03: Do nascer ao pôr do sol
Quem é vivo sempre aparece (ゝω・´★)
espero que gostem do capítulo!
☆
Os primeiros raios de sol da manhã entraram pelas frestas da grande janela de madeira, iluminando o rosto de Seonghwa, que imediatamente quis amaldiçoar a si mesmo por ter esquecido de fechar as cortinas antes de dormir noite passada.
No momento em que abriu os olhos e virou para o lado, viu alguns pequenos pedaços de tecido dispostos sobre o móvel ao lado da cama, como sua mãe tinha avisado que deixaria. Ele sentou-se no colchão e pegou os panos em mãos para sentí-los. Um em especial fez os pelos de sua nuca se arrepiarem no mesmo segundo em que Park arrastou a ponta dos dedos nele. Seonghwa era muito chato quando o assunto eram texturas; precisava ser fino e macio, suave ao toque, porque coisas com muitas fissuras ou ásperas demais lhe causavam uma forte agonia.
Ele passaria no ateliê no castelo para deixar sua escolha, logo após o café da manhã. Por isso, levantou-se e tratou de buscar uma peça de roupa mais simples no armário.
Algumas batidas suaves chamaram sua atenção, e o sorriso no rosto foi instantâneo quando abriu a porta e viu Mingi.
— Song Mingi-ssi. Bom dia!
— Bom dia, Majestade. Teve uma boa noite de sono?
— Certamente. — Sorriu.
— Posso pedir que preparem seu banho?
— Oh, sim. Eu estava escolhendo minhas roupas agora mesmo. Como você sempre sabe?
O guarda riu baixinho. Como não saberia?
— Costume. Cuido do senhor desde que nasceu… Decorar sua rotina de sono é apenas uma das coisas que eu aprendi — falou com um pequeno sorriso, ouvindo a risada do Park logo em seguida.
— Às vezes tenho a sensação de que você me conhece melhor do que eu…
Poderia até parecer exagero, mas realmente não era. Pelo fato de tê-lo visto crescer e cuidado de si de tão perto desde então, Mingi sempre o leu como um livro aberto. Sabia quando estava triste, com raiva, magoado, sem que nem precisasse demonstrar, porque, inclusive, nem podia.
“Se quer ser um bom rei, não seja sensível como uma donzela. Não demonstre. Mostre sempre que está bem.” Foi o que seu pai lhe disse uma vez no passado.
Entretanto, mesmo tendo sido ensinado a esconder suas emoções, com Song Mingi ele podia ser seu verdadeiro eu. Podia sorrir, chorar, gritar e sentir medo. E ainda que na maioria das vezes não deixasse transparecer, o guarda sabia, de uma forma ou de outra.
— Bom, prepare-se para o banho. Irei chamar uma das moças
— Tudo bem, obrigado.
Após Mingi sair, Seonghwa voltou para dentro para terminar de separar as coisas. A mulher que o mais velho havia ido chamar chegou dentro de alguns minutos, trazendo junto consigo um homem, que puxava o grande recipiente de água quente usando um carrinho de ferro. Ele esperou pacientemente até que terminassem e se curvou para um de cada vez em agradecimento.
— Muito obrigado, a água está ótima! — Ambos curvaram-se de volta e devolveram o sorriso que o príncipe os deu,
— Não há de que. Tenha um bom dia, senhor.
— Vocês também.
Park reconheceu vagamente aqueles dois, eles tinham começado a trabalhar no castelo há pouco tempo, então infelizmente não conseguia lembrar como se chamavam. Na verdade, o jovem era péssimo para se recordar de nomes e, devido a isso, era comum que trocasse quando precisava chamar algum guarda ou outros trabalhadores do castelo.
As coisas dentro do palácio eram restritas e de segurança árdua ao que diz respeito à confidencialidade, porque sempre foi de extrema importância que a identidade do herdeiro fosse mantida em segredo. Considerando esse fato, seus pais somente contratavam parentes daqueles que já prestavam serviços lá, onde suas famílias mantinham um contrato rígido de lealdade e discrição sobre assuntos dos portões para dentro. Quebrar o acordo expondo o mínimo de informação privada possível era equivalente a assinar uma sentença de morte.
Então, toda vez que algum deles estava envelhecido demais para o cargo, seus filhos e irmãos assumiriam o lugar, enquanto o Rei garantia que o antigo receberia todo o suporte que fosse necessário até o dia de sua eventual morte. No que era relacionado a isso, Seonghwa não podia negar que seu pai agia com excelência, sempre garantindo que todos tivessem conforto da melhor forma possível.
A questão do repúdio aos piratas era complicada, uma história de animosidade que já vinha de séculos atrás e, para ser sincero, Park nunca conseguiu saber de tudo como gostaria. O governante o repreendeu todas as vezes que perguntou, e os livros de história da biblioteca só contavam o que todos já sabiam, que eles eram ladrões violentos e sem moral. No entanto, desde que se entende por gente, o príncipe nunca ouvira falar de relatos sobre aqueles grupos machucando outras pessoas, somente lugares com pouco movimento e grande concentração de comida eram saqueados. Fora isso, armas e ouro permaneciam perfeitamente intactos.
Em algumas de suas saídas, Seonghwa conseguiu vencer o medo e a vergonha e perguntou algumas coisas aos cidadãos, mas era muito difícil saber, pois enquanto alguns diziam que não culpavam os piratas, outros os demonizam na mesma proporção, e contavam histórias piores até mesmo que as de seu progenitor. O garoto poderia simplesmente escolher no que preferia acreditar, decidir um lado e esquecer tudo isso, porém sempre foi muito curioso. Portanto, se algo entrasse em sua cabeça, só sairia mediante a conclusão total do assunto.
Seu fascínio por aquilo começou ainda na infância, quando, ainda que não soubesse ler, entrou escondido na parte secreta da biblioteca real e encontrou livros que nunca tinha visto antes. Neles estavam escritas palavras que não entendia ainda, além de imagens desenhadas de navios enormes, pessoas, roupas e mais uma diversidade de outros artigos. Em uma mesa logo ao lado havia uma caixa de madeira e, quando abriu, seus pequenos olhos arregalaram-se e brilharam com a quantidade de fotos que encontrou no interior dela.
Naquele dia, o Rei chegou no exato momento em que ele tentava de forma falha enfiar uma das fotografias dentro do bolso da calça e o repreendeu, dizendo que não era para procurar sobre isso nunca mais. Foi devido a isso que, nos dias atuais, a ala secreta era protegida vinte e quatro horas por dia por mais de quatro guardas.
Porém, obviamente o garoto não deixou passar tão facilmente. Ele passou a fazer desenhos, pinturas e anotações com base no pouco que lembrava do conteúdo proibido, juntando também com o que era capaz de ouvir nas ruas depois de adulto, quando começou a sair.
Mingi sempre expressou sua objeção a respeito disso, mas, novamente, Seonghwa era extremamente teimoso e cabeça dura.
Talvez a coisa toda tenha ficado mais crítica após o esbarrão repentino com aquele homem na cidade, porque agora que os viu tão de perto, possuía muito mais acervo mental para imaginar e desenhar.
Se o herdeiro tivesse uma chance, gostaria muito de poder sentar frente a frente com o capitão deles e conversar por quanto tempo ele o suportasse. Perguntaria como tudo de fato aconteceu, da visão real de seu próprio povo, para ter certeza de que não estava sendo ingênuo o suficiente para confiar que não eram pessoas ruins. Questionaria se a vida no navio era legal e se o pôr do sol parecia mais bonito de lá do meio do mar. Quem sabe ele até mesmo pedisse para visitá-los um dia?
Os únicos para quem expressava seus mais profundos pensamentos eram Mingi e Jongho, e ambos sempre deixavam claro que aquelas ideias eram loucura de sua parte, que a possibilidade dele se dar bem com piratas era totalmente impossível, levando em consideração toda a história até aqui e sua posição na monarquia.
Quando finalmente entrou na banheira e relaxou o corpo, o príncipe Park tentou buscar na memória se haveria mais alguma coisa programada para seus pais comparecerem durante a semana. No fim, sem conseguir lembrar, decidiu que apenas perguntaria a eles durante o café da manhã. O banho foi rápido e, após vestir-se, ele trancou a porta do quarto e desceu até a sala de jantar.
O Rei e a Rainha já estavam lá quando chegou. Park os cumprimentou rapidamente e sentou-se em seu devido lugar.
— Como foi a noite, meu amor?
— Foi boa, mamãe. Obrigado por perguntar!
— Viu os tecidos? Já escolheu um?
— Sim, estou com ele no bolso. Vou levar ao ateliê após o café.
— Suas escolhas até agora foram ótimas, como sempre.
Seonghwa parou as mãos por um momento, erguendo lentamente o olhar para o dono da voz. O homem comia em silêncio, sem desviar o olhar para si, porém, o príncipe sorriu pequeno ao que sentiu o peito esquentar.
— Obrigado, pai.
Parecia que o café da manhã tinha se tornado ainda mais saboroso do que o normal depois daquele elogio tão simples e singelo de alguém que não estava esperando.
— Vocês pretendem viajar novamente essa semana?
— Viajarei daqui dois dias para firmar um acordo comercial. — O governante respondeu após limpar a boca calmamente com o pano. — Vou ficar fora por cerca de quatro dias, mas sua mãe voltará antes para terminar de resolver as coisas do baile.
— Entendi.
— Não se preocupe, meu amor, Jongho não irá desta vez, então você terá companhia.
O rosto do herdeiro iluminou-se no mesmo momento, porque fazia tempo que não ficava tantos dias com o irmão mais novo. Já estava planejando mentalmente quantas coisas divertidas poderiam fazer juntos.
— Isso é ótimo! — Seonghwa olhou para o mais novo, que lhe mostrou um sorriso de lado, discreto.
O restante do café foi tranquilo e passou rápido, por isso, o Park não demorou para ir deixar o tecido com o costureiro. Em seguida, vasculhou o castelo atrás do guarda pessoal, até encontrá-lo no jardim, conversando descontraidamente com o velho senhor que trabalhava lá.
— Song Mingi-ssi. Senhor Kim.
— Magestade. — O homem curvou-se em respeito.
— Me desculpe, senhor Kim, vou precisar roubar Mingi por alguns minutos.
— Ele é todo seu!
Rindo, Seonghwa aproximou-se e entrelaçou um dos braços com o do guarda, puxando-o para longe dali.
— O que era tão super secreto que não podia ser falado na frente de um senhor de setenta e cinco anos?
— Então… mais cedo, quando eu estava indo até o ateliê, ouvi dois guardas conversando sobre o prisioneiro que está nas masmorras…
— E…? — Ergueu uma das sobrancelhas com desconfiança.
Receoso, o príncipe engoliu em seco. Mas era apenas Mingi, não precisava ter medo dele.
— Ele é um pirata, não é?
O Song desviou o olhar por um tempo.
— Você era a última pessoa que deveria saber disso.
— Sabia! Por que não me contou?
— Porque eu sabia que você teria essa reação, e então começaria a ter ideias mirabolantes dentro da sua cabeça, como sei que deve estar tendo neste exato momento… não é?
— Adivinhou!
— Deixa eu adivinhar mais uma vez, você quer ir até lá?
— Sim!
— Sem chances.
— Song Mingi-ssi!
— É perigoso. Além disso, seu pai me deu ordens claras para não deixar você chegar nem perto de lá.
— Só quero perguntar algumas coisas a ele. Por favor, eu prometo que não vou chegar muito perto e vai ser rápido!
— E vossa majestade está certo de que ele eventualmente responderá suas perguntas?
Seonghwa já imaginava a possibilidade do prisioneiro não responder nenhuma de suas perguntas. Afinal, era da realeza, qual pirata em sã consciência confiaria em expor qualquer coisa do próprio povo para alguém como ele?
Apesar disso, não custava nada tentar.
— Papai vai viajar daqui dois dias. Apenas Jongho estará no castelo por um tempo — assegurou. — Por favor, Mingi… por favorzinho…
— Não.
— Mingi-ssi.
— Preciso pensar primeiro Pensar bastante…
— Tudo bem. Eu espero!
Ajudar com o que Seonghwa estava propondo significava correr um risco enorme, o maior que já cedeu até hoje. Sabia que os outros soldados do castelo pensavam apenas em si mesmos, querendo mais do que tudo o cargo de Mingi, mas sem nunca conseguir. Então, não tinha dúvidas de que eles não pensariam duas vezes antes de dedurá-lo ao rei caso descobrissem algo.
O guarda apenas queria secretamente um tempo para sondar tudo e ver como fariam, enquanto o príncipe estava ansioso esperando uma resposta.
No entanto, sinceramente, o que nessa vida e em outras Song Mingi não faria para ver aquele garoto sorrir?
[. . .]
O aroma gostoso da comida passeava por todo o convés do navio, tão forte que nem o vento marítimo conseguia levar embora. Todas as vezes que Yunho marcava de vir almoçar com eles, Hongjoong esperava pacientemente até que ele chegasse para comer, e sua mãe não costumava ser diferente. Ela adorava o Jeong desde que o conheceram, ao ponto de ficar muito triste na época que precisou revelar que o relacionamento confuso dos dois não iria dar mais certo, porque a mulher sempre torceu muito por eles.
Ela entendeu os motivos depois, mas isso não fez com que parasse de tratá-lo como alguém da família, principalmente levando em consideração que Yunho havia perdido os pais muito cedo. Quando ele vinha, o mimava e dava corda para todas as histórias que contava, observando com olhos maravilhados. A vida da tripulação dele era muito mais agitada do que a sua própria, uma vez que ele viajava bastante. Hongjoong também já viajou para diversos lugares, porém, apesar de tudo, ele ainda tinha um apego por aquele reino.
O capitão não arriscava muito ir até a cidade, porque se eventualmente ele fosse pego, o navio ficaria sem liderança, o que tornaria mais difícil a elaboração de um plano de resgate, e é óbvio que a segurança em volta do líder do grupo será redobrada nas masmorras do castelo. Entretanto, nas poucas vezes em que se deu o luxo de ir passear por lá secretamente, ficou admirado com o quão diferente era de sua realidade cotidiana. Uma grande variedade de barracas vendendo comidas deliciosas, músicos, pintores, grupos de dança artística e tantas outras coisas incríveis que ele nem soube para qual olhar primeiro.
Hongjoong afirma com convicção que ama seu navio e trocar a vida que construiu lá por qualquer outra coisa estava totalmente longe de seus planos atuais. Porém, apenas queria poder ter tudo aquilo livremente também, gostaria de trazer sua mãe e irmãs para ver o mundo de vez em quando, no entanto, possuía plena consciência do quão perigoso era, principalmente para ele.
Kim sempre foi muito cuidadoso com a segurança do pessoal, então seu mundo caiu completamente quando um dos homens foi capturado. Desde então, ele tem ficado até tarde da noite bolando planos e estratégias para resgatá-lo, porém, a questão que sempre se tornava o maior empecilho era: Como diabos eles entrariam no castelo sem serem notados?
Já tinha ouvido ideias de todos do grupo de ação, entretanto, para ser sincero, apenas na teoria todas eram muito boas. Uma delas consistia em apenas o grupo entrar, disfarçados de serviçais procurando trabalho, poupando o risco enorme de expor o líder, e apesar de toda a construção ser boa, Hongjoong nunca permitiria que fossem sem ele. Não por achar que não seriam capazes, mas sim porque seus valores diziam que, como capitão, deveria sempre estar à frente deles para protegê-los a todo custo. O quão irresponsável seria se os deixasse irem sozinhos?
Embora preocupações sobre isso ocupassem sua mente mais do que deveria ser considerado saudável, o líder tentava não se deixar desesperar e pensar com calma, buscando distrair-se com outras coisas, como ir a praia com os meninos, jogar cartas no convés ou até mesmo somente escrever pensamentos e medos em seu diário para descarregar um pouco da pressão. Algumas vezes funcionava, em outras, não.
Gostava tanto quando Yunho estava por perto, pois junto com Wooyoung, os três eram inseparáveis, certamente os considerava como irmãos, porque além de melhores amigos, foi esse papel que eles exerceram desde que se entende por gente.
Almoçar com todos juntos o fazia tão bem, por cerca de uma hora e meia esquecia todas as preocupações, mas não podia negar que o que estava deixando-o mais ansioso naquele dia era a ida à praia. Morar no meio daquela imensidão azul era uma vista bem bonita, entretanto, nada podia se comparar a sensação de sentir a areia quentinha nos pés e ver as ondas brilhando enquanto quebravam sob o sol. Depois, sentar em cima de uma pedra alta e observar até ele se pôr no horizonte, indicando que infelizmente era hora de voltar. Ficaria lá para sempre se pudesse.
— Mãe, tenho certeza que o Woo sabe comer sozinho. — Revirou os olhos.
Wooyoung, por outro lado, mastigava alegremente a porção de comida que a senhora Kim colocou em sua boca, apreciando o carinho nos cabelos que veio em seguida.
— Não! Ele é tão adorável que problema tem eu alimentá-lo?
— Mãe, a senhora pode me dar também? — Dessa vez foi o Jeong quem pediu seu tom de brincadeira era evidente não impedindo que ele mostrasse um bico para convencê-la.
— Argh… eu odeio vocês. — Hongjoong levantou-se rindo da cena. — Anda, comam logo. Não quero que fique tarde, se não, não vamos conseguir aproveitar tanto o sol.
— Você é muito chato, hyung. — O mais novo dos três falou, recebendo uma língua em resposta.
— Não liguem para ele, meninos, Hongie também adora quando dou comida para ele.
— Mãe! — Arregalou os olhos, as bochechas imediatamente esquentando pelo constrangimento.
E era tarde demais, seus amigos já estavam quase explodindo de rir.
— Não acredito que o grande e poderoso capitão Kim Hongjoong come comida na boquinha…
— Idiota! Respeite seu hyung!
Kim era bastante respeitado, até mesmo por pessoas tão íntimas quanto aqueles dois, mas, em momentos como este, ele não era o destemido capitão Kim, somente Hongjoong, e amava muito quando se sentia assim.
— Certo, certo, hyung! Vá chamá-los, já estamos terminando aqui.
Com isso, o líder saiu da cozinha e foi para a área de manutenção, que a essa hora deveriam estar alocados descansando após o almoço. O último a quem contatou foi San, este que levantou do banco de forma afoita assim que escutou a palavra “praia”. Ele nem ao menos colocou uma blusa, Wooyoung ia enlouquecer mais uma vez quando o visse.
Se Jung possuía alguma dúvida de que Choi San realmente gostava dele de volta, ele provavelmente estava maluco, já que os sinais pareciam muito óbvios para todos que olhassem de fora. No momento em que todos se reuniram no convés, Wooyoung nem ao menos teve tempo para reagir, o homem robusto já tinha grudado nele como um carrapato, esmagando-o nos braços fortes e suados, enquanto o amigo forçava uma careta para fingir que não estava gostando.
— Levem o mínimo possível, hoje o intuito é apenas relaxar. — Ajeitou a mochila pequena nas costas, que continha apenas shorts de banho e uma toalha surrada. — Soyeon.
— Sim, capitão. — A mulher aproximou-se.
— Não fique muito tempo lá, é apenas superficial, certo?
— Certo.
— Todos prontos? — Conferiu em volta para ver todos assentirem. — Ótimo. San, desamarre os barcos.
O homem concordou com a cabeça, indo rapidamente fazer o que lhe foi mandado. Um por um foram descendo pelas escadas de corda e se ajeitaram lá dentro, ocupando em instantes os dois pequenos barcos. Em um deles, Yunho quem remava, no outro, Hongjoong.
O navio estava a menos metros da costa do que normalmente seria seguro, mas Kim fazia isso propositalmente em dias de praia, buscando diminuir o tempo em que passariam remando quando saíssem. Devido a isso, demorou pouco mais de vinte e cinco minutos até que chegassem em terra firme.
— Woo, me ajude a amarrar ali naquelas árvores — chamou o melhor amigo, caminhando junto a ele enquanto puxavam os barcos pela corda.
— Hyung, tô’ muito feliz que estamos aqui.
— Eu também. Com todo o sufoco, eu achei que nunca mais poderia relaxar.
— Você fez um bom trabalho, como sempre. — O abraçou de lado.
— Todos nós fizemos.
Enquanto estavam parados ali conversando, um pouco afastados do restante do pessoal, Soyeon se aproximou, curvando-se em respeito. O líder já reforçou que não era necessária tamanha formalidade, no entanto, aquele era o jeito dela, afinal.
— Com licença, capitão. Já vou indo.
— Tudo bem. Obrigado. — Sorriu pequeno, levando os dedos para bagunçar os cabelos dela. — Não demore, é uma ordem. Você também merece aproveitar o dia.
— Prometo que não vou. — Ela curvou-se uma última vez, virando-se para seguir seu caminho até a cidade.
Aquela mulher foi uma das melhores coisas que já aconteceram em toda a tripulação. Antes de se juntar à equipe e estar sob o comando de Hongjoong, ela era residente do reino, embora fosse nas piores condições possíveis. Depois que os pais morreram quando ainda era criança, precisou aprender a se virar sozinha pelas ruas, porque ninguém se propôs a ajudar uma garotinha gerada de um casal de criminosos, e nem ela mesma confiava nessas pessoas.
Apesar do histórico dos progenitores, Soyeon nunca tocou em nada que não fosse seu, afastando-se por completo do caráter ruim dos pais e fazendo o que estava ao alcance para ganhar algumas moedinhas de ouro e não passar fome.
Kim se lembra exatamente de como a conheceu.
Ele e o grupo estavam de volta a cidade com o objetivo de conseguir suprimentos, foi a primeira vez que fez aquilo sob sua própria liderança, pois seu pai havia falecido a pouco mais de um mês e, apesar de estar sofrendo com o luto, ainda era o responsável pelo povo e precisava assegurar a todos que a perda do capitão deles não afetaria a qualidade de vida da tripulação e suas famílias. Hongjoong queria mostrar que era apto o suficiente para assumir o lugar do pai, mesmo que às vezes nem ele mesmo acreditasse nisso.
Pela falta de experiência como líder na prática, algumas coisas não foram cem por cento bem calculadas, levando a uma fuga repentina. Em certo ponto do trajeto, a movimentação dos guardas atrás deles cessou subitamente, causando estranheza no capitão, que não entendeu o que tinha chamado a atenção dos soldados lá atrás para que eles tivessem parado de segui-los.
Decidido a não perder tempo, porém ainda atento, seguiu o restante do percurso habitual o mais rápido que pôde. Ao que preparava o barco para partir e esperava até que todos subissem, Kim ouviu um barulho vindo de trás, fazendo-o se virar e desembainhar sua espada na velocidade da luz. seus homens observavam atentos, prontos para o que quer que estivesse ali na escuridão, mas Hongjoong relaxou um pouco quando viu uma figura magra e baixa surgir por entre os matos. Ela o mirava com olhos arregalados, embora não parecesse assustada, somente surpresa.
— Quem é você?
— S-Soyeon, senhor — apresentou-se, seu tom de voz era fraco. — Eu já despistei os guardas, não precisa se preocupar mais.
— Então foi você?
— Sim.
— Por que fez isso?
— Só queria ajudar. Sei o quanto é difícil conseguir comida por aqui.
— Isso foi muito perigoso, eles poderiam ter pego você. Onde estão seus pais?
Ela abaixou o olhar, mexendo nos próprios dedos.
— Oh. Entendi. Eu sinto muito…
— Eles morreram há alguns anos, e desde então eu tento sobreviver sozinha nas ruas.
Hongjoong sempre pensou que a vida no reino fosse perfeita, tudo que ele sempre desejou para todos, então ser atingido por uma realidade como a dela o deixou atônico. Que pessoas eram essas que não ajudavam outros de seu próprio povo? Kim até mesmo morreria pelo dele se fosse necessário.
— Isso é… muito ruim… — Engoliu em seco, antes de embainhar novamente a espada, abandonando a pose defensiva por uma de guarda baixa.
— Vocês são piratas, não são?
— Sim.
— Será que eu posso ir com vocês?
— Você sequer sabe para onde estamos indo, garota?
— Para o mar, não é? Já ouvi todas as histórias!
— A realidade talvez seja diferente do que já ouviu.
— Por favor… eu vou morrer se continuar aqui. Não quero morrer…
O capitão olhou para Wooyoung quando sentiu a presença dele chegando ao seu lado.
— Joong, acho que não faz mal levá-la. Ela nos ajudou e não tem onde ficar, nem família.
— Prometo que posso ser útil, vou fazer qualquer coisa que for preciso. Só, por favor, me leve junto…
Kim suspirou, massageando as têmporas. Ele virou-se, seguindo o caminho até o barco, mas não sem antes dizer:
— Venha rápido. Já está ficando tarde.
Jung a observou sumir entre as árvores com as mãos na cintura.
— O que exatamente você mandou ela fazer?
— Ver se tem algo novo ou se estão falando sobre o último saqueamento. — O amigo aprovou a resposta com um aceno de cabeça.
— Bom. Você acha que ela sente falta daqui?
— Não. Na verdade, não sei. Soyeon não conversa muito no geral, então não dá pra’ saber com certeza.
— Talvez seja como eu. Sinto saudades da minha terra natal, não das condições que eu vivia.
— Sim, faz sentido. — Suspirou. — Agora vamos voltar.
Jung sorriu, agarrou a mão do melhor amigo e o puxou em direção a água, correndo animadamente. Os homens, quando os viram, imediatamente exibiram sorrisos também, eles gostavam de ficar próximos de seu capitão e vê-lo sorrir.
San saiu do mar e aproximou-se de Wooyoung, abaixando-se para pegá-lo no colo e correr de volta para a água. O mais novo ria de orelha a orelha, agarrado aos ombros do homem para salvar sua vida. Nem no passado, quando Hongjoong estava junto com Yunho, eles agiam dessa maneira, porque embora o Jeong fosse um romântico incurável, ele mesmo já era bastante fechado, principalmente com demonstrações de afeto.
A próxima vítima foi o próprio líder, que cresceu os olhos ao ver o bando de homens correrem em sua direção; soube que seria o próximo. Eles o ergueram todos juntos, chamando seu nome repetidas vezes, antes de o jogarem com tudo ao oceano, sem ao menos esperar que ele trocasse de roupa, mas aquele era um problema para o Kim Hongjoong do futuro se preocupar. Em momentos assim, ele apreciava parar por alguns bons minutos e observar sua volta, admirando aquela paz de forma sonhadora. Gostaria muito que Jeonghan também estivesse aqui para se divertir com eles, e o fato da parte mais importante de seu plano para resgatá-lo não ser concreta o preocupava. Talvez, se fosse seu pai, ele já seria resolvido a situação com sucesso
Apesar disso, ainda era satisfatório ter algumas horas desfrutando daquele mundo que era cruel e lindo na mesma proporção. E mesmo que fosse difícil, que muitas vezes se cobrasse infinitamente por não conseguir dar o melhor de tudo para seu povo, eles ainda estavam felizes, o adoravam, gostavam de estar em sua presença, desfrutar momentos bons com ele e ajudá-lo sem nem pensar duas vezes.
Hongjoong seria grato a isso até depois da morte.
— Capitão! Posso falar com você um minuto? — San aproximou-se, sentando ao seu lado na areia.
— Claro.
— Então… na verdade, não sei bem como começar. — Coçou os cabelos da nuca. — Fico com vergonha…
Choi era realmente muito fofo. Enquanto seu melhor amigo escondia uma personalidade forte em um corpo pequeno e magro, San era totalmente ao contrário: alguém muito doce e tímido dentro de um físico que se assemelhava a uma muralha.
— Sobre o que é? — Hongjoong segurou o riso.
O homem olhou para frente encarando o Jung nadando no mar, e quando estava seguro de que ele não ouviria, falou:
— Wooyoungie.
— Hum… tudo bem.
— Eu só queria saber se… ele fala alguma coisa de mim pra’ você?
— O tempo inteiro.
— O q-que? É sério?
— Sim. — Riu de seus olhos enormes. — Choi, Wooyo tá’ apaixonado por você há muitos anos.
— Como? Eu nunca percebi…
— Eu entendo que não, e não querendo usar de justificativa, mas meu amigo é muito reprimido hoje em dia por causa do passado — explicou, o tom de voz cuidadoso, evitando deixar maus entendidos. — O que quero dizer é que ele não é bom em demonstrar sentimentos tão facilmente. Pelo menos não com todo mundo.
— Mas sempre pareceu tão fácil para ele fazer isso contigo… Durante muito tempo eu até achei que o Woo sentisse algo por você.
Kim não pode evitar gargalhar, tendo certeza de que aquela foi a risada mais sincera que soltou em meses.
— Isso é totalmente impossível. Além de termos muitas divergências de personalidade, eu certamente não tenho a aparência e o tipo físico que Wooyoung gosta.
As bochechas de San esquentaram.
— Se ele gosta, então por que sempre tenta se afastar, nem reage quando fico por perto ou tento me mostrar pra’ ele?
— Por favor, Choi… olhe para você. Wooyo não faz nada porque fica afetado demais para reagir a tudo isso.
Mesmo entendendo só agora os sentimentos do homem, Hongjoong sempre achou deveras óbvio que ele fazia todas aquelas coisas de propósito, para impressionar o Jung. Andando por aí com o torso à mostra flexionando os músculos discretamente quando Wooyoung estava com ele e o abraçando coberto de suor. Ele só não fazia nenhuma ideia de que funcionava da exata forma que sempre desejou.
— Não fica com medo de se confundir. Woo gosta mesmo de você, tô’ te dando certeza total — ditou com seriedade. — Só peço que não machuque ele, por favor.
— Não vou, capitão. É uma promessa!
— Sim, sim. Ótimo. Agora dá um jeito nessas bochechas vermelhas, porque ele tá’ vindo.
O maior colocou as mãos em ambos os lados do rosto, tentando ao máximo se recompor a tempo.
— Sani! Eu achei uma concha enorme! Vem ver!
O capitão observou atentamente o olhar do Choi, que desceu pelo corpo — agora quase seminu — de seu melhor amigo por apenas uma pequena fração de segundos, mas que foi suficiente para fazê-lo engolir em seco e apertar nervosamente os próprios shorts.
Hongjoong guardaria aquilo sem sombra de dúvidas para contar ao Jung mais tarde, como prometeu que faria.
San levantou-se, segurando a mão que Wooyoung estendeu para ele e seguindo-o até o que o outro queria lhe mostrar, O líder riu dos dois, achando graça em como eles praticamente já aparentavam estar em um relacionamento há muito tempo.
— Capitão Kim, eu voltei. — Soyeon abaixou ao seu lado, mexendo nos bolsos e tirando de lá um panfleto dobrado. — Trouxe isso. Acho que a informação aí dentro pode nos ajudar muito com o resgate.
— O que é esse papel?
— Abra!
A mulher não esperou para ver sua reação, animada demais com a ideia de entrar logo na água. Ela tirou a blusa grossa de fora e a calça, ficando apenas com as peças finas de baixo, antes de, enfim, correr em direção ao mar, assustando os meninos ao pular no meio deles, espalhando água para todos os lados. De longe, Hongjoong gargalhou divertido, negando levemente com a cabeça. Ficava muito feliz em saber que ela se sentia confortável com eles, apesar de ser a única garota do grupo.
Descendo o olhar, começou a desdobrar a folha, e as palavras que pôde ler nela o surpreenderam. Seus olhos aumentaram levemente de tamanho, a cabeça incerta entre ficar feliz ou aflito ao pensar nas mil e uma possibilidades.
Independente de como as coisas se desdobrariam dali para frente com a informação, Kim soube que não teria outra oportunidade como aquela tão cedo. Logo, precisava agir, não podia desperdiçar de forma alguma.
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