Capítulo 9
Já faz um tempo, né?
Tem algumas explicações nas notas finais, caso alguém queira ler! (Vou estar falando sobre as atualizações também)
Uma pequena divergência do canon:
Shigaraki começou sua busca por novos integrantes mais cedo, dessa vez antes do festival de esportes.
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Dazai suspirou profundamente, afundado nos lençóis e edredons da cama em que estava deitado em meio ao quarto escuro. Ele se enrolou ainda mais, parecendo um casulo, enquanto sentia uma dor intensa percorrer por seu corpo.
Ele sabe que deveria ter comprado os analgésicos – não era como se fossem remédios tarja preta ou que retinham a receita, o papel servia unicamente para que ele se lembrasse o nome do medicamento e os miligramas que ele deveria comprar –, no entanto, ele desistia de ir comprá-los toda vez que se levantava da cama – e já faziam quase quatro dias!
O moreno meio que se arrependia de sua decisão naquele momento. A pomada para hematomas e as compressas poderiam ajudar só até certo ponto.
Ele realmente deveria ir comprar um analgésico.
Entretanto, aquilo não era a única coisa em sua mente.
Dazai havia passado as últimas três noites sem dormir, seu cérebro trabalhando constantemente enquanto processava tudo o que aconteceu com Shigaraki. Ele tentou se forçar a lembrar de mais detalhes do que havia se lembrado antes, mas era tudo completamente nebuloso.
Como se seu cérebro se recusasse a lembrar-se.
Quem era aquele homem? Foi a pergunta que valsou em sua mente incansavelmente, mas ele não chegou em nenhuma resposta satisfatória.
Quem havia morrido? Era outra pergunta que jazia sem resposta, já que não conseguia se lembrar do rosto da pessoa que estava caída em suas memórias – e muito menos antes ou depois. Havia apenas uma vaga sensação de familiaridade ao pensar nela.
Para onde minha mãe foi?
O moreno sempre voltava para essa pergunta de tempos em tempos.
Antes, ele não se lembrava dela – na verdade, ainda não se lembra. Ele não lembrava da existência dela. Até onde ele sabia, ele poderia ter sido abandonado por ela quando era muito novo, um bebê, porque era isso que Mori lhe disse. E o garoto nunca o questionou, porque ele não se lembra de boa parte de sua infância, apenas tomando o que seu chefe dizia como verdade absoluta.
Mas agora, com essas memórias voltando, ele pode resolver esse quebra cabeça mal-resolvido que é seu passado.
E ele não sabe o porquê disso o assustar.
Dazai precisa encontrar Shigaraki. Ele precisa de mais informações. E ele precisa aproveitar enquanto está sozinho, porque em alguns dias ele irá para Yokohama e vai voltar com alguém para vigiá-lo.
Com isso em mente, ele se levanta lentamente do ninho de cobertores que havia feito em sua cama, tomando cuidado para não piorar a dor que já estava sentindo, e começou a trocar de roupa, colocando uma blusa de moletom cinza escura e calças pretas, acompanhado de uma máscara preta. Não muito depois, decidiu retirar as bandagens do olho, ignorando a sensação incômoda que subiu por seu peito ao fazer isso – era melhor sentir desconforto por um tempo do que ser reconhecido e acabar ferrando com a missão.
Que lugar melhor há de se conseguir informações se não bares em áreas questionáveis das cidades?
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Dazai entrou em outro bar – dessa vez em uma região mais perigosa – após passar por outros três bares e não encontrar nada de útil. A lua já estava alta no céu, a brisa amena da primavera beijando seus cachos e adentrando o bar ao abrir a porta.
Havia sido mais difícil encontrar esse, era uma pequena entrada que poderia ser encontrada através de um beco estreito e parecia haver algum tipo de proteção na porta – embora ele tenha conseguido passar por ela facilmente, graças à No Longer Human. Todavia, apesar da entrada pequena, o interior era certamente espaçoso.
Na parede oposta à porta em que estava parado, havia um balcão e diversas prateleiras com bebidas, que estavam sendo preparadas por um barista de aparência idosa. Haviam mesas espalhadas pelo espaço e música alta tocando, algumas brigas e gritarias rolando aqui e ali – todas sendo ignoradas pelo barista. Não havia nenhum tipo de segurança – o que era estranho, os donos dos bares costumam se importar quando um cliente quebra uma de suas cadeiras.
Uma sensação pesada se instaurou em seu peito enquanto ele adentrava o bar, como um sinal de perigo martelando intensamente em seu crânio. Porém, ele apenas ignorou a sensação e prosseguiu.
Após terminar de analisar o ambiente, ele olhou ao redor, catalogando a aparência de todos por ali. Haviam pessoas de todos os tipos formas e estilos: uma pessoa com pele de lagarto, um cara com um cabelo feito de agulhas espetadas para cima e coberto de piercings, adolescentes com cabelos coloridos, pessoas com aparências cansadas e outras com peles coloridas. A única coisa em comum entre todos eles, aparentemente, é que eles o olharam feio quando ele entrou.
Talvez sejam todos visitantes frequentes daquele bar que não estavam acostumados a verem pessoas novas. Fazia sentido, já que, após um momento de pesquisa – feita antes de entrar, é claro –, descobriu que era um bar muito underground frequentado principalmente por vilões e vigilantes e era, tecnicamente, um local neutro.
Um tiro soou ao seu lado enquanto uma pequena confusão começava em uma mesa próxima. Ele continuou andando para se afastar do epicentro da briga.
Parecia ser neutro no sentido literal da palavra, já que o barista ainda não fez nenhum movimento para parar a briga, servindo bebidas calmamente, como quem vê a mesma coisa acontecendo todos os dias.
Deixando isso de lado, Dazai finalmente chegou até a bancada e se sentou em um dos bancos vazios, longe de todos e pegou o cardápio, fingindo dar uma olhada enquanto ouvia os arredores, tentando fisgar algo de útil de alguma conversa enquanto esperava o barista – que estava ocupado fazendo uma bebida – se aproximar.
— Takahashi-san morreu ontem! Os policiais…
Não é problema dele.
— Você sabia que Naomi-chan se matou? Ela foi traída pelo marido e…
Bom pra ela, mas ele não quer saber mais detalhes.
— Daiki-kun se juntou à yakuza…
Pobre coitado. Dazai enviaria suas condolências ao homem e à família se ele fosse um pouco mais empático.
— Sabe aquele cara que ‘tava contratando pra atacar uma escola? – Um homem de cabelos prateados começou, falando com um cara com uma máscara preta e branca estranha e roupa meio chique, atraindo a atenção de Dazai.
Agora, isso é promissor.
— Então, ele estava procurando por mais gente e eu acho que você…
— Boa noite. Gostaria de alguma bebida? – O barista perguntou educadamente, desviando sua atenção da conversa. O moreno xingou mentalmente, mas voltou parte de sua atenção para o barista.
— Boa noite, senhor!! – O moreno respondeu com certo ânimo, ignorando o olhar meio chocado que o senhor de idade o devolveu, provavelmente não estava acostumado com esse nível de animação naquele local. — Aqui tem um coquetel de alvejante?
O barista ergueu uma sobrancelha, parecendo levemente preocupado. — Temo que não, meu jovem. Temos essas opções que estão listadas no cardápio.
— Você é estranhamente educado pra um lugar como esse. – Dazai ecoou levemente, antes de olhar para o caderno em suas mãos. — Vou querer um uísque normal. – Ele decidiu.
— Hm… Sinto muito, mas o uísque acabou por hoje. – O homem lhe deu um sorriso apologético.
O queixo de Dazai quase caiu, mas ele se conteve. Que tipo de bar não tem uísque!? Mas, ao ver o quão cheio estava o bar e a hora da noite, ele imagina que faz sentido que tenha acabado.
Isso não impede que ele se sinta irritado com isso.
— Bem, então o que você recomenda? – Ele perguntou, mantendo o tom leve apesar de seu aborrecimento. Ele se sentia inquieto, percebendo que os homens que ele estavam observando pareciam estar se despedindo.
— Para você, eu recomendaria um ‘Sex on the Beach’ com um pouco menos de vodka. É feito com vodka, licor de pêssego, suco de laranja e suco de cranberry.
Dazai nunca havia ouvido falar dessa bebida antes e a ideia de prová-la parecia meio tentadora, mas ele realmente precisava seguir um daqueles homens. Provavelmente deveria seguir o homem com máscara, já que parecia ser uma sugestão do outro homem que ele fosse procurar essa “contratação”.
Ele estava prestes a negar e se levantar para sair, mas foi parado por uma mão em seu ombro, mantendo-o no lugar.
— Ele vai querer essa mesmo. – Uma voz meio rouca veio de trás dele, claramente pertencente a um homem. O homem atrás do balcão assentiu, se afastando dos dois.
O moreno se impediu de congelar e se forçou a permanecer calmo, virando o olhar para trás. O que o cumprimentou foi um homem alto e musculoso, seus olhos e pescoço estavam cobertos por bandanas vermelhas e ele não possuía nariz, além de estar usando roupas combativas e estar em posse de uma miríade de armas brancas de vários tamanhos.
Era Stain, o assassino de heróis.
O homem ainda não era muito famoso, permanecendo mais no underground. O próprio Dazai não sabia dele antes de procurar mais a fundo em partes mais sombrias da internet, o que era algo. No entanto, o garoto sabia que o homem não planejava ficar assim por muito tempo, embora ele já fosse ativo há alguns anos.
Agora, por que diabos esse cara o abordou de todas as pessoas!? Ele nem tem nada de especial em sua aparência, pelo amor de Deus!
Bem, pelo menos ele espera que seja uma conversa interessante e que agregue conhecimento. Ou uma morte rápida. Talvez ele prefira a segunda opção.
Alheio a sua turbulência interna, o assassino de heróis se sentou ao seu lado no banco vago, bufando. — Você não é tão sutil quanto pensa que é. – Ele começou.
Dazai engoliu em seco, mas manteve sua compostura. — Oh? E o que eu estou fazendo que não é sutil? – Retrucou. — Não sei o que eu posso ter feito pra chamar sua atenção.
— Você é novo aqui, e é muito jovem. Isso já é o suficiente. – O homem respondeu calmamente. — E eu sei bem como coleta de informações funciona e esse foi o pior lugar possível que você poderia escolher pra isso. E eu sei que você ia seguir algum daqueles dois ali. Eles são perigosos, sabia? Todos aqui são.
— E como você pode provar isso? – Dazai perguntou simplesmente, colocando o rosto em uma das mãos.
Ele sabia que esse bar era furada, mas ele não esperava que o buraco fosse tão fundo assim. A proteção com individualidade deveria ter sido uma indicação, mas não, ele resolveu apenas ignorar isso.
— Não estou conversando com você porque quero provar alguma coisa. – O serial killer falou, confundindo-o ainda mais. — Estou conversando com você porque você parece jovem e eu espero que você saiba que não vai conseguir nada se juntando àquele filho da puta. – Stain terminou, uma pitada de ressentimento em sua voz.
Dazai o encarou em silêncio por um tempo, antes de soltar uma gargalhada alta, atraindo alguns olhares. — Eu? Me juntar àquele cara? Você interpretou tudo errado! – Ele continuou rindo.
Parece que o homem tinha algo contra Shigaraki. Talvez ele possa usar isso a seu favor.
Stain parecia prestes a falar algo, mas, de repente, uma bebida foi colocada em sua frente e o moreno a pegou, ignorando a pontada de dor que sentiu no pulso torcido. Ele olhou de soslaio pra o homem enquanto ponderava se deveria abaixar a máscara para tomar a bebida.
— Vá em frente. Ninguém liga e também ninguém dedura nada. É a regra do bar.
O moreno soltou um suspiro, agora entendendo o que o homem quis dizer com ser o pior lugar para procurar informações. Se ele não tivesse ouvido nenhuma conversa útil enquanto esperava o barista, ele teria saído por aí perguntando – ou melhor, importunando e ameaçando as pessoas até que elas lhe contassem. É bom que isso não tenha acontecido, talvez ele tenha evitado um ou dois olhos roxos.
Ser brutalmente assassinado não era uma das formas de morrer que ele planejava tentar experimentar.
Dando mais um olhar para o homem, ele abaixou a máscara lentamente e colocou o canudo na boca, tomando um gole da bebida. A sensação agridoce em sua boca e a queimação que desceu pela garganta o animou e ele logo tomou mais um gole.
‘Eu senti falta do álcool.’ – Ele pensou, antes de afastar a bebida um pouco.
— Eu sabia que você era jovem, mas eu não estava esperando uma criança literal. – O homem falou em um tom monótono.
Dazai resolveu ignorar o que ele disse. Era bom que Stain pensasse que ele era uma criança, vai que ele ainda tem uma espécie de moral em sua cabeça. — Deixando isso de lado, o que você me disse me faz pensar que você conheceu o cara que eu tô procurando. Por acaso você sabe onde Shig… – Antes que ele pudesse continuar, uma mão tampou sua boca.
— Não fale o nome dele aqui, especialmente quando você não é aliado dele. – Stain falou em um tom firme e prosseguiu a explicar ao ver seu olhar confuso. — O dono do bar é chefe dele, digamos assim.
O garoto piscou. — E quem seria esse dono do bar?
— No submundo, todos o chamam de bicho papão. Ele tem muitos bares como esse, mas sugiro evitá-los, como você deveria ter evitado esse.
Bicho papão. Ecoou em seu cérebro.
Poderia esse ser o mesmo bicho papão de suas memórias?
É assim que ele conhecia Shigaraki quando eles eram mais jovens?
Interessante.
— E onde eu posso encontrá-lo? – Dazai perguntou.
Stain o encarou fixamente. — Mesmo se eu soubesse, não te contaria. Já não passou da sua hora de dormir?
O moreno franziu a testa, sem responder o serial killer. Mesmo que o homem não quisesse, ele ainda passou uma informação acidentalmente. O bicho papão comandava bares, talvez o covil do homem de cabelos azuis fosse em um, já que o “chefe” poderia protegê-los com uma individualidade.
Mas ele tinha aquele cara que poderia se teleportar, então ele poderia estar em qualquer lugar do Japão.
Bem, de volta à estaca zero.
— Presumo que você não vai mais me dar informação nenhuma? Já estou surpreso que você me disse tanto quanto falou, achei que a regra era não contar. – Dazai respondeu após o momento de silêncio, tomando mais goles de sua bebida.
— Se você quer sobreviver no underground aqui, essas são coisas que você precisa saber. Eu não contaria isso como dedurar. – O homem falou simplesmente.
Dazai não esperava que um assassino como esse cara daria tanta moral para uma, como ele diz, "criança". Talvez há algo nas feições do moreno que inspire empatia, porque não era a primeira vez que um adulto conversava assim de bom grado com ele.
No entanto, ele meio que esperava esse tratamento de seus professores, e não de um literal serial killer.
O moreno deu um pequeno sorriso antes de resolver testar os limites. Talvez ele não volte vivo naquela noite, mas valia a pena para saciar sua curiosidade.
O silêncio reinou por um momento, antes que o moreno encarasse Stain. — Eu tenho uma pergunta pra você se você não se importar, Sr. Assassino de Heróis. – Ele perguntou, mantendo o sorriso.
O homem lhe deu um olhar afiado. — A curiosidade matou o gato.
Dazai retribuiu o olhar com um sorriso estreito. — A satisfação trouxe de volta.
Stain sustentou o olhar por mais um tempo, parecendo estar tentando lê-lo, antes de suspirar. — Vá em frente, pirralho.
— Você poderia explicar sua ideologia pra mim?
O homem se virou totalmente para ele com os olhos levemente arregalados, claramente em choque. O moreno imagina que essa era a última pergunta que o homem esperava.
Os olhos de Stain adquiriram um tom amargo, enquanto ele se voltava para olhar para frente, fechando as mãos em punhos. — Eu quero livrar dos falsos heróis. Seres humanos asquerosos que entram no heroísmo apenas por dinheiro e fama, apenas para serem reconhecidos e amados como celebridades, apesar de seu egoísmo, enquanto as pessoas que eles deveriam ajudar são mortas e pisoteadas. Eles são a raiz dos problemas da sociedade e, portanto, devem ser arrancadas. – Ele terminou seu discurso, sua voz carregada de ódio.
Dazai deu um zumbido leve, terminando sua bebida, antes de sorrir para o homem. — Pessoalmente, acho sua ideologia meio falha.
A temperatura da sala pareceu cair significativamente enquanto o serial killer se virava para encará-lo, enquanto algumas pessoas ao redor lhe davam olhares incrédulos.
O moreno sabia que estava testando sua sorte ao conversar assim com um assassino em série – mas quem ele quer enganar! Ele é um assassino também! Um assassino que pode fazer milagres – ou massacres – com um copo de vidro em mãos.
— Ah… e o que você acha que está errado? – A voz do homem obteu um tom perigoso, mas Dazai não se deixou intimidar.
— Bem, começa pelo fato de que o heroísmo, querendo ou não, é uma profissão como qualquer outra. Os heróis precisam de dinheiro pra sobreviver de alguma forma e, pra que eles ganhem dinheiro, eles precisam ajudar as pessoas e, no geral, fazer seu trabalho. Contanto que o trabalho esteja sendo feito, quem liga que é pelo dinheiro? Olha só quantos se tornam médicos apenas pelo retorno financeiro! – Ele deu uma pausa. — A raiz dos problemas da sociedade não são os heróis em si, e sim o sistema em que estamos inseridos, que nos obriga a buscar lucro de qualquer forma possível para que possamos sobreviver.
Ele podia ver os rostos cada vez mais perplexos enquanto ele falava, enquanto Stain segurava o balcão com um aperto de ferro – parecia que ele iria quebrar a qualquer momento sob sua mão. Apesar disso, ele se encontrava congelado, parecendo estar pensativo.
E essa é a deixa para ele sair.
— Ah, olha a hora! Eu realmente deveria estar indo pra casa. – Ele exclamou alegremente, já puxando sua máscara para cima e pulando de seu assento, andando rapidamente. — Tchau pessoal, até nunca mais, eu acho!
Felizmente, ninguém o parou e nem ficou em seu caminho, então ele conseguiu chegar rapidamente à porta e sair, sem ter soltado o copo de vidro uma única vez.
Ele não pagou por sua bebida.
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Dazai suspirou profundamente após jogar o copo em uma lixeira aleatória, uma vez que já estava em um local mais movimentado, apesar de ser cerca de três horas da manhã.
Ele começou a andar para o apartamento que residia lentamente, sentindo o riso borbulhando em sua garganta, ameaçando sair.
O moreno se lembra de antes, quando Kouyou ainda não o odiava, muito antes de ele entrar na Máfia do Porto oficialmente.
Às vezes, Mori o isolava em seu pequeno quarto com nada além de um tabuleiro de xadrez e livros de medicina complexos demais para sua idade para passar o tempo, então ele jogava xadrez sozinho e lia os livros, muitas vezes sem entender direito o que eles queriam dizer.
No entanto, Kouyou, de vez em quando, aparecia para lhe fazer companhia – e ela levava várias coisas diferentes.
Às vezes, levava jogos, que eles passavam horas jogando e rindo baixinho. Outras vezes, ela levava maquiagens e deixava que Dazai a maquiasse e depois o corrigia, mostrando como fazer corretamente. Segundo a mulher, poderia ser útil para que ele aprendesse a maquiar, já que poderia precisar disso para alguma missão.
(E ela não estava errada. Era muito útil para missões de infiltração.)
No entanto, o favorito de Dazai eram os livros.
Kouyou levava todos os tipos de livro para ele ler nessa época. Romances – próprios para a idade –, ficção científica, acadêmicos, livros de suspense, de ação e alguns outros.
Foi nessa época que o moreno começou a questionar as coisas. Foi o que afiou seu senso crítico e, o pior de tudo, o que o fez começar a desafiar Mori.
E era exatamente o que Mori não queria que acontecesse.
Quando o chefe descobriu, ele fez questão de separá-los e confiscar todos os seus livros.
Na época, o garoto havia ficado destruído – foi uma das primeiras vezes que tentou se matar enquanto estava nos cuidados de Mori –, mas o tempo passou e nada mudou.
Ele aproveitou bastante ao contrariar a visão de Stain, lembrando-se de tempos que não voltam mas, mas o riso morreu em sua garganta quando ele se lembrou do jeito que Kouyou o encarou quando ele se tornou o Demônio Prodígio.
Ele jamais esquecerá o olhar em seus olhos.
Sua barriga ronca, tirando-o de seus pensamentos, e é quando ele se lembra que não come nada direito há pelo menos dois dias – não é culpa dele que ele tenha se perdido em pensamentos e esqueça que precisa de comida para sobreviver.
Dazai olha ao redor, procurando por uma loja de conveniências que fica aberta vinte e quatro horas por dia e rapidamente encontra uma na esquina da outra rua. Sem perder tempo, ele começa a ir em direção à ela.
Não demora muito para chegar no local. Ao entrar, ele é rápido de comprar um simples pãozinho coberto por leite em pó e açúcar – não é totalmente de seu agrado, mas é um dos alimentos mais baratos que tem. Pelo menos será o suficiente para saciar sua fome.
Ele sai da loja rapidamente e retoma o caminho para sua casa com o pão em mãos, dando algumas mordidas.
Em algum ponto de seu caminho, um miado atrai sua atenção para um beco escuro e desabitado – ou, bem, quase desabitado.
Assim que olhou na direção do barulho, avistou um gato branco muito peludo – embora sua cor quase não fosse perceptível devido à sujeira de seu pelo – que estava em cima de uma caçamba de lixo, encarando-o profundamente com dois grandes olhos heterocromáticos, um sendo azul e o outro âmbar – embora ambos estivessem meio opacos. O gato parecia estar analisando sua alma.
— O que você quer? – Dazai falou com o gato, que apenas inclinou a cabeça em resposta. Ele olhou para seu pão e para o gato novamente. — Não vou te dar meu pão! – Ele exclamou, que foi respondido pelo gato colocando a língua para fora.
Talvez ele fosse meio louco por estar discutindo com um gato na rua às três horas da manhã.
Bem, não havia ninguém perto para julgá-lo de qualquer forma.
De repente, o gato pulou de seu posto e foi em direção a ele, cheirando-o antes de circular suas pernas e tentar subir.
— Nananinanão! – Dazai falou apressadamente, antes de pegar o gato com uma mão – soltando um pequeno gemido ao perturbar o pulso – e colocá-lo de volta na caçamba, ignorando os pequenos miados revoltados que a criatura soltou. — Você vai ficar aqui.
O gato apenas o encarou.
O moreno encarou de volta.
Eles ficaram em uma batalha de olhares por um tempo, antes que Dazai suspirasse. — Tudo bem, tudo bem, você ganhou. – Ele disse, ignorando o miado que parecia estranhamente vitorioso do gato, antes de pegar um pedacinho do pão e jogar para na caçamba – que felizmente estava fechada.
No entanto, o gato começou a circular o local, parecendo não estar encontrando o pedaço, sendo que estava bem ali ao seu lado.
— Gato burro. – Dazai murmurou, antes de se aproximar dele, pegar o pedaço em sua mão e esticá-la em frente ao animal, que devorou o pedaço alegremente. Ele percebeu rapidamente que o gato poderia ter problemas de visão, a julgar pela opacidade de suas pupilas.
Assim que o gato terminou, Dazai se virou e continuou a andar e comer seu pão. Ele provavelmente deveria se preocupar com os germes que esse gato de rua poderia ter, mas ele não conseguia se importar menos.
Um farfalhar veio de trás dele e ele se virou, vendo que o mesmo gato de antes o seguia.
O moreno franziu a testa. — Não vou te dar mais. – Ele afirmou, mas o gato permaneceu olhando estupidamente para ele. Com isso, ele apenas bufou e seguiu seu caminho, embora conseguisse ouvir miados vindo atrás dele o tempo todo.
Ele continuou andando sem olhar para trás, esperando que o gato se cansasse dele e sumisse, mas não foi isso que aconteceu.
Quando chegou em seu prédio, já havia terminado de comer o pão e olhou para trás ao ouvir mais um miado.
Dazai encarou o animal determinado por um tempo, antes de suspirar. — Você não desiste mesmo, né? – Ele disse em um tom cansado, que foi respondido por um miado alegre.
Sem mais delongas, ele pegou o animal – que se acomodou alegremente em seus braços, ronronando – e começou a ir para seu apartamento, chegando nele rapidamente, entrando e trancando a porta.
O moreno encarou o gato em seus braços. — Você é faminto por toque ou alguma coisa assim? – Ele murmurou em aborrecimento. — Pensei que você seria mais arisco por ser, sabe, um gato de rua.
Assim que ele falou isso, o gato se mexeu e ele avistou algo em seu pescoço. Era uma coleira azul clara, embora estivesse meio suja e quebrada, parecia ter se enroscado no pelo.
Ele se pergunta como não havia notado isso antes. Talvez o álcool e as noites sem dormir estejam o afetando.
Isso quer dizer que ele acabou de sequestrar um gato? Bem, há uma primeira vez pra tudo, ele supõe. Ou…
— Será que você foi abandonado…? – Dazai ponderou, encarando o gato, que miou.
Isso foi um sim?
Ou talvez ele tenha finalmente enlouquecido.
— Por que diabos estou conversando com um gato como se ele…
Sua linha de pensamento é interrompida por um tapa na bochecha, proveniente do animal em seu colo.
O moreno o afasta rapidamente com as sobrancelhas franzidas. — Gato maldito. – Ele murmurou enquanto o colocava no chão. — Será que você me entende ou alguma coisa assim?
O gato inclinou a cabeça, encarando-o estupidamente.
— Claro que não. – Ele suspirou, antes de encarar o animal novamente. — Você precisa de um nome… – Ele começou, com uma mão no queixo, antes de sorrir. — Já sei! Será Dom Tapado IV! Ou Tap, pros mais íntimos. E eu preciso apresentar você para Chuuya!
O gato o encarou com um olhar nada impressionado, antes de se sentar nos seus pés.
— Hmm, vou ter que sacar o dinheiro de Mori pra comprar as coisas pra você, não é bom que ele saiba da sua existência… – Dazai falou sozinho, antes de encarar o gato.
— Você come caranguejo enlatado?
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Eu não gostei muito desse capítulo, senti que ele foi um pouco “artificial” demais, sinto que não consegui colocar bem minha ideia, mas é o que eu consegui fazer.
O Stain provavelmente tá OOC pq eu não lembro de NADA desse cara, não lembro de cena nenhuma que ele aparece e a Wiki não me ajudou muito. Dito isso, eu confiei quase que 100% na minha amiga que ainda acompanha bnha pra fazer esse capítulo (e vou fazer o mesmo pra fazer os próximos).
Espero que essas diferenças não incomodem vcs muito!! Desculpa por isso
[Edit: esse capítulo tava realmente me incomodando, então eu retirei a publicação pra poder analisar um pouco, mas no fim eu não mudei nada.]
Enfim, aqui as explicações que citei no início:
Muita coisa aconteceu. Eu fui pro hospital, me formei, briguei com a família, tô me preparando pra me mudar de cidade em alguns meses. Coisas da vida, né?
E o mais grave de todos eles: saí momentaneamente do fandom de bsd.
Ultimamente, a história do mangá de bsd tem se tornado meio chato e repetitivo pra mim, com os deathbaits constantes e a progressão de caramujo – sem contar com a falta de aparição do Dazai, que é o que me trouxe e me manteve no fandom. Por causa disso, tenho consumido cada vez menos conteúdo e ando tendo menos motivação pra escrever essa fic.
No entanto, não pretendo descumprir minha promessa! O Dazai ainda é um grande hiperfoco meu e eu não pretendo abandoná-lo tão cedo, e o mesmo vale pra essa história. Eu amo ela de paixão e não pretendo parar de escrevê-la, mas não posso exatamente forçar a motivação.
Por isso eu queria avisar: não vou abandonar a fic, mas as atualizações serão beeem esporádicas.
Obrigada por lerem e até o próximo capítulo!! <3
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