𖤍𖡼↷ 𝐄𝐏𝐈𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄
20 ANOS DEPOIS
Tá, eu sei que parei em um momento meio crítico da narrativa. Mas a verdade é que não gosto muito de lembrar o que aconteceu depois daquele dia no hospital. Ainda tenho pesadelos de noite com memórias que nem mesmo cinco séculos vão ser capazes de apagar das minhas lembranças. Foi uma época sombria e difícil, não só pra mim, para meus amigos e todos da U.A, mas sim para o Japão inteiro e até mesmo o mundo todo. A verdade é que All For One ficou bem pertinho de conseguir exatamente o que queria, quase nos arrastando para um mundo sem leis.
Mas nós demos um jeito nisso. Nos unimos no desejo mais puro e sincero de vencer, de fazer o bem. O plano de última hora que bolamos foi o suficiente para nos fazer ganhar aquela guerra, mesmo que tenhamos ficado bem perto de perder. Quer dizer, eu achei que ia colocar tudo a perder quando descobri que Katsuki tinha morrido. Exatamente o que Ichiro queria, e eu ainda me lembrava da satisfação em seu rosto ao me ver sofrer pela suposta morte do meu melhor amigo. A forma como aquilo me fez esquecer de toda a minha moral por um instante e quase o matar.
Ainda lembro claramente daquele dia, pois ainda acordava desesperada de madrugada. Quando Shoto não estava ao meu lado, o que me confortava eram os meus filhos. Fuyuki e Yumi eram a melhor coisa que já tinha acontecido na minha vida, e se fosse necessário passar por tudo o que passei mais uma vez só para ter os dois, eu o faria. Se eu precisasse entrar de novo naquela guerra, quase morrer nas mãos do meu próprio pai, ver o irmão que um dia eu tinha tanto amado tentar matar a pessoa que eu amava, bem, eu o faria. Eu faria tudo de novo e de novo e de novo.
O final da história dessa guerra trouxe alívio, mas também dor. Tivemos perdas; perdemos coisas dentro de nós mesmos. Ninguém saiu sem um trauma pra chamar de seu. Toya, mesmo que não tenha morrido, e, sinceramente, nem sei como não morreu, ficou trancado em uma prisão de alta segurança para o resto de sua vida, sem ser perdoado por ninguém da nossa família. Sem redenção. E tem Ichiro, que tentou a todo custo me levar a exaustão e me fazer ser morta pela minha própria individualidade.
E, por um momento, naquela batalha entre mim e ele, eu realmente achei que iria morrer. Achei que fosse ceder ao meu cansaço mental, que tudo fosse evaporar e meu cérebro derreter. Achei seriamente que tudo acabaria ali. Mas jamais desisti; em nenhum momento eu deixei Ichiro vencer, mesmo quando meus músculos não aguentavam mais e minha mente parecia prestes a explodir. Eu faria aquela confiança que tinham depositado em mim valer a pena, porque se eu não parasse Ichiro, ele mataria todos e abririam o caminho para All For One. Ele destruiria o mundo inteiro e seria coroado como um rei.
Então, não, eu realmente não tenho nenhum arrependimento por ser a culpada por sua morte. Isso definitivamente não tira meu sono, mesmo que ainda me lembre de ver meu próprio pai morto na minha frente pela exaustão mental, sua mente e individualidade levados ao limite extremo onde seu próprio cérebro entrou em combustão e derreteu. Eu senti mais horror por ver o que poderia ter acontecido comigo mesma se eu não tivesse mais forte do que tristeza por eu ter sido a causadora daquela morte; heróis não deveriam matar. Mas crianças também não deveriam entrar em guerras.
-Mas no que caralhos você tá pensando? Por que tá calada? Te fiz uma pergunta, porra. - foi a voz de Katsuki no outro lado da linha que me despertou dos meus pensamentos, me fazendo acordar para a realidade e torcer o nariz. Vinte anos já tinham se passado desde aquela guerra; muita coisa mudou e definitivamente as coisas estavam bem melhores agora, mesmo que ainda aparecessem vilões ruins o suficiente para me darem dor de cabeça. Me irritava ainda mais quando Shoto e eu ficávamos tanto tempo sem nos ver por causa de nossa agenda desconexa de super heróis. Katsuki não tinha esse problema, já que vivia arrastando a pobre Azami consigo quando ia passar dias foras em alguma missão. E depois ele ainda tinha coragem de me julgar quando eu reclamava de saudades, mesmo ele não conseguindo passar um dia longe dessa mulher!
Bom, não que eu possa o julgar. Azami é uma das minhas melhores amigas e definitivamente é totalmente compreensível o motivo de Katsuki a amar tanto. Mesmo com suas personalidades horrorosas, eles dois melhoraram um pelo outro. Eu realmente tinha orgulho da pessoa que Katsuki tinha se tornado ao longo de todos esses anos.
Mesmo que agora ele estivesse me xingando pelo celular.
-Ai, não fode. - retruquei enquanto me levantava do sofá para ir até o quarto de Fuyuki. -Pode vir a hora que quiser, eles já jantaram. Shin pode dormir aqui sem problemas. Você já tá em casa?
-Tô. E não, a gente já vai ir buscar ele. - Katsuki retrucou, me fazendo rir.
-Não consegue ficar um dia sem seu filho, Kats? - zombei. Praticamente podia escutar ele revirando os olhos.
-Não consigo deixar ele mais que um dia com seu filho má influência, isso sim. O meu é bonzinho demais pra dizer "não" para as merdas de Fuyuki. - ele retrucou e eu fiz uma careta. Bem, isso definitivamente era verdade; Shin era tão calmo e bonzinho que era até estranho ser filho de Katsuki e Azami.
-E quem foi que fez Fuyuki ser assim? Ah, sim, exatamente, você e a Zaza! - falei fingindo estar irritada e ele riu.
-Você que deixou ele passar tempo demais com a gente. Arque com as consequências agora. - antes mesmo que eu pudesse retrucar algo, ele desligou na minha cara, me fazendo revirar os olhos.
É, definitivamente tinham coisas que não mudavam.
Eu odiava a vida adulta e todas as responsabilidades que vinham com ela. Não que eu não tivesse tido responsabilidades quando era adolescente, pois quando você quer ser super herói, precisa ser responsável, mas agora as coisas eram mil vezes mais complicadas. Isso sem contar a agenda cheia com poucos dias de folga e às vezes nenhum. Mas acho que esse é o preço que se paga por ser uma das super heroínas mais fortes do país: não ter vida social e tempo para algo.
Mas definitivamente não me arrependia de nada.
Fui até o quarto de Yumi primeiro. Ela já estava deitada em sua cama, dormindo tranquilamente. Definitivamente ela era uma cópia exata de Shoto, calma e que jamais tinha me dado um pingo de trabalho, totalmente diferente de Fuyuki, que era o caos em pessoa. Para uma criança de cinco anos, Yumi era um verdadeiro anjo. E Fuyuki, com seus sete, era o pesadelo das professoras.
Quando entrei no quarto de Fuyuki, a primeira coisa que consegui pensar, era no quanto eu estaria fodida quando Katsuki chegasse. Fiquei branca que nem uma folha de papel vendo os cachos escuros do cabelo de Shin no chão, e as lágrimas nos olhos vermelhos do meu afilhado.
-Fuyuki! - gritei irritada e o filha da puta ainda teve coragem de me olhar como se não tivesse feito nada. -Dá pra me explicar o que é isso aqui?! - falei irritada, arrancando a tesoura das mãos de Shin. -Fale, agora!
-Mas mamãe, eu não fiz nada! Foi ele que quis cortar o cabelo! - Fuyuki retrucou, mas eu conseguia ver a mentira naqueles olhos heterocromaticos.
-Você quer mentir pra uma telepata, Fuyuki? Consigo ver que foi sua influência, sua praga! - falei irritada, querendo o atirar pela janela. Ele ainda teve a cara de pau de fazer força para não rir. Deus, o que fiz pra merecer isso?! -Está de castigo. Quando seu pai chegar, vamos ter uma séria conversa.
-Mas mãe! - ele começou, tentando me convencer com aquela lábia que uma criança de sete anos não deveria ter. Mas eu o ignorei enquanto me aproximava de Shin e ele estendeu os braços em minha direção para que eu o desse um abraço, o que não hesitei antes de o fazer.
-Madrinha, não briga com o Fuyu, fui eu que cortei. - ele disse baixinho, tentando conter suas lágrimas. Sabia que isso era só ele tentando livrar a barra do meu filho terrível, então apenas bufei enquanto passava a mão pelo cabelo picotado de Shin. Meu Deus, Katsuki ia me matar!
-Shin, não tente livrar seu amigo. Mentir é feio. - retruquei e ele fez um biquinho. -Vamos, Fuyuki, vá deitar agora.
-Mas e o Shin? - ele protestou. Apenas o dei uma olhada.
-Seu padrinho tá vindo buscar. Se eu fosse você, já estaria dormindo quando ele chegar. Ou vai querer tomar bronca dele? - falei arqueando a sobrancelha e o arregalar de olhos dele foi o suficiente pra responder minha pergunta. Fuyuki praticamente correu pra fora do quarto para ir escovar os dentes e se deitar e eu ri enquanto guardava as coisas de Shin em sua mochila e ia com ele para a sala.
Olhei para Shin por um instante. Ele claramente estava pra baixo por causa do cabelo destruído. Por Deus, eu só queria saber o porque ele sempre fazia as idiotices que Fuyuki queria fazer! Minha vontade era de dar a tesoura na mão de Shin e mandar ele cortar o cabelo comprido de Fuyuki, mas sabia que ele não faria isso. Era bondoso demais e amava demais Fuyuki pra fazer algo do tipo. Afinal, eles eram melhores amigos desde sempre.
-Querido, cabelo cresce. - falei, passando os dedos pelos fios que tinham restado. -E você continha lindo e adorável. - falei, dando um beijo em sua bochecha que o fez sorrir. Shin definitivamente era um raiozinho de sol, mesmo que tivesse vergonha demais e fosse tímido demais pra deixar o mundo ver.
-Mas que merda aconteceu com o cabelo do meu filho?! - tomei um susto quando escutei a voz de Katsuki. Não sei quem arregalou mais os olhos, Shin ou eu, enquanto nos viravamos para ver ele parado no meio da sala com Azami e Shoto. Merda. Eu nem tive tempo de arrumar uma desculpa. Esse era o ruim de morar tão perto de Katsuki e Azami, eles sempre chegavam muito rápido!
-Katsuki, cala boca. - Azami disse, enfiando o cotovelo nas costelas dele. A mulher de cabelo preto se aproximou de Shin, o cenho franzido em confusão enquanto passava os dedos pelo cabelo dele. -O que aconteceu aqui, meu amor?
-Fuyuki disse que ia ficar mais bonito. - ele falou baixinho. Azami apenas arqueou a sobrancelha e me olhou e eu sabia que ela queria muito rir. Mas ao mesmo tempo também queria me bater por ter deixado aquilo acontecer.
Não dava pra julgar.
-Foram cinco minutos! Cinco! - me defendi. Katsuki me fuzilou com os olhos enquanto puxava Shin para seu colo.
-Tá vendo? Por isso não da pra deixar Shin com Fuyuki por mais que um dia. - ele zombou. Revirei os olhos. -Cadê ele, hein?
-Fingindo estar dormindo pra não apanhar de você. - retruquei e Katsuki riu.
-Como se ele um dia fosse bater no afilhado favorito dele. - Azami zombou.
-Favorito e único, né. - retruquei. Azami riu, me empurrando de leve.
Por mais que eu quisesse que eles tivessem ficado mais tempo, a visita deles foi breve demais para o meu gosto. Segundo Azami, eles precisavam ir pois iriam viajar no dia seguinte para visitar Kirishima e Aki. E, de qualquer forma, Shoto e eu teríamos uma longa conversa sobre como lidar com mais uma pérola de nosso filho terrível.
-Não sabia que você voltava hoje. - falei me aproximando de Shoto e afundando os dedos em seu cabelo. Ele fechou os olhos e suspirou baixinho, me puxando para mais perto de si.
-Nem eu. - ele murmurou, me fazendo rir. -Fuyuki aprontou de novo?
-Quando ele não faz isso, Sho? Eu realmente não sei mais o que fazer com ele. - suspirei com uma careta. -Me pergunto se quando ele for mais velho vai ter amigos, porque do jeito que tá indo, vai ser odiado por todos. E vai acabar perdendo o Shin também!
-Acho que você tá exagerando. - Shoto disse com um meio sorriso e eu revirei os olhos. Sabia bem demais o que ele estava pensando, por isso o ignorei enquanto íamos para nosso quarto. -Fuyuki pode até ser terrível, mas ele faz a maioria das coisas que faz pra chamar a atenção.
-A de quem? Porque a nossa ele sempre teve. - retruquei enquanto me trocava. Ele apenas deu de ombros.
-Do Shin.
-Aff, como se ele precisasse disso. - revirei os olhos. Shoto apenas me olhou.
-Você era assim quando a gente era criança. - ele retrucou. Eu torci o nariz.
-Ah, mas era diferente, eu gostava de você de outro jeito! - reclamei. Shoto apenas arqueou a sobrancelha pra mim. Arregalei os olhos quando entendi. -Não! Será?
Ele deu de ombros.
-Daqui uns anos a gente descobre.
Eu ri enquanto o puxava para perto de mim. Antes que Shoto pudesse dizer alguma coisa, eu o beijei.
Na época da guerra, achei que fosse morrer. Eu estava pronta para isso e aceitaria de coração aberto se significasse trazer a paz para nosso país. Jamais me permiti sonhar em ter aquele futuro com Shoto. Agora, eu era grata por tudo o que tínhamos juntos.
-No que você tá pensando tanto? - Shoto perguntou, dando um beijo carinhoso na minha bochecha. Eu apenas sorri para ele.
-No quanto eu amo você. - falei baixinho. E ele sorriu. Eu amava o sorriso de Shoto; amava o como ele tinha se tornado mais frequente com o passar do tempo, depois que nos casamos, com o nascimento de Fuyuki e depois o de Yumi. Amava o como tínhamos construído nossa família e nos tornado os pais que desejávamos ter tido.
-Eu também amo você, Atsuko. - ele disse de uma forma que me fez estremecer. Não importava quantos anos passassem, eu sempre sentiria a mesma coisa por Shoto. Ainda sentiria o coração bater mais forte e o corpo arrepiar. Jamais conseguiria me livrar de tudo o que me fazia o amar tanto assim. -Mais do que tudo no mundo.
Segurei as mãos de Shoto nas minhas e me inclinei para o beijar mais uma vez. E de novo e de novo. E eu poderia fazer isso para sempre.
E eu sabia que não importava quantos obstáculo nós tivéssemos em nosso caminho futuramente, pois eu sabia que eles viriam. Não importavam as provações que Fuyuki e Yumi nos trariam todos os dias. Não importava quantos vilões tivéssemos que enfrentar ou quantos dias tivéssemos que passar longe um do outro. O que importava era que estávamos juntos. E que nosso amor jamais iria se esgotar.
E foi assim que me tornei uma das melhores heroínas do país. Não sozinha, definitivamente. E se tem algo que aprendi durante todos esses anos e depois de tudo o que passei, é que o amor é a arma mais poderosa de todas. E que ele pode definitivamente nos tornar bem, bem mais fortes.
Sim, esse é o final
E eu não quero morrer, tá? Sei que ninguém tava esperando isso e que foi muito repentino, mas vou explicar os motivos
Eu me senti muito desanimada com a fanfic nos últimos tempos, por isso fiquei tanto tempo sem atualizar. Pra mim nada ficava bom o suficiente e como começou a ficar cheia de leitor fantasma, eu fiquei muuuito desanimada em continuar. Minhas ideias todas foram morrendo e eu simplesmente não conseguia mais escrever nada! Tanto que acabei Hot Chocolate antes dessa fanfic, qual o sentido? Nenhum!
De qualquer forma, eu não queria deixar a história da Atsuko sem um final, porque amo ela! Atsuko é muito importante pra mim, queria dar um final digno pra ela :(
E, sim, tem a possibilidade de eu continuar o que falta depois que o mangá for concluído, então esse é um final que não é bem um final. Eu ainda tenho planos e ideias pra Atsuko. Mas como não sei se vou desenvolver, achei justo dar um "final" pra não deixar vocês sem nada!
Enfim, espero que me perdoem e que tenham gostado tanto da Atsuko quanto eu amo ela 🥺
Prometo que ainda teremos vários especiais e afins <3
~Ana
Data: 29/01/23
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