Capítulo 7
notas iniciais:
Eu sou Dazai e Dazai sou eu. Eu tô projetando demais nele.
Tw!
Violência extrema (tentei deixar o menos gráfico possível, mas era meio inevitável)
Problemas de abandono (não acho que isso se enquadre como tw, mas vou marcar mesmo assim!)
-
— Você…
Dazai se virou na direção da voz assim que derrubou o último cara que foi em sua direção. Ele franziu a testa, encarando o homem de cabelos azuis.
— Eu não tinha te reconhecido quando nos esbarramos antes, mas agora… – O homem abriu um sorriso largo, se aproximando. — Parece ser o destino!
O moreno deu um passo para frente, sorrindo. — E de onde nós nos conhecemos? Não lembro de te conhecer.
O homem fez uma pausa, antes de parecer irritado. — É uma pena. – Ele falou, antes de sorrir novamente de forma quase que imperceptível por debaixo da mão cinza ao ver Aizawa se aproximando dele. — Já sei como te fazer lembrar.
Dazai sentiu-se ficar tenso quando seu professor chegou perto o suficiente do vilão. O homem de cabelos azuis estava apenas desviando, mas o mafioso percebeu rapidamente que ele estava contando o tempo até que o homem de cabelos pretos piscasse.
— Aizawa-sensei, afaste-se! – Ele gritou, embora fosse tarde demais. O vilão pegou o cotovelo do professor, fazendo com que a roupa e a pele se desintegrassem, exibindo a camada de músculos.
Aizawa não pensou duas vezes antes de pular para trás com um gemido de dor, agarrando a parte machucada quase que instintivamente enquanto arfava.
O mafioso estremeceu quase que imperceptivelmente, sentindo uma dor de cabeça se formando. Ele teve um flash de memória de um garoto de cabelos azuis claros que parecia muito mais novo do que a versão que ele enfrentava atualmente - o garoto estava olhando para ele com ódio. A memória logo se dissipou, embora apenas o deixasse ainda mais confuso.
Dazai zombou baixinho, decepcionado com sua própria capacidade de dedução. Inicialmente, ele pensava que o vilão era de Yokohama e havia o reconhecido como um executivo da Máfia, mas, a julgar pela diferença de idade entre o homem e o garoto de suas memórias, essas lembranças remontam de quando o moreno era uma criança, antes de se juntar à máfia.
Como se isso não pudesse ficar mais estranho.
O homem de cabelos azuis não poupou tempo antes de avançar novamente com o braço estendido em direção à Aizawa, sendo parado apenas por uma pequena faca que voou até que pousasse em seu ombro direito e ele recuou com um gemido baixo.
Dazai, que havia atirado uma de suas facas, se aproximou de seu professor e bateu em seu ombro, ignorando o olhar afiado que o homem lhe enviou. — Deixe esse cara comigo. – Disse, fixando o olhar em seu oponente.
Os olhos de Aizawa pareceram o examinar intensamente, se demorando em seus olhos e um breve olhar preocupado passou por suas feições, antes que ele endurecesse novamente. — Nós vamos conversar sobre isso mais tarde. Espere dois minutos enquanto eu termino de lidar com os outros que restam e depois disso, você vai sair. – Sua voz não deixou espaço para discussão, mas Dazai fez questão de ignorá-lo em favor de avançar.
O mafioso rapidamente se abaixou e tentou chutar os pés do outro homem, falhando por apenas um segundo enquanto o mesmo pulava para trás. Dazai se levantou e prosseguiu com um soco, que errou, mas logo acertou um chute no lado do vilão quando ele levantou os braços para se defender.
O homem de cabelos azuis xingou e levantou as mãos quase que automaticamente, antes que parecesse se lembrar de algo. O momento de hesitação foi o suficiente para que o moreno retirasse outra faca de um de seus bolsos e atacasse, conseguindo fazer um corte limpo na bochecha do outro, que esquivou-se apenas por um fio.
O homem soltou um suspiro de aborrecimento. — Tsk. Minha individualidade não funciona com você. – A voz dele parecia perigosamente baixa, agindo como um animal raivoso - ou uma criança teimosa. — O que eu tenho que fazer para te trazer para o meu lado?
Dazai manteve seu rosto cuidadosamente em branco enquanto respondia, apesar de ter quase certeza que era uma pergunta retórica. — Talvez eu possa me lembrar melhor se você me disser seu nome e pra quem você trabalha.
Pescar informações era certamente o melhor curso de ação que ele poderia seguir naquele momento - especialmente se isso fosse manter aquele pássaro monstro gigante longe dele pelo máximo de tempo possível. O vilão parecia ter se esquecido momentaneamente da presença - quase que avassaladora - do ser mutante, o que ele só podia agradecer naquele momento. Dazai não estava ansioso para descobrir se sua habilidade funcionava ou não na criatura.
Seu oponente pareceu considerar suas palavras por alguns momentos, antes que o encarasse novamente. — Eu sou Shigaraki Tomura e sou herdeiro do Sensei, que comanda a Liga dos Vilões. – Ele falou com um tom que beirava o orgulho. — Isso acende alguma luz na sua cabeça?
De certa forma, a resposta era sim. Ele não conseguia deixar de sentir que os nomes eram familiares, mas sua memória era nebulosa, na melhor das hipóteses. Ele estava meio grato por isso, uma vez que não seria muito interessante que ele tivesse um influxo de memórias reprimidas no meio de uma luta.
A imagem de um homem de cabelos brancos com rosto embaçado passou por sua cabeça, mas ele foi rápido em chicotear a memória para longe.
O trauma poderia esperar para ser desempacotado mais tarde, quando ele estivesse no conforto das quatro paredes do apartamento que residia, sozinho.
Mas ele precisava de informações mais concretas do que um nome tão estúpido quanto Liga dos Vilões - embora ele fosse suspeito de dizer isso, ele estava sob o comando de uma organização que se chamava literalmente Máfia do Porto, sendo uma máfia que atuava em um porto. Parece que o mercado criativo para nomes nos lados “sombrios” estava em crise.
— Discutível. – O moreno respondeu à pergunta, ignorando a carranca que se formou no rosto do outro. — E esse Sensei não teria um nome?
— Nenhum que te interesse. – Shigaraki respondeu com hostilidade, antes que levasse as mãos ao pescoço e começasse a coçar agressivamente. — Eu já te dei as informações que você queria. Não é o suficiente? – O homem parecia ficar cada vez mais frustrado.
Dazai ergueu uma sobrancelha. — Claro que não. Você quer que minhas memórias ressurjam do oxigênio com só alguns nomes irrelevantes pra mim? – Ele respondeu, sua voz pingando sarcasmo e sendo propositalmente irritante.
Ele quase podia sentir o olhar exasperado de Chuuya em suas costas, mas tinha certeza que era apenas o olhar de desapontamento flagrante de seu professor - e ele fez questão de ignorar. Parecia que seu professor estava sendo mantido ocupado pelos bandidos de baixo nível - o que não era surpresa, deveria haver pouco mais de cem e Aizawa era apenas um homem.
Mas ele não conseguia evitar. Provocação causa reação, e reação significava que Dazai poderia ler seu oponente como um livro. Sem contar que era divertido.
A fúria pareceu se acender nos olhos de seu oponente. — Irrelevantes…? – Ele falou baixo, embora alto o suficiente para que fosse ouvido. Uma risada rouca saiu de sua garganta, que logo se transformou em gargalhadas enlouquecidas que carregavam ódio.
O mafioso sentiu um pouco de suor escorrendo pela testa enquanto encarava o homem em sua frente, mantendo-se firme.
Esse cara é clinicamente insano, ele supõe.
Mas não é como se ele mesmo fosse muito diferente disso – Ele pensou com um pequeno sorriso adornando seus lábios.
Porém, de qualquer forma, ficou tão claro quanto um dia ensolarado que todo esse ódio era direcionado para ele.
Shigaraki olhou-o friamente diretamente em seu olho descoberto, fazendo um barulho de descontentamento. — Não sei o que o Sensei vê de especial em você. Não precisamos de você. Apesar de você ser, de fato, um trunfo, você é facilmente substituível.
Dazai não reconheceu a pontada de dor indesejada que atacou seu interior, cravando em seu corpo como um milhão de espinhos afiados e rasgando seus membros um a um impiedosamente.
(Ele não é substituível. Não para Mori. Mori não o abandonará. Ele não vai ficar sozinho de novo.)
Ao invés disso, ele continuou provocando na esperança de manter o outro falando e talvez fazer com que ele derrame mais informações em meio ao estresse. Se ele apertasse os botões certos…
— Seu sensei te enviou pro abate, em uma cúpula com muitos heróis treinados, com reforços chegando, e alguns bandidos de baixo nível e eu sou o substituível? – Ele zombou, embora soubesse que era uma resposta fraca - aquela criatura gigante ainda estava lá, apenas momentaneamente esquecida. Mas ele não queria extrapolar ainda. — Acho que você precisa rever alguns conceitos.
Um grito de raiva deixou o homem e ele começou a coçar o pescoço com mais agressividade ainda. Suas mãos tremiam, como se estivessem implorando para serem usadas para destruir - pelo o que Dazai podia observar.
O moreno fez uma rápida varredura dos arredores, notando repentinamente a demora de seu professor, e logo o avistou ajudando alguns alunos a saírem da praça e irem em direção a algum local mais seguro. Parecia que todos os bandidos já haviam caído, mas cada vez mais alunos apareciam, saindo de cada área ao redor. Aizawa parecia estressado, mas ele supõe que o motivo era justo.
Dazai voltou sua atenção para seu oponente e notou que o homem de cabelos azuis estava apenas murmurando para si mesmo, antes que focasse um olhar raivoso no garoto mais novo.
— Cala a boca, ele tem tudo sob controle! Você não sabe de nada sobre o Sensei! – Gritou.
— Tem razão, eu não sei. Por que você não me conta? – Dazai respondeu prontamente em um tom calmo. Ele planejava chamar o cara de farsante, mas percebeu rapidamente que o tiro poderia sair pela culatra, apenas empurrando o outro homem ainda mais em sua espiral de insanidade.
— Ele pega o que é dos outros e as torna melhor. Isso inclui eu e você, me entende agora? – As palavras de Shigaraki beiravam um rosnado, ansioso para defender o homem que parecia ter o criado.
Parece que o cara não é tão idiota quanto ele pensava inicialmente. Facilmente manipulável? Certamente. Mas não burro. A resposta que ele deu foi enigmática o suficiente para que Dazai tivesse que pensar mais a fundo sobre seu significado, então ele apenas armazenou a informação para ser decodificada mais tarde.
— Não me coloque na mesma caixa que você. Eu já tenho alguém que me pegou e me aprimorou. – O moreno retrucou, reprimindo uma carranca de se formar em seu rosto ao dizer a última parte, sentindo o gosto amargo que surgiu em sua língua, apesar de estar ciente que era verdade, não importa o quanto quisesse que não fosse. — E eu tenho certeza que não foi o seu sensei, Mãozinha.
Shigaraki fez um barulho de estalo com a língua, parecendo ter chegado ao seu limite. — Nomu, pegue ele! E faça doer. – Ordenou, parecendo ter se lembrado de seu maior soldado.
Porra.
Antes que pudesse perceber, uma sombra pairou sobre Dazai e ele mal teve tempo de pensar em qualquer coisa antes que sentisse um punho colidindo com seu corpo e voasse para o outro lado da cúpula. Ele pensou ter ouvido seu nome sendo gritado, mas talvez estivesse apenas imaginando coisas.
Talvez não tenha sido seu momento mais genial ter antagonizado um cara com tal poder a sua disposição. Mas ele não esperava que teria sido a porra de um apelido que levaria o vilão ao seu limite.
(Para alguém tão inteligente quanto ele, ele admitiria que foi meio estúpido.)
O moreno sentiu aquele mesmo líquido carmesim que corre por suas veias e artérias pingando em seu nariz e testa, encharcando suas bandagens. Contudo, ele não prestou atenção nisso.
O mais importante é que a criatura - Nomu - não desapareceu ao tocá-lo - e isso adicionava outro problema à sua crescente lista de problemas daquele momento.
Mas, mesmo assim, ele não pôde deixar de sentir uma certa… familiaridade com aquele poder - era quase como se já tivesse entrado em contato com ele antes. Ele, de alguma forma, sentiu vários poderes naquele único corpo, porém havia um primordial que os sustentava que estava escondido sob camadas e camadas de energia.
Tinha uma sensação estranha, como se estivesse implorando para ser anulado - a sensação era de queimação, como se ele estivesse colocando a mão em brasa fervente, diferente do frio congelante que ele está acostumado a sentir.
Mas, se aquilo era um poder que poderia ser cancelado, por que não foi?
Claramente, tinha algo a ver com aquele poder que parecia estar escondido. Era como se os outros poderes estivessem tentando se afastar dele, mas eram obrigados a se curvarem ao seu redor para protegê-lo. Mas então, como ele faria para alcançá-lo?
Antes que ele pudesse continuar seus pensamentos internos, a mesma sombra de antes o cobriu e ele se preparou para ser jogado por aí como uma boneca de pano - talvez ele finalmente morresse, afinal de contas - entretanto, uma figura entrou em sua frente no momento exato, tomando o golpe por ele.
Aizawa voou derrapando alguns metros antes de parar e tossir um pouco de sangue, agarrando o lado em que foi acertado. — Eu falei pra você sair. – O homem forçou sua voz a permanecer firme, embora estivesse meio ofegante.
Dazai suspirou, antes que o pássaro estivesse sobre ele mais uma vez. Ele estendeu a mão, pronto para tentar anular suas individualidades mais uma vez, mas foi parado ao sentir uma faixa circundando sua cintura, antes que ele fosse puxado para longe. O local onde ele estava anteriormente foi destruído com um poderoso soco.
Ele engoliu em seco. Essa parecia uma maneira dolorosa de morrer.
Mesmo assim, ele endureceu o olhar e se afastou de seu professor, que o havia puxado, ignorando o olhar que recebeu do mesmo.
— Verdadeiramente heróico, Eraserhead! – O homem contra quem eles estavam lutando zombou antes que qualquer um deles pudesse dizer alguma coisa, escárnio pingando de sua voz. — Mas eu me pergunto… será que é o suficiente?
O Nomu pareceu ficar mais rápido, dessa vez focando em Aizawa, que se afastou rapidamente de Dazai e parecia estar se segurando por um fio contra o monstro, até que ele escorregou e teve seu braço agarrado, que fez um estalo nauseante e um pequeno grito abafado deixasse seus lábios.
O cara do portal apareceu repentinamente ao lado de Shigaraki e lhe disse alguma coisa - que pareceu o estressar -, mas o mafioso não lhes deu atenção. Ele precisava pensar rápido. Se seu professor morresse por sua incompetência ao tentar buscar informações, Mori ficaria puto com ele e ele tinha certeza que não escaparia com apenas um tapa na orelha.
Ele precisa fazer com que a criatura fique parada. Para que ele toque nela por tempo o suficiente para tentar alcançar o poder que sustenta os outros - embora também não tivesse garantia que isso fosse funcionar. Ele não sabia se sua habilidade tinha limite de quantos poderes poderia anular de uma vez.
Ele dá alguns tapas nos bolsos, conferindo o que lhe resta. Ainda havia uma adaga e um rolo de bandagens.
Um olhar para o cérebro exposto do Nomu e logo depois para alguns outros alunos indo na direção deles lhe deu uma ideia.
O que ele tinha era mais que o suficiente.
— Sensei! – Ele gritou. — Aguente só mais um pouquinho!
O homem o encarou com um olhar incrédulo. — Saia daq… – Antes que ele pudesse terminar com sua frase, ele levou um soco no tórax, que o fez voar por mais alguns metros.
Dazai se encolheu internamente enquanto se afastava. Esse golpe certamente havia quebrado algumas costelas.
Sem mais delongas, o moreno se aproximou dos alunos que haviam acabado de chegar na praça e sorriu ao ver alguns dos mais fortes lá presentes. Todoroki, Midoriya, Bakugou e Kirishima. Dos quatro, apenas o garoto de cabelos verdes parecia estar ferido, ostentando dois dedos quebrados. Fora isso, ele parecia bem.
— Ei, pessoal! – Dazai cantou, ignorando a cara feia que dois dos presentes lhe direcionaram. — Eu tenho uma ideia pra acabar com esse bicho, mas vou precisar de uma ajudinha.
O loiro bufou, antes de responder com rancor colorindo seu tom. — Claro que precisa, já que você é um inútil que não consegue fazer nada sozinho. Deixa ele comigo. – Um sorriso selvagem adornou seu rosto.
— Kacchan! N-Não seja mal com ele! – Midoriya rebateu em sua defesa.
Dazai levou a mão ao peito e fingiu uma lágrima de emoção, não dando oportunidade para que Bakugou respondesse. — Obrigado por me defender do grande e mal pinscher, Midori! – Ele suspirou dramaticamente, reprimindo uma risada ao ver o rosto corado do outro garoto. — Mas temo dizer que ele está certo. Este aqui não é capaz de fazer nada sozinho, pois então me comprometo a pedir apoio de vossas excelências! – Ele terminou, sorrindo quando Midoriya e Kirishima riram abertamente enquanto os lábios de Todoroki curvaram-se levemente para cima.
Bakugou ainda o encarava com um ar de superioridade. Mas tudo bem, ele iria arrancar isso pra fora dele em algum momento - e ele tinha a sensação de que não seria proposital, já que não queria mais contato com esse garoto do que o necessário.
— Diga, Dazai. – Todoroki exigiu, já de volta ao seu eu frio, desviando o olhar para seu professor, que ainda lutava incansavelmente contra a criatura.
O moreno havia se esquecido momentaneamente que o tempo estava contra eles. Ops.
— Preciso que Kirishima-kun e Kacchan… – Um grito indignado foi ouvido e ignorado por todos. — …distraiam aqueles dois ali. Eles não podem interferir. – Ele começou, apontando para Shigaraki e o cara do portal.
— E você. – Ele apontou para Todoroki. — Preciso que você congele pelo menos até o pescoço do monstro quando eu estiver perto o suficiente. Consegue fazer isso?
O garoto de cabelos bicolores assentiu simplesmente.
Midoriya apontou para si mesmo com uma pequena carranca. — E… E eu? – Ele parecia um pouco abalado.
— Você ‘tá ferido, então vai ficar de fora dessa vez. – Dazai respondeu.
Normalmente, ele não tem escrúpulos em designar mais tarefas para seus subordinados, mesmo que estejam feridos - mas ele não os obriga a fazer coisas com literais ossos quebrados, ainda mais os que não foram tratados ainda. Isso seria simplesmente contraproducente, apenas serviria para atrasá-los. Mas, é claro, não foi essa a justificativa que ele deu.
O moreno forçou seu olhar a suavizar enquanto olhava para o outro garoto. — Se você se esforçar muito, pode acabar se machucando mais. Você não quer perder esses dedos, quer? – Ele falou.
Ele esperava que as palavras não soassem ameaçadoras, esse não era realmente seu objetivo.
Felizmente, o garoto pareceu entender, mas ainda parecia desanimado. Vendo isso, Dazai teve uma ideia.
— Já que você ‘tá tão ansioso pra ajudar, pegue Aizawa e o leve para longe daqui assim que Todoroki-kun congelar aquela coisa. Ele vai precisar de tratamento médico imediato. — Ele terminou, vendo o olhar determinado do garoto se formando.
— E o que você vai fazer? – O ruivo perguntou calmamente, embora não houvesse desconfiança em seu tom, como se acreditasse cem por cento que seu plano daria certo.
Um certo ruivo veio a sua mente com o pensamento, mas ele logo o afastou.
— Eu preciso que ele fique parado por tempo o suficiente para que eu consiga anular suas individualidades, mas não tenho como saber quanto tempo será necessário e eu não sei por quanto tempo o gelo irá segurá-lo. – Explicou rapidamente, antes de mostrar sua adaga discretamente e olhar de soslaio para o cérebro do Nomu.
Os garotos seguiram seu olhar e entenderam imediatamente o que ele ia fazer. Bom. Ele não teria que explicar os detalhes grotescos de seu plano.
Kirishima e Midoriya pareceram doentes com o pensamento, mas não fizeram nenhum movimento para protestar. Ele supõe que é fácil aceitar as coisas quando não é você quem vai sujar as mãos - mas ele não está em posição para reclamar disso, afinal de contas, cavalo dado não se olha os dentes.
— E o que te faz achar que eu vou seguir suas ordens, sua aberração!? – Bakugou exclamou.
Dazai lhe retribuiu com um olhar impassível. — A glória que você vai receber se conseguir derrubar os vilões principais. Aquela coisa não vai se mover sem comandos, sabe. – Ele ofereceu suavemente, sem esperar que fosse funcionar. Entretanto, o garoto pareceu considerar sua fala.
…Sério?
— Você estaria a um passo mais perto de ser o número um. – Resolveu acrescentar inocentemente, ignorando o olhar chocado dos outros três garotos.
O loiro soltou um som que parecia suspeitosamente com um rosnado, embora sorrisse orgulhosamente. — Isso não seria o suficiente pra ser o número um, mas certamente seria um impulso. – Ele falou, meio que consigo mesmo, antes de fechar a cara novamente e bufar. — Eu vou derrotar aqueles desgraçados e eu não preciso da ajuda do Cabelo de Merda pra fazer isso!
Midoriya se aproximou de Dazai, seu olhar beirando a admiração. — Nunca vi alguém convencer Kacchan tão facilmente assim… – O garoto sussurrou.
O moreno sorriu de volta. — Ele é inteligente, mas tem um ego tão grande quanto o sol. – Respondeu, dando de ombros. – Mas sinto que esse truque não vai funcionar mais vezes…
— Dazai-kun, já podemos colocar o plano em prática? – Kirishima perguntou, vendo que seu professor mal estava se segurando contra o Nomu.
— Precisamos de uma sincronia quase que perfeita. Primeiro, Todoroki-kun deve congelar o máximo possível do Nomu, mas deixando a cabeça livre. Enquanto os outros dois estiverem distraídos com isso, Kirishima-kun e Kacchan os atacam, rápido o suficiente pra que nenhum deles consiga gritar qualquer comando para o monstro. Enquanto isso, Midori tira Aizawa-sensei do fogo cruzado. – Dazai explicou rapidamente, parando um pouco ao ver as expressões determinadas, embora um pouco nervosas, dos outros. Ele deu um sorriso sem graça. — Sem pressão.
Ele definitivamente estava os pressionando.
Um grito de dor pôde ser ouvido ao lado deles enquanto o professor deles é arremessado mais uma vez.
Sem perder tempo, Todoroki enviou seu gelo para o Nomu ao mesmo tempo que Dazai corria na direção do mesmo. O gelo era quebrado e reconstruído incessantemente, até que foi formada uma camada ao redor da perna e braço esquerdo da criatura, espessa o suficiente para que ele se contorcesse e o gelo apenas rangesse levemente.
Sem mais delongas, ele começou a escalar o Nomu pelo lado direito, tomando cuidado para não ser atingido por nenhum soco ou chute. Quando conseguiu se posicionar nos ombros do monstro, ele enviou um olhar para Todoroki e apontou para o lado direito. O garoto pareceu entender o que ele quis dizer e logo enviou outra onda de gelo, congelando a perna direita.
Pelo o que Dazai conseguia ver da distância que estava, o garoto de cabelos bicolores estava tremendo levemente e ele estava ficando ofegante, sinais clássicos de hipotermia.
Não só o gelo duraria pouco tempo como também seu colega. Ele teria que ser rápido.
— O que… No…! – Shigaraki começou, parecendo estar prestes a gritar um comando, mas foi interrompido por um soco no maxilar.
Ao lado dele, o cara de névoa parecia pronto para abrir um portal e afastar o moreno, mas foi interrompido com uma explosão no rosto - ou, pelo menos, no que ele supunha ser seu rosto.
O barulho de luta ficou em segundo plano em sua mente enquanto Dazai retirava sua adaga e rapidamente esfaqueava a massa cerebral exposta, reprimindo um suspiro de nojo que ameaçava deixar sua boca ao ver o sangue e líquidos sendo expelidos.
Há muito tempo atrás, ele tinha uma dúvida: se sua habilidade poderia ser transferida para objetos. No entanto, nunca foi necessário, ele quase sempre conseguia tocar fisicamente em seus adversários.
Bem. Era hora de testar sua teoria.
Desde que havia começado a tocar no Nomu, a sensação de estar tocando em brasa ardente voltou ao seu corpo e parecia que as individualidades estavam sendo anuladas, embora em um ritmo extremamente lento. E ele não tinha como saber qual dos vários poderes estava sendo anulado. Ou seja: ele estava sem sorte.
Sua adaga começou a brilhar em um tom azul bebê e ele sentiu um aumento na taxa de anulação, mas ainda estava dolorosamente lento. Parecia que as individualidades que cercavam a principal estavam realmente sendo usadas como escudo e eram bons escudos.
Mas nada que ele não pudesse superar com um pouco de tempo.
Um barulho que parecia com estilhaços veio do local onde estavam as pernas da criatura e o moreno amaldiçoou baixinho sob sua respiração.
Esqueçam o que ele disse sobre tempo. Não há tempo o suficiente. Ele teria que improvisar.
Supondo que essa criatura esquecida por Deus ainda é aplicável à biologia humana, ele precisa acertar as partes do cérebro que auxiliavam nos movimentos.
Ok. Hora de se lembrar das lições de Mori. Quem diria que um dia suas divagações sobre o corpo humano seriam tão úteis algum dia.
O cerebelo. Fundamental para coisas como equilíbrio e coordenação, mas não é o seu foco. Além disso, fica na parte debaixo do cérebro - a parte não exposta - e ele não acha que sua adaga seja forte o suficiente para perfurar a pele grossa do pássaro mutante.
Córtex motor primário. Localizado no lobo frontal do cérebro, completamente exposto, e também cuida da movimentação.
Há alguns outros que auxiliam na movimentação, como, por exemplo, gânglios da base e o núcleo causado, mas esses eram mais difíceis de alcançar.
Seu objetivo era o córtex motor primário, então.
Sem perder tempo, Dazai retirou sua adaga do local em que ela estava e cravou em seu alvo algumas vezes - ignorando os gritos de dor que deixavam o bico daquilo toda vez que ele errava a mira -, antes de fixá-la lá, tentando ignorar o horror crescente que ele sentia que estava recebendo daqueles ao seu redor enquanto suas roupas ficavam manchadas de sangue.
Em sua defesa, ele também não gostaria de uma morte tão suja e nojenta assim. Ele é mais do tipo que mata com tiros limpos - três tiros no peito, a parte da mandíbula quebrada geralmente é feita por Chuuya.
Ele levantou os olhos brevemente para fazer uma varredura, vendo os outros dois vilões ainda sendo mantidos ocupados em uma luta, enquanto Aizawa estava em nenhum lugar para ser visto. O moreno suprimiu um suspiro de alívio, sabendo que não haveria desculpas para dar se seu professor estivesse testemunhando tamanha violência.
Voltando a atenção para a tarefa em mãos, o brilho azul voltou a ganhar vida em sua faca. Felizmente, o Nomu permaneceu completamente parado - assim como ele planejava.
Lentamente, a sensação de queimação se intensificou até que ele sentiu as barreiras ao redor do poder que sustentava todos os outros enfraquecerem, dando espaço o suficiente para No Longer Human agir. A dita individualidade parecia estar lutando incansavelmente contra sua habilidade, mas era uma batalha perdida - No Longer Human superou o que quer que fosse aquele poder em um instante.
E, como se fosse uma deixa, o pássaro gigante começou a se desfazer - ou melhor, derreter.
Ele pulou para longe descuidadamente, ignorando o estalo doentio que seu pulso fez quando ele caiu no chão. Felizmente, não foi na pilha de sangue e ossos.
Todoroki e Midoriya foram rápidos em correr para seu lado, o ajudando a se levantar. O primeiro estava com um ar de calma, mas o olhar assustado em seus olhos contradiz sua postura. Em contraposição, o segundo estava absolutamente aterrorizado e fazia questão de deixar o mundo inteiro saber disso.
Dazai teria que fazer algum teatro sobre isso. Ele deveria agir como se estivesse traumatizado por ter tido que sujar as mãos assim.
— Sinto muito que vocês tivessem que assistir isso, imagino que tenha sido horrível. Eu não esperava que fosse tão… – Ele começou, fazendo questão de manter seu tom leve, como se estivesse desligado.
— Brutal? – O garoto de cabelos verdes completou. — É. Mas… nós entendemos.
Todoroki pareceu apenas levemente preocupado, mas parecia estar controlando bem suas emoções. — Deve ter sido ainda mais horrível pra você. Fale sobre isso com alguém quando puder.
Dazai mordeu o lábio inferior. — Eu…
— …O que diabos você fez. – O homem de cabelos azuis o interrompeu, cortando a conversa repentinamente. Foi formulado como uma pergunta, mas soava mais como uma exigência. E sua voz estava carregada de puro ódio.
O cara da névoa pareceu perceber isso. — Shigaraki-san…
De repente, um estrondo quase que ensurdecedor veio dos portões da frente, que se abriram para revelar All Might em toda sua glória, interrompendo o que o outro (homem? criatura?) ser ia dizer.
— Não se preocupem, crianças! Eu estou aqui! – O grito do homem reverberou pela cúpula e havia uma notória falta de seu sorriso característico.
Dazai bufou - não importa o quanto essa ação doesse, agora que o pico de adrenalina parecia estar passando - e murmurou baixinho. — Tarde demais, porra.
Shigaraki começou a coçar o pescoço violentamente, o que fez com que Kirishima se afastasse dele com um suspiro assustado - ele notou tardiamente que haviam alguns ferimentos no garoto, mas nada muito grave.
— Não é justo. – O vilão começou baixinho, antes que sua voz aumentasse gradativamente. — Não é justo, não é justo, não é justo, não é justo! – Repetiu como um mantra, como se fosse uma criança pequena cujo um brinquedo novo lhe foi negado. — O Sensei tinha tudo preparado, ele disse que tudo daria certo. Ele… mentiu pra mim? Não. Ele nunca mente pra mim.
Dazai estava meio frustrado que eles estavam apenas parados ouvindo o discurso enlouquecido do vilão ao invés de aproveitar o momento de fraqueza e atacar, mas ele não acha que poderia vencer em um combate corpo a corpo naquele momento. Se ele apenas tivesse sua pistola…
De repente, porém, o homem estava em sua frente, puxando seu braço para perto até que eles ficassem cara a cara.
— A culpa é sua. – Shigaraki disse, veneno nadando em seu tom. — A culpa é sua, Shuuji.
O moreno sentiu sua respiração engatar enquanto seu batimento cardíaco se acelerava contra sua vontade. Ele tentou se afastar, como se tivesse sido fisicamente queimado, mas sem sucesso.
Um sorriso perverso se esticou nos lábios do homem, seus olhos se assemelhando a um vermelho tóxico. — Ah. Você não gosta desse nome, Shuuji?
Pare.
Pare de o chamar assim.
Tsushima Shuuji está morto, enterrado a sete palmos abaixo da terra.
— Shuuji.
-
Uma grande mão pousou em sua testa - muito pequena em comparação. Uma sensação estranha valsou em seu interior - ardia, queimava.
Ele se afastou rapidamente dos sentimentos ruins, não percebendo o choque mal escondido estampado na cara do dono da mão.
“Qual é o seu nome?” O homem perguntou gentilmente, após um tempo, àquela criança que se escondia em um beco sangrento.
“Tsushima Shuuji. E o seu?” Essa criança respondeu, tão ingênua quanto apenas uma poderia ser. Ele não sabia o que havia na mão do homem, mas certamente não o havia machucado de verdade e ele estava sendo gentil. Dar um nome não faria mal, certo?
“É um nome adorável. Você pode me chamar de… bicho papão.” Ele respondeu. “Diga, Shuuji. Você gostaria de vir comigo?”
“Eu quero encontrar minha mãe…” O garoto disse, dando alguns passos para trás até se encostar na parede do beco. “Você sabe onde minha mãe está?”
Um homem ensanguentado jazia aos pés deles, esquecido por ambos.
A criança perdeu o jeito como um sorriso malicioso se esticou nos lábios do homem.
“Claro! Venha comigo, te levarei até ela.”
-
— Shuuji.
Seu nome é Dazai Osamu.
“Shuuji, comporte-se.”
Tsushima Shuuji.
Shuuji.
Shuuji.
Esse não é o nome dele.
Ele não consegue respirar.
Seu peito arfa repetidamente por ar, mas nada é captado. Era como se seu diafragma estivesse sendo fisicamente obrigado a permanecer parado, como se estivesse prendendo seus pulmões, embora soubesse vagamente que isso não estava acontecendo.
Sua cabeça começou a parecer pesada, como se um litro de chumbo tivesse sido injetado em seu cérebro. Pontos pretos dançaram em sua visão e ele logo percebeu que estava faltando oxigênio em seu cérebro.
A última coisa que ele viu antes de cair na inconsciência foi o sorriso satisfeito de Shigaraki, completamente alheio aos gritos desesperados que ecoaram ao seu redor.
-
Notas finais: Meu deus, esse capítulo foi meio pesado
Isso não deveria ficar pronto antes de novembro, mas eu fiquei estressada e comecei a escrever sem parar ao invés de estudar (pra prova que vai definir minha vida daqui pra frente, diga-se de passagem) e aqui estamos.
(Um pequeno aviso: não sou da área da saúde nem nada, eu só tinha ideias, um Google e um sonho!)
Dessa vez, imagino que não vou escrever até pelo menos 10 de novembro. Ou quem sabe eu escreva por estresse de novo dois dias antes da prova, quem sabe? Mas não está nos planos
Um adiantamento sobre o próximo capítulo: ele provavelmente vai ser bem pequeno, talvez tendo metade ou menos das palavras desse capítulo, já que será só uma conclusão/consequências do arco do USJ.
De qualquer forma, espero que tenham gostado!!
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