𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
TOYA TODOROKI
Eu sabia que ia morrer. Era apenas uma questão de tempo para que meu corpo começasse a parar de funcionar e meus orgãos não conseguissem mais trabalhar. Eu sabia muito bem disso, assim como sabia que era questão de dias para que tudo acabasse se eu não conseguisse arranjar uma forma de sair de dentro da mente de Dabi. Quanto tempo já tinha se passado? Quanto tempo ainda me restava? Eu não sabia, mas já estava começando a desistir.
Presa dentro daquela parte escura na mente do vilão, era como estar em uma solitária sem nenhuma brecha para escapar. Era vazia, sombria e tão fria que seria capaz de congelar os ossos. Não tinha como sair daquele lugar, e mesmo que eu tivesse tentado desesperadamente achar qualquer rachadura que fosse, não consegui absolutamente nada. Como se Dabi soubesse exatamente o que estava fazendo e estivesse se divertindo me mantendo presa lá dentro.
Quando minha individualidade despertou, foi graças a raiva que a fez funcionar, a dor e todos os sentimentos negativos juntos. Com o passar do tempo, me dei conta que tudo ficava mais intenso quando eu estava sentindo coisas ruins, o que era péssimo. Mas agora, nem mesmo com meu mais profundo desespero, eu conseguia força o suficiente para escapar, e acho que isso se dá ao fato que uma parte de mim já tinha perdido completamente as esperanças de conseguir escapar com vida da mente daquele vilão. Não quando estava nítido que nem mesmo toda a minha força seria o suficiente para me livrar daquele lugar.
Encolhida em um canto daquela sala escura, não conseguia deixar de pensar em Shoto. No desespero do olhar dele ao perceber o que tinha acontecido comigo e que logo eu teria uma morte cerebral e todos os meus orgãos iam falhar. Que era questão de tempo até eu morrer, porque Shoto sempre soube que isso era bem possível de acontecer se eu parasse dentro de um cenário igual ao que eu estava agora. A culpa nos olhos heterocromáticos de Shoto foi óbvia para mim naquela fração de segundos, porque ele não esteve lá para impedir aquilo de acontecer. E eu queria poder dizer que estava tudo bem e que nada daquilo jamais seria culpa de Shoto.
E ainda tinha Bakugo; Bakugo, que tinha sido levado pela Liga dos Vilões, e agora eu não fazia a menor ideia do que tinham feito com ele, se ele estava bem, se os profissionais conseguiriam achar ele, o que aconteceria... Se pelo menos Katsuki ficasse bem, a salvo e vivo, era isso que importava. Eu podia morrer em paz se ele pelo menos estivesse bem e longe das garras daqueles vilões malditos!
Mas quem eu queria enganar, afinal? Eu não queria morrer. Não sem antes me resolver com Shoto, saber que Katsuki e os outros estavam bem, não sem ter provado meu valor como super heroína e ter me tornado tão forte quanto meu pai costumava ser. Não sem ter saido com Akira e criado uma relação com ele, não sem antes poder perdoar minha mãe por todo o mal que ela me causou. Eu ainda queria desesperadamente viver, mas meu tempo estava quase se esgotando. E eu já tinha desistido de tentar lutar, porque eu sabia que era inútil. Eu não iria sair daquele lugar tão cedo assim.
O que era uma verdadeira droga, pois eu ainda tinha tanta coisa para resolver e tantos arrependimentos na minha vida para dar um jeito. Eu não queria que as coisas acabassem daquela forma, não queria morrer assim sem poder ser melhor. Eu não queria morrer e fazer todos que estavam lá levarem a culpa para o resto de suas vidas. Eu não queria que Shoto levasse esse tipo de culpa para o resto de sua vida. E ainda tinha tantas coisas que eu queria poder dizer para Shoto, tanta coisa que queria resolver com ele.
Eu queria mais tempo, mesmo que estivesse bem claro para mim que isso era algo que eu já não tinha.
Será que eu teria feito as coisas de forma diferente se soubesse que ia acabar assim, desse jeito? Era até mesmo engraçado, se você parasse para pensar sobre. Em um momento, você está bem, no outro está lutando pela sua vida. Podia ser egoísta da minha parte querer sobreviver tão desesperadamente assim, mas não seria ainda mais desistir e deixar um buraco na vida das pessoas que me amavam só porque não tive forças o suficiente para permanecer lutando?
Mais uma vez, deixei minha individualidade procurar por alguma brecha, uma luz no final do túnel, mas ela apenas ricocheteou naquela parede blindada, não causando nem mesmo um arranhão na mente cruel de Dabi. Era claro que ele estava esperando que eu lutasse dessa forma, afinal, eu era uma super heroína e super heróis não desistiam nem mesmo nos momentos mais desesperadores.
Mas a cada segundo que passava e eu não conseguia sair daquele lugar, sentia que estava ficando mais e mais fraca. Será que meus pulmões já tinham parado de funcionar sozinhos e estavam precisando da ajuda de máquinas? Será que meu cérebro já tinha entrado em curto circuito? Quantas sequelas eu teria caso conseguisse sair desse inferno feito particularmente para mim?
Lute, lute, lute, eu conseguia escutar isso, esse desejo vindo do fundo de minha alma, mas do que ia adiantar? Eu já estava tão, tão fraca. Era só uma questão de tempo até tudo ruir completamente e acabar.
Pelo menos espero que acabe de uma forma pacífica e sem dor. Era só esse o meu desejo, e eu não queria que ninguém ficasse sofrendo por minha causa. Quando entramos para U.A, estávamos todos bem cientes da vida que nos aguardava. Essa era apenas uma consequência, mas, caramba... Queria pelo menos ter deixado claro para Shoto o quanto eu o amava.
-Você vai desistir assim tão fácil?- um voz soou acompanhada de uma risada suave. Mas, quando ergui a cabeça, não encontrei nada.
Meus olhos se encheram de lágrimas, pois eu conhecia muito bem aquela voz. E ela estar ali era apenas a confirmação de algo que soube no segundo que meus olhos cairam sobre os de Dabi, aquele azul turquesa que eu jamais seria capaz de esquecer, mesmo que anos, décadas, séculos tivessem se passado.
-Achei que você não fosse de desistir desse jeito, Tsu. - um sussurro no meu ouvido e eu fechei os olhos com força, desejando poder sumir, desejando que parasse de me torturar tanto e que aquilo acabasse logo. -Olha pra mim.
Eu não queria olhar. Porque olhar só deixaria tudo ainda mais real. Só me provaria quem Dabi era de verdade, e mesmo que eu já soubesse, cair na real ia me destruir de mil e uma formas diferentes.
Mas, ainda assim, eu abri os olhos para encontrar aquela imensidão turquesa bem na minha frente. Para encontrar aquele sorriso e ver aqueles cabelos vermelhos que estavam começando a ficar brancos. Do jeito que eu ainda me lembrava de Toya, lá estava ele, agachado bem na minha frente.
E só tinha um único motivo para Toya estar na mente de Dabi.
Porque, como eu já bem sabia, Toya e ele eram a mesma pessoa.
E era Toya quem estava tentando me matar.
Eu não conseguia falar, eu não conseguia sequer reagir. Ter a compreensão de que ele não só estava vivo e agora era vilão mas como também estava me matando aos poucos era como tomar um soco bem no meio do estômago. A pessoa que mais tinha me protegido agora era o motivo pelo qual eu estava a beira de ter minha vida tirada de mim.
Era como uma puta piadinha cruel do destino.
-Porque?! - perguntei, minha voz trêmula, sentindo cada vez mais vontade de apenas morrer e dar um fim naquilo de uma vez por todas. -Porque, Toya?
Não tinha nenhuma diversão no sorriso triste que Toya abriu para mim, como se aquele que eu estava vendo ali e Dabi não fossem o mesmo. Como se ele ainda fosse o meu irmão mais velho, que me protegeria de tudo e de todos, que me abraçaria quando eu estivesse com medo e falaria que tudo ficaria bem.
-Pessoas mudam, Tsu. - ele murmurou, fitando a porta blindada logo atrás de si por um instante. -Eu também tô preso aqui, sabia?
-Você tentou me matar.- eu falei e de alguma forma dizer isso em voz alta conseguia doer de um jeito ainda maior. Toya direcionou seus olhos turquesa para mim, franzindo as sobrancelhas.
-Eu não. Quem fez isso foi o Dabi.
-Vocês são a mesma fodida pessoa, Toya! - eu gritei, minha raiva fazendo todas as paredes estremecerem. -Eu sofri com sua morte! Sofri pra porra! Não teve um único dia que eu não tivesse pensado e lembrado de você, e olha só! Você nem tá morto, cacete! Tá bem vivo, sequestrou meu namorado e agora tá me matando! Meus parabéns, você odiava tanto seu pai que se tornou algo pior que ele.
Os olhos dele ficaram escuros por um instante, minhas palavras o atingindo em cheio.
Mas eu não me importei com isso, não quando cada palavra dura que saiu de minha boca era a mais pura verdade. Toya tinha escolhido aquele caminho e para mim era claro o motivo disso. E eu não iria o perdoar por se tornar isso, não quando podia ter feito tudo diferente. Ele não precisava de Enji, ele tinha a mim. Mas eu nunca fui e nunca serei suficiente para ninguém.
-Não é assim, Atsuko. - ele disse baixinho, desviando o olhar. -Eu queria que tivesse sido diferente. Mas não tem mais salvação pra mim.
-Você ainda pode fazer a coisa certa, sabia? - eu disse baixinho, esticando minha mão para agarrar a dele. Toya apenas deu um sorriso fraco.
-Não dá mais, Tsu.- ele disse baixinho. -Não tem mais salvação para mim. Eu sou ele agora. Você não pode me salvar.
Eu sabia o que ele estava querendo dizer. Toya não existia mais, tudo o que tinha restado era a imagem que eu tinha dele. Agora, ele era Dabi da Liga dos Vilões. Não meu irmão, mas sim a pessoa que estava tentando me matar. E isso apenas serviu para destruir e encher meu coração de rancor.
-Isso é o que faz alguém virar super vilão, Tsu. - ele disse como se tivesse lido meus pensamentos. -Raiva. Rejeição. E rancor. Se deixar isso te consumir, você vai cabar exatamente igual a mim. E você lutou muito para chegar onde chegou. Não deixe que seja em vão.
-Não venha agir como se fosse muito melhor que eu. - cuspi, meu coração doendo tanto que tudo o que tinha me restado era aquela raiva que queimava e destruia tudo de dentro para fora. -Se eu não posso te salvar, Toya, eu vou te parar. Eu vou te impedir de fazer seja lá o que você esteja fazendo e vou acabar com essa sua Liga de Vilões. Escute o que eu te digo. Vou acabar com o Dabi eu mesma.
Toya sorriu e ergueu uma mão para dar tapinhas no topo da minha cabeça, do jeito que fazia quando eu era mais nova. Isso fez eu ter vontade de chorar.
-Eu não duvido disso. - ele sussurrou. -Seu namorado, Katsuki Bakugo, fugiu com a ajuda de seus amigos, mas nós também fugimos. Isso não é o fim, mas o começo, Tsu. Eles estão a salvo, mas enquanto a você? Não acha que tá na hora de parar de chorar e tirar a si mesma desse lugar?
Eu apenas fitei aqueles olhos azuis mais uma vez antes de me levantar. Chorar não ia me salvar; ficar encolhida não ia me salvar; eu tive tanto medo de aceitar a verdade, de aceitar que Toya era Dabi, mas agora, era inevitável. Eu estava dentro da mente dele. Eu o tinha visto. Eu sempre soube, pois apenas Toya sabia como me manter presa. Apenas Toya sabia como me vencer.
Mas ele não me via há anos. E eu tinha evoluído muito.
Por isso, dessa vez, não me contive antes de lançar todas as minhas forças contra aquela porta blindada. Toda minha força, minha dor, minha raiva, a tristeza que corroia meu coração pela confirmação de que a pessoa que eu amei tanto tinha se tornado isso.
Eu me apeguei a aquela promessa; eu pararia Toya, não importava o que eu precisasse fazer para isso acontecer. Acabaria com ele e o faria pagar por seus erros.
E então, a parede blindada rachou. E eu finalmente consegui sair daquela sala escura.
Voltei pela terceira vez no dia, às vezes tenho esses surtos de criatividade KKK
Sim, estou escrevendo e postando fifoca enquanto minha aula da faculdade não começa, notas!!!
Atsuko sofrendo, acho lindo que o psicológico dela a cada capítulo que passa vai mais para o beleleu :')
Eu ia enrolar mais pra fazer ela se livrar do Dabi, mas como já vai ter muita depre nos próximos capítulos, não vou torturar muito vocês
Talvez eu poste mais um hoje, mas provavelmente vocês não vão gostar do conteúdo dele RISOS
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 08/08/22
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