Marcel se mudou para a casa das Weirtz, lugar que a partir de então começou a ser chamado de lar. Era um pouco estranho e doloroso andar por ali e lembrar-se de Ofélia, mas confortava o coração ver que Mirtes se sentia melhor instalada onde estavam suas melhores recordações. Mirtes era surpreendente de forma singular. Era ainda muito sofrido para ela passar por aquele luto, mas pelo menos a mocinha voltou a se alimentar e o choro tinha dado lugar a longos momentos de contemplação de um retrato da finada irmã.

Aos poucos o francês arrumou tudo para que pudessem seguir a vida. Nenhum dos dois ocupou o quarto de Ofélia e nem mudou ele.

Na ocasião da missa de sétimo dia, Mirtes acordou cedo. Com a ajuda de Camila, que também estava muito triste, se aprontou como mandava a etiqueta das famílias bem nascidas.

— O senhor Marcel já acordou? — Mirtes perguntou com voz um pouco abatida.

— Ainda não o vi hoje. — Camila falou com indiferença ensaiada. Achava que seria melhor se Mirtes não tivesse estímulo para as emoções transbordarem.

— Isso é estranho, ele sempre acorda antes de mim, e é pontual. — A mocinha se olhou no espelho. O reflexo refletia a preocupação em seu rosto.

— Talvez tenha bebido ontem e caiu em sono profundo. — Camila especulou.

— Ele não tem bebido desde que nos mudamos. — Mirtes se levantou, pronta para a missa.

Saiu do quarto, andou pelo corredor e, meio vacilante, bateu na porta do quarto de Marcel enquanto chamava por ele. Nem sinal de movimento. Ficou preocupada. Pediu para que Camila entrasse no cômodo e verificasse algo havia ocorrido, pois seria constrangedor para si caso o visse nu.

A mais velha adentrou com receio e chamando por Marcel, mas logo escancarou a porta sem nenhum cuidado.

— Ele não está aqui! — Ela mostrou o quarto vazio. Os lençóis se viam ainda bagunçados.

Mirtes passou o olhar pelo quarto e viu um papel posto em cima da mesinha de cabeceira, coisa que geralmente não ficava ali. Curiosa se aproximou e pegou o pedaço de papel onde algumas palavras foram escritas de qualquer jeito:

Ele está morto e não voltará mais. Mude-se.

Mirtes sentiu que mergulhava em um pesadelo terrível e começou a chorar. Camila gritou até que Julião apareceu na porta do quarto.

Camila explicou a situação e Julião foi direto até a casa do marquês de Diamantais para avisar que Marcel tinha sido sequestrado e, ao que tudo indicava, se ainda não tinha sido assassinado, em breve o seria.

Ninguém na casa tinha visto quando homens habilidosos entraram por uma janela aberta, renderam Marcel na cama e o desmaiaram, carregando ele dali. Eram pessoas que sabiam como os fundos eram bons para uma fuga, já que observaram muitas vezes quando Ofélia voltava de suas incursões.

A missa de sétimo dia não aconteceu porque um grupo foi organizado para tentar encontrar Marcel. O problema era que mesmo que quisessem muito, não conseguiriam nem o mais fraco dos rastros.