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Epílogo


Caraguatatuba, São Paulo, fevereiro de 2021.

A areia presente dentro da boca da Giulia a fazia querer matar e rir ao mesmo tempo.

A bola pegou mais uma vez no seu rosto, derrubando-a quase que instantaneamente, fazendo sua bunda localizar o chão com rapidez. Mario não aguentou a cena e tornou-se a rir, batendo de leve na mão de Jordi, o autor da arte.

— Você quase matou sua mãe, garoto. É com certeza um dos meus! 

Jordi sorriu, ganhando um toque do pai, que nem percebeu a bola voltando em sua direção, acertando seu abdômen em cheio. 

— Mas não fui eu, droga Giu!

— "O garoto é um dos meus". — Gesticulou com os dedos, rindo em seguida. — Nada mais justo que provar do próprio veneno. 

— Não seja vingativa igual a sua mãe!

— Jordi é um doce. Nunca será uma pessoa vingativa, ele só transmite amor. — Giulia concluiu, cortando a fala de Mandzukic, que devolveu o olhar de gratidão para ela.

O garoto queniano de 5 anos sorri com timidez, enquanto Giu corria em sua direção, envolvendo seus braços nele. Antes o que habitava em seu coração era medo.

Agora era amor. Um amor tão grande que era um pouco novo para o garoto digerir, depois de passar tanto tempo na sombra da fome e da angústia.

Foi certamente amor a primeira vista. Quando completaram dois anos juntos, em meados de 2019, uma decisão crucial passou pelas mãos, principalmente de Giulia, que sequer pensava nas possibilidades de ser uma figura materna para alguém — apesar de Suzie sempre dizer que ela era uma ótima mãe postiça. Era tudo muito novo, não sabia de fato se aguentaria tal situação. Mario, gentil como todo homem deveria ser, também não perguntava, gesticulava ou dava indícios para que ela agilizasse seu pensamento em relação ao fato. Eles estavam juntos, era mais do que o suficiente. 

Acontece que uma coisa pesou nesses anos. Na copa de 2018, onde a Croácia conseguiu seu maior feito na história da competição, alcançando o segundo lugar, Mario levou a brasileira para a Rússia, para que ela o acompanhasse nos jogos nas fases do mata-mata. Claro que a brasileira largou tudo e arrumou suas malas, permanecendo duas semanas no local. Gritou junto, até conseguiu decorar uma parte do hino que parecia um trava língua em sua boca, mas o grito final foi o mais emocionante. A croácia comemorava o segundo lugar como vitória, que de fato era.

Mario permaneceu com o filho de um dos seus colegas de trabalho o tempo inteiro. O garoto, filho de Vida, não queria sair do colo do atacante e isso o deixou emocionado, deixando Giulia observar as lágrimas que caiam em seu rosto, que só ela sabia o motivo. O seu coração naquele momento apitou forte, deixando a ideia de adotar mais visível em seu futuro.

Copa acabou, vieram as férias merecidas e um novo ano. Durante essas férias, Giulia e Mario fizeram um tour pela Europa, passando por diversos países do leste europeu, deixando a brasileira extasiada com cada lugar que passavam. 

E foi aí que a vida dos dois cruzou com a de Jordi.

O garoto era um dos sobreviventes de um de tantos naufrágios que ocorriam no mar mediterrâneo. As guerras constantes em seus países fizeram que inúmeros quenianos jogassem suas fichas a sorte, tentando atravessar, sair da zona de conflito para quem sabe, conseguir uma vida melhor no velho continente. O pai de Jordi — antes com o nome Abadu — acreditou nisso até o fim, mas sua determinação acabou sendo levada pelas águas do mar.

O garoto de três anos ficou sozinho, mas foi resgatado pela marinha francesa, e permaneceu no abrigo de refugiados até ser colocado para a adoção no país. Seu pai havia sido uma das vítimas do mar e sua mãe, da guerra. Abadu estava sozinho.

Mas a vida, ela tem suas peripécias.

Giulia e Mario estavam na França, tinham planos para permanecer durante três dias, podendo continuar a viagem pela continente europeu. No exato momento que o acidente ocorreu, o garoto foi manchete nacional, deixando a brasileira com os olhos marejados.

— Tadinho! Ele deve estar com tanto medo. 

E nesse momento, uma nuvem percorreu em sua cabeça, avisando que aquele era o momento certo de agir. 

E como se Mario pensasse a mesma coisa, ambos sorriram, repetindo juntos.

— Esse garoto é nosso.

Hoje fazia exatamente dois anos que Jordi havia se juntado a família. O processo fora rápido — Levando a condição e status que o jogador continha — E em cerca de três meses, tudo estava pronto para adoção. Quando Giulia foi até o abrigo conhecê-lo finalmente, suas pernas perderam a força ao ver que o garoto sorria em sua direção, certamente aliviado por sair daquela angústia vestida de solidão.

— Não sabemos o nome dele de verdade, os documentos foram perdidos no barco. — A assistente disse, enquanto o menino se escondia um pouco atrás de suas saias. — No registro colocamos o nome que desejaram colocar.

— E você gostou do seu nome, Jordi?

O garoto assentiu vergonhoso, mas logo em seguida sorriu com o grande urso branco que Mario carregava consigo. 

— Está pronto para ir para casa, garotão?

E o semblante assustado do garoto deu lugar a um sorriso repleto de esperança.

(...)

Os dois continuram a brincar na areia. Giulia chamou Mario, que estava sentado mais distante e se aconchega mais no companheiro, que retribui o carinho com um beijo em seu ombro.

— Está cansado?

— Não vou negar, estou um pouco. Acho que estou ficando velho. — Sorriu. Era sua última temporada no auge dos seus 37 anos e ele já sentia saudades.

— Tenho que discordar totalmente. Para um homem de 37 anos, você está divino. Eu sou sortuda demais!

— Eu amo quando você tenta levantar a minha moral.

— E eu amo quando você sorri assim. 

Um beijo mais longo poderia ocorrer se um gritinho familiar não fosse ecoado no ar. Giulia levantou desesperada e seus olhos percorreram o perímetro até achar Jordi caído na areia, com a mão no dedo do pé. Seu instinto materno a fez correr em segundos até onde o garoto tava, passando a mão imediatamente na cabeça.

— Jesus sacramentado!

— Eu só bati o dedo, mamãe. — Jordi disse choroso, apontando para a pedra que estava na areia. 

— Onde, onde? — Disse procurando algum machucado, encontrando um dedinho avermelhado. 

— Aqui. — Apontou enquanto Mario se aproximava, ajoelhando ao seu lado.

— Ele bateu o dedo na pedra. Eu quase infartei, mas passo bem. — Soltou uma gargalhada, virando para Mario. — Tome cuidado tá bom, benzinho? Vou dar um beijo para melhorar, e um pouco de cócegas para você rir!

Com Jordi não tinha papo ruim. Sempre que o garoto estava triste, a brasileira fazia das tripas corações para ver o garoto sorridente, fortalecendo ainda mais o laço existente entre eles.

— Gulia, você precisa estar mais calma!

— Já disse que eu não sei lidar com criança chorando, eu entro em pânico! 

— Mas aquela vez que eu caí no parque você ficou rindo... — Jordi protestou, encarando-a.

— Sua mãe é indecifrável, Jordi. — Mario riu, levantando-se. — Algo que nunca descobriremos por completo. Acho que eu vou passar minha vida toda tentando. E não poderia ter coisa melhor que isso pra fazer

— Muito lindo sua declaração, mas temos que ir embora, não é? — Jordi fez biquinho, mas os ensinamentos contra a birra cortaram consideravelmente as birras comuns. — Vamos dar um beijo no vovô, pois hoje mesmo temos que voltar para Turin.

— Mas aqui é tão bom, mamãe. 

— É mesmo, já até falei para o seu pai para ficarmos mais tempo. Mas o jogador aqui não pode ficar muito tempo fora de campo. — Disse cutucando-o croata. 

— Prometo que logo ficaremos meses e meses por aqui! Assim como na Croácia. Estou louco para voltar para lá!

— Lá é muito frio! — Os dois contestaram, fazendo Mario rir.

— E aqui é muito calor! — Retrucou, pegando Jordi no colo. Giulia pegou as bolsas e seguiu os dois. Como estava atrás, pôde observar os dois em sua frente, o amor que irradiava dos corpos de ambos.

O brilho nos olhos do atacante não tinha preço. Após a adoção, Mario se tornou a própria personificação de amor, respeito e carinho, fazendo Giulia se apaixonar ainda mais a cada dia. O amor que ele tinha pelo garoto era tão grande e tão lindo que os olhos marejavam ao ver a alegria. Jordi era puro amor, Mario o melhor receptor.

E ela? Ah, ela era eternamente grata pela família conquistada.

Enquanto caminhavam até a casa de Leonardo, Giulia pôs se a sorrir, pensando em quanto tempo havia se passado. Em alguns dias comemoraria seu quinto ano ao lado do croata, e logo dois anos que Jordi havia chegado em sua vida. Claro que isso não era o planejado pela garota, ela imaginava que estaria uma hora dessas em Turin, no seu apartamento, reclamando da vida.

O que ela poderia reclamar?

Olhou para Mario novamente, que jogava Jordi para cima, arrancando risos do garoto. Sorriu grata, nem percebendo a pedra na sua frente, que a fez levar um pequeno tropicão, quebrando o chinelo.

Mario se virou e colocou Jordi no chão, pegando as sacolas da mão da brasileira, que agradeceu.

— Já perdi tanto chinelo assim! — Riu, lembrando da época que quase perdia os dedos na cidade, brincando na rua.

— Mamãe, você está bem?

— Só bati o dedo, igual você. Estamos quites agora. — Sorriu. 

— Eu levo as coisas, deixa comigo. Quer o meu chinelo emprestado?

— Tudo bem, grandão. Andar descalço é a oitava maravilha do mundo.

— Eu também quero andar! — Jordi se empolgou, tirando a sandália.

— Está liberado! — Giulia pegou as sandálias do filho e juntou com as suas na mão.

— Quem liga para chinelo? — Finalizou Mario, retirando seu calçado. 

Simplicidade. 

Olhando, nem parecia que Mario era um jogador de estrelato. Parecia um caiçara comum, de sorriso faceiro e vida humilde. Havia aprendido muito com Giulia, que o ensinou valores que ninguém poderia.

Ele era eternamente grato pelo amor que havia conhecido. Pela humildade, pelo carinho.

Por tudo.

Chegaram na casa de Leonardo exaustos. Giulia correu e logo abraçou seu pai, que parecia mais saudável do que qualquer um naquela casa. 

O transplante, feito dois anos atrás, trouxe a vida de volta nas veias de Leonardo. Quando ele esperava o fim, o recomeço bateu antes na porta, dizendo que ele ainda tinha muito o que viver, aproveitando a vida na praia, o amadurecimento de sua filha e o crescimento do seu neto.

Jordi era o xodó do avô, que Leonardo fazia questão de mostrar para a cidade toda. A primeira vez foi uma festa, Leonardo levou o garoto por toda Caraguatatuba, gritando do norte ao sul que ele era o pivete mais lindo do mundo.

Ele nunca imaginara que teria um neto, ou pelo um por perto, pois nem sabia se seu outro filho mostraria os seus filhos algum dia. Mas Jordi era sua salvação e a vida lhe deu mais um bom tempo para aproveitar.

— Hora de voltar. — Giulia reclamou, enquanto arrumava suas coisas.

— Mas já? Ave! Só ficaram uma semana! — Lourdes disse, enquanto tirava os bolinhos de chuva da panela.

— Mario precisa voltar, a fase da Champions está logo ali. Mas eu ficaria um bom tempo por aqui!

— Eu também, dona Lourdes. Aqui é sem dúvidas um lugar que ninguém gostaria de sair.

— A casa sempre será de vocês. A porta estará aberta para quando quiserem vir!

— Obrigada, mamãe! — Giulia disse ao abraçar a mais velha, aproveitando para esticar o braço e alcançar um bolinho ainda quente.

— Roubando os bolinhos quentes, dona Giulia?

— Tem certas coisas que nunca mudam. — Leonardo riu por fim, sorrindo para a filha, o rosto lotado de admiração e orgulho, pois ela era sua maior joia, seu motivo de não desistir.

Depois da longa despedida, os dois já estavam em São Paulo, no aeroporto, prontos para decolar. Jordi havia dormido e descansava a cabeça no colo da mãe, que ouvia músicas calmas. Mario estava de olhos fechados, mas a mão dos dois estavam conectadas no meio dos bancos. 

— Exausto? — Giulia sussurrou, fazendo-o virar a cabeça em sua direção. 

— Muito. 

— Satisfeito?

— Você não faz ideia do quanto. 

— Vai dar para descansar, por isso achei melhor decolarmos essa hora.

— Não se preocupe comigo, estou bem. Eu sempre vou estar bem.

— Ah é? 

— Claro, olha as preciosidades que eu tenho na minha vida. — Alisou a cabeça de Jordi, que dormia serenamente. 

— Sempre bobo. 

— Bobo? 

— Bobão. Tão bobo que dá até dó.

— Mas que calúnia!

— Eu te amo tanto... 

— Não mais do que eu, Giulia. — Sorriu cheio de gratidão. — Não mais. 

(...)

Turin, Itália. Dia seguinte.

— Garota, você parece que foi colocada na grelha! 

Giulia mostrou o dedo, enquanto Milene zombava de seu corpo cheio de manchas vermelhas das queimaduras. As três estavam no momento de almoço da clínica e aproveitaram para colocar as fofocas em dia.

— Quem está comendo não está reclamando. — Finalizou, fazendo Karen rir alto.

— Vou aderir! — A americana disse, enquanto rodava a aliança no dedo anelar. — Gente, é amanhã que Corpo Sano faz 8 anos de inauguração?

— Isso mesmo, 8 anos de muita história da bagagem.

— Quando chegar a dez, terá uma festa grandiosa! — Milene bateu palminhas, feliz pelo seu trabalho prosseguir durante tanto tempo.

— O tempo passa tão rápido que daqui a pouco temos que pensar nisso. — Karen concluiu.

— E como vai a vida de casada?

— Melhor impossível. Eu estou é preocupada com a Suzie.

— Suzie virou um mulherão digno de deixar qualquer marmanjo babando.  — Giulia piscou, rindo da reação da americana.

— Até o Dybala babaria nela.

— Ei! ele é muito velho para ela! Ela ainda é de menor!

— Até ano que vem. — Giulia gesticulou. — Logo levaremos ela a um jogo.

— Eu odeio vocês. 

— A Suzie é uma boa menina. — A massoterapeuta respondeu. — Eu com 17 anos era o diabo feminino.

— Eu não fui presa por sorte, posso garantir. — Milene disse, deixando as amigas com um olhar de reprovação. — Gente, eu nem contei a novidade né.

— Está grávida? — As duas gritaram.

— Deus me livre! Não quero saber de filho.

— Eu falava isso, até conhecer o Mario.

— Mas eu já estou com 35, não acho que valha a pena. Bryan também não faz questão e... eu tenho um afilhado lindo para me contentar! 

— Cadê o Jordi, Giu? 

— Ficou com o pai hoje, quis ir pro treino. Eu ia buscá-lo, mas ele garantiu que cuida dele o dia todo.

— E como está sendo? 

— Parece um sonho. Mario é o homem que me fez sair do chão, e eu não quero mais voltar. E Jordi é meu pacotinho de amor.

— Ficamos tão feliz com isso. — Karen respondeu.

— Todas aqui estamos bem no amor!

— Eu ainda não contei a novidade... — Milene mordeu o lábio, inquieta.

— Ah não, vocês não... — Karen abriu a boca em tom de reprovação.

— Demos um tempo, sim. Não acho que voltaremos.

— Mas por quê, inferno? — Giulia protestou, levantando da cadeira. — Como assim?

— Nem me fale, mas não estou tão abalada. Foram quatro anos de aprendizado, mas não sei, somos tão diferentes. 

— Existe pessoas mais diferentes do que eu e aquele croata?

— Vocês são diferentes, mas são uma exceção. Eu estou bem gente, sério. Talvez tenha até sido melhor para ambos. 

— Para você estar tão bem assim...

— Sim, tem outro na jogada. E adivinhem!

— Meu Deus, quem é o felizardo? 

— Uma pessoa que a Giulia conhece muito bem. Mario também.

— Quem você tá pegando da Juventus, amada? — Giulia gritou, quase pulando em cima da italiana. 

— O Bonucci. 

— É o quê? — Gritou histérica. — Como assim meu Deus do céu, eu estou surtando!

— Não ficamos ainda, só estamos conversando. Eu terminei com o Bryan faz duas semanas, acho que preciso de um tempo né. 

— Eu nem sei quem é. — Karen pensou, — Mas se é da Juve, é um homem bom!

— O Bonucci é muito gato, minha nossa senhora! Milene do céu, chuta que é gol!

— Culpa sua, maria chuteira.

— Eu? 

— A gente se conheceu naquela festa do ano passado, que foi na casa do Mario. 

— E desde então?

— Só conversa, juro.

— É seu, só digo uma coisa. Eu fiquei no enrola com o Mario durante anos, e a festa foi em novembro, já faz um tempo. Se ele ainda quer, vai em frente!

— Tem toda a razão!

— Bom, pelo menos uma coisa é certa: Suzie e eu ficaremos muito felizes por ir em jogos sem pagar nada! — Karen concluiu o pensamento, fazendo todas rirem com mais aquela novidade em suas vidas.

Afinal, elas estavam muito bem no amor.

(...)

 O dia tinha sido movimentado. Giulia teve inúmeros clientes e mal sentia os dedos, estava louca para chegar em casa e descansar, seus pés ainda mostravam indícios da semana na praia. Trabalhou hoje para ficar em casa, aproveitando a folga de Mario e a reunião na escola de Jordi. 

Agora ela tinha um novo endereço. Abaixou o vidro do carro sorridente, enquanto cumprimentava o porteiro do condomínio. Virou a última rua e estacionou em frente a luxuosa casa do croata. Verificando o carro na garagem, deduziu que Mario já estivesse em casa e deixou suas coisas no carro, garantindo a surpresa do momento.

A brasileira entrou rapidamente, deixando o sapato na entrada na casa, podendo desfrutar do gelado do piso na sola dos pés. Logo localizou Jordi, que brincava com os brinquedos no centro da sala. 

— Mamãe! 

Giulia o abraçou com força, fazendo Mario surgir da cozinha, com um copo de café na mão. 

— Se divertiu com o papai hoje?

— Muito!

— Ele se comportou?

— Jordi é um anjo de menino. Não deu trabalho nenhum!

— E você, como está? 

Os dois peludos de Giulia apareceram na sala, pulando eufóricos. Giulia pegou um deles no colo e sorriu, pois sabia que não era um dia muito bom para o companheiro.

— Bem, apesar de Leni não estar aqui. Um ano né.

Leni havia falecido, por complicações da própria raça. Viveu até os 15 anos da melhor forma possível, mas sua partida fora muito sentida para Mario, que demorou para aceitar e parar de chorar todas as noites. Hoje fazia exatamente um ano de sua morte e a brasileira já tinha visto o desânimo nos olhos do atacante, desde o dia anterior.

E Giulia tinha uma grata surpresa. 

— Ele está bem melhor do que a gente. 

— Eu sei, mas eu sinto tanta falta dele.

— Não chora papai. — Jordi abraçou as pernas de Mario, que havia deixado uma lágrima escapar. 

— Deixa ele chorar, pequeno. 

— Mas eu não gosto de ver o papai triste.

— Mas ele vai ficar feliz logo, logo. Me ajuda a pegar uma coisas no carro, pivete?

Giulia pegou o filho e saiu em disparada, deixando Mario sem entender. Mas como a mesma voltou, o croata sorriu, colocando a mão no rosto, pronto para chorar mais uma vez.

Jordi trazia em suas mãos um filhotinho de pug, com um lacinho rosa amarrado no pescoço, com o maior cuidado do mundo. Levantou-o em direção ao pai e sorriu, mostrando a recém janelinha do dente caído. Mario limpou as lágrimas com o dorso e pegou o filhote, que logo lambeu seus dedos.

— Escolhe um nome para ela, Mario. — Giulia piscou, enquanto segurava nas mãos um envelope pardo.

— Eu, eu... Giulia, obrigada por tudo. — Beijou a filhotinha demoradamente, colocando a no chão em seguida. — Ela é tão linda, eu...

— Eu fiquei receosa, sabe. Mas eu senti o quanto essa casa precisava de mais um bichinho. E sei que Leni faz falta, mas eu trouxe um pacotinho novo de amor para você.

— Você é o meu maior pacote de amor. — Sorriu, se aproximando para beijá-la. — E você também! — Piscou para Jordi, que acompanhava a cena com cara de nojo. — O que acha de você dar o nome para ela?

— Pode ser Hadiya? 

— Hadiya?

— Era o nome da minha mãe da África.

— Claro, é lindo. — Sorriram. 

— Posso brincar com ela?

— Claro, deixa o papai e a mamãe sozinhos pois a gente precisa conversar. — Piscou para o menino, que saiu em disparada com a pug no colo. Giulia retomou o olhar para Mario, que a olhava de uma forma que qualquer pessoa merecia ser olhada um dia.

— Você é tão maravilhosa. Eu te amo tanto, mas tanto...

— Calma que ainda não acabou. Acalma o coração. — Sorriu de lado, pegando o envelope de cima da mesa. — Recebi uma ligação hoje e tive que sair correndo da clínica, acredita? Era da Vara da Juventude.

— Da Vara?

— Sim.

— Então quer dizer que...

Giulia abriu o envelope, entregando os documentos na mão de Mario, que estavam trêmulas. Na pasta, havia os documentos e a foto da garotinha, com uma carinha de medo, enrolada no manto que era comum no seu país. Ela tinha os olhos mais lindos do mundo. O croata passou os dedos na foto e sorriu, já sentindo a nova fase chegando, um novo pacote de amor entrando na sua vida.

— Zarah sairá hoje a noite da Síria. Ela escolheu ficar com o nome dela. Amanhã já estará na embaixada e em alguns dias, aqui conosco. Nossa menininha está chegando, Mario. Ela está chegando! Isso não é um máximo? Mais um pacotinho de amor!

Giulia e Mario estavam disposto a ter mais um filho e para isso, entraram em contato com entidades que cuidavam dos locais em constantes conflitos. Entre as inúmeras vítimas uma garota de 7 anos foi achada em meios aos escombros, sem família, nem registros. Foi colocada para adoção e semanas depois, o telefone de Mario tocou, avisando sobre a oportunidade. 

Isso havia sido cerca de quatro meses e ambos estavam ansiosos por conseguirem salvar mais uma criança da zona de guerra, dar a ela uma nova oportunidade de viver. Os papeis demoravam mais por conta da democracia, e ansiedade morava no coração do casal.

Até que hoje, uma ligação foi realizada e Giulia foi correndo buscar os documentos, chorando ao ver seu nome e do Mario na nova certidão da garota. Zarah era uma preciosidade e merecia tudo do bom e do melhor. Eles estavam dispostos a viver mais uma fase de adaptação, tendo o amor como troca.

— Mais uma filha, nós teremos mais uma filha!

Mario abraçou Giulia, dando-lhe um beijo longo regado a lágrimas de felicidade. Estavam mais unidos e fortes do que nunca e agora com a nova oportunidade, estavam dispostos a fortificar ainda mais o laço forte existente entre eles.

Pois era assim que tinha que ser, independente da situação. Como retratado nas lendas orientais, dizem que cada pessoa possuí uma linha vermelho ligado a outra pessoa, que nunca se partia, mesmo se elas fossem afastadas. Se não fosse o carro, seria a clínica, se não, o estádio de futebol, a rua, não importa. A linha nunca se quebra, se parte, se destrói. Se isso realmente for verdade, Giulia e Mario são a maior prova disso. A prova de que o destino sabe o que faz. Que o famoso odredistê faz seu papel com maestria. 

Que um laço dado como esse, nunca seria capaz de se quebrar. Um amor como esse, nunca seria capaz de acabar.

Que uma linha como essa do destino — lendo-se em odredistê em croata —, nunca seria capaz de mudar.

FIM

(as pitangas serão choradas nos agradecimentos).

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