AKIRA

Ele estava claramente sem graça e sem nem mesmo saber por onde começar, e dava para notar isso pela forma como levou os dedos até os cachos loiros de seu cabelo e os bagunçou de leve, evitando fitar meus olhos por um instante, suas bochechas se tingindo de vermelho. Eu apertei a alça da minha mochila com um pouco mais de força, desejando apenas poder desaparecer dali o mais rápido possível, ainda mais quando um silêncio constrangedor se estendeu entre mim e meus amigos que pararam de conversar para prestar atenção na cena que se desenrolava a nossa frente. 

-Desculpa te atrapalhar, mas é que eu não sabia se ia ter outra chance de tentar falar com você, mas agora sinto que comecei tudo da forma errada e tô sem saber exatamente o que falar, ai, fiquei nervoso. - ele disse tudo de uma vez, fazendo uma careta um pouco engraçada que teria me feito rir se a situação não fosse tão tremendamente catastrófica. -Tudo bem, você deve estar muito confusa, né? Eu nem me apresentei direito, eu sou o...

-Akira. Meu irmão mais velho. Eu sei. - eu falei, o cortando. Minha intenção não era ser grossa, mas soou mais ríspido do que o planejado. Mas isso não o fez recuar, não quando ele apenas deu um sorriso sincero antes de assentir, como se o fato de eu saber que ele era meu irmão amenizasse boa parte do desespero e da vergonha dele naquele momento. 

-Sim. Eu queria ter falado com você antes, mas sei que você odeia a mamãe então fiquei pensando que talvez fosse melhor te deixar em paz, mas a gente meio que estuda na mesma escola, e eu queria muito te conhecer melhor já que nunca tive a chance, e tem tanta coisa que eu queria que você soubesse e...- ele era muito agitado. Em um nível que beirava ao absurdo, o que me fez torcer o nariz enquanto os pensamentos rápidos e sentimentos fortes de Akira me atingiam em cheio, me fazendo até mesmo perder o rumo da minha vida por um instante enquanto tentava falhamente acompanhar o ritmo dele. 

-Desculpa, mas...- eu falei, o cortanto por um instante, o que fez Akira fixar aqueles olhos em mim. Era como olhar para a porra de um espelho, um pouco assustador demais. Com um suspiro, eu levei a mão até minha nuca, querendo apenas desaparecer dali. -Não sei se é uma boa ideia me aproximar de você.

-Atsu-chan, não seja tão cruel! - meus amigos falaram, perplexos, e eu fiz uma careta.

-Não me levem a mal assim!- reclamei antes de me virar de volta para Akira. -Quer dizer, eu quero saber quem você é, até porquê, temos algo que nos une. Querendo ou não, você é meu irmão. Mas eu não te conheço. Tudo o que eu sei, é que aquela mulher me abandonou, levou você com ela e eu fiquei para trás com um pai que morreu logo depois, me deixando aqui nessa merda totalmente sozinha.

-Olha, Atsuko, entendo sua frustração, de verdade. Eu tinha dois anos quando nossa mãe foi embora, eu nem mesmo sabia que você estava viva até ela voltar para o Japão. - ele disse, me fazendo piscar os olhos, surpresa. Um tipo de mágoa diferente me atingiu em cheio, ameaçando me quebrar por completo mais uma vez. E foi ver aquela mesma mágoa nos olhos do meu meio irmão que me fez compreender que ele não tinha o porque receber minha rejeição. Ele não tinha culpa de absolutamente nada. -Tem muita coisa que você não sabe. E eu não quero te forçar a me conhecer, sério. Mas, se um dia você estiver aberta para isso, eu ia gostar muito de saber quem você é.

O sorriso de Akira era sincero e era tão brilhante que poderia cegar uma pessoa. O suficiente para quebrar uma parte daquela barreira que eu tinha construido para impedir que pessoas do passado entrassem de volta na minha vida, e me peguei sorrindo de volta para ele antes de assentir.

Não precisei dizer nada; não precisei dizer que ainda precisaria de um tempo para isso, pois Akira pareceu entender perfeitamente antes de apenas se despedir e ir embora, me deixando para trás e completamente pensativa.

-Vocês poderiam pelo menos ser um pouco mais discretos nesses pensamentos de merda, né, pessoal. - falei com sarcasmo enquanto passava pelos meus amigos e automaticamente todos desviaram o olhar, um pouco desconfortáveis. Eu apenas suspirei. -Não podem me julgar se não sabem o que é ser rejeitado pela própria mãe. Me deixem em paz com meus probleminhas familiares.

-A gente não tá te julgando, Atsu! É que seu irmão parecia uma pessoa legal, só isso. - Yao-Momo justificou e eu apenas dei de ombros, fitando o céu por um instante antes de franzir o cenho.

-Eu sei, eu senti isso. Mas também tem algo estranho, não sei explicar. Dá pra sentir a honestidade dele, mas também sinto que tem algo que ele quer desesperadamente colocar pra fora. Sei lá. Pode ser apenas impressão minha. 

-Certeza que é impressão? Você não é o tipo que tira conclusões precipitadas, Atsu-chan. - Tsuyu falou me olhando e eu apenas assenti para ela.

-O mundo todo parecia amar meu pai antes de ele morrer, mas quando olho para aquela mulher que me recuso a chamar de mãe, quando olho para  Akira, o que sinto vindo deles é um medo tão profundo que me deixa assustada. E eu não sei se quero descobrir a verdade sobre o porque eles sentem isso. - ai estava toda a minha honestidade. O porque eu ainda insistia em evitar que o passado me atingisse com força. Porque eu não queria perder a imagem que tinha construído sobre meu próprio pai, eu não queria descobrir o porque minha mãe o odiava tanto ao ponto de me abandonar com ele ao se dar conta que minha individualidade era ainda mais forte que a dele.

-Ah, relaxa aí. Sem papos tristes, pelo amor de Deus! - Kaminari falou e, então, abriu um sorrisinho para mim. -Agora você podia começar a falar que merda é essa entre você e Bakugo, né?

-Porque você não vai, sabe, tomar no cú?- falei arqueando a sobrancelha para ele enquanto andavámos juntos, tentando não ligar muito para o fato de que Shoto estava fazendo de tudo o possível para se manter o mais afastado de mim que conseguia, conversando com Midoriya e definitivamente me ignorando.

-Qual é, Atsuko! Eu perdi uma aposta por sua causa!- ele reclamou, apontando o dedo para minha cara. Dei um tapa na mão de Denki, o fazendo chiar e choramingar antes de massagear sua mão.

-Eu não mandei apostar sobre mim, babaca!- gritei com irritação e ele fez uma careta enquanto Ashido começava a rir junto de Jiro.

-Você tá até parecendo o Bakugo! Que inferno, cadê aquela garota que parecia mais uma batata antissocial que só tinha um amigo? - ele reclamou e eu dei um sorriso cheio de sarcasmo para Denki.

-Você quer mesmo que eu transforme seu cérebro em geleia, né? - eu disse fechando o punho com força e dando um sorriso falsamente gentil para ele.

-Para de chorar, Kaminari! Você que foi burro e apostou da forma errada, agora pode passar o dinheiro pra gente. Você também, Tooru. - Jiro disse, estendendo a mão na direção dele. Eu revirei os olhos.

-Fico feliz de ver que estão lucrando as minhas custas, seu bando de otário. - reclamei, pensando seriamente em roubar das mãos de Jiro o dinheiro que Kaminari jogou para ela. 

-Você estragou minha fanfic! Eu nunca vou te perdoar por isso, Atsu-chan! - Hakagure disse de forma dramática e eu apenas arqueei a sobrancelha.

-Vocês que estão se emocionando. Eu nunca disse que tô namorando com a biribinha. - falei e automaticamente Bakugo se virou na nossa direção, semicerrando os olhos para mim. Eu arqueei a sobrancelha para ele, o ameaçando a me contrariar. -Você nunca me perguntou nada. - falei para Bakugo e ele revirou os olhos, voltando a prestar atenção em Kirishima. Ou pelos menos fingir muito bem que tava prestando atenção no de cabelos vermelhos já que eu tinha certeza que o ouvido de Katsuki estava aqui na minha conversa.

-Isso já não deveria estar subentendido se vocês tão de rolo?- Kaminari perguntou cruzando os braços. -E quando isso aconteceu pra começo de conversa? Vocês se odeiam! Ou pelo menos deveriam se odiar, droga!

-E isso lá é da sua conta, Kaminari? Para com isso, se fosse minimamente inteligente, você teria percebido! - retruquei e ele fez um biquinho. Mina riu.

-Achei que tivesse sido escolhida pra fazer a prova com Midoriya e ele porque você não se davam bem com Bakugo! - Denki retrucou e eu suspirei.

-Na verdade estava meio óbvio que foi porque Atsuko é a única que o Bakugo escuta de verdade. - Yao-Momo disse e eu fiz uma careta. Tudo bem, dava para esconder as coisas dos outros, mas Yaoyorozu além de extremamente bonita também era extremamente inteligente. -Se você parasse pra pensar nisso...

-Yao-Momo! Devia ter me falado isso antes de eu ter feito uma aposta, droga!- Kaminari gritou e eu acabei dando risada, balançando a cabeça.

Porque disse isso?

Arqueei a sobrancelha, mesmo que Katsuki não fosse ver já estava lá na frente com os outros. Eu apenas dei de ombros, mesmo sabendo que ele também não ia ver.

Você nunca disse nada sobre a gente, ué. Eu não tenho bola de cristal, Katsuki. Se você não falar o que quer, eu não tenho como saber.

Silêncio; foi isso que recebi em resposta, e fiquei com um pouco de medo de o ter chateado de alguma forma, mesmo que essa não tivesse sido minha intenção.

Katsuki...

Então namora comigo, ué.

Não era um pedido, o que me fez piscar os olhos e franzir o cenho. Acabei soltando uma risada sem querer, o que fez as meninas e Kaminari me olharem estranho, e também fez Bakugo se virar para me fitar com os olhos vermelhos.

-Deve ser por isso, então, que ninguém notou nada! - Uraraka quase gritou, apontando para mim e me fazendo tomar um susto. -Vocês ficam conversando telepaticamente, não é? Você tá sempre na mente dele, não é?

-Ochako! - reclamei, sentindo minhas bochechas pegando fogo.

-Isso faz muito, muito sentido. Poxa vida, Atsuko, porque você não pode agir que nem uma pessoa normal? - Kaminari choramingou, ainda sem aceitar sua derrota na aposta. -Porra, e eu caí na pilha da Hakagure que disse que você e o Todoroki se gostavam e só não tiveram coragem de admitir!

Desviei o olhar, sentindo algo estranho dentro do peito. Kaminari não tinha papas na língua, falava o que vinha na mente, sem nem perceber que certas palavras podiam ter impacto. Como essas. Não era como se eu nunca tivesse pensado em Shoto de outra forma. Até porque, eu nunca o vi como um irmão, apesar do que todos achavam. Mas tinha tantos contras que eu preferi ir pelo caminho mais fácil: ignorar e deixar para lá. E eu estava fazendo isso de uma forma linda até começarem a falar demais sobre isso!

-Ah, cale a boca, aceita que você estava errado. - Jiro disse e Kaminari resmungou, me olhando meio atravessado. Como se eu super pudesse controlar o que eu sentia! E eu não mandei ele agir que nem um idiota e ficar fazendo aposta com as meninas sobre a porra da minha vida amorosa que nem existia até pouco tempo atrás. Honestamente, eles são todos uns malditos, amigos da onça!

E o que eu sentia, afinal? Minha vida era tão, tão confusa. Era como se ela nunca ficasse completamente calma, sempre catastrófica e caótica.

Ignorando a discussão que se estendeu entre eles por causa de dinheiro, arrisquei olhar na direção de Shoto. Os olhos dele estavam em mim, mas ele desviou rapidamente ao se dar conta que eu o estava olhando. Ele estava claramente magoado comigo, e eu não entendia exatamente o porquê.

Deus! Porque minha vida tinha que ser tão bagunçada assim?

Boa noite povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Nada a comentar sobre esse cap, enfim, apenas mais um caos na vida da Atsuko

Sim, terceira atualização do dia, gostaram? Hoje me senti muito graciosa e produtiva KKKK

Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!

Espero que gostem <3
~Ana

Data: 01/08/22