Capítulo 6
Peço perdão pela demora! Eu tô lutando com a minha saúde (tanto física quanto mental) e isso ta matando minha motivação pra escrever..
De qualquer forma, fiz o meu melhor pra entregar um capítulo de qualidade pra vcs! <3
Tw!
Desumanização
Abuso infantil (implícito)
Violência
Automutilação (implícita)
-
Dazai acordou com um sobressalto, seus olhos piscando rapidamente na escuridão, incapaz de enxergar qualquer coisa com seu único olho funcional. Ele arfou por alguns segundos, a adrenalina em seu cérebro diminuindo lentamente enquanto os barulhos dos grilos se tornavam audíveis.
Apesar de quão pesado seu peito parecia, o moreno se forçou a relaxar, suspirando profundamente até que sua respiração se estabilizasse completamente.
Logo ficou claro: ele teve um pesadelo.
Terrores noturnos eram quase que rotina para ele, mas ele quase nunca se lembrava do conteúdo dos mesmos por muito tempo após acordar. Suas únicas memórias desses péssimos sonhos são as dores fantasma remanescentes, o pânico que o assola toda vez e a sensação de braços calorosos e aconchegantes envolta de seu corpo que logo se tornam frios e mortos.
Dazai pegou o celular que se encontrava na mesa ao lado da cama e o ligou, vendo o horário. Quase três e meia da manhã.
Ele notou que havia dormido mais que o normal - havia se deitado às meia-noite. Ele não costuma conseguir dormir mais que duas horas e meia por dia devido ao estado de hiperconsciência que lhe foi embutido desde cedo. Talvez ele tivesse se exaurido o suficiente na última aula para praticamente apagar, já que dormiu um pouco mais que o normal no fim de semana - infelizmente, já era segunda novamente.
Sabendo que seria incapaz de voltar a dormir, o moreno pegou seu telefone e se levantou lentamente, usando a luminosidade da tela do celular para que não saísse batendo nos móveis e paredes, antes de ir em direção à cozinha para tomar um pouco de água.
Após se hidratar, se jogou no sofá e começou a rolar aleatoriamente pelo seu telefone. Ele permitiu que um pequeno sorriso florescesse ao ver as fotos que o aparelho abrigava.
A última que foi tirada foi uma que mostrava Odasaku, Dazai e Ango. Naquele dia, o moreno havia pedido para que o barman do Bar Lupin tirasse uma foto dos três, embora os outros dois homens concordassem à contragosto. Na imagem, Dazai tinha um grande sorriso e os dois braços jogado pelos ombros dos outros dois homens - que tinham sorrisos moderados -, puxando os dois para si.
O moreno se lembra, com um pouco de carinho, que estava fingindo estar bêbado naquele dia. Ele obviamente não ficava bêbado tão facilmente - havia tomado apenas 4 copos de uísque -, mas havia feito os outros dois acreditar que sim. O motivo era um pouco bobo, talvez infantil, mas Dazai gostava de quando os dois achavam que ele estava bêbado e cuidavam dele. As vezes Odasaku até o deixava dormir na casa dele!
O mafioso tem certeza quase que absoluta que o ruivo o deixaria dormir em sua casa se ele simplesmente pedisse, mas seu orgulho não permitiria isso. Odasaku precisava pensar que ele estava muito bêbado e além de pensar coerentemente para voltar para seu contêiner gelado e solitário - que Dazai havia feito questão de não contar onde ficava - sozinho.
O sorriso de Dazai caiu um pouco, sentindo-se meio patético. Se Mori soubesse desse pequeno ato dele, ele estaria ferrado. O homem com certeza iria querer fazer alguma correção, porque Dazai não tem direito de desejar cuidado. Ele não deveria passar de uma ferramenta sem emoção cujo único propósito é destruir. Mori nem precisa tentar convencê-lo disso, pois o moreno já sabe. E é por esse exato motivo pelo qual ele se sente tão.. errado... por estar fazendo isso, mas não consegue evitar. Porém, o que os olhos não vêem, o coração não sente, ele supõe.
Ele passou a foto, tentando encontrar algo que o tirasse de seus pensamentos antes que ele descesse ainda mais em espiral.
Haviam muitas fotos - a maioria de gatos e do céu nublado, algumas também de Ango e Odasaku. Ele parou, de repente, em uma foto dele com uma criança.
Dazai franziu a testa, reconhecendo a criança como Q. O garoto mais novo é quem tirava a foto - tendo roubado seu celular -, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria enquanto puxava um Dazai cansado, embora com um pequeno sorriso, para perto. Havia um prato de biscoitos meio queimados no chão.
O moreno demorou um pouco para se lembrar bem do dia, mas logo se recordou. Após mandar trancar Kyūsaku, Dazai reclamou para Odasaku sobre uma sensação de aperto no peito toda vez que refletia sobre e as vezes se questionava se deveria ter pensado melhor. O homem lhe informou que o que o moreno sentia era culpa, mas ele não acreditou - e ainda não acredita - nele, afinal de contas, como algo como ele sentiria uma coisa tão humano quanto culpa? Além do mais, ele sabia que a decisão de isolar Kyūsaku não foi nada além de racional, e ele não podia exatamente ir contra as ordens de Mori.
Mesmo que não acreditasse, a sensação horrível em seu peito se recusava a desaparecer, e foi isso que levou Dazai a fazer uma pequena visita para Q - por motivos puramente egoístas, é claro -. Com isso, ele fez biscoitos de chocolate - se a cozinha de Odasaku acabou meio carbonizada, apenas ele e o ruivo saberiam - e apareceu na porta da sala que continha a criança. Kyūsaku não ficou feliz em vê-lo inicialmente, mas aparentemente interpretou os biscoitos como pedidos de desculpa e eventualmente começou a importuná-lo como fazia antes.
Após aquela pequena visita, ele planejava nunca mais voltar, não importa o quão próximos eles foram no passado. Esse seria outro motivo para Mori ficar bravo com ele - Deus, haviam tantos motivos - e ele não poderia arriscar ser jogado no canil por horas novamente, ou talvez até mesmo pior.
Mas mesmo com a ameaça implícita pairando sobre sua cabeça, Dazai continuou, indo contra seu melhor julgamento, a visitar Q escondido de Mori - ele jurou para si mesmo que era porque queria verificar se ele não fugiu, mas nem ele mesmo acreditava nisso. Ele não queria nem pensar no que aconteceria se o homem descobrisse...
Decidindo que não queria continuar com essa linha de pensamento, ele passou para outra foto e assim sucessivamente. Eventualmente, uma em específico prendeu sua atenção mais uma vez.
Ela retratava Chuuya com uma expressão irritada olhando para a câmera, enquanto Dazai estava sorrindo vitoriosamente para ela - sendo quem estava tirando a selfie - com uma das mãos levantada fazendo um símbolo de V, e ambos estavam em um fliperama um pouco mais afastado do centro de Yokohama.
O mafioso se lembrava bem desse dia. Ele e Chuuya haviam sido banidos do fliperama habitual deles - o ruivo havia finalmente quebrado uma das máquinas durante o calor da briga em que se envolveram - e decidiram que procurariam um novo. Como sempre, Dazai ganhou o jogo e Chuuya gritou com ele e eles quase foram expulsos de novo. Apesar de tudo, era um dos poucos momentos de diversão que o moreno tinha em sua vida, além de suas idas ocasionais ao bar.
Também haviam muitas fotos de Chuuya, ele notou tardiamente. Na maioria delas, ele está de cara fechada ou mostrando o dedo do meio para a câmera e, em poucas, tinha o menor dos sorrisos em sua face.
Outro sorriso suave adornou seu rosto, embora ele tenha o forçado a desaparecer assim que notou sua existência. Dazai não admitiria em voz alta e muito menos para o próprio garoto, mas ele valorizava essas imagens como se fossem ouro. Ele valorizava seu parceiro como se fosse ouro.
Sempre ouvira dizer que os melhores momentos deveriam ser gravados apenas na memória, mas o moreno pensava o contrário. Seu cérebro tinha a tendência de sufocar momentos bons para dar destaque aos ruins, mas, ao ver as fotos, ele se sentia em paz ao se recordar de dias bons. E nisso ele enchia a memória de seu telefone com fotos de tempos que ele gostaria de se lembrar enquanto respirasse.
Mesmo isso sendo tão especial para Dazai, o moreno não podia deixar de afastar Chuuya propositalmente. Ele é perfeitamente capaz de ser agradável o suficiente para que a convivência com o ruivo fosse pacífica, mas ele não faria isso. Ele quer, mais do que desesperadamente, odiar seu parceiro. Ele quer sentir qualquer coisa por ele além do carinho insistente e irreparável que ele escondia nas profundezas do seu ser.
Ele se apegou a Chuuya. Mas se tem uma coisa que o mafioso ama, é viver em negação. As vezes, ele se pergunta sobre como chegou a esse ponto.
Mas como ele não poderia? O ruivo era praticamente a única pessoa de sua idade com quem ele interagiu, um dos únicos que o viu em seus momentos mais baixos, um dos únicos que arrancou as lâminas e cordas com laços bem feitos de suas mãos - não por obrigação, pelo fato de Dazai ser protegido de Mori, e sim por realmente se importar (pelo menos, é o que ele alegava toda vez). A única pessoa que poderia rivalizar com ele era Oda - a quem ele via como uma espécie de irmão mais velho que nunca soube que queria ter -, mas eles se encontravam com uma frequência significativamente menor do que com Chuuya.
O moreno solta um bufo, sentindo um gosto amargo no fundo da garganta, embora soubesse que era principalmente psicológico. Dazai se orgulha por saber ler as pessoas quase que perfeitamente, como se fosse um livro, mas Chuuya era, na melhor das hipóteses, errático quando se tratava de sentimentos em relação à ele. Ele era contraditório: ao mesmo tempo que ele o xingaria e o mandaria ir para o inferno, encarando-o com um olhar carregado de ódio ardente; ele também largaria tudo que estava fazendo no momento em que Dazai estivesse ameaçando se matar de verdade. Isso torna difícil de decifrar se Chuuya realmente se importa com ele ou se ele apenas o ajuda por despeito.
O moreno está ciente de que esses dilemas seriam facilmente resolvidos usando o bom e velho diálogo. Mas este era simplesmente um ninho de vespas que ele não estava disposto a cutucar - ele e Chuuya haviam, há muito tempo, caído em uma rotina, um acordo mútuo que não necessitava de palavras para que pudessem compreender um ao outro na maior parte do tempo.
Contudo, agora eles estavam mais uma vez longe um do outro e Dazai esperava, egoisticamente, que o ruivo se sentisse tão miserável quanto ele.
'Quando vou poder vê-lo de novo...' – Dazai se pegou pensando, antes que ele sacudisse sua cabeça para se livrar do pensamento, matando-o tão rápido quanto ele surgiu.
Que vergonha. O Demônio Prodígio não tem - não deveria ter - espaço para apegos e ele deve corrigir isso antes que seu chefe tenha a oportunidade.
Mas mesmo com esses pensamentos, seu dedo pairou sobre o contato de Chuuya, prestes a clicar no botão de chamada. Ele nem havia percebido quando trocou de aplicativo.
O mafioso mordeu o lábio, se forçando a relaxar apenas quando sentiu o gosto metálico de sangue em sua língua. Ele deveria ligar para Chuuya para matar a saudade? Faltavam apenas alguns minutos para quatro da manhã e, se o ruivo não estivesse dormindo, estaria em uma missão. Ele não o atenderia.
O lado esquerdo e racional de seu cérebro gritava alarmes para que ele deixasse seu telefone de lado e fosse fazer qualquer outra coisa, mas o lado direito tomou conta de seu ser e ele clicou no botão sem mais delongas.
O som de chamada encheu seus ouvidos e Dazai esperou, tenso. Era a segunda vez que ele ligava para Chuuya desde que ele começou sua missão e em nenhuma dessas vezes foi para irritá-lo, surpreendentemente - todo contato além desse foi feito através de mensagens. Seu cachorrinho deve estar tão surpreso quanto ele mesmo, se estiver vendo a notificação.
O moreno esperava que o ruivo o atendesse, assim como da última vez, mas fez questão de manter as esperanças baixas para que não se decepcionasse caso o contrário acontecesse. Ele sempre poderia enviar uma mensagem insultando-o, caso não fosse atendido.
Para sua felicidade, porém, o barulho de chamada logo morreu e foi substituída por uma voz familiar.
"Mackerel maldito, o que você quer? Tô no meio de uma missão. E é quatro horas da manhã." – Foi o que Chuuya disse com uma voz irritada, embora com um pouco de preocupação.
Os sons de tiros e gritos confirmaram o que o ruivo disse, mas Dazai não pôde deixar de se sentir aquecido por dentro. O outro garoto se importava o suficiente para atender sua ligação mesmo durante o trabalho?
— Oi, lesma! – O moreno respondeu animadamente. — Não consegui dormir e queria ouvir sua voz! – Falou, praticamente cantando.
Um suspiro de aborrecimento pôde ser ouvido do outro lado da linha, mas Dazai conseguiu identificar uma pitada de carinho. "É claro que você me ligaria só pra encher o meu saco."
Dazai respondeu com uma pequena risada alegre. — Conte-me sobre a missão!
Um farfalhar veio do outro lado e mais barulhos de luta puderam ser ouvidos, antes que tudo ficasse em silêncio. Mesmo assim, o moreno não ficou preocupado - afinal, era Chuuya que estava lá.
Como se fosse uma deixa, o som de um suspiro foi ouvido, antes que houvesse outro farfalhar. "Tive que lidar com uns caras da biqueira do norte da cidade que tentaram passar a perna na Máfia e ficar com todo o lucro das drogas. Já tá tudo resolvido, é claro." – Chuuya explicou rapidamente, sua voz demonstrando um pouco de orgulho.
— Como esperado do meu cachorrinho. – Dazai respondeu, ignorando o grito de protesto que o ruivo soltou. — Você os destruiu ou resolveu tudo pacificamente?
Um bufo pôde ser ouvido. "Quem você acha que eu sou? É uma pena que eles não me deram uma boa luta."
O moreno balançou a cabeça, deixando que um sorriso afetuoso tomasse conta de suas feições - ninguém estava vendo, afinal de contas. — Que cachorrinho raivoso. Vou ter que te colocar na coleira de novo?
"Vá se foder, bastardo." - Chuuya disse, irritação colorindo seu tom. "E a sua missão? Como anda?"
Dazai choramingou, virando-se para ficar de barriga para baixo no sofá. — É tãooo cansativo! Sério, por que Mori teve que me enviar? – Ele fez um beicinho. — Você se daria muito melhor que eu. – Falou, mas logo começou a pensar no comportamento de Chuuya e se lembrou de um certo garoto loiro explosivo, logo reprimindo um estremecimento. — Deixa pra lá, seria um desastre.
"O que, você acha que eu não sou capaz de fazer o que quer que você esteja fazendo, desgraçado!?" – O ruivo gritou do outro lado da linha. "Eu posso fazer muito melhor que você!"
— Você nem sabe o que eu 'tô fazendo!
"Foda-se!"
Se isso fosse possível, Dazai choramingou ainda mais. — Abuso doméstico, isso é abuso doméstico! – Chorou. — Estou sendo abusado verbalmente pelo meu parceiro...
O moreno reprimiu uma risada alta ao ouvir o barulho irritado que veio do outro lado da linha. Ele podia praticamente ver o rosto corado de raiva de Chuuya e isso o divertia pra caramba.
"É isso, minha cota diária de lidar com Dazai foi batida. Tchau, seu desperdício de bandagens ambulantes. Vá dormir!" – As duas últimas palavras foram praticamente gritadas.
Antes que Dazai pudesse dizer qualquer outra coisa, a linha morreu, deixando-o sozinho com seus pensamentos.
Olhando para o horário em seu telefone, o moreno notou que eram cerca de quatro e meia da manhã. Ele ainda tinha boas duas ou três horas até que precisasse começar a se arrumar para o dia.
Tomando uma decisão, desligou o telefone e colocou-o sobre a mesa, antes de se encolher no sofá.
O calor que permanecia em seu peito o embalou enquanto ele fechava os olhos, um sorriso suave aparecendo em seu rosto. Sem mais delongas, ele entrou em um pacífico sono sem sonhos.
-
— Dazai!
O dito garoto parou no portão e se virou para a voz que o chamava, dando um amplo sorriso. Pertencia a Uraraka, que corria em sua direção com um sorriso aliviado em seu rosto, sendo seguida por Midoriya, que ostentava uma expressão semelhante.
— Você parece melhor. – O outro garoto falou suavemente, como se estivesse com medo de que Dazai ficasse de mau humor novamente de repente.
— Eu fiquei preocupada, você parecia meio desligado na semana passada. – A garota falou com um leve vinco entre as sobrancelhas.
Dazai deu o melhor sorriso que conseguia. — Eu só 'tava muito cansado. Eu descansei bastante no fim de semana! – Disse animadamente. Talvez ele estivesse exagerando um pouco no ato, mas o pouco sono recuperado e a conversa com Chuuya foram mais revigorantes do que ele imaginava que seria.
Ele ainda sentia que havia sido pisoteado por elefantes e que estava pronto pra morrer a qualquer momento, entretanto. Mas essa era uma sensação permanente nele, ele supõe.
Uraraka deu um sorriso doce. — Fico feliz.
Midoriya coçou a bochecha direita levemente com o dedo, dando um sorriso compreensivo. — Eu entendo perfeitamente, essa escola pode ser bem opressora, me tirou algumas noites de sono também.
Honestamente, Dazai não poderia concordar mais com ele, embora tivesse certeza que a escola era o menor de seus problemas.
Vendo que cada vez mais estudantes chegavam e passavam pelos portões, o moreno fez um sinal para os outros dois adolescentes.
— Vamos, não queremos chegar atrasados e acabar atraindo a ira de Aizawa-sensei! – Falou, e foi suficiente para que os outros dois ficassem em alerta e o seguissem rapidamente para dentro.
No caminho, Midoriya parecia estar se segurando para dizer alguma coisa, lançando olhares (nada) furtivos para Dazai de vez em quando. Ele não pôde deixar de notar que ele ainda parecia preocupado, mas não conseguia nomear o porquê.
Após chegarem na porta da sala, o moreno cutucou o lado do outro garoto - um pouco mais forte do que pretendia -, o que o fez pular para o lado com um grito. Uraraka abafou uma risada enquanto o mafioso riu livremente.
— Pergunte o que quiser, Midoriya. Eu não mordo. – Apesar de dizer isso, não era totalmente verdade. Ele com toda certeza morderia se fosse necessário. Mas isso não era algo que ele deixaria seus colegas saberem - pelo menos não tão cedo e muito menos ouviriam isso diretamente dele.
O garoto de cabelos verdes pareceu se atrapalhar um pouco com as palavras. Apesar de ser impaciente, Dazai se forçou a esperar.
— E-Eu só queria saber sobre... – Midoriya gaguejou, mas foi interrompido pela porta da classe se abrindo.
— Oh, aí estão vocês! – Iida exclamou do outro lado. — Uraraka me mandou mensagem mais cedo dizendo que já haviam chegado, mas demoraram muito pra aparecer e achei que tivessem se perdido. – O garoto mais alto falou com um sorriso.
Dazai retribuiu o sorriso para ele, antes que o barulho estridente do sinal enchesse os corredores, fazendo com que o menor dos estremecimentos corresse por seu corpo. Barulhos altos são estúpidos.
Ele se virou para Midoriya, que parecia meio amuado. — Não se preocupe, verdinho, você pode me perguntar depois! – Ele deu um sorriso brincalhão.
— V-Verdinho? – O rosto do garoto ficou vermelho, fazendo com que Dazai e Uraraka compartilhassem uma risada, enquanto Iida abafava um bufo.
— É bom nós sairmos da porta antes que nosso professor sem teto local apareça. – O moreno falou suavemente, tentando conter a risada ao avistar as expressões horrorizadas do trio. Eles são tão fáceis de assustar! Aizawa-sensei nem é tão assustador assim.
'Eu com certeza já vi coisas muito piores.' – Ele não pôde deixar de pensar amargamente, mas livrou-se de seus pensamentos antes que eles ficassem escritos em sua face. Em vez disso, os quatro entraram na sala rapidamente.
Dazai estava prestes a ir para seu lugar, quando foi parado por um leve toque em seu braço. Ele se virou, olhando interrogativamente para Uraraka.
A garota tirou o telefone da bolsa, estendendo para ele. — Podemos trocar números? Você é o único da sala que ainda não 'tá no grupo da sala! – Exclamou.
O moreno deu de ombros, não vendo problema imediato em ter comunicação com eles. Sem demorar mais, ele pegou o telefone estendido e colocou seu próprio contato agilmente, bem a tempo do professor aparecer na porta.
Os dois alunos foram rápidos em se apressarem para se sentarem em seus lugares, assim como os outros alunos que ainda estavam de pé.
Aizawa poupou apenas um pequeno olhar de canto de olho para os alunos que demoraram um pouco mais para se acomodarem, indo para a frente da turma.
O professor limpou a garganta, atraindo a atenção da turma. — Vocês terão um treinamento de resgate no horário de heroísmo. – Disse, indo direto ao ponto e suspirando com cansaço quando a turma explodiu em sussurros animados.
— Silêncio, todos! Aizawa-sensei ainda não terminou de falar! – Iida repreendeu brevemente de seu lugar, o que rapidamente calou os alunos.
— Obrigado, Iida. – Aizawa falou, antes de olhar para a turma. — Eu, All Might e um outro herói iremos os supervisionar e iremos de ônibus. Fiquem a vontade para usar suas roupas de herói ou uniformes de educação física, eu não ligo. Iremos disponibilizar esse primeiro horário para vocês se prepararem, mas estejam na saída até o início do segundo horário. – O homem terminou, antes de pegar seu saco de dormir amarelo e entrar dentro dele, deitando-se no canto da sala.
Dazai deixou um pequeno bocejo escapar, levantando a mão para cobrir os lábios.
Ele tinha um mau pressentimento sobre isso.
-
Izuku se considerava uma pessoa observadora. Era uma característica que ele considerou de extrema importância todos aqueles anos atrás, quando ainda era sem individualidade - como se fosse a única coisa que pudesse provar o seu valor.
Apesar de agora possuir uma individualidade, ele não podia deixar de manter esse atributo. Estava quase que programado em seu ser, nesse ponto.
E é por esse exato motivo que ele não pôde deixar de achar Dazai Osamu estranho.
A primeira coisa que ele notou é que ele possuía um sotaque quase que imperceptível, mas que inegavelmente estava lá. Parecia que ninguém além dele mesmo havia notado e é como se nem o próprio Dazai soubesse disso. No primeiro dia de aula, o garoto havia mencionado algo sobre sua cidade natal, mas ele não imaginava que seria longe o suficiente para que houvesse uma diferença no sotaque até que pensou um pouco melhor nisso.
A segunda coisa são seus sorrisos. Anos de bullying o forçaram a saber distinguir entre sorrisos genuínos e sorrisos forçados e Dazai dava alguns do segundo tipo - o que era bem ocasionalmente. Ou talvez ele fosse um ator bom o suficiente para escapar de seus olhos treinados.
Em seguida, em terceiro lugar, são suas bandagens. O moreno as tem por todo o seu corpo e claramente estavam lá por um motivo além de estar na "moda" como o mesmo disse anteriormente. Ele teria acreditado fielmente em sua desculpa se não fosse pelo vislumbre de seu torso que ele teve no primeiro dia de aula. Izuku não havia visto muito, mas conseguiu ver cicatrizes - aparentemente mal cuidadas - de todos os tamanhos e formatos colorindo sua pele.
Porém, a quarta e mais gritante coisa que notou em seu colega são seus olhos. Ou melhor, olho. Não havia luz nele, era quase como se ele estivesse conversando com um cadáver ambulante. As vezes, ele sentia como se ele estivesse gritando por socorro, mas sem dizer uma única palavra ou esboçar uma única reação fora do lugar.
E tudo isso o preocupava pra caramba.
Izuku queria desesperadamente ajudá-lo. Ele havia chegado longe o suficiente para considerar Dazai um de seus amigos e ele esperava que o moreno sentisse o mesmo - especialmente depois dele se oferecer para pagar algo pra ele, por que quem diabos faz isso sem motivo algum?
(Ele se pergunta se Dazai ainda iria querer ser seu amigo se ele ainda fosse quirkless. O moreno ainda o trataria da mesma forma, ou ele seria tão importante quanto uma pedrinha em seu caminho?)
O que o garoto de cabelos verdes não queria admitir, no entanto, é que ele estava curioso, acima de tudo.
De onde ele vem? O que aconteceu para que seus sorrisos fossem forçados, seu corpo cheio de marcas e seus olhos fossem mortos? Ele está seguro em casa? Como Izuku pode ajudar?
E com essas dúvidas em mente, ele deu início à sua pesquisa. Mas para isso, ele precisaria de respostas diretas do dito garoto. E foi isso que ele decidiu fazer.
— D-Dazai... – Chamou com uma voz hesitante, direcionado para o garoto que olhava distraidamente para o nada ao seu lado. Eles já estavam no ônibus, a caminho do local de treinamento.
O moreno se virou com um olhar interrogativo direcionado para Izuku, antes que parecesse se lembrar de algo.
— Oh, você tinha uma pergunta pra mim, certo? – Perguntou com um grande sorriso. — Vá em frente!
O garoto de cabelos verdes se atrapalhou por um momento. — E-Eu só queria saber de onde você é... – Apesar de ter diminuído seu tom de voz, ainda foi alto o suficiente para que os outros ouvissem e direcionassem sua atenção para a conversa.
— O que você quer dizer, Midoriya? – Ashido questionou, uma carranca confusa em suas feições. — Do nada assim?
Dazai o encarou por um momento, sua expressão em branco, antes que ele abrisse um sorriso divertido. — É, verdinho, o que te faz pensar que eu não sou dessa região? – Ele perguntou, sorrindo ainda mais com o rosto corado de Izuku.
— É-É que você tem um sotaque... – O garoto gaguejou rapidamente, ignorando o apelido, sua voz morrendo lentamente no final. — Sinto muito se soou rude.
Izuku encarou as feições de Dazai, procurando por qualquer coisa que indicasse raiva ou ofensa, mas encontrou apenas um semblante inexpressivo - como se ele estivesse ponderando sobre o que devia dizer.
— Midoriya 'tá certo, cara. – Kaminari entrou na conversa, colocando um dedo no queixo como se fosse um intelectual. — Dazai realmente tem um sotaque.
— Você só repetiu o que o nerd disse, seu idiota do caralho! – Bakugou rosnou de seu lugar, raiva cobrindo suas feições. Izuku estremeceu em simpatia, mas não pôde de se sentir feliz por essa fúria não ser direcionada a ele - pelo que parecia ser a primeira vez em muito tempo.
— Eu nem fiz nada com você pra você estar gritando comigo! – Kaminari choramingou de volta.
Dazai soltou uma risada alta, interrompendo-os e fazendo com que todos o encarassem com confusão. — Você não 'tá errado, Midori.
— M-Midori!?
O moreno o ignorou, continuando. — Na verdade, eu era de Yokohama. – Ele falou simplesmente.
Os olhos de Izuku se arregalaram e, se o silêncio ensurdecedor que se seguiu fosse uma indicação, seus colegas se sentiam tão chocados quanto ele. Olhando para a frente do ônibus, até mesmo Aizawa-sensei parecia surpreso.
Não era segredo para ninguém que Yokohama era fechada e abominava heróis. Abominava individualidades. Era conhecida como a cidade dos sem individualidade, já que era dito que 90% da população da cidade não possuía um poder. Era dita como a cidade controlada por vilões, uma vez que muitos heróis que ousavam pisar dentro de suas fronteiras não voltavam.
Izuku sempre pensou duas vezes antes de acreditar nas notícias que vilanizavam a cidade. Afinal, ele mesmo era sem individualidade e sabia muito bem que pessoas como ele são ostracizadas da sociedade, além de que ele ansiava por conhecer mais da cidade - talvez até mesmo se mudar para lá, caso tudo se tornasse demais.
Então, ele pesquisou sobre. Mesmo assim, quase não existiam informações confiáveis sobre a cidade. Ela não deixava que informações vazassem - nem mesmo pequenas coisas, como fotos das ruas ou das pessoas. Era como se a cidade quisesse ser um planeta inteiro sozinho - e era extremamente difícil conseguir permissão para entrar. Haviam boatos na internet que diziam que todos que fugiam da cidade acabavam desaparecidos para sempre, apesar de todas as buscas ávidas de heróis e da polícia.
E, mesmo assim, ali estava Dazai Osamu, completamente vivo e presente, encarando-o com um sorriso cheio de dentes como se soubesse que sua mente estava a mil por hora.
Mesmo com a aparência do outro garoto, Izuku engoliu em seco. Somando os boatos com as observações que havia feito sobre o mesmo, é possível que o ambiente seja a causa de tudo que o preocupava em Dazai...?
— C-Como você conseguiu sair, Dazai? – Yaoyorozu murmurou, gaguejando levemente a pergunta que todos presentes desejavam fazer. Choque, preocupação e uma pitada de medo estava pintada em suas feições. Ela foi deixada sem resposta.
— É... Lá é tipo, super fechado... – Sero falou, seu sorriso característico estava em nenhum lugar para ser visto.
— Então você é um vilão, seu desgraçado!? – Bakugou explodiu, fazendo com que quase todos os alunos pulassem em seus assentos com o barulho alto inesperado. Izuku sentiu seu corpo todo estremecer, uma resposta ao qual havia se acostumado depois de tanto tempo de convivência com o garoto explosivo.
O loiro parecia prestes a se levantar para atacar, mas foi impedido por um leve tapa na cabeça que levou de um dos fones de ouvido de Jirou. Ele parecia prestes a gritar com ela, mas foi interrompido por um pigarro vindo da frente do ônibus.
— Dazai, já que você tão gentilmente jogou essa bomba, por que não explica direito para seus colegas? – Aizawa falou com o mesmo tom monótono de sempre, embora o 'e para mim também' tenha ficado tão claro quanto o dia para Izuku, já que sua voz parecia meio tensa. E para Dazai também, se seu sorriso fosse alguma indicação - o garoto de cabelos verdes não pôde deixar de notar que o moreno parecia como se estivesse adorando a atenção, como se se alimentasse do caos.
— Como quiser, sensei! – O dito garoto cantou em resposta, antes que sua expressão se tornasse um pouco mais séria.
— Veja bem, eu fugi de Yokohama há alguns meses depois de ter um vislumbre de heróis que invadiram a cidade. Eu fiquei encantado com eles e quis ser um... – Ele fez uma pausa, parecendo analisar atentamente a reação das pessoas. — Meu... pai... – O garoto falou enquanto fazia uma careta quase que imperceptível, como se doesse fisicamente falar aquilo. — Veio junto comigo, mas ele trabalha muito.
Tudo ficou em completo silêncio por um momento enquanto todos processavam o que acabou de ser dito, expressões de pena estampadas na maioria dos rostos. Olhando para Aizawa, Izuku percebeu que o homem parecia estar entre querer se jogar pela janela do ônibus e dar um abraço em Dazai - embora soubesse que o último nunca aconteceria.
— Quem mais sabe...? – O garoto de cabelos verdes perguntou hesitantemente, virando-se para encarar Dazai novamente. Se as estatísticas de suas pesquisas estivessem certas... Talvez ele devesse se preocupar com a segurança de seu amigo.
A resposta do moreno apenas serviu para afiar sua preocupação.
Dazai desviou o olhar, um tom de tristeza e pesar colorindo seu ser, um brilho de lágrimas não derramadas tomando conta de seu único olho visível. — Eu não podia dizer nada. Se alguém não confiável souber... – Ele mordeu o lábio. — Acho que não vou viver pra contar a história.
O ônibus caiu em um silêncio sombrio. A atmosfera, que outrora era leve e alegre, havia se tornado pesada e mórbida.
— Dazai, vá para a sala dos professores assim que voltarmos para a escola. – Aizawa suspirou profundamente, embora sua voz estivesse muito mais suave do que antes. — Vamos conversar um pouco. – O homem fez uma pausa, vendo o olhar derrotado do dito aluno. — Não se preocupe, você não está em apuros.
Sua última frase fez com que um suspiro de alívio coletivo fosse ouvido pelo ônibus. Olhando ao redor, Izuku percebeu que determinação começou a queimar nos olhos de alguns de seus colegas, claramente decididos a ajudar o moreno.
Dazai havia voltado os olhos para o chão e não dizia uma única palavra, o que fez com que o estômago de Izuku se contorcesse em culpa.
— E-Ei... – O garoto de cabelos verdes chamou levemente. — Sinto muito por trazer a tona esse tópico... – Falou suavemente assim que o outro garoto o encarou.
O moreno lhe retribuiu um sorriso fraco, porém que parecia genuíno. — Sem problemas. Vocês iriam descobrir eventualmente, de qualquer forma. Prefiro que seja no início e que seja contado por mim. – Ele falou, antes de levantar o olhar. — Espero que vocês não me denunciem! Ser torturado não ia ser muito divertido.
Todos presentes pareceram meio enjoados com a banalidade em que a frase foi proferida, mas ninguém foi capaz de dizer nada quando o ônibus parou repentinamente.
Ninguém se moveu por um sólido minuto, antes que Aizawa se levantasse.
— Estamos aqui.
Com essas palavras, todos os alunos começaram a descer em completo silêncio.
Olhando para Dazai, ele sentiu sua determinação se solidificar ao ver o olhar cansado que o outro sustentava.
Ele iria ajudar seu amigo e mantê-lo seguro, não importa o que.
-
Dazai deixou sua mente vagar enquanto Treze explicava sobre o USJ, sua individualidade e muitas outras coisas que ele não se importava.
Felizmente, seus colegas já haviam recuperado o ânimo após aquela conversa, embora Aizawa-sensei ainda parecesse estar fazendo buracos em sua cabeça apenas com os olhos.
O mafioso teve que conter uma risada enquanto pensava na situação.
Ele nunca havia percebido que tinha um sotaque - nunca tinha estado fora de Yokohama além dessa missão e quem diabos naquela cidade apontaria algo assim para ele? - e esse pequeno fato fez com que ele quisesse se matar ali mesmo quando ouviu a pergunta de Midoriya.
Enquanto pensava em uma desculpa, passou por sua mente sobre mentir. Ele sabia que o Japão possuía alguns dialetos diferentes, mas nunca procurou saber mais especificamente sobre eles - havia considerado tal informação irrelevante no momento, o que agora ele se arrepende amargamente. E é por isso que se ele não fosse cem porcento preciso, ele seria facilmente desmascarado. Então mentir estava fora de cogitação.
Com isso em mente, ele decidiu que contaria a verdade sobre ser de Yokohama.
Entretanto...
Por que não fazer um teatro e espalhar um pouco de desinformação?
E foi isso que ele fez: ele desempenhou perfeitamente seu papel de criança assustada que fugiu da cidade malvada e agora teme por sua segurança.
O lado ruim? Ele vai ter seu professor em seu pé de agora em diante e o diretor provavelmente vai se envolver, o que significa que ele terá de ser ainda mais cauteloso.
O lado bom? Em breve ele terá toda essa classe enrolada em seu dedo mindinho e, esperançosamente, Aizawa estará incluso nisso.
Dazai foi tirado de seus pensamentos quando os alunos e professores começaram a entrar na cúpula e ele rapidamente os seguiu.
Ele avistou Aizawa se aproximando de Treze e fazendo uma pergunta. Se sua leitura labial estivesse certa, ele estava perguntando algo sobre All Might - provavelmente algo a ver com o fato de que o homem ainda não estava lá quando deveria.
O outro herói levantou três dedos e seu professor suspirou e balançou a cabeça, antes de assentir.
O moreno assistiu a troca com confusão, antes de se transformar em compreensão. Quer dizer tempo. Mas são três o que? Três dias? Três horas? Três minutos?
Ele balançou a cabeça pra se livrar dos pensamentos. Ele pensaria nisso depois.
Após um tempo, eles estavam prestes a separar os grupos quando foram interrompidos por uma crepitação no ar.
Dazai franziu a testa ao ver portais se abrindo ao longe e diversas pessoas de todos os tipos saindo dele.
— Juntem-se! – O professor gritou com os alunos, assustando-os. – Treze, proteja-os!
— O treinamento já começou? – Kirishima perguntou hesitantemente, tentando se aproximar, apenas para ser barrado pelo braço de Aizawa em seu caminho.
O homem parecia mortalmente sério. — Não. Esses são vilões de verdade.
O moreno estava tentando dividir sua atenção entre a conversa e os inimigos que chegavam, mas tudo pareceu se abafar quando ele travou o olhar com olhos vermelhos ardentes - mal era possível vê-los atrás da mão cinza que cobria seu rosto. Ele reconheceu aquele cabelo azul bagunçado.
De repente, uma sensação avassaladora de familiaridade inundou seu ser. Isso não poderia ser fruto apenas de ter esbarrado no homem antes. Isso era algo a mais.
Ele o conhecia de algum lugar. Quem é esse cara?
Dazai desviou o olhar para a criatura gigante que saiu do portal, atrás do homem. Desconforto nadou em seu estômago, fazendo-o revirar incansavelmente.
Ele sente que deveria se lembrar de alguma coisa. Mas ele não se lembra.
— Eu vim aqui para matar All Might... Mas ele não está... – O homem anunciou quase que insanamente. — Eu me pergunto se algumas crianças mortas o trarão aqui. – Ele terminou de falar.
De repente, seus olhares se encontraram. Seus olhos pareceram se arregalar - embora a vista do local em que o moreno estava não fosse muito boa - e Dazai tem certeza naquele momento que ele não é o único com essa sensação.
Sua atenção é atraída para seu professor colocando os óculos.
— Sensei! Você vai lutar sozinho!? – Midoriya gritou, preocupado. — Sua individualidade não é feita para grandes grupos...
O dito homem manteve a calma. — Você não pode ser um herói se não tem pelo menos uma carta na manga. – E com isso, ele correu para a praça, socando os inimigos a torto e a direito.
Ele não estava errado, mas Midoriya tinha feito um bom ponto. Aizawa só poderia se segurar contra um grande grupo por um determinado tempo antes de ceder, afinal, boa parte de sua técnica se concentrava no ataque surpresa. Sem contar sobre uma de suas maiores fraquezas: seu cabelo. Qualquer pessoa com cérebro perceberia o tempo que o professor consegue deixar os olhos abertos se simplesmente contassem o tempo em que seu cabelo ficasse em pé - e tivesse tempo o suficiente pra isso. Isso poderia ser facilmente resolvido com um coque bem apertado, mas não é Dazai quem dirá isso.
Ele percebe as pessoas ao redor dele falando algo sobre recuar e fugir, mas o moreno pensa o contrário.
— Eu vou ajudar! – Ele exclamou, antes de correr para o centro da cúpula, ignorando os chamados dos outros alunos e de Treze.
Ele socou um cara no rosto, nocauteando-o imediatamente. Logo após isso, ele chutou e socou todos que iam para cima dele e rapidamente os derrubava.
Isso o fez ponderar se esses malucos tinham recebido algum tipo de treinamento. Dazai não era tão ruim assim no combate corpo a corpo, mas certamente era abaixo da média. Para ele estar derrubando-os com tanta facilidade, ou eles são incrivelmente ruins ou não tiveram nenhuma instrução.
Ele supõe que seja um pouco dos dois.
Aizawa vai para o seu lado por um momento, meio ofegante. — Eu falei pra vocês saírem! – O homem repreendeu severamente, ao qual Dazai respondeu com um encolher de ombros.
Gritos foram ouvidos do portão, o que fez com que os dois se virassem a tempo de avistar uma névoa roxa cercando os alunos e, pouco tempo depois, apenas alguns sobraram no local.
O corpo de Treze estava no chão, em frangalhos.
Um breve temor passou pelos olhos de Aizawa antes que ele forçasse sua face em uma feição inexpressiva. Ele parecia estar apertando seu cachecol com ainda mais força.
— Vai ficar tudo bem. – Dazai falou, fazendo com que o professor o encarasse com os olhos arregalados por um breve momento antes que fosse pego em outra luta - embora estivesse falando mais para si mesmo do que qualquer coisa.
Esse pássaro estranho, esse homem psicótico e esse cara do portal o enervavam. A sensação incômoda continuava dançando em sua mente, fazendo com que ele sentisse vontade de cravar as unhas nos cortes frescos que espreitavam por debaixo de suas bandagens para sentir qualquer outra coisa.
Ele iria descobrir quem são esses e o porquê de eles serem tão familiares para ele, nem que ele tenha que arrancar a resposta diretamente de suas gargantas.
-
Dazai dormindo pacificamente sabendo que espalhou desinformação pra algumas crianças: u.u
E Aizawa tipo: como eu NÃO sabia disso?
Enfim, o que acharam?
Sobre a parte do Yumeno, eu vi em algum painel de mangá de bsd que ele e Dazai costumavam se dar meio bem, então resolvi explorar isso um pouco!
Eu tenho uma pergunta bem importante:
Vocês preferem capítulos curtos (1500-2500 palavras), médios (2500-4000 palavras) ou longos (4000+ palavras)?
Geralmente, gosto de compilar os acontecimentos de um único dia em um único capítulo, mas percebi que isso pode ser um pouco cansativo. Quero que a leitura seja o mais agradável possível, então ficarei muito grata se puderem me dizer!! :))
Dito isso, o arco do USJ provavelmente vai ser dividido em três capítulos - pelo menos, essa é minha estimativa até agora.
Isso não tem nada a ver com a fic, mas como tá tendo as Olimpíadas, tenho que dizer: deus tira o investimento do brasil no futebol e põe nos outros esportes POR FAVOR
De qualquer forma, obrigada por ler!!! <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro