Capítulo 3
Só queria dizer que eu vi bnha deve fazer uns 5-6 anos, então não lembro de quase nada. Esperem muitos erros, porque eu faço tudo de memória!
Sim, eu coloquei um pouco da experiência do Enem, pq eu li que os vestibulares no Japão são bem parecidos com os do Brasil e, como fiz e planejo fazer só o Enem, tô usando ele de base!!
Obs: Tenho 0 de conhecimentos técnicos sobre vícios, eu só tô colocando experiências que eu mesma tive (não com o vício em álcool, mas com vícios no geral)
Tw!
Alcoolismo (implícito)
Automutilação (explícita)
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Dazai encarou o prédio gigante em formato de H por um tempo, enquanto adolescentes de todos os tipos passavam por ele, estranhando-o por suas bandagens. Embora as dos braços não estejam tão aparentes, a do pescoço e a do olho esquerdo eram quase que um outdoor pintado com tinta neon. Ele não prestou muita atenção neles, no entanto.
Finalmente, havia chegado o dia do exame de admissão.
Ele havia passado o tempo até esse momento sem muitos pontos altos, apenas conhecendo a cidade - memorizando todos os becos próximos à sua residência caso precisasse, por um acaso, fugir e despistar alguém -. Ele admitiria que, pouco depois de sua chegada, visitou um bar relativamente longe de sua morada. Foi difícil, mas ele conseguiu fazer com que o barista lhe vendesse uma dose de uísque. Em outro bar, ele havia conseguido pedir uma bebida que misturava vodka e morango triturado. Era mais caro, mas Dazai estava mais do que feliz em desperdiçar o dinheiro de Mori. E era gostoso, então só haviam benefícios.
Essas pequenas escapadas para beber, apesar de serem boas, o faziam sentir saudades do tempo que passava com Odasaku e Ango no Bar Lupin, mas ele não poderia simplesmente correr para eles, então Dazai apenas degustava de suas bebidas alcoólicas por conta própria.
Contudo, já fazia alguns dias, talvez dois ou três, que não ingeria nem uma gota de álcool, já que precisava ficar "limpo" para não levantar suspeitas e preocupações dos professores. Ele diria que isso era um saco, se lhe perguntassem.
Um tufo de cabelos verdes captou sua visão, tirando-o de seus pensamentos. Ele olhou em sua direção e avistou aquele mesmo garoto que acompanhava o suposto All Might passando por ele, apenas para tropeçar em seus próprios pés e quase cair, sendo salvo por uma garota de cabelos castanhos.
O moreno resistiu à vontade de rir e focou em outra coisa, sorrindo com um pitada de carinho: a garota possuía uma individualidade de gravidade, o lembrando de um certo garoto ruivo. Isso o fazia se perguntar sobre como seu cachorrinho estava se saindo sem sua presença. Ele estava se comportando?
Dazai não se demorou muito nisso e logo seguiu em frente. Após entrar na escola, adentrou-se em um grande auditório e se sentou em uma das arquibancadas na parte de cima. Ele ficou um pouco chocado com o tamanho da escola quando passou pelos caminhos até chegar no local em que se encontrava. Era ridiculamente grande, parecia quase que uma cidade inteira.
Ele encostou a cabeça em uma das mãos e fingiu estar dormindo, embora mantivesse os olhos entreabertos, vendo a sala ser lentamente preenchida pelos candidatos. O moreno fingiu não notar os olhares curiosos dirigidos para ele. Desviou o olhar para suas mãos e notou-as tremendo levemente, antes de suspirar e apertar o punhos, tentando se obrigar a parar com isso.
Maldito Mori e maldita missão.
Eventualmente, todos os lugares já estavam ocupados e um homem loiro entrou. Dazai ergueu o olhar para ele, levantando uma sombrancelha para seu cabelo. Parecia uma banana. Ele o reconheceu como Present Mic, um herói cuja individualidade é Voz. Ele notou dois aparelhos auditivos quase imperceptíveis em suas orelhas e concluiu que aquilo era, provavelmente, fruto de seu poder. Ele não deixava de se perguntar, porém, o homem não deveria ter algum tipo de resistência para o seu próprio poder? Talvez sejam as limitações biológicas, ele supõe.
Seu interesse pelo homem foi rapidamente drenado quando o mesmo começou a falar gritando. O moreno voltou a abaixar a cabeça, deixando a explicação ficar em segundo plano. Não é como se ele precisasse disso, visto que já havia obtido os arquivos, embora desejasse não ter os lido - uma surpresa desafiante seria certamente divertida. De qualquer forma, não há como voltar para mudar o passado agora.
Ele não tem noção de quanto tempo ficou nessa posição, até que uma pequena comoção chamasse sua atenção.
— Senhor Present Mic! – Um garoto de cabelos azuis lambidos e óculos quadrados gritou, com uma mão levantada, que logo depois apontou para um papel que segurava. — Sobre os robôs, há quatro deles aqui, mas apenas três foram mencionados! Seria realmente decepcionante um erro desse calibre em uma escola como UA! – Terminou e Dazai quis rir, mais uma vez, com o tom robótico do menino. Entretanto, a próxima coisa que esse garoto falou foi o mais engraçado de tudo. — E você, menino dos cabelos verdes encaracolados! Pare de resmungar! Você está se atrapalhando e atrapalhando os outros candidatos, se não for levar isso a sério, que se retire!
Dazai não conseguiu evitar que um pequeno bufo escapasse, percebendo a expressão horrorizada do dito garoto. Ele não foi o único que tentou abafar a risada. O outro adolescente parecia pronto para falar mais, mas foi interrompido pelo adulto.
— Uma bela observação, ouvinte, mas não se preocupe, 'tá tudo certo! O robô restante, ou também chamado de Ponteiro Zero, vale zero pontos! – Present Mic se apressou a explicar, a fim de evitar uma discussão desnecessária. — Dito isso, não recomendo que vocês vão atrás dele! – Terminou com uma piscadela, dessa vez se dirigindo a todos os participantes.
Após isso, ele prosseguiu mais algumas explicações e Dazai percebeu que, de fato, não foi mencionado nada sobre pontos de ajuda. Mesmo assim, ele não descartaria a possibilidade.
Não demorou muito para que eles fossem liberados para fazer a prova escrita. Cada participante foi designado para uma sala e o moreno percebeu que pessoas da mesma escola ou da mesma família foram separadas em salas diferentes para evitar colas. Também haviam detectores de metais, ao qual ele passou sem problemas após deixar as chaves do apartamento e seu celular em um saco plástico que foi oferecido.
A prova continha quarenta e cinco questões básicas de todos os tipos de matérias, ao qual ele fez facilmente. O que o prendeu um pouco foram as cinco questões abertas, que pediam para que eles dissertassem sobre assuntos relacionados ao heroísmo. Ele fez uma careta para essas questões, mas "encarnou" o herói número um e respondeu da forma mais moralmente correta possível, apesar de ser tudo menos isso. Sua caligrafia havia saído de forma bagunçada e menos elegante que o normal devido aos tremores que não paravam de percorrer por suas mãos, mas ele não teve problemas além disso. Por um momento, ele se perguntou se deveria fingir errar algumas, mas decidiu que queria se exibir um pouco - e acertar todas as questões não era nem tão absurdo, afinal, a prova estava extremamente fácil, de seu ponto de vista.
Quando ele terminou, ainda faltavam alguns minutos para o horário mínimo, então virou a prova de cabeça para baixo e olhou ao redor. Reparou nos alunos: alguns estavam suando e escrevendo intensamente; outros pareciam desesperados, mas não completamente sem esperança; enquanto outros pareciam absolutamente derrotados. O moreno sentiu-se meio tonto e resolveu abaixar a cabeça para descansar um pouco, mas ainda incapaz de baixar a guarda.
Não demorou muito para que o horário mínimo de saída batesse. Dazai levantou-se e entregou a prova, sendo seguido por alguns outros alunos que provavelmente chutaram todas as respostas, se fosse considerar suas expressões abatidas.
Ele saiu da sala rapidamente, tomando cuidado para não esquecer o pacote em que suas chaves e telefone estavam. Assim que saiu e se afastou da sala, rasgou o pacote e guardou a chave no bolso, pegando seu celular para checar a hora. Eram, exatamente, meio dia, duas horas após o início da prova. O exame prático começaria às 15:30, trinta minutos após o término da prova escrita.
O moreno estranhou que não tivessem colocado o horário para após o almoço, mas supunha que a escola ofereceria lanches que pudessem repor energia e nutrientes adequadamente. Ele provavelmente deveria comer alguma coisa, não havia ingerido nada além de água desde o dia anterior. Porém, ele deu de ombros, descartando a ideia. Se ele ainda estava vivo, não tinha problema.
Dazai começou a seguir em direção ao Departamento de Suporte, guiando-se pelas placas espalhadas pelo campus, a fim de pegar seu bō. Infelizmente, não o deixaram levar um próprio, mas forneceram um feito pela escola. Não haviam rejeitado seu pedido, isso era o que importava.
Andando pelos corredores, ele começou a perceber um maior fluxo de estudantes a cada sala que passava. Alguns pareciam confiantes, já outros, completamente abatidos. Alguns estavam até mesmo chorando enquanto eram confortados por seus amigos. Dazai riu com as cenas e prosseguiu para seu destino.
Após mais algum tempo andando, ele avistou uma placa que indicava que havia chegado onde queria. Ficou de frente à uma porta gigante e a puxou.
— Olá? – Ele chamou, avistando logo depois um homem baixo sem camisa e uma espécie de escavadeira amarela cobrindo o rosto. Ele o reconheceu como o herói Power Loader. — Boa tarde, senhor. Vim pegar o meu equipamento, se não for incômodo. — Disse, fazendo uma pequena reverência com um tom falsamente tímido.
O homem em sua frente soltou uma risada. — Que educado. – Respondeu, antes de fazer um sinal para ele se aproximar. — Venha, garoto. Qual o seu nome? E qual arma você solicitou?
— Meu nome é Dazai Osamu. Vim pegar um bō. – Dazai falou simplesmente e o seguiu pela sala, percebendo o quão grande ela realmente era. Fazia sentido, era o local onde os equipamentos de suporte eram criados e precisaria de um espaço considerável para o caso de acidentes, ou até mesmo se precisassem construir um equipamento maior.
— Você certamente veio cedo. – O herói começou, tentando puxar conversa enquanto procurava a arma. — Você chutou todas as questões da parte escrita, por acaso? – Ele riu.
Dazai forçou um sorriso artificial em seu rosto. Não estava a fim de conversa fiada, mas prosseguiu desempenhando seu papel. — Não, senhor. Na verdade, 'tava bem fácil.
Power Loader fez uma expressão desconfiada e parecia estar prestes a dizer alguma coisa, mas foi distraído pela visão do que procurava. Ele rapidamente lhe estendeu um bastão de cor preta que poderia ser dobrado. — Aqui! É esse, certo?
— Sim, sim! Obrigado! – O moreno respondeu animadamente, pegando o item e andando rápido para a porta, antes que o homem pudesse atraí-lo para mais uma conversa desnecessária.
— Boa sorte, lembre-se: vá mais longe, Plus Ultra!
— Obrigado! – Dazai respondeu, antes de se afastar o mais rápido que conseguia da sala, suspirando de aborrecimento. Socializar era cansativo e esse lema era estúpido. Ele olhou ao redor, vendo que os corredores estavam ficando lentamente lotados, com os alunos se dirigindo ao que ele presumia ser o caminho do refeitório. Pegou o celular para conferir as horas e viu que já haviam se passado quinze minutos. Um leve bocejo deixou seus lábios.
Ele gostaria de procurar um local para tirar uma soneca, mas, como não era nada seguro, resolveu procurar um local para continuar lendo seu precioso livro sobre suicídio - não havia levado o físico, mas possuía a versão digital em seu celular, obviamente pirateada.
Assim que encontrou um canto relativamente calmo, sentou-se e começou a ler, logo após definir um alarme para 15 minutos antes do início da prova prática.
Ele não pôde deixar de se perguntar: se esses robôs o esmagassem acidentalmente, ele morreria?
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Shouta observou um garoto de cabelos castanhos ondulados e roupas pretas valsar pela cidade semi-destruída, destruindo robôs com proficiência e ainda prestando ajuda a outros candidatos ocasionalmente, como se pertencesse áquele cenário apocalíptico e caótico. O controle quase que excepcional do menino sobre sua arma lhe chamava atenção, sem contar com as bandagens aparentes no pescoço, no olho e as que apareciam ocasionalmente por baixo das mangas. Ele se sentiu um pouco preocupado com a possível razão para a existência destas, mas não se demorou muito nisso. Ele sente uma leve sensação de já ter o visto antes, mas descarta a ideia rapidamente, provavelmente se lembraria de alguém tão... esdrúxulo quanto ele.
Desviou o olhar para a ficha que tinha em mãos. Esse garoto era Dazai Osamu, cuja individualidade se chamava No Longer Human. Um nome certamente estranho. Ele notou, com interesse, que era muito semelhante à sua própria individualidade, embora parecesse que a única limitação era contato. Um grande potencial, especialmente se o garoto quiser ser um herói underground. Entretanto, ele não podia deixar de se sentir desconfortável ao encarar os olhos vazios, quase sem vida, que o garoto ostentava. Ele arquivou esses detalhes para serem observados mais tarde, caso o menino passasse no exame.
Seus olhos se voltaram para a tela e Shouta prosseguiu observando os outros alunos. Fez questão de fazer algumas anotações sobre os que chamavam sua atenção, como o garoto de cabelo loiro e espetado ou o menino de cabelos verdes que não havia conseguido nenhum ponto até o momento.
O homem pegou a ficha do último. Midoriya Izuku era seu nome. Sua individualidade, porém, era superforça. Shouta franziu a testa com a nova informação, antes de suspirar. Provavelmente alguém que relaxou no treinamento por nascer com um poder forte, considerando que o garoto não havia o usado até o momento.
O exame transcorreu sem muitos problemas, até que o Ponteiro Zero entrou em cena. O olhar de Shouta foi atraído, mais uma vez, para o garoto com bandagens. Ele deu um pequeno sorriso de aprovação ao notá-lo focando em ajudar os outros candidatos a saírem do caminho dos escombros jogados pelo robô gigante. Porém, outra situação captou sua atenção.
Era uma garota, presa bem onde o Ponteiro Zero pisaria. O herói estava tranquilo, assim como todos os seus colegas, a menina não morreria. Power Loader poderia fazê-lo parar com apenas um botão, então, se ninguém aparecesse para ajudá-la a tempo, eles simplesmente parariam o robô. Não era uma situação ideal e muito menos uma esperada, mas precisavam estar prontos para qualquer possibilidade.
Assim que o robô ficou perto da garota, Shouta notou duas figuras avançando. Dazai foi para perto da garota, utilizando seu bastão para levantar o pedaço de metal que prendia a perna da mesma, puxando-a para cima rapidamente e começando a correr, segurando-a para que ela não caísse. Ao mesmo tempo, quando o Ponteiro Zero estava ameaçando esmagá-los, o garoto de cabelos verdes, Midoriya, pulou no ar e socou o robô, destruindo-o quase que completamente. Não demorou muito para que a gravidade agisse e o menino começasse a despencar, seu braço se tornando de um tom roxo, mas a garota foi rápida em usar sua individualidade nele para que ele flutuasse e não atingisse o solo.
Certamente, os três haviam garantido um lugar no curso de heroísmo com essa façanha, embora ele estivesse preocupado com o fato da individualidade de Midoriya ter quebrado o seu braço. Eles teriam que discutir sobre isso, eventualmente.
Shouta desviou o olhar para Power Loader, que estava ao seu lado e que encarava a tela com os punhos cerrados e, provavelmente, olhos marejados, visto que murmurava levemente sob sua respiração "Precisava destruir meu robô completamente? O que ele te fez?"
Após isso, não demorou muito para que o teste terminasse e a Recovery Girl fosse até os locais para curar os feridos.
Shouta já tinha em mente os que possuíam altas chances de passar e ele já sentia uma dor de cabeça se formando.
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Dazai suspirou, cambaleando até seu quarto e se jogando na cama, sem se preocupar em trocar de roupa.
O dia havia sido exaustivo. Não bastava ter feito uma prova de cinquenta questões, também teve que destruir robôs e ajudar outras pessoas. E socializar, eca.
O moreno olhou para suas mãos, vendo que o tremor havia se intensificado. Ele mordeu os lábios até sentir o gosto metálico ser captado por suas papilas gustativas, tentando conter a vontade de correr para algum bar e saciar sua fome por álcool. Os sintomas de abstinência haviam começado não muito depois dele ter interrompido abruptamente o consumo, mas ele os havia ignorado completamente. Mesmo durante a prova, notou-se sentindo cada vez pior, mas continuou não dando atenção em detrimento da missão. Um grande erro, ele percebe agora.
Sua respiração saiu ofegante e as bordas de sua visão começaram a escurecer, mas ele se forçou a permanecer acordado. Uma figura que se parecia vagamente com Mori se ajoelhou em sua frente, com um sorriso paternal e, ao mesmo tempo, assustador. Dazai pulou para trás, batendo as costas na parede, ação que pareceu arrancar o ar, que já estava em falta, de seus pulmões.
"Substitua um vício por outro." – É o que Mori lhe dizia para tratar abstinência. Se estivesse em seu pleno juízo, saberia que provavelmente não deveria confiar no homem: apesar de não ser um médico charlatão, ele não era nada confiável, seus focos de estudo não vinham de outras fontes além de suas próprias pesquisas doentias. Porém, no estado de semi-consciência que se encontrava, se agarrou às palavras de Mori como um cristão fervoroso se agarrava a bíblia.
Com isso em mente, ele abriu a gaveta ao lado de sua cama e pegou uma das muitas lâminas que mantinha guardadas. Era velha e estava suja de sangue seco, mas daria para o gasto. Retirou rapidamente as bandagens que cobriam seus braços, parando por um tempo para admirar os ferimentos novos e antigos que pintavam sua pele em uma obra de arte mórbida, antes de começar a abrir novas feridas.
Não demorou muito para que sua respiração estabilizasse e ele se sentisse infinitamente mais em paz. Tomou cuidado para que os cortes não fossem muito fundos, não seria muito divertido se ele precisasse de pontos. E ele nem estava tentando se matar naquele momento, apenas buscava alívio.
Ele perdeu a conta de quantos havia feito, parando apenas quando seus braços estavam em bagunças feias e sangrentas. Parece que ele teria que jogar aquela roupa fora, que pena.
Dazai se levantou lentamente, indo em direção ao banheiro, ignorando a tontura que atacou seus sentidos impiedosamente. Ao chegar em seu destino, ele se encostou na pia e ligou-a, colocando seu braço bem debaixo do jato de água, assistindo enquanto o sangue descia continuamente pelo ralo. Sentia pontadas de dor, mas não conseguia se importar.
O moreno tinha uma relação estranha com a dor. Ele a odiava mais que tudo, mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de se agarrar a ela, como se fosse a única coisa neste mundo miserável que o ancorasse na vida real. Era um vício que ele não conseguia se desprender, assim como todos os outros. Mori nunca o havia impedido de se machucar, em vez disso, apenas o ensinou como realizar isso sem se matar no processo.
Assim que considerou o braço limpo o suficiente, se despiu e ligou o chuveiro, logo após entrando. Ele olhou para as roupas sujas, se perguntando sobre como ele se livraria delas sem levantar suspeitas. Deu de ombros, voltando a esfregar seu cabelo. Isso era um problema para o Dazai do futuro resolver.
Não demorou muito para que estivesse limpo e, assim que saiu, pegou o pequeno kit de primeiros socorros que estava guardado dentro das gavetas do banheiro e o abriu, pegando uma pequena garrafa de soro fisiológico. Já havia limpado suas feridas com água, mas resolveu passar o soro, afinal de contas, não tinha tempo para lidar com uma infecção. Após aplicar a solução, o moreno embalou cuidadosamente seus braços em bandagens, tomando cuidado para não deixar muito apertado.
Após isso, vestiu suas roupas e saiu com as vestes sujas em mãos. Decidiu apenas juntá-las em uma sacola e deixar em um lixo, onde seria levado por um caminhão.
Afinal, não estava cometendo nenhum crime fazendo isso consigo mesmo, certo?
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Seu dedo pairou por cima do contato de uma certa pessoa em seu telefone. Dazai debatia se deveria fazer ou não uma ligação. Ele se sentia vazio. Assim como todas as vezes após se machucar, e ele ansiava desesperadamente por sentir alguma coisa, qualquer coisa.
O contato de Mori certamente parecia tentador.
O moreno sabia que o homem o faria sentir alguma coisa. Medo, nojo, desespero, terror. Não eram sentimentos que ele gostaria de sentir, mas ainda o fariam se sentir vivo. Ele queria, mais que tudo, se sentir humano.
Mas Dazai era tudo menos isso, não importa o quanto perseguisse os desejos utópicos de ser um. Ele era o mais longe possível de ser um humano, era uma marionete sem vida com cordas amarradas por todos os membros, um demônio que se deleitava com a queda dos outros. Ele não era e jamais seria um humano.
Seu olho funcional passou rapidamente pelo contato de Odasaku, mas ele não fez nenhum movimento para ligar para o homem. Não queria sobrecarregar seu... colega de bebida? amigo?... com seus problemas emocionais. E ele realmente não queria incomodá-lo.
Seu olhar se desviou para outro contato. O de Chuuya.
O moreno o invejava, de certa forma. Apesar de ser literalmente o recipiente de um deus, Chuuya era mais humano do que ele jamais poderia ser. Mas ele não conseguia se sentir triste com isso, muito pelo contrário, ficava feliz pelo garoto que ele chegaria a considerar um amigo por ser um humano de verdade. Mesmo assim, era divertido irritá-lo chamando-o de cachorro. Eles haviam trocado algumas mensagens e chamadas durante o tempo em que estavam afastados, mas nunca durava muito.
Dazai nem percebeu que havia clicado no botão de chamada até que ouviu o som da discagem, mas não desligou. Talvez Chuuya seria capaz de fazê-lo sentir alguma coisa.
O moreno esperava que o ruivo não o atendesse ou simplesmente desligasse em sua cara, mas se surpreendeu quando foi atendido no segundo toque.
"O que você quer, seu idiota?" A voz cansada e irritada de Chuuya soou do outro lado da tela. Ah sim. Eram duas e meia da manhã. "Dazai? Espero que você não tenha tentado se matar, porra, ou eu vou voando pra aí!" O outro garoto falou com um tom um pouco mais alto e desesperado, o que fez com que Dazai percebesse que havia ficado muito tempo em silêncio.
— E aí, Chibi... – O moreno falou lentamente, ponderando sobre o que deveria dizer. — 'Tá aguentando as coisas aí, ou não consegue fazer nada sem seu dono? – Ele decidiu provocar.
"Vai se foder, filho da puta!" Chuuya gritou e Dazai sentiu um sorriso florescendo em seu rosto. "Eu não sou seu cachorro!"
— É sim! – O moreno retrucou em um tom petulante, o mesmo que sabia que o ruivo odiava.
"Vou te mostrar o cachorro, seu-"
Eles prosseguiram insultando um ao outro por um tempo, até que Dazai estivesse rindo alto. Irritar Chuuya era realmente divertido. Após algum tempo, porém, a conversa morreu, mas não foi assim por muito tempo.
"Tudo tem corrido normalmente aqui, mas eu tenho andado mais ocupado do que o normal com sua ausência. Como você tem estado?" O garoto menor perguntou com um tom calmo que era raramente usado quando conversava com o moreno. Dazai não esperava que ele fosse tentar continuar a conversa, mas resolveu aproveitar cada momento disso.
— Tenho estado... Do mesmo jeito de sempre, eu suponho. – Respondeu simplesmente, com uma carranca cansada. — Fiz a primeira parte dessa missão e foi cansativo demais da conta! – Ele suspirou dramaticamente.
"Onde você 'tá? E que missão é essa, afinal?"
Dazai parou por um momento, questionando se possuía permissão para contar para ele. Mori não havia dado ordens explícitas para permanecer em silêncio, mas ele conhece o homem e ele, provavelmente, gostaria que o moreno permanecesse calado. Indo contra seu melhor julgamento, ele decidiu dar algumas informações.
— Não posso te dizer o que exatamente é a missão. Mas se o meu cachorrinho 'tá com tanta saudade e quiser vir me ver, vou mandar minha localização! – Dazai exclamou, praticamente sentindo a irritação de Chuuya do outro lado da linha. Ele riu e prontamente enviou sua localização.
"Então... Eu tenho uma missão pela manhã, preciso ir dormir." Chuuya anunciou após mais alguns momentos de conversa sem sentido, o que fez com que o ânimo de Dazai reduzisse minimamente. "Vê se dorme, seu desperdício de bandagens ambulante." Foi dito em um tom brusco, mas Dazai sabia que tudo o que foi proferido era genuíno.
— Boa noite, Chibi. – Respondeu com um sorriso quase que imperceptível e a chamada terminou.
Se seu peito permaneceu aquecido mesmo depois do término da chamada, bem, apenas ele mesmo saberia.
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Dazai sentou-se no sofá com um envelope em mãos. Era branco com decorações em tons de vermelho e azul, que simplesmente gritavam "caro". Era a resposta da UA quanto à sua entrada na escola. Pelo peso e forma do papel, havia um pequeno objeto circular dentro. Provavelmente um holograma, afinal, a escola certamente possuía condições o suficiente para enviar respostas para todos os milhares de candidatos através de hologramas.
Havia se passado apenas uma semana após os exames de admissão. Tudo foi avaliado bem rápido, ele notou. Quantas pobres almas foram escravizadas para corrigir a quantidade monstruosa de testes em um período de tempo tão curto? Ainda mais com cinco perguntas dissertativas de cada aluno. Essas pessoas definitivamente receberam muito por esse emprego. Ou não, talvez o diretor da UA seja um corrupto. Mas, afinal, o que Dazai sabe?
Sem mais delongas, ele abriu a carta com cuidado, avistando um pequeno dispositivo circular de cor preta, quase invisível na escuridão da sala - havia deixado para abrir o envelope à noite e não havia se preocupado em acender as luzes. O moreno o pegou e o colocou em cima da mesa e uma miríade de cores logo explodiu acima do objeto, fazendo com que ele piscasse rapidamente para que seu olho funcional se adaptasse à claridade. Um homem de cabelos e roupas pretos e aparência cansada cumprimentou sua visão, seu cachecol cinza volumoso quase que obstruindo a visão de seu rosto. Mesmo assim, sua expressão permanecia impassível. Dazai o reconheceu como Aizawa Shouta, o mesmo homem que havia visto na loja de convivências em seu primeiro dia em Musutafu. O papel com o número do homem parecia zombar dele de seu lugar no rack da televisão.
O homem não se demorou muito em dizer sobre sua pontuação, mencionando sobre como teve uma pontuação perfeita no teste escrito e como ficou em primeiro lugar no exame prático. Segundo ele, Dazai havia acumulado um total de vinte e oito pontos de vilão - o que, por si só, seria capaz de fazê-lo passar no curso de heroísmo - e cinquenta pontos de resgate. Ele vai admitir, não esperava que o resgate pesasse tanto, apenas que desse uma pontuaçãozinha a mais. Ele espera que não atraia mais atenção dos professores do que já havia atraído, isso certamente seria problemático.
O vídeo terminou com um cansado "Vá além, Plus Ultra" do herói e a tela se apagou. Dazai bocejou logo após isso. Ele teria que se apressar para comprar uniformes, afinal, as aulas começam na primeira semana de Abril e faltavam apenas alguns dias para isso. Ele também precisaria comprar materiais escolares - o simples pensamento de se portar como um estudante de verdade o deixava enjoado, mas ele precisaria pelo menos fingir ser um para que ele não chamasse ainda mais atenção - e talvez um novo rolo de bandagens. Talvez ele também devesse procurar na internet tutoriais de como socializar. Ou ele pode pagar de aluno misterioso?
De novo, todos esses são problemas para o Dazai do futuro. O Dazai do presente deixou-se deixar completamente no sofá e fechar os olhos, adormecendo lentamente e sem se importar com o desconforto do móvel.
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