06
Turin, Itália, ainda outubro de 2015.
Última semana de outubro. O dia estava calmo, mesmo com Giulia estando no mesmo recinto, quase impossibilitando a tranquilidade de fazer presença.
Enquanto a brasileira finalizava mais uma sessão, Milene aproveitava seus momentos de descanso entre uma atividade e outra para fazer algo que Giulia repudiava com toda força: Fumar. Era fato que já tinha reduzido em quase nada, comparado com o que fumava antes de conhecer Giulia, mas ainda era um vício presente em sua vida, pelo menos um cigarro por dia ela deveria consumir para manter as estribeiras sem danos.
Depois de consumir o dito cujo, tacava um chiclete na boca e um spray, retornando ao seu estado normal. Quando voltou, viu Karen no telefone falando com sua filha e seus ouvidos espertos captaram que falavam sobre ir ao estádio, logo se prontificando em meio a conversa.
— Eu ouvi a palavra estádio? — Falou jogando no ar, fazendo Karen prestar atenção no que perguntara.
— Suzie quer ir no Juventus Stadium*. — Falou, enquanto olhava atentamente para o computador. — Estou vendo um lugar bom para nós aqui no site de vendas.
— Pois coloque mais um aí pois quero ir também. Faz meses que não vou ver meu time jogar. É fase da Champions?
— Não, liga mesmo. Contra o Torino. Acho que será um bom jogo. Vai querer mesmo?
— Com certeza. Será que a Giu também vai?
— Melhor confirmar, o ingresso não está muito barato. Suzie quer ir na parte mais baixa, ficar o mais perto possível dos jogadores, a parte mais cara e disputada. — Bateu o dedo nas teclas, mostrando seu cansaço. —Conselho do dia? Não tenha filhos.
As duas riram no momento que Giulia saiu com o paciente da sala que estava com uma cara de dor evidente. Giulia o segurava pelos ombros e falava baixo demais em seu ouvido, tentando tranquilizá-lo. O velho mexia a cabeça positivamente e sorria fraco, provavelmente seu caso era grave. Quando chegaram na recepção, Giulia logo tratou a dizer que o diagnóstico do médico dado de suas dores era defasado e ele seria transferido para Milene pois ela era a fisioterapeuta, portanto cuidava de casos mais delicados.
Milene assentiu e em minutos o senhor estava fora do local, com a consulta marcada no dia seguinte para uma avaliação mais completa. Giulia encostou no balcão, cansada e com olhar baixo e as garotas logo estranharam sua reação.
— Cansaço. E ele me deu certa pena. Acho que o caso dele é digno de interferência cirúrgica. Não sou médico mas... dá para perceber que é sério. E vocês viram o olhinho dele? Muito parecido com o meu pai!
— Parecia mesmo, espero fazer o melhor por ele. E você está com uma carinha cansada mesmo. Quer tirar o dia amanhã?
— Eu vou ficar bem. Já disse que não se livrarão tão fácil de mim. Deve ser a anemia que está me deixando mole, mas já estou me intoxicando de suplementos. — Falou enquanto arrumava seu cabelo em um rabo de cavalo mais forte.
— A gente ia te chamar para um jogo, mas acho que com você assim...
— Jogo? De quem?
— Quem você acha? — Karen riu e Giulia rolou os olhos.
— Quando?
— Agora, dia 31. Suzie está me implorando então resolvemos ir antes que eu jogue ela no canal.
— Depois eu sou a ruim. — Falou com ironia, enquanto coçava o queixo. — Acho que quero ir também. A última vez fomos juntas né Milene? Fevereiro...
— Isso, por aí. Nas oitavas da Champions, contra o Borussia, foi um jogo s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l. Pena que os jogos da Champions League são muito caros!
— A gente pode ver agora, um jogo. Ainda tá na fase de grupos. Mas esse que eu estou vendo é da liga mesmo.
— Melhor irmos no mata-mata. Começo do ano que vem. — Giulia finalizou, apoiando-se no balcão com certa força. — São melhores e mais dotados de emoção.
— Bom, eu topo! Com certeza Suzie irá amar.
— Vocês compraram aonde? — A brasileira perguntou, ansiosa. — Em que lugar, exatamente?
— Suzie quer ficar bem embaixo, perto do gol. Ela disse que assim o Dybala vai vê-la. Vai fazer até um cartaz pedindo a camisa dele.
— Se ela fosse adulta, portada de um belo decote, acreditaria! — Milene riu, Karen apenas a acompanhou com um olhar de repressão. — Desculpe, me excedi.
— Convivência comigo dá nisso. — Falou fitando a italiana, mas logo voltou seu olhar para Karen. — O Dybala não me parece ser assim. E outra, eles adoram crianças. Podemos tirar vantagens disso.
— O que você quer dizer com isso?
As duas pararam e esperavam uma resposta ácida da brasileira. Ela por sua vez, abaixou a cabeça e logo levantou-a assoprando os cabelos da franja que tinha se soltado de novo de seu olho.
— Podemos ganhar camisetas suadas! — Falou divertida. — Vamos apostar quem consegue? A Suzie pode conseguir uma para a gente! Dependendo de quem for...
— É, provavelmente ela só aceite se for do argentino. Fechado! Se ela conseguir do Cáceres é minha! — Milene se retraiu, dando uns passos para trás.
— Fechadíssimo. E se for do Mandžukić? — Karen não perdeu a oportunidade de alfinetar Giulia, que a encarou de volta, antes de responder.
— Veremos isso no dia. — Falou por fim, dando as costas para as duas amigas.
— Então isso é um sim? — Karen perguntou afoita, enquanto abria um ligeiro sorriso nos lábios, já imaginando o trio causando em pleno estádio.
— O que você acha? Mesmo se eu estivesse de maca, vocês iriam me carregar até o jogo! — Gritou antes de fechar a porta do seu espaço sagrado.
A culpa era dela mesma por estar levemente tonta, já que não tinha comido bem na parte da manhã, esquecendo-se que a anemia estava presente em seu corpo. Suas pálpebras pesadas dificultaram seus movimentos até o puff e quando chegou nele, se jogou completamente, deixando a exaustão ganhar a batalha da vez.
Giulia sentiu seu corpo despertar assim que sentiu um fino fio de baba descer pela sua boca. Acordou no susto e se levantou com as mãos para cima, batendo diretamente no copo que ainda tinha café, derrubando o resto do líquido no chão.
Ah, o azar.
— Ah, mas que merda! — Segurou na mesa e bufou, enquanto o líquido de espalhava pelo carpete. O que poderia mais acontecer?
Batidas incessantes na porta. A brasileira logo correu para abrir e deu de cara com Milene, que batia o pé no chão, devidamente preocupada.
— Você ficou quase duas horas aí dentro! Duas horas sem Giulia e suas reclamações são coisas que devem ser averiguadas.
— Eu acabei dormindo. — Falou ainda um pouco aérea, piscando algumas vezes em direção a fisioterapeuta.
— Você precisa descansar. Sua anemia, seu olhos fundos.— Olhou para a sujeira e suspirou, vendo que realmente a amiga estava em uma situação totalmente fora da realidade. — Não quer adiantar sua viagem?
— Vai por mim, não vai adiantar. — Disse sorrindo fraco. — Essas coisas convivem comigo e as vezes, é difícil de não segurar.
Giulia odiava admitir o quanto estava cansada, fazendo-a mostrar seus desgastes para todos em sua volta. Ela sempre fora capaz de manter sua dinastia inabalável na maioria do tempo. Seu humor ácido era o pretexto para se manter intacta, mas era bem claro que nem todo método era cem por cento eficaz. Os momentos degradantes sempre apareciam.
— Porque você não permite soltá-las? — Milene murmurou, se sentindo incapaz de ajudar a amiga nos momentos que ela sabia que a brasileira necessitava. — Giu, eu sei que a vida te fez assim, mas as vezes pode haver outros caminhos, sei lá.
— É, pode ser. — Deu de ombros, já tinha ouvido muitas vezes isso e seus sinônimos, mas a carapaça continuava intacta.
— Pode ir para casa. Não precisa cumprir o horário, você precisa descansar.
— Milene, eu estou bem!
A italiana não esperou qualquer reação de Giulia, somente abraçou-a com força, quase a derrubando para dentro da sala. A brasileira por sua vez, ficou quieta e não se prontificou do gesto inesperado, apenas deixou, o cansaço vencendo mais uma vez.
Karen na ponta dos pés foi se aconchegando até presenciar a cena, ficando preocupada. Imaginou o quanto ruim estaria a situação por ver Giulia daquele jeito. No começo, queria matar a brasileira pelo seu jeito animalesco tão pouco perigoso, mas agora entendia o quanto era necessário.
O gesto do abraço durou tempo suficiente para fazer Giulia entender que ela precisava descansar, pois seu corpo havia se entregado, ela mal conseguia reagir. Quando conseguiu, desenlaçou o gesto e bufou, dando um empurrão de brincadeira na amiga para logo limpar a sujeira, pegar suas coisas e poder ir para casa. Palavras eram difíceis sair de sua boca na maioria dos casos, mas o olhar de completa gratidão que a brasileira deu em direção para a italiana quando saiu da sala, foi o necessário e sem dúvidas, o mais bonito que poderia ser feito naquele momento.
Mais curiosidades ajudadas pelo google e seus derivados:
* A história se passa no ano de 2015 (os acontecimentos do insta da Giu seguem as datas correlacionadas) por isso, o estádio aqui ainda é chamado de Juventus Stadium. Desde 2017, o mesmo tem como nome Allianz Stadium.
Agora bora pro papo:
Há rumores que a fanfic terá dias concretos para atualização, rs. Pelo menos, creio que ou aos sábados ou aos domingos rolarão as atts!
E permito-me aos poucos desenrolar minhas personagens, não quero que elas sejam pessoas superficiais, estamos cansados disso, não é?
A fanfic tem menção de priorizar o humor, porém terá alguns momentos mais sérios, mostrando o lado cru e real das personagens principais, espero que vocês gostem disso. O foco ainda é mostrar como é a relação de Giulia com todos, dando um spoiler de como poderia se firmar o relacionamento dela com o croata.
Falando no português correto: vai ter drama pra caralho, mas terá muito mais risadas também rs.
Mas só digo uma coisa: Se preparem para esse jogo!
E não esqueçam de acompanhar o insta da desvairada: @luziannigiu
Xo and Xo
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