13
Turin, Itália, fevereiro de 2017.
O ar rarefeito nos pulmões de Giulia era consequência de uma bomba que havia sido jogada no seu colo, segundos atrás.
Olhou mais uma vez para a notificação e travou a mandíbula, ainda chocada com a mensagem vinda de Mario pelo instagram, dias depois dela ter aceito seu pedido para seguir seu perfil privado. Espreguiçada sobre a cama, bateu as unhas na tela desligada e imaginou o que seria justo para responder o pedido feito pelo croata.
Maldito homem que conhecia até seu ponto fraco.
Desbloqueou a tela e novamente releu a mensagem exposta, sorrindo com o que acabara de arquitetar em sua mente.
"Tenho ingressos para o jogo de amanhã, na área VIP. Você e suas amigas estão convidadas para nos prestigiar nessa fase tão importante da Juve."
A Juve estava nas oitavas da Champions League. Seu adversário na etapa seria o gigante Porto, e tendo o segundo jogo na sua casa, o apoio da torcida era fundamental para a velha senhora avançar e concretizar seu sonho de time grande.
"Suzie ia adorar." respondeu, aguardando ansiosamente o retorno, já que Mario estava online.
E cumprido com a promessa, Mario logo visualizou e respondeu rapidamente.
"Isso é um sim subentendido?"
"Por que você não chama sua mulher?"
Ela queria muito saber sobre os dois, depois de tanto tempo. Tinha que fazer a sonsa, e nada mais do que justo jogar verde para tentar colher maduro.
"A mãe dela está doente. Se não quiser ir, tudo bem. Mas acho que seria bom demais para as suas amigas."
Ah, claro. Minhas amigas servindo como seu alibe, pensou, rindo em seguida.
"Ótima tentativa. Mas antes que eu responda, porque só resolveu me chamar agora?"
Estava tão apreensiva que continuou com o celular em mãos, tela ligada e com bastante brilho, até a visualização de Mario aparecer no aparelho.
"Você me evitou todo esse tempo, Lanzianni. Eu queria ter te levado antes, pois sei da sua paixão pela Juve."
"E como você sabe disso?"
"Tenho meus contatos. Vai ser legal, aceite! Terá a oportunidade de conhecer alguns jogadores daqui"
Maldito, Mario Mandžukic era um maldito.
Era claro que ela queria aceitar, aliás, desde o início. E não aguentando mais mentir, respondeu com um simplório "você venceu, confirmo assim que falar com elas." antes de jogar o celular na cama e levantar para tomar um banho e ir correndo para o trabalho.
O caminho dos dois estava começando a se ligar de novo.
E dessa vez, parecia ser um jeito muito melhor.
Ou não.
Depois da manhã peculiar, Giulia chegou com um ligeiro sorriso em seus lábios na clínica. Karen tinha acabado de chegar e ao ver a brasileira, sorriu brevemente, mostrando no dedo anelar a simples aliança de detalhes bem elaborados.
— Ai que coisa mais linda! — Falou dando pequenos pulos, enquanto a americana balançava a mão.
— Ela que escolheu. — Karen disse boba, enquanto olhava para o objeto.
— Belo gosto, tanto para o anel quanto por ter você. — Giulia sorriu, ganhando um belisco leve da amiga. As duas continuaram batendo um papo aleatório até Milene chegar, também toda saltitante.
— Adivinha quem está namorando? — Giulia disse, apontando para Karen.
— Até que enfim! — Milene disse ao se aproximar, pegando a mão da amiga para ver a aliança. — Parabéns!
— Estou muito feliz! Finalmente nos acertamos. Devo ser imensamente grata a vocês, Syd adorou o quanto vocês foram lindas com ela!
— Ela é uma fofa. E eu tenho notícias boas para vocês também, aproveitando a maré positiva... — Giulia se prontificou, enquanto pegava o celular. — Vejam vocês por conta própria.
Giulia entregou o aparelho nas mãos de Milene, que se aproximou de Karen, para lerem juntas a conversa que tinha tido pela manhã. Os segundos e pela cara das duas, Giulia rolou os olhos, esperando o quão ela iria ser importunada por conta disso.
— Amiga, peraí. Deixa eu ver se eu entendi: O Mario te convidou pra ir na área VIP? — Milene gritou, fazendo Giulia recuar e tirar o celular de suas mãos.
— Nos convidou. — Falou tentando não rir.
— Meu Deus. — Karen murmurou, rindo em seguida. — Depois de todo esse tempo...
— Pois é, me admira ele ter me chamado.
— Mas você aceitou ele há pouco tempo! Duvido se tivesse aceitado antes ele não teria já te convidado.
— Não importa! Eu ainda não processei essa informação.
— É claro que iremos! Suzie vai surtar! — Karen pulou, enquanto voltava para sua cadeira. — Vamos, vai ser legal!
— Milene?
— Olha a minha cara de que vai perder isso! — Disse saltitante. — Aceita essa merda logo, ou eu pego esse celular e respondo por você.
— Acalmem os hormônios. — Giulia levantou os braços, em rendição. — O jogo é daqui uma semana, o primeiro vai ser lá em Portugal. Mas sabem o que realmente estou pensando?
— Na parte de conhecer os jogadores. — Milene sorriu de lado, encarando a brasileira que possuía um olhar maníaco no rosto.
— Na parte de conhecer Gianluigi Buffon.
— Eu vou grudar naquele homem e ninguém será capaz de me tirar de cima dele.
— Parece que alguém vai ficar com ciúmes. — Milene soltou.
— Tadinho do croata.
— Tadinha de mim!
— De você?
— Maldito momento que bati o carro.
— Sabe o que eu penso em relação a tudo isso? — Karen pediu atenção, enquanto fazia uma careta de total suspense. — Que vocês tinham que se conhecer.
— Lá vem o guru. — Giulia rolou os olhos e deu alguns passos para trás, mas Milene a segurou.
— Tem algo muito peculiar em vocês. Estou louca para saber onde isso vai dar.
— Em lugar nenhum. — A brasileira bufou, fazendo Milene soltar seu braço.
— Até quando você vai evitar isso?
— Até a minha morte. — Falou com total convicção, enquanto entrava para a salinha. Não queria ficar mais intrigada do que já estava com tudo aquilo.
Ao entrar no seu refúgio, sentou-se rapidamente e olhou para o grande espelho que tinha na parede, ao lado da janela. Ficou durante um tempo olhando para o seu reflexo porém fora de si, não prestando atenção ao seu celular que vibrava em cima da mesa ao seu lado. Ela estava fora da sua concha e isso a assustava, mas ao mesmo tempo deixava sua alma afoita pelo o que poderia dar tudo isso.
Depois de perceber o celular vibrando talvez pela quarta vez, pegou o aparelho e logo atendeu ao perceber que era o seu pai. Leonardo havia apresentado melhoras depois dos problemas renais, mas de umas semanas para cá apresentou uma decaída alertante, que fez o velho voltar para a vida hospitalar mais uma vez.
— Pai? Como o senhor está?
A voz do mais velho falhou antes de responder. Giulia suspirou e bateu de leve a parte direita da mão na mesa, para que seu pai não sentisse o tremor na sua voz. — Não minta para mim.
— Estou na mesma luta de novo, piveta. — Falou desiludido, a voz pesada, macica. — Descobriram uma coisa no meu pâncreas.
— As gorduras que você come todo dia?
— Bem se fosse. É um nódulo. Estou aguardando a biópsia para saber se...
— Deus, você estava tão bem!
— Mas eu estou! E você também.
— Vou ver se passo aí daqui um mês, Milene quer ir também. Pai, você sabe, independente de qualquer coisa:
— Não deixe de me informar. Eu já sei, meu amor. Tudo vai ficar bem.
— Também. Mas quero que saiba que... eu te amo tanto!
— Não mais do que eu te amo, minha pedra mais preciosa, meu presente de Iemanjá. Meu mar mais azulado, mais lindo, vivo. Eu te amo mais do que que tudo.
— Pai... — Giulia não aguentou o peso das lágrimas e desligou o telefone, tornando a chorar desesperadamente. Leonardo sabia que ela detestava que ele visse seu choro e respeitando o momento da filha, fez o mesmo e se levantou, enquanto sua mulher estava do seu lado.
— Querido...
— Ela precisa entender que, infelizmente, não ficaremos juntos para sempre.
— Não pense assim. Nem sabemos o resultado da biopsia.
— Quero estar preparado. E tudo que eu mais quero é que ela esteja também, Lourdes.
— Ninguém se encontra preparado para essas coisas.
— Está na hora de quebrar esse paradigma, então.
Depois do choro sentido, Giulia se recompôs pois logo tinha uma cliente para atender. As lágrimas jogadas para fora de seu corpo pareciam ter um peso enorme, que não era apenas o problema de seu pai. Condizendo com tudo que estava acontecendo em sua volta, estava ficando sobrecarregada e se fazendo de difícil para disfarçar a agonia em seu peito.
Ela estava se sentindo sozinha.
Uma solidão diferente, ela colocou em sua cabeça. Vendo Milene e Karen alcançando seus pequenos méritos, Giulia sabia que estava um passo atrás, e após tanto tempo sem pensar nisso, sua cabeça engolia a si mesma, deixando totalmente perdida dentro de sua própria mente.
Ela só tinha o seu pai e ele poderia se esvair de suas mãos a qualquer momento.
Ela tinha que fazer alguma coisa a respeito.
E sua cabeça já arquitetava tudo, mesmo com a sua hesitação.
Se não tiver esses conflitos internos eu nem quero.
O importante é que dona cabeça dura aceitou o convite de Mario.
E claro, essa visita aos bastidores do time italiano vão dar muito que falar.
Se preparem, sério.
Ah, pray for Leonardo!
XOXO
E não esqueçam de seguí-la no instagram! @Lanziannigiu
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