♛. 𝟬𝟬𝟬 ━ PROLOGUE.
🐉. OF BONES AND EMBERS.
━━━ CHAPTER ZERO; PROLOGUE.
📍. 131 DC, PORTO REAL.
Uma chuva torrencial se iniciou.
Infundiu-se como uma tormenta bem-vinda e depurou as máculas carmesim que ainda permaneciam pregadas na estrada da guerra, empilhadas em camadas de carnificina e dor. Foi taciturno. Bom. Hera pode ouvir os servos sussurrarem; os deuses são misericordiosos com seus fiéis. O novo rei lhes agrada. Não era comum chover no inverno. A estação que intrigava os Meistres da Cidadela chegara ainda quando Rhaenyra reinava triunfante em Porto Real. E por suposto, os servos estavam corretos. Os deuses estavam contentes. As terras devastadas pelas flamas corromperam as previsões armazenadas para o inverno, projetando uma inquietude na população que seria saciada com as gotas milagrosas que traçam seu caminho do céu.
O ar era frio, denso e pesado. A lembrou de Pedra do Dragão; quando a água salgada do mar cobria as rochas escuras, batendo contra a costa impiedosamente enquanto os pelicanos flutuavam sobre as ondas oscilantes. Os borrifos respingariam e a linha da maré se desmancharia em seus pés afundados na areia escura, espiralando o frescor salgado de maresia, agradável e viciante. Ou quando a brisa algente da noite sacolejava suas narinas após uma volta em Serkan, até as memórias distantes de sua infância em Pedrarruna, cavalgando com sua mãe e seus sentidos sendo intensificados pelo vento batendo em seu rosto e a preenchendo com vigor. E em Pentos e as Cidades Livres que visitou ao lado de seu pai e Laena, costumes diferentes e destituídos de represálias como em Westeros, margeando-a com satisfação.
Sempre foram seus lugares favoritos, nada como Porto Real. Não suportava ficar consciente por muito tempo envolta das paredes tortuosas da Fortaleza de Maegor, podendo jurar ouvir os gritos dos desafortunados assassinados por o Cruel.
Diferente das pessoas que aspiravam o principal assentamento da família real como uma alcova de oportunidades, Hera, quando passara a compreender a sublime finalidade da situação que transcorria ao redor de lados divididos por duas facções, o viu como um lugar onde ela deveria ser diligente. Ela era cuidadosa com os cortesãos que vagavam pela corte, as gentilezas que recebia quase sempre mascaradas por animosidade. Ser filha de quem era incentivou os olhares tortos, mas isso a endureceu para notá-los antes que fosse tarde. Os lambe-botas estão sedentos para sacrificar alguém, infestados por sua devoção cega aos Hightower e sua prole, Daemon uma vez disse.
Não era uma mentira.
Ainda que o Rei Viserys estivesse resoluto em sua decisão de prosseguir Rhaenyra como sua herdeira, haviam mãos gananciosas que tramavam contra sua incontestável pretensão. Essas que foram um estopim, convertendo Porto Real em um lugar mais infame e sórdido.
Os sorrisos falsos envergaram sorrisos trêmulos, do tipo coagido que se expõe para encobrir o medo.
A sufocava o suficiente para sentir mãos se enrolarem em seus calcanhares e a arrastarem para baixo, como se estivesse se afogando, a água escura entrando em seus pulmões e seus olhos tornando-se turvos à medida que queimavam em desconforto. A liberação reprimida quando tudo o que gostaria de fazer era gritar, até que sua garganta estivesse em carne viva e que o inchaço adornando sua alma retrocedesse, apenas para aliviá-lo de sua constante consternação.
Talvez essa tenha sido a motivação que a incitou a abandonar seus aposentos e caminhar pelos corredores. Seus passos firmes rangendo sob o chão de mármore escuro, o barulho da chuva sendo abafado pelas paredes vermelhas. Candelabros de ferro guardavam tochas desvanecidas e vez ou outra um guarda movia-se ao seu redor, cumprimentando-a com um aceno conciso.
Com cautela ao acelerar seus passos, Hera atravessou os andares que guardavam os quartos até que o salão principal se acendeu em seus olhos, mais iluminado que os outros cômodos, com as janelas abertas flanqueando a claridade em sombras suaves, a tapeçaria de sua linhagem percorrendo um longo caminho nas paredes, de Aenar a Daenys e Gaemon, para Elaena e Aegon e um longo ramo oriundo do sangue da Antiga Valíria. Um exorbitante lustre pingava no centro com cristais pontiagudos e o teto abobadado carregava desenhos e runas valirianas.
Aproximando-se da saída enquanto acenava em direção a Sor Laszlo e outro homem que não recordava o nome, ambos guardando a porta, cada um disposto de um lado, o estandarte do caranguejo em um fundo branco — o símbolo da Casa Celtigar —, esculpido no canto superior da armadura revestida de prata. Notou quando os homens arquearam as sobrancelhas, confusos, seus elmos descansando embaixo dos braços ao vê-la se dirigir às portas munidas e as abrir lentamente.
— Senhora...
Sor Laszlo a chamou, seu tom baixo indicando que ele não parecia apreciar sua saída. Seu cabelo ébano escorria até os ombros e um vinco surgia em sua testa, a preocupação estampada em seus contornos. Eram leais, isso ela não podia contestar.
— Não se preocupem. Preciso tratar de um assunto na Fortaleza Vermelha. — Ela precisava apenas sair um pouco. — Vou voltar a tempo de jantar com o rei e o menino Gaemon. Cuidem de sua proteção, enquanto isso.
Sor Laszlo deu um passo à frente, sua boca se abrindo como se quisesse dizer algo, antes de seus lábios se fecharem novamente em uma linha reta compenetrada. Ele se curvou em uma mesura, seu cabelo grisalho caindo no rosto.
— É recomendável que a senhora leve companhia. Posso chamar Sor Lewin, se assim desejar. — O outro homem sugeriu, tão ciente das almas maliciosas que vagam pela Fortaleza Vermelha quanto ela sabia existir.
Embora, honestamente, duvidava que alguém se arriscaria a machucá-la. Hera não estava se frustrando com seu próprio otimismo de que as pessoas eram boas, porque ela mesma não era. Todos ali defendiam seu sangue, como ela, ainda que burlasse certas moralidades que fariam sua Septã castigá-la em outro tempo.
Mas havia algo que a distinguia e a implicava como uma coisinha potencialmente inibidora.
Seu dragão resistiu à dança.
Era quase tão grande quanto Caraxes foi e um adulto, destoando de Morning que eclodiu há menos de duas luas. E ainda que Serkan se mantivesse afastado das afuniladas encobertas das ruas da cidade e sobrevoasse a Estrada do Rei, gladiando os céus enquanto alimentava-se das carcaças dos corpos falecidos, o vínculo com a montadora que acompanhou desde o berço era claro.
Todos pareciam venerar os dragões magistrais restantes, mesmo depois do que fizeram a muitos deles. O pensamento fez suas veias dilatarem e seus pálidos olhos lilases se escureceram. Hera pressionou as unhas contra a palma da mão, a lembrança de suas perdas no ataque ao fosso traçando um caminho sombrio em seus pensamentos.
Mas uma conclusão que ela poderia suprir disso, é que muitos não seriam estúpidos de atacá-la. Não se temessem o fogo do dragão.
E depois da monopolização da dança nos cantos mais vastos possíveis dos Sete Reinos, todos sofreram com os estragos. As plantações queimadas, os fortes destroçados... uma questão de preservação, evidentemente.
— Não será necessário, Sor. Mas agradeço seus cuidados.
O homem acenou, ainda que a contragosto. Ela foi a viúva de seu antigo senhor e o novo respeitava sua opinião tão explicitamente como gostava de ouvi-las. E com sua ciência sobre certos atos, Hera conquistou seu respeito por mérito próprio.
— Se assim desejar, senhora. Tenha cuidado.
Ela curvou os lábios em um sorriso fraco. Os círculos arroxeados na parte inferior de seus olhos estavam menos nítidos que nas primeiras noites, mas ainda sim permaneciam ali, com a memória de sua exaustão.
Hera vestia um vestido de cetim aveludado azul-cobalto, uma cor que representava o luto e era apertado em seu tronco e fluído na saia, às mangas estendendo-se aos pulsos e caindo como sino. O decote era de formato coração, bordado com fios de prata, assim como ao redor da cintura.
A princesa atravessou a porta e seguiu pelo pergolado de madeira que anexava-se a entrada do próximo castelo, acelerando seus passos e não poupando olhares aos homens do senhor do norte que pareciam mais preocupados em observar suas longas barbas e as gotas de chuva despencando no chão de pórfiro vermelho do que sua presença, de qualquer maneira.
Hera perdeu-se entre as paredes de coloração rubra, esgueirando-se pelas escadas. Os servos trancavam as janelas conforme a direção da chuva direcionava o aguaceiro para dentro dos cômodos e arrastavam madeiras para aquecer as lareiras. Sua sombra colada a si, assim como olhares mal disfarçados que a observavam. A mulher preferiu os ignorar.
Ela caminhou até chegar em uma das pontes cobertas que ladeavam a Fortaleza Vermelha, seus ombros retos e cabelos loiros-platinados cascateando por suas costas. A visão de um dos celeiros cercou seus olhos, a suntuosa porta de madeira trancada enquanto os cavalos relinchavam lá dentro, as torres sentinelas de um tom cinzento que se erguiam ao redor deles vazias, poças se formando na lama esburacada e feno minguando com a umidade. Mais adiante, se pressionasse os olhos, conseguiria enxergar os espigões forrados com a cabeça de traidores e os corvos que se banqueteavam de seus restos, nem um pouco incomodados com as águas deslizando do céu.
O horizonte arrastava o sol entre as montanhas, o verão que antes derrubava-se em uma intensidade tórrida sobre suas cabeças agora queixava-se em um calor morno. Às nuvens se dispersavam à medida que iam se esvaziando e as primeiras ruas estreitas abaixo já se alumbravam.
Quando chegou em um canto mais isolado, longe dos homens que passaram a acender as tochas com piche, descansou contra a proteção de madeira, aquela que deveria impedir alguém de deslizar contra o chão e morrer, ainda que alguns homens bêbados aos tropeços após uma noite de farra tenham encontrado destinos humilhantes em seu desleixo.
Hera fechou os olhos, ergueu o pescoço e aproveitou quando a brisa úmida sopapeou suas bochechas, as gotas suaves que morderam seu rosto contra a direção da força dominante do vento. Sugando o ar ao seu redor, Hera sentiu um gemido irromper de seus lábios rosados, antes que suas unhas se afundassem na lasca de madeira, desviando de seu desejo contido que a envolvia por sangue.
Ainda existiam pessoas que mereciam nada além da morte.
Alicent Hightower era uma delas.
A cadela verde que estava protegida, confinada em um aposento. Se Hera não poderia arrancar por si própria a vida de Aemond Targaryen, ela aspirava e almejava tê-la a de sua mãe em mãos. Mas essa chance estava sendo bruscamente compelida por terceiros.
Foda-se se estava sendo egoísta, muitas coisas giraram entorno das escolhas malditas que ela tomou.
Havia uma vibração profunda e silenciosa soterrada em sua melancolia sussurrando em seu ouvido para matá-la. Mas então sua razão se sobressaía.
Isso implicaria o início já estremecido do reinado de seu irmão, e as forças que um dia dobraram seus joelhos diante o Usurpador perceberiam em sua eventual brecha uma forma de projetar seus interesses anteriores. Então ela deveria conter as palpitações violentas de seu coração. Até suas pálpebras que tremiam e seus pulmões que se contraíam com a pressão ansiosa.
Hera sentiu seus joelhos fraquejarem.
Ela sentia falta de Serkan. Ela o queria sobrevoando os céus à sua frente, mas sabia que o borrão nos olhos de Aegon novamente retornaria.
O aumento de sua agressividade, seu desconforto e desconcentração — mas Hera entendia tudo isso. Como ela não poderia?
Seu irmão presenciou algo que não deveria; foi cru, visceral e cruel. Palavras vazias como espinhos compelindo sua língua, olhos arregalados de descrença e sua mãe sendo assassinada bem na frente de seus olhos.
Sua aversão a um dragão foi natural quando ele se mostrou tão hostil na presença de Serkan, ainda que houvesse crescido o contemplando.
A tristeza que o rodeava era tangível e Hera sentia como se agulhas a mutilassem com a imponência aterradora que se espalmava e seu peito. Aegon estava mergulhado em uma dor profunda que destoava do pequeno menino feliz que um dia ele foi, chorando quando a noite caía e as sombras o ocultavam.
Hera se sentiu tão miserável naqueles momentos.
Assistir ao sofrimento de seu irmão, imóvel, sem conseguir acalmá-lo, conhecendo sua dor. Ela perdeu sua mãe também, ainda mais nova. Às vezes quase não se lembrava de Rhea Royce, apenas de seu sorriso brilhante reservado especialmente a ela, não o etéreo contido de uma senhora bem nascida. Hera sabia o quão difícil era, os dias cada vez mais longos, a saudade que a faria lembrar de como suas rotinas costumavam a ser — desperte, compartilhe seu desjejum e vá cavalgar até as coxas começarem a latejar. Então a voz começa a ficar confusa e o rosto passa a ser embotado.
E isso dói mais. Quando sua figura tão linda e aconchegante torna-se, de fato, um fantasma do que um dia foi e agora é apenas uma sombra.
A única coisa que ela poderia oferecer eram seus braços para que ele se enrolasse neles e despejasse todo seu sofrimento.
— Me disseram que abandonou a Fortaleza de Maegor novamente. Vim conferir com meus próprios olhos. — A voz grave a libertou do bloqueio de sua própria tristeza.
Hera não precisava abrir os olhos para saber quem era; ela passou a reconhecer seu timbre e sua fragrância composta por gerânio, bergamota e musgo de carvalho. Suas narinas se acostumaram com o cheiro agradável.
Aqueles soldados desgraçados.
— Meu senhor, creio que esse assunto já fora resolvido. — Hera retrucou indiferente, limpando a garganta quando abriu os olhos e olhou para ele, nivelando-o na altura de seu rosto. Cregan Stark era bons centímetros maior que ela. — Não irei me manter confinada em meus aposentos, tão pouco meu irmão. Ainda que eu aprecie a maneira como acredita que isso o manterá seguro.
O senhor de Winterfell balançou o rosto largo sutilmente, sua beleza invernal gravada em cada detalhe de sua pele. Embora Cregan houvesse cedido o confinamento dos aposentos, não lhe agradava a ideia de caminharem sem companhia ou escolta.
— A corte ainda está rodeada de traidores. Um rei foi morto. O que os impede de cometer o mesmo ato a outro? — Ele suscitou, encostando-se na parede e cruzando os braços acima da cintura.
A chuva se intensificou. As gotas se tornaram grossas. E Hera pressionou a madeira com mais força.
— Com todo respeito, Lorde Stark. Mas julgar que Lorde Velaryon cometeria qualquer atentado a vida de meu irmão é um exagero. — Ela cerrou a mandíbula, apoiando o queixo ligeiramente quadrado no ombro com um sorriso torto que aprendera orquestrar. — Eu estive presente quando ele ofereceu a possibilidade de trégua entre ambos os lados. Eu garanto, ele não tem pretensão alguma de ferir o rei quando este compartilha sangue com suas netas.
Algo como zombaria deslizou pelos lábios dele. Hera sentiu as narinas dilatando, uma respiração áspera cortando o espaço entre sua boca.
— Compartilhar sangue não vale muito se formos pensar nos eventos recentes, minha princesa. Amigos falsos são fáceis de serem encontrados.
— Lorde Stark... — Hera se virou para ele completamente agora, sentindo seus cílios baterem contra suas bochechas rosadas pela temperatura quando piscou languidamente. O senhor de Winterfell não se desprendeu de sua ação, olhos cinzentos queimando em seus trajetos. Sua voz suave estilhaçou o ar gelado. — Deve abaixar seus muros por um instante. Suas graves acusações precipitadas enfureceram Alyn Velaryon.
Ela havia conseguido a liberdade de Corlys, por enquanto. Larys Strong ainda estava preso nas masmorras, e por mais que Hera não confiasse nele, sabendo que o homem responsabilizava suas ações por seu senso distorcido de julgamento, sua repentina mudança os ajudou no final da guerra.
Sua relação com Cregan Stark era uma balança inconstante, frequentemente assumindo linhas de ceticismo com as diferentes visões que expeliam. Como a morte do Usurpador— ela pouco se importava e desejava ardentemente que Aegon estivesse em um inferno que o torturaria como lâminas afiadas cavadas em sua garganta. No entanto, ela não concordava com um assassinato em massa que implicaria ainda mais a estabilidade do reino, e mais uma vez ela e Cregan se viram em opostos; em sua opinião, crianças cresceriam e carregariam o ódio de suas mães viúvas. Mas ele ainda insistia em honrar a memória de um rei tão vil quantos as mãos que tramaram para colocá-lo no trono. Por que ele não poderia simplesmente deixá-lo ser esquecido como merecia?
Ainda sim, havia uma cordão invisível e crescente que nublava seus pensamentos acerca de questões políticas quando falava com ele; ou essas tornavam-se menos desgastantes. Seu jeito rude a perturbava, então ela pensava em uma resposta ainda mais inteligente para irritá-lo.
Quando os segundos passaram a se arrastar em minutos e o silêncio rastejou entre eles, o homem estalou a língua e desviou os olhos das íris violetas que o perfuravam com interesse. A balaustrada guarneceu seu corpo quando ele se encostou nela, sua presença irradiando um calor forte. Isso a intrigava. Quando era pequena, a ama de leite dizia que os homens do norte tinham ossos de gelos e expressões endurecidas. Mas o Stark era quente e expressivo, com exceção de quando permanecia zangado e seu rosto assumia uma fisionomia excessivamente séria.
— Alguém matou o rei.
— Obviamente.
— Não me faça parecer estúpido, Alteza. Você entendeu. — Ela encontrou os olhos dele. Tempestade de inverno.
— Peço perdão se pareci rude, senhor. — Seu sorriso gotejou como mel. Ela viu o Stark suprimir um bufo pela forma como sua mandíbula tencionava. Isso a fez alargar o canto de seus lábios. — Mas ele era um usurpador, Lorde Stark. E muitas pessoas se ressentem com usurpadores.
Cregan deu um passo à frente. Hera retrocedeu.
— E essas pessoas estão sendo convocadas para serem julgadas. Todos os possíveis suspeitos estão. É vergonhoso e desonroso matar por envenenamento.
Uma risada deixou os lábios da filha de Daemon Targaryen.
— Você suspeita daqueles que o próprio Aegon considerava seus aliados. Seu pequeno conselho e sua Guarda Real. Ele não passava de um covarde que se escondia nas saias da mãe e até seus homens mais próximos podiam notar isso. Você não vê que sua morte talvez tenha sido necessária?
Um trovão rugiu no céu quase completamente escurecido. Um suspiro deixou os lábios de Cregan, um suspiro que soprou em sua face. Quente. O homem ergueu uma sobrancelha, seus lábios se crisparam quando ele inclinou a cabeça em sua direção e atravessou seu rosto com um olhar impassível, até que travasse no olhar dela.
— O que quer dizer com isso?
Oh, o tom parecia acusatório. Com os olhos estreitos, um esboço de trepidação vibrou nas pálpebras dele.
Hera lambeu os lábios e Cregan seguiu seu gesto, quase em transe quando a voz dela saiu baixa, como se, de fato, o estivesse confidenciando algo secreto, jorrando palavras perversas sob uma voz quase angelical.
— Eu não matei Aegon se é o que está insinuando, senhor. Mas sabe de uma coisa? — Ela inclinou-se nos pés, tentando ficar na mesma altura que ele. O Lorde de Winterfell curvou a cabeça e ergueu uma das mãos, gesticulando para que Hera prosseguisse, ansiando saber quais seriam suas próximas palavras. — Eu gostaria de tê-lo feito.
Ela esperou alguma reação. Choque ou rosto encovado, afastamento ou algo do tipo. Mas o fantasma de um sorriso brincou nos cantos de seus lábios, ao invés disso.
— Princesa, sua honestidade é realmente fascinante. — Cregan respirou com diversão.
Hera ficou desapontada. Talvez ela esperasse que ele lhe acusasse do quão infame era ser um assassino de parentes?
— Você me elogia, meu senhor. No entanto, me julgaria se eu o tivesse feito.
— Talvez. — Ele respondeu categoricamente.
— Talvez? — Ela o cutucou, seu tom efervescente mal contido.
— Sim, talvez.
— O senhor é confuso, Lorde Stark. — A mulher suspirou. — Esse lugar...
Ela gesticulou ao redor, desviando os olhos dos dele pela primeira vez naquela noite. Hera varreu o céu, tão perdida na conversa que ambos compartilhavam que não notou que agora ambos estavam sob uma relva escura da noite, a lua com seu fulgor arrebatador derramando-se em sua brutal e bela natureza.
Cigarras ecoavam uma melodia melíflua e o fogo das tochas estalava ao lado. A chuva prosseguiu caindo como um manto pelas estruturas de pedra enquanto o vento assobiava, arranhando sua pele com uma brisa gélida. O cheiro de pinho e terra molhada se infiltravam no ar, seus dedos dos pés entorpecendo.
— Esse lugar?... — Ele incentivou.
Hera pode senti-lo se mexer ao seu lado, a barricada cedendo ao seu peso. A mulher estreitou os olhos, observando seu nariz avermelhado e a indagação escondia que aguardava sua admissão.
— Não combina com o senhor. E confie em mim, isso é algo bom. — Antes que o mais próximo de um vestígio de questionamento se acentuasse sobre sua resposta aberta a acepção, Hera flexionou o corpo para trás e corrigiu sua postura. — Preciso retornar para jantar com meu irmão, Lorde Stark.
Talvez sua resposta eviscerada não o fez protestar. Ele recolheu as mãos atrás das costas que arrastavam um manto branco e acenou sutilmente, tombando o corpo para o lado e concedendo sua passagem.
— Oh, certo. Tenha uma boa noite, Alteza. — O fogo ao lado crepitou quando seus corpos se afastaram, fundindo o ar em um mormaço suave. A voz de Cregan carregava uma rouquidão incomum quando ele olhou para ela, o primeiro sorriso verdadeiro e completo que ela o notou exibir naquele dia florescendo em seus lábios cheios. Ele era uma beleza clássica formada em sua aspereza natal, mais atrativo do que ela imaginou um homem das terras invernais ser.
Então Hera sorriu de volta, um zumbido delirante assumindo forma em seus sentidos.
— Boa noite, Lorde Stark. E desejo que possa estancar a inquietação que o sufoca. — Hera apertou a boca em zombaria, a iridescência de seus olhos se alargando quando o viu revirar os olhos em um gesto descortês, embora divertido.
Enquanto Cregan traçou o caminho final da Dança dos Dragões, ela esteve lá desde o começo. Uma tempestade sangrenta se dissolvendo em sua cabeça quando um trono foi roubado e um homem se fez rei sobre um direito que não o pertencia.
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OI GENTE!!! meu deus finalmente
consegui publicar esse prólogo depois de muitas lutas e ficou enorme 💀💀
a fic é dividia em duas partes, o antes que vai narrar a infância da hera pq eu quero muito escrever ela de duplinha disfuncional pai e filha com o daemon e o período de 131-???? ainda não decidi KSJAKSJKAJSKAJSKAJS
o que tão achando de house of the dragon?
vale ressaltar que a hera não é lá uma boa pessoa, mas nem todos os personagens de asoiaf são né? a fic tbm é principalmente pró team black, então...
eu já tenho o primeiro capítulo escrito até a metade então creio eu que não vá demorar muito para que eu atualize de novo. bjbj e obrigada por lerem <3
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