18
Turin, Itália, abril de 2017.
Pjanić estava parado atrás de Giulia, com os braços cruzados, portando uma feição nada amigável. Seu olhar agora estava em Mario, e Giulia sabia que se ele pudesse, estava em cima do croata enchendo-o de porrada. O croata encarava tudo com uma feição mais confusa do que cego em tiroteio.
Então engolindo a seco, Giulia voltou a olhar para o bósnio, que nem sequer a olhava de volta.
— Eu posso explicar.
— Pode? Mesmo?
— Tem razão, não posso.
— Era mais bonito falar que não queria sair comigo.
— Miralem, a culpa não é dela. — Mario se pronunciou, mas ao receber o olhar fumegante da brasileira, entendeu que era melhor ficar quieto.
— Nem adianta se justificar, Mario. Eu sempre notei uma coisa entre vocês. A culpa foi minha de tentar algo com alguém que já pertence a outra pessoa.
— Mas eu não pertenço a ninguém!
Giulia quase gritou, exasperada. O que ela tinha feito?
— Não é o que parece. Já contou a ela, Mario?
— Contar o quê?— Giulia olhou para o croata, que sentiu sua mão ficar trêmula.
— Estamos aqui para isso, Milarem. Cara, eu...
— Fiquem tranquilos. Aproveitem a noite. Eu só estava de passagem. Vi uma mullher parada na frente daqui e então deduzi que seria você. Só vim confirmar, de certa forma.
— Pjanić...
— Não precisa de justificativa. Afinal, não tínhamos nada sério. Não me deve explicações.
— Eu só quero falar que não tem nada entre eu e o Mario! Viemos apenas conversar, pois tivemos algumas pendências.
— Para cima de mim? Mas agora vocês estão livres, aproveitem! Eu vou aproveitar a vida com a única pessoa que vale a pena: o meu filho. Até mais, Giulia. Te vejo no treino, Mario.
Pjaniç deu as costas e se retirou, deixando uma Giulia devastada, de cabeça baixa, apoiada nos cotovelos. Mario bufou, enquanto passava o dedo pelo cardápio.
— O que eu fiz?
Giulia levantou a cabeça, encarando Mario. Ele nada respondeu, nem sabia o que falar. Ele nem sabia do envolvimento com Miralem.
— Eu não sabia que vocês estavam juntos. Vi ele comentando sobre uma brasileira que estava saindo, mas nunca iria imaginar que seria você. Ou talvez eu não quis acreditar.
— Não estávamos tendo nada sério. Mas mesmo assim, eu estou com a cara no chão! Eu não deveria mentir para ele para vir aqui com você.
— Quer ir atrás dele? Tentar se explicar e...
— Não. Ele já deixou bem claro que... eu pertenço a outra pessoa, não é?
Mario deixou escapar um sorriso no canto dos lábios, mesmo com Giulia falando com uma expressão de total desalento.
— Você disse que não pertence a ninguém.
— Parece que o destino me predestinou á alguém.— Disse agora o encarando, deixando a emoção falar mais alto naquele momento. O que adiantava negar o inevitável? — Onde estávamos mesmo?
Depois do acontecimento, após a acalmada dos ânimos, Giulia finalmente se acabava com o macarrão, nem percebendo que Mario tirou diversas fotos dela. Massas eram seu ponto fraco e aquela ali estava fazendo sua alma ir ao céu a cada garfada.
— Ei! Olhe para mim!
Giulia olhou ingênua assim que levantava o copo em direção a boca e logo mostrou o dedo do meio por ter tirado a foto sem ter se arrumado. Mario riu e mostrou a foto, que realmente tinha ficado linda.
— Vou mandar para você. Agora, chega de fotos. Precisamos conversar. Quem começa as perguntas?
— Por que você sumiu depois do nosso... beijo?
— Eu me senti muito mal, pela minha mulher. E precisava criar coragem para contar sobre o ocorrido.
— Você falou para ela?
— Demorou, mas falei. Por isso o tempo longo.
— E o que ela...
— Surtou, mais por você, para falar a verdade.
— Merda. Isso foi muito errado, Mario.
— Mas colocamos uns pontos nos is, finalmente. Tivemos uma separação amigável.
— Separação?
— Tem uns dois meses. Ainda não assinamos os papeis, mas... Achamos melhor. Foram 8 anos de muita aprendizagem. Mas... eu me apaixonei por você, Giulia. Aos poucos, mas fui. Tentei seguir em frente mas... Bom, fui sincero com ela, ela comigo.
— Mario, eu... Meu Deus o que eu fiz? Destruí um relacionamento!
— Não é bem assim. Estávamos em frangalhos, por conta de alguns problemas pessoais. Mas eu nunca pensei em traí-la. Foi de fato, doloroso para mim. Por isso sumi, tentando entender o que era melhor para se fazer. E o melhor eu já sei, aliás, sempre soube. Ficar com você, ser sincero com ela. Ela me agradeceu por ter sido franco.
— Ai, eu estou tão...
— Tão?
— Não sei, destruída. Confusa.
— Bom, você também tentou seguir.
— Eu nunca sufoquei tanto um sentimento quanto esse. Isso me fez muito mal, muito mal mesmo. São anos, Mario.
— Pois é. Eu não sei o que dizer, sinceramente.
— A única coisa que posso confirmar para ti é que...
Giulia travou a mandíbula, o orgulho tampando sua garganta. Quem poderia imaginar que uma batida de carro poderia dar esse reboliço todo? Um sentimento revoltado, intenso e...
Verdadeiro.
A brasileira sempre achou que era fruto proveniente do azar. Que o destino adorava jogar bombas em seu colo. Mario Mandzukic tinha sido a maior delas, juntamente com a fragilidade do seu pai em meio as dificuldades da doença. Eram tantos sentimentos que ela mal conseguir se sobressair sobre eles.
Que inferno de destino!
Mas ela sabia que amava Mario. No começo, não. Passou de uma atração inexplicável e agora era um sentimento que queimava, exalava chamas em seu peito. Que o sentimento havia se transformado, amadurecido. Que por mais que evitasse, ele estava ali, como uma pedra no sapato, uma pedra que de uma hora para outra, parou de incomodar, fazendo parte da sua vida.
Se isso não era obra do destino, ela não sabia explicar o que era.
Então pegou na mão de Mario e dedilhou a palma de sua mão, sorrindo ao receber o mesmo.
— O sentimento é recíproco. Mas você sabe muito que...
— Que...
— Isso é ainda muito confuso. Nunca estivesse nessa situação, e não porque você é jogador, algo do tipo. Isso, eu nunca senti.
— Está tudo bem.
— Por isso peço descrição.
— Sim, nada de colocar isso a tona. Pelo menos por enquanto.
— Exatamente. Fico feliz que me entenda.
— Estou tão fragilizado quando você, Lanzianni. O processo de separação foi dolorido demais, mas seria pior ainda se não conseguisse ficar perto de ti.
— Então você concorda que estamos fragilizados demais para algo mais sério?
Mario pensou, torcendo a boca de lado. Só tinha algumas semanas que Ivana tinha saído de casa, restando apenas seu cachorro. Ele sentia a falta dela, era tempo demais para não ser levado em consideração. Mas ao olhar novamente para Giulia, percebendo seu olhar preocupado, entendeu que o destino — lê-se odredistê em croata — havia feito o caminho certo para ele.
— Acredito que sim. Quero estar mais forte do que nunca para viver algo duradouro contigo.
— E o que vamos fazer, então? Um passo de cada vez?
— Claro, de passo em passo, ficaremos mais próximos do que nunca.
Giulia sorriu, como não sorria há muito tempo.
E daí que o envolvimento não era público? Ele o tinha, ele a tinha.
De nada mais importava, a não ser o crescimento daquela nova fase em sua vida.
A fase da resiliência do amor de ambos.
Oh gente, que lindeza.
Como prometido, mais um capítulo!
Mas Giulia ainda precisa lidar com os seus fantasmas.
Mario também.
E vocês sabem: é só falar no tinhoso que ele aparece.
Portanto, nada melhor do que se encontrar primeiro antes de iniciar um relacionamento.
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