou-se das velas, notando que estavam mornas, e na parede as mesmas palavras da cripta.
— Tyler, você verifica o resto do primeiro andar. — ela ordenou, começando a caminhar em direção às escadas. — Subimos.
— Ah é? — Enid perguntou com medo, gritando quando viu que ela falava sério.
Elas pararam quando chegaram lá, Wandinha virando-se para Enid.
─ Muito bem, você à esquerda e nós à direita.
─ Você realmente quer que nos separemos? — Enid a deteve. — Aqui? É literalmente como a melhor amiga morre em filmes de terror.
─ Se terminarmos logo então vamos embora. ─ disse sem mais delongas, virando-se e pegando Winnie pela mão.
Enid sussurrou para elas, mas nenhum delas parou, soltando um grito e se virando, o lugar parecia ficar ainda mais assustador.
Winnie apertava a mão de Wandinha a cada cinco segundos, respirando fundo, mas nem isso parecia tranqüilizá-la. A de cabelos pretos estava à frente, de vez em quando olhando para trás para que nada os pegasse de surpresa.
─ Wandinha, Winnie, vocês precisam ver isso! — elas ouviram o grito de Enid, a ruiva quase desmaiando pensando que ela os estava chamando para salvá-la ou algo assim. Mas era apenas um quarto muito arrumado e limpo. A cama está feita. Não há teias de aranha ou poeira.
Winnie notou um bichinho de pelúcia na cama, ela inevitavelmente o agarrou para olhar. Parecia novo, ou talvez fosse muito bem cuidado. Ela decidiu ficar com ele, adorava bichinhos de pelúcia e, um tanto infantil para muitos, fazia com que se sentisse melhor.
Ela notou que Enid estava olhando atentamente para uma caixa de música que estava aberta, uma música quase inaudível saía dela, mas a bailarina que a acompanhava não dançava. Wandinha percebeu mesmo assim, iluminando as duas letras douradas que a caixa continha.
— Lauren Gates.
— Parece que alguém voltou para o antigo quarto. — comentou Enid, iluminando o ambiente.
─ Não é possível. Ela morreu há 25 anos, afogada no exterior.
Winnie deu um pulo ao ouvir algo cair, temendo que viesse do andar de baixo, bem onde Tyler estava. Wandinha foi direto até ela para segurá-la ao seu lado, as três saindo da sala para descer.
Mas o grito de Tyler dizendo para elas irem embora e que o monstro estava lá as fez recuar. Elas viram a sombra do monstro e perceberam que já estava subindo as escadas, Wandinha empurrou as duas em direção ao elevador.
Wandinha fechou a entrada e as três tentaram ficar o mais quietas possível, infelizmente Winnie não conseguiu.
Ela estava respirando muito rápido, seus olhos estavam nublados pelas lágrimas que queriam sair, ela tapou os ouvidos tentando não ouvir o monstro que para seu azar sabia que eles estavam ali, o bicho de pelúcia caído ao seu lado. Ela fechou os olhos, forçando-se a imaginar qualquer coisa, exceto este lugar e o monstro, mas ele continuou a assombrá-la.
Wandinha olhou para ela quando percebeu o que estava acontecendo, segurou suas mãos e a obrigou a olhar para ela.
Elas voltaram para aqueles tempos novamente.
— Winnie, olhe para mim, está tudo bem, ok? — Wandinha murmurou para ela. — Siga minha respiração e apenas olhe para mim, você pode fazer isso, Winnie? ─ a ruiva assentiu rapidamente, desesperada para se acalmar, ela sentia que seu coração estava sendo apertado e doía.
Mas antes que elas pudessem fazer qualquer coisa, o monstro rasgou o metal com suas garras, fazendo com que Wandinha recuasse para se proteger.
Enid gritou depois de se obrigar a ficar em silêncio, mas perceber que o monstro ainda estava ali a fez parar de falar mais. Winnie cobriu a boca para não gritar e se forçar a se acalmar.
A corda que prendia o elevador acabou se partindo, fazendo com que eles caíssem e saíssem do lado de fora à força. Winnie pensou por um momento que algo havia quebrado antes do golpe que atingiu o chão.
As três se levantaram com dificuldade, mas Wandinha parou ao perceber que estavam cercada por prateleiras com milhares de potes. Enid aproximou-se de Winnie, com medo de não saber exatamente o que fazer com seu ataque de pânico.
Wandinha aproximou-se de uma lâmpada, acendendo-a ao notar que em alguns frascos estavam os pedaços que faltavam das vítimas. Agora ela tinha algo.
Passos foram ouvidos acima delas, Winnie apenas percebeu que elas estavam no porão. Wandinha foi com elas para que se apressassem e se dirigissem à única saída, uma janela onde por sorte caberiam.
Winnie foi a primeira a sair, com muito medo de ficar lá. Enid a seguiu, mas Wandinha demorou mais do que elas gostariam.
─ Wandinha por favor, já chega! — Winnie gritou com ela, querendo ir embora e nunca mais voltar.
─ São as partes que o monstro tirou das vítimas!
─ Sim, que lindo! — Enid exclamou, apontando para o monstro que já estava lá.
Finalmente Wandinha saiu e as três estavam a salvo, Enid sem pensar duas vezes se levantou e ajudou Winnie, indo embora muito brava com Wandinha e seu estúpido plano de aniversário. Talvez ela estivesse com Winnie, mas ela se desculpou por 'mentir' para ela (já que Wandinha não o fez) e depois daquele ataque ela não quis deixá-la sozinha quando Winnie fez o mesmo com ela.
─ Você está bem?
— Como se você se importasse.
★
Depois que Tyler foi encontrado ferido, ele foi curado e Wandinha voltou para a mansão com o xerife Galpin, surpresa que os frascos não estavam mais lá, ela entrou na sala percebendo que Enid estava guardando suas coisas.
─ Onde você está indo? • ela perguntou sem entender, elas não deveriam fazer nada com ela ou Winnie depois do que fizeram.
─ Para o quarto de Yoko, assim como Winnie. ─ Wandinha olhou para a mencionada temendo o que ela dissesse, esperando que fosse apenas uma piada estúpida, mas Winnie estava deitada na cama de Enid de costas para ela, com o bicho de pelúcia entre os braços. ─ Ela está dormindo, consegui acalmá-la depois de cerca de meia hora. ─ ela disse sabendo que queria respostas. ─ Yoko disse que poderíamos dormir lá por alguns dias.
─ Não é necessário. Falei com Weems, eles não vão puni-las ou Xavier.
— Devo te agradecer? — Enid perguntou ironicamente.
─ Já pedi desculpas, acabou.
Enid olhou para ela, já farta de tudo.
— Acabou? — Enid repetiu, começando a explodir. — Esta noite foi a cereja do bolo que você nem se deu ao trabalho de cortar. Você usa qualquer um para conseguir o que deseja, mesmo que isso signifique se colocar em perigo. Você nem se preocupou em ajudar Winnie com seu ataque de pânico, você se importava mais com alguns pedaços de carne do que com alguém que esteve ao seu lado por anos! Nós poderíamos ter morrido, Winnie poderia ter morrido, mas ooh sua obsessão estúpida...
─ Mas não foi assim. ─ Wandinha a interrompeu, não era verdade, ela se importava com Winnie, ela sempre se importava. ─ Winnie é importante para mim, muito mais do que você pensa. E agora estou um passo mais perto de resolver este caso, isso também é importante.
Enid suspirou, tentando se acalmar.
─ Bem, não foi o que você mostrou, porque fui eu quem a acalmou. Ela até ficou com hematomas nos joelhos quando caiu e fui eu que a ajudei a andar enquanto você olhava para aqueles potes estúpidos! — Wandinha tentou falar, mas Enid a interrompeu. — Fiz um esforço, até ajudei as duas a se aproximarem. Eu tentei e tentei e tentei ser sua amiga, sempre disposta a arriscar, considerei seus sentimentos. Eu sei que ela tem a vibe de serial killer, mas ela é apenas tímida.
— Eu nunca pedi para você fazer isso.
─ Você não precisava fazer isso porque é o que uma amiga faz! ─ exclamou fazendo Wandinha simplesmente ouvir. ─ Você não precisa perguntar. E o fato de você não saber diz tudo. ─ ela foi até Winnie e a moveu gentilmente, mesmo ela já acordada da briga, ambas pararam mas a ruiva não se atreveu a olhar para Wandinha que tentava seus olhos para se conectar. ─ Você quer ficar sozinha, Wandinha? Então fique!
A porta se fechou, mas Wandinha não vacilou, paralisada demais para reagir.
Goody havia dito a ela, e ela confirmou. Ela deveria ficar sozinha e, pela segunda vez, não gostou.
Ela não podia acreditar, por suas ações ela havia arruinado tudo novamente. E ela não sabia se ia se consertar dessa vez, mas não ia deixar Winnie pedir perdão de novo por algo que não tinha feito.
Ela havia perdido Enid e finalmente percebeu o que isso significava para ela, além de ser a causa de sua proximidade com Winnie e agora também era a causa de afastá-la dela. Mas ela tinha suas razões para fazer isso.
Mas doía, sua mente a torturava ainda mais ao repetir os momentos com Winnie e Enid repetidas vezes.
Ela não queria isso, mas supôs que Goody estava certo.
Ela tinha que manter Winnie longe dela e mudar o destino se quisesse que a ruiva estivesse segura antes que fosse tarde demais.
Mesmo que ela não estivesse pronta para isso.
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