Um agrado entre nós
Era véspera da festa de Mirtes e ela descansava em casa enquanto Marcel e Ofélia ajustavam os derradeiros detalhes da grandiosa recepção. Estavam ambos quase sozinhos na casa de Marcel, porque havia ainda no imóvel algumas pessoas, nos fundos da residência onde recebiam e armazenavam as mercadorias previamente encomendadas. Muitas daquelas compras exigiam cuidado por sua delicadeza, como bolos e doces finos, além das bebidas que não podiam ser expostas ao calor.
Em algum momento Ofélia se sentou no estofado que ainda não tinha sido removido do salão.
— Isso é demais para minha pobre perna coxa. — A mulher resmungou enquanto observava os enfeites. Até mesmo os lustres tinham sido trocados por outros maiores para dar mais brilho na recepção.
— Ora mulher, eu não vou citar as coisas mais difíceis que você faz, mas elas cansam mais que isso aqui. — Marcel se sentou também e cruzou as pernas.
Ainda esperava por uma resposta de Ofélia, que tinha prometido conversar com Julião. Resolveu aguardar quieto, pois antes já tinha incentivado demais ela a se abrir. Esperar fazia parte da vida, mesmo que a ansiedade o corroesse dia após dia.
— Marcel... — Ofélia chamou a atenção dele, em tom que ele julgou suspeito.
— Sim. — O francês olhou para ela e ergueu uma sobrancelha tentando adivinhar o que seria dito.
— As coisas entre mim e Julião estão resolvidas há algum tempo. — Ela falou enquanto com a ponta do dedo indicador fazia círculos no assento do sofá.
— Isso quer dizer que... — Marcel abriu um sorriso largo e se aproximou dela.
— Podemos nos unir em um namoro. — Disse Ofélia, sem jeito, enquanto sentia o coração disparado. O de Marcel estava no mesmo estado, mas de alegria.
— Que grande notícia! — O homem exclamou antes de puxá-la pela cintura e beijar sua boca.
Ofélia correspondeu imediatamente e Marcel a puxou de modo que a mulher ficou sentada em seu colo. Marcel beijou o maxilar dela, depois o pescoço, até chegar ao colo e na parte dos seios que estava fora do decote. Era uma faixa estreita, mas suficiente para gerar uma reação na região íntima da mulher. Enquanto Marcel a beijava, Ofélia sentia tudo que ele despertava em seu corpo. Com os olhos fechados, ela recebeu de bom grado a todos os arrepios que ele lhe causava quando tocava com a boca naquelas regiões sensíveis.
O homem lambeu e o mordeu o lóbulo da orelha dela, arrancando um gemido que o deixou vaidoso. Ofélia colocou uma mão sobre a parte íntima de Marcel e começou a massagear, sentindo a solidez cada vez maior contra sua palma. A respiração dele ficou mais pesada e ele a beijou com mais empenho para tirar a sanidade que ainda restava.
Ofélia montou as pernas de Marcel ficando de frente com ele e beijou o pescoço do homem enquanto rebolava onde antes sua mão estimulava. Marcel fechou os olhos e gemeu. Quando recebeu uma mordida suave no pescoço, ficou louco e a jogou de costas sobre o sofá, ficando com o corpo sobre o dela.
Ia levantar a saia do vestido quando ouviu alguém limpar a garganta.
— Não olhe, esposa. — Ícaro colocou uma mão sobre os olhos de Clementine, que por sua vez começou a rir um pouco constrangida. — Entramos em um antro de pecado.
Marcel se levantou sorrindo e ajudou Ofélia a sentar no sofá. Estava vermelha como pimenta malagueta.
— Sinto muito se meu vigor o incomoda, cunhado. Talvez você seja do tipo sem sal. — Marcel abriu os braços enquanto ria.
— Marcel, tenha vergonha! — Ofélia repreendeu enquanto dava um tapa no homem.
Ocorreu que ela não calculou de maneira certa e acabou acertando a bunda do francês, ao mesmo tempo em que Ícaro destapava os olhos de Clementine.
— Meu Deus... — Clementine disse e Ícaro tapou os olhos dela novamente.
— Eu preveni, esposa. — Ícaro falou ao pé do ouvido de Clementine e ela sentiu um arrepio.
— Considere isso como pagamento pelo beijo que deram quando resgatamos minha irmã e meu sobrinho. — Falou Marcel, e Ofélia, já em pé com sua bengala em mãos, lançou nele um olhar de repreensão. — O quê?
— Quando eu resgatei. — Ofélia corrigiu.
— Detalhes, mon coeur. Detalhes. — Marcel dispensou com um riso descarado.
— Não acredito que você chama Ofélia pelo mesmo apelido carinhoso que Clementine usa comigo. — Ícaro reclamou enquanto se aproximavam do casal. — Seja mais criativo.
— Até onde eu sei, minha irmã não é a única no mundo a poder usar a expressão "mon coeur". — Marcel retrucou.
— Ora Marcel, você continua impossível. — Clementine abraçou o irmão com a força de seu amor. O mais novo emanava alegria em vê-la.
— E você continua linda, ma petite Clementine. — Ele disse e a irmã sorriu. Era engraçado ser tratada assim, principalmente sendo ela a mais velha.
— Je ne sais pas comment te remercier. — Clementine respondeu.
— Tu es toujours si modeste. — Marcel acariciou o rosto da irmã. — Je t'aime ma soeur.
Clementine abraçou Ofélia enquanto Ícaro cumprimentava Marcel de forma enérgica. Estavam todos felizes em se ver.
— Está tudo tão bonito. — Clementine observou o local. — Se tivesse uma filha você não faria festa tão suntuosa.
Esse comentário fez Ofélia desviar o olhar. Claro que Clementine não tinha culpa por não saber de sua condição. Marcel segurou a mão da amada.
— Tenho dinheiro e não gasto muito, por isso eu resolvi me exibir através de Mirtes. — Marcel replicou.
Pelo olhar do irmão Clementine soube que havia algo errado. Era um sinal deles, ele baixar levemente a pálpebra esquerda para avisar que algo não estava certo.
— Isso é típico de você, mon frère. Usar os outros como pretexto para brilhar. — A mulher deu uma piscadela para Ofélia.
— Fico feliz que goste de gastar sua fortuna, cunhado. — Ícaro sorriu largo. — Farei bom proveito enquanto estiver aqui.
— É um folgado. — Marcel olhou para o lustre. — Oh Deus, não me destes um cunhado, mas sim um fardo.
Ofélia, Clementine e Ícaro riram do drama exagerado de Marcel.
— Como está meu irmão? — Ofélia perguntou para Clementine.
— Émile segue saudável como sempre. E esperto... — A francesa colocou as mãos na cintura. — Ele gosta de montar. Ícaro deu um cavalo somente para ele, mas claro que ele não tem tamanho para cavalgar sozinho, apesar de querer.
— Quero vê-lo em breve e levarei Mirtes comigo. — Ofélia falou empolgada. — O cavalo dele tem nome?
— Sim e foi Émile quem escolheu. — Clementine sorriu. — É Rocinante.
— Como em Dom Quixote? — Marcel questionou surpreso.
— É a história que leio para ele quando vai dormir. — Ícaro contou. — Por algum motivo o personagem favorito é o cavalo, que mal tem relevância no enredo.
— E é mal acabado. — O francês parecia surpreso com a escolha do sobrinho.
— Já tivemos um cão de nome Boi, porque Mirtes achava que o pêlo se parecia com o de um bovino. — Ofélia contou e riu. Por um momento sentiu saudades de quando a irmã era mais nova, mal acreditava que ela já ia inteirar seus quatorze anos.
— Deve ser uma tendência de família. — Ícaro brincou fazendo referência ao fato de Ofélia, Mirtes e Émile serem irmãos.
A mulher sorriu. Queria mesmo ver o meio-irmão.
— Ficaremos aqui por hoje e amanhã, mas creio que não poderemos vir à festa como prometido. Chegamos tarde e não tivemos tempo de arrumar o traje. — Clementine se lamentou enquanto mudava de assunto.
Marcel estralou os dedos e saiu sob olhares curiosos que o observaram abrir uma porta no canto da sala e tirar de lá duas caixas, uma maior que a outra. Ofélia reconheceu imediatamente que eram das caixas que a modista e o alfaiate usavam para enviar suas encomendas. O homem carregou as caixas e as depositou sobre o sofá, uma ao lado da outra, depois as abriu revelando o conteúdo.
— Não sabia quanto tempo demorariam a chegar, mas achei melhor prevenir. — Marcel contou. — Espero que sirvam, porém se ficarem largas conhecemos algumas boas costureiras.
— Camila pode ajudar. — Disse Ofélia enquanto observava o casal erguer os trajes.
O de Clementine era vermelho escuro com alguns caminhos dourados ao longo do tecido. O traje de Ícaro era preto e branco, dentro do padrão básico. Pela satisfação na face do homem, o cunhado tinha acertado.
— O tamanho está perfeito. — Clementine estava surpresa mesmo sabendo que o irmão era bom com medidas.
— Suponho que foram anos de muito treino. — Ícaro, desprendido do contexto, comentou fazendo alusão às conquistas de Marcel.
Ofélia olhou feio para o francês que arregalou os olhos e estendeu as mãos espalmadas.
— Não seja indelicado, Ícaro! — Clementine pisou no pé do marido.
— Não se preocupe, Clementine. — Ofélia falou. — Não é como se eu não soubesse que ele esteve aquecendo milhares de camas.
— Por quem me tomas? — O francês repreendeu com ares de ofendido. — Milhares? Centenas com certeza, mas milhares é um pouco demais.
Então o homem chegou a boca bem próxima ao ouvido de Ofélia e sussurrou as palavras seguintes:
— Não se preocupe, mon coeur. De agora em diante aquecerei somente sua cama... — Disse com malícia. — E seu corpo.
Ofélia ficou imediatamente vermelha, Clementine sorriu e Ícaro ergueu uma sobrancelha.
— Desavergonhado. — Ícaro resmungou.
— Não tenho culpa se meus ânimos são enérgicos. — Marcel se gabou.
— Marcel! — Clementine e Ofélia repreenderam ao mesmo tempo.
— Não se finjam de inocentes. — Ele olhou para ambas.
— Ora, vejam quem nos dá a honra de suas presenças. — A voz de Azarado soou vinda da entrada.
Homem estava sozinho ali. Sorte evitava sair porque a barriga pesava e as camadas de roupa incomodavam. Além disso, as bacadas que tomava sempre que a carruagem andava pelas ruas irregulares da cidade, nunca eram boas.
Os cinco seguiram por mais tempo em uma conversa agradável, até que Ofélia partiu para ajudar a irmã com os últimos preparativos para sua noite especial.
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Ma petite: Minha pequena.
Je ne sais pas comment te remercier : Nem sei como te agradecer.
Tu es toujours si modeste. Je t'aime ma soeur.: Você é muito modesta. Amo-te, minha irmã.
Mon frère: Meu irmão.
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