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𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐕𝐄

SORVETE

Depois do ataque dos vilões e a prisão de alguns deles, ficamos por um bom tempo conversando com a polícia sobre tudo o que tinha acontecido. Tirando Midoriya, nenhum de nós ficou absurdamente ferido durante do ataque, o que era algo bom. No caso de Izuku, ele mais se machucava sozinho do que por ter sido atacado em si. E acho que quem mais saiu ferido nessa história, foram nossos professores, o que não nego que me deixou preocupada, mas o detetive tinha nos assegurado que a situação de Aizawa sensei era estável. Mas também não significava que era exatamente boa...

No dia seguinte, houve um recesso na escola, o que não tinha feito ninguém relaxar de verdade. Estávamos ainda preocupados demais com tudo para isso. Eu sentia uma espécie de ansiedade me consumir durante todo o momento depois daquele dia, e também não existia nada que eu pudesse fazer para tirar aquele sentimento de mim. Shoto se trancou no próprio quarto, provavelmente focado demais em se tornar um bom aluno e rejeitar Enji para querer fazer qualquer outra coisa. E tudo o que eu menos queria fazer, era ficar trancada dentro de casa, pois vente vazia era oficina do diabo.

Mas a verdade é que, além de Shoto, eu não tinha amigos de verdade. Durante meu período no ginásio, ninguém queria se aproximar muito de mim. Eles odiavam minha individualidade mais do que qualquer outra coisa no mundo, a rejeitando como se fosse a pior individualidade que já tivessem visto. Quando éramos todos crianças, costumavam me dizer que minha individualidade era perfeita para um super vilão, pois eu poderia facilmente acabar com a vida das pessoas com um piscar de olhos se eu quisesse. Até os professores pareciam sempre com o pé atrás em relação a mim, o que sempre havia servido para deixar minha ansiedade a flor da pele.

Não sei porque exatamente comecei a pansar sobre tudo isso. Sozinha em meu quarto, minha mente divagava para todos os lugares. Ficar em casa, sem absolutamente nada que eu pudesse fazer depois de tudo o que tinha acontecido, apenas servia para me deixar mais ansiosa do que tudo no mundo. Como de tudo estivesse ruindo ao meu redor e não existisse nada que eu pudesse fazer para dar um jeito. Os vilões poderiam ter feito algo bem pior do que tinham feito ontem e nós poderíamos ter nos machucado bem mais. Pensar nessa possibilidade me deixava extremamente inquieta. E também me fazia pensar se aquele havia sido de fato o fim.

Talvez tenha sido por isso que preferi sair. Até mesmo cogitei a ideia de chamar Shoto para ir comigo, mas a porta de seu quarto fechada já me dizia o suficiente sobre qual seria sua resposta caso eu o perguntasse sobre. E talvez pudesse até não ser muito inteligente sair de casa depois de tudo o que havia acontecido no dia anterior na U.A, mas eu sentia como se fosse acabar explodindo caso passasse mais um segundo ali dentro.

Sempre gostei de ter momentos sozinha, onde minha única companhia era eu mesma. Era nesses momentos em que não havia mais o pensamento de ninguém para me incomodar ou para ofuscar os meus próprios. Me sentia mais leve; como se eu pudesse resolver meus próprios problemas sem precisar me sobrecarregar com os sentimentos dos outros. Era uma droga entender e sentir tudo o que os outros estavam sentindo e não poder saber o que eu mesma sentia sobre algo. E era ainda pior quando não conseguia focar em mim mesma.

O que mais gostava de fazer, era me sentar em um banco no parque e sentir o vento bater contra meu rosto. Me trazia uma sensação de calma que eu precisava graças a minha individualidade. Ouvir apenas o sussurro do vento era uma das poucas coisas capazes de me acalmar completamente, de me fazer esquecer todo o resto.

Com um suspiro, deixei minhas mãos deslizarem pelos meus fios loiros, tentando não os bagunçar mais do que o vento já estava fazendo por si só.

Eu gostava de estudar na U.A, mas tudo isso que tinha acontecido fazia eu começar a pensar se tinha sido a melhor das escolhas. Ficar na mira de vilões não era exatamente algo positivo.

Estava pensando nisso enquanto andava distraidamente pelo parque, como se as respostas para todas as minhas perguntas pudessem ser encontradas ali. Mas foi quando senti um líquido gelado manchar minha camiseta que me dei conta que, na verdade, tudo o que eu conseguiria naquele dia, seria me sentir mal. Tive bastante certeza disso quando ergui a cabeça e fitei olhos rosa que me encaravam.

-Ah, foi mal! Você estava no meio do caminho, nem te vi. - isso era uma mentira, e eu nem precisava fazer uso da minha individualidade para saber. As risadas que as pessoas acompanhando Haruto deram foi o suficiente para me dar a certeza que ele tinha jogado sua bebida em mim de propósito. -Quanto tempo, né, Fumiko-san! Fiquei sabendo que entrou para U.A. Achei que lá fosse escola para heróis, não para vilões.

Risadas mais uma vez. Eu sentia minha individualidade querendo despertar e dar motivos para eles rirem de mim, mas dessa forma eu acabaria dando exatamente o que queria. Por isso, apenas permaneci da forma que estava: em profundo silêncio, olhando para Haruto como se nada do que ele dissesse fosse capaz de me abalar. Mesmo eu sabendo que era tudo uma farsa.

-Fiquei sabendo que a U.A foi atacada por vilões ontem. Foi você que disse para eles como entrar, né? Deve ter usado sua individualidade para enganar todos e colocar os vilões para dentro. Que coisa feia! - eles não paravam. E as risadas constantes apenas me faziam lembrar de coisas que eu desejava esquecer, daquele sentimento de que eu jamais ia ser boa o suficiente, forte o suficiente, o suficiente para qualquer um. Que sempre iam me ver como a segunda, a órfã, a deslocada, a fracassada. Eu passei tanto tempo apenas tentando fingir que nada disso me abalava mais, mas agora, estar aqui, estar nessa situação, apenas servia para me provar o quão errada eu estive esse tempo todo.

-Não vai dizer nada, aberração?

Apenas dei as costas, preparada para ir embora. Tudo o que eu menos precisava fazer, era lidar com esses imbecis riquinhos que se sentiam superior por terem individualidades fortes e serem parte da elite. Dar atenção a eles era apenas dar exatamente o que eles queriam, e eu definitivamente tinha mais o que fazer da minha vida.

Dei apenas um passo quando uma mão se fechou contra meu pulso, me puxando com força.

-Não vá achando que vai fugir da gente, Fumiko-san. - fechei o punho com toda minha força. Que se foda, pensei, me virando para dar o soco que Haruto realmente merecia tomar.

Não tive exatamente tempo de fazer isso, pois o calor de uma explosão nos cercou e fez Haruto dar um gritinho assustado. Não foi algo forte o suficiente para machucar, mas foi o suficiente para assustar, fazendo ele largar meu pulso e cair de forma patética no chão. Pisquei os olhos, surpresa ao dar de cara com olhos vermelhos me fitando por um instante.

-Saía da frente, figurante. Está no meu caminho. - Bakugo disse com aquela sua expressão de poucos amigos que faria qualquer um sair correndo. E Haruto era covarde o suficiente para levantar assustado e se afastar.

Cruze meu caminho mais uma vez e eu vou te mostrar quem é a vilã, falei na mente de Haruto, abrindo um meio sorriso para ele. O garoto arregalou os olhos, chocado. Em todo o tempo que estudamos juntos, com ele sempre fazendo da minha vida um inferno, eu nunca tinha usado minha individualidade contra ele. Certamente ele havia pensando que tinha a mente forte demais e bem protegida; eu tinha acabado de provar a ele o contrário.

-Sua esquisita! Você nunca vai ser uma super heroína com essa individualidade. - ele gritou, e eu sabia que estava dizendo isso porque estava com medo.

-Cale a boca, figurante de merda. - por incrível que pudesse parecer, foi Bakugo quem me defendeu, olhando para o garoto a nossa frente e fazendo pequenas explosões começarem em suas mãos. -Ou quer que eu te faça calar?

E como os grandíssimos idiotas que eram, eles saíram correndo de forma bem patética, me deixando apenas com raiva e uma imensa vergonha.

O silêncio se estendeu entre Bakugo e eu assim que eles foram embora. Eu apenas torci para que o idiota fosse embora de uma vez por todas, mas Bakugo não fez isso. Era quase como se ele estivesse pensando exatamente no que dizer, mas, como era péssimo com palavras, decidiu ficar em silêncio para não acabar piorando o que já estava ruim.

-Não precisava ter me defendido. Não pedi por isso. - falei um pouco estressada, trocando um olhar com Bakugo. Ele me olhou como se eu fosse estúpida, e eu estava tão, tão cansada de pessoas como ele.

-Se podia ter lidado com isso sozinha, então porque não lidou?- ele disse com irritação, o que me deixou ainda mais irritada.

-Isso não é da sua conta! - falei, agora puta de verdade. -Você nem pode julgar eles quando não é nem um pouco melhor.

Estou cansada de pessoas como você, Katsuki Bakugo.

Ele abriu a boca para retrucar, provavelmente me xingar por eu não parar de entrar em sua mente. Mas o que aconteceu foi bem pior, pois ao invés de eu apenas sair da mente dele, acabei mostrando mais do que deveria para Bakugo; o como aqueles idiotas que ele tinha espantado haviam infernizado minha vida. E o como ainda haviam marcas demais do meu passado.

Bakugo ficou em silêncio e eu me amaldiçoei por sempre acabar fazendo isso quando meus sentimentos estavam tão a flor da pele assim. Agora, eu me sentia exposta. Era como se eu acidentalmente tivesse deixado Bakugo ver o que tinha atrás do muro que passei tanto tempo construindo. O que era uma verdadeira merda.

Com um suspiro pesado, apenas me sentei no banco e afundei o rosto entre minhas mãos, fechando os olhos com força para impedir que meus sentimentos negativos saíssem em forma de lágrimas por todas as coisas que estavam acumuladas dentro de meu peito. Pensei no que falaria para Bakugo ou no como eu iria implorar para ele esquecer o que eu acidentalmente tinha o mostrado.

Mas, quando ergui a cabeça para o fitar e dizer que tudo não passava de um grandíssimo mal entendido, Bakugo não estava mais ali. Ele tinha ido embora; apenas ido embora, porque eu era insignificante nesse nível, ao ponto de ele ver mais do que deveria e não dar a mínima. Não sei porque esperava que talvez fosse diferente. Bakugo já tinha dado indícios demais que não ligava exatamente para os outros e que não precisava de ninguém. Não sei porque cheguei a pensar que ver uma parte da minha vida pudesse fazer Bakugo se importar minimamente.

Eu não queria chorar ali, no meio do parque, onde qualquer um que passasse poderia ver. Talvez eu devesse ter feito que nem Shoto e me trancado dentro do quarto pelo restante do dia, ou feito o que Endeavor queria que sempre fizessemos, que é nos matar treinando nossas individualidades. Talvez assim nada disso tivesse acontecido e eu não fosso ter que enfrentar futuras consequências por ter deixado logo Bakugo saber demais sobre mim...

-Toma.- me assustei quando um pacote gelado caiu no meu colo e principalmente ao ouvir a voz da biribinha. Ergui a cabeça, piscando os olhos para afastar as lágrimas e confusa. Bakugo estava ali novamente e me olhando de um jeito que eu não era capaz de decifrar. -Pega essa merda e para de chorar.

O "essa merda" era um sorvete de chocolate que ele tinha atirado contra meu colo. Mais uma vez, pisquei os olhos, surpresa. Achei que ele apenas tivesse ido embora, mas mais uma vez naquele dia, Bakugo estava me deixando completamente surpresa.

Não falei nada e tampouco recusei antes de abrir a embalagem e comer o sorvete em silêncio. Não sei exatamente em que momento Katsuki se sentou do meu lado, com os braços cruzados em uma pose de gente ruim que não estava combinando muito com as ações dele naquele dia. Mas eu não fiz nenhum comentário zombateiro ou algo do tipo, apenas o agradeci mentalmente por aquilo, mesmo que Bakugo me estressasse mais do que o normal.

-Você não deveria ligar para opinião de figurantes. Falam isso porque tem inveja da sua individualidade.- ele murmurou e eu me virei para o olhar. Bakugo estava olhando para frente, fazendo de tudo para não me encarar, o que me fez dar risada. -Tá rindo do que, Jean Grey?!- e agora voltamos ao normal.

-Nada, TNT.- eu respondi com um sorrisinho. -O de chocolate é meu favorito. Obrigada.

-Ah, cale a boca.- ele murmurou, o que apenas serviu para melhorar meu humor já que claramente Bakugo estava envergonhado com a situação.

Não sei por quanto tempo ficamos ali em silêncio, mas não é como se tivesse sido algo desconfortável. Na verdade, eu estava me sentindo até um pouco melhor graças a Bakugo.

-Vou pra casa. - ele disse depois de um tempo, se levantando e colocando as mãos nos bolsos da caça. -Vê se para de surtar por gente de merda, idiota.

-Espera aí.

Agarrei o pulso de Bakugo antes que ele se afastasse completamente e o puxei para que me olhasse de novo. Com um suspiro e sabendo que talvez estivesse cometendo um erro, beijei de leve a bochecha dele em um agradecimento silencioso por aquele pingo de cuidado que ele teve comigo, mesmo que Bakugo fosse um completo idiota na maior parte do tempo. Por algum motivo, nossos caminhos estavam sempre se cruzando. Hoje não foi diferente.

-O que tá fazendo, sua idiota?!- ele gritou um pouco perplexo e provavelmente com vergonha, o que me fez soltar uma risada. -Ridícula! Morra!

-Tchau, Katsuki. - cantarolei antes de dar as costas para ele e me afastar, o escutando me xingar de todos os nomes possíveis para esconder que aquilo havia o deixado desconcertado. Mas não era como se fosse fácil mentir para uma telepata.

Quando cheguei em casa aquele dia, a única coisa que conseguia pensar, era no como existiam partes sobre Bakugo que eu não conhecia. E que talvez, só talvez, ele não fosse tão completamente ruim assim.

Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Capítulo pra descontrair e foi logo cheio de tristeza com o como a Atsuko sofreu na mão de gente babaca :')
Serase finalmente ela e Bakugo vão se dar bem hmmm veremos

Votem e comentem o que estão achando, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!

Espero que gostem <3
~Ana

Data: 03/07/22

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