𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐅𝐓𝐘 𝐓𝐇𝐑𝐄𝐄
ROUBO DE MEMÓRIAS
Um imenso silêncio se estendeu entre nós após minha frase. Era como se nenhum deles estivesse mais respirando, e eu não entendia o que eu tinha dito de tão impactante assim para fazer com que ficassem naquele estado, como se eu tivesse acabado de matar alguém a sangue frio. Eu vi choque e horror naqueles olhos heterocromáticos enquanto ele se afastava de mim como se eu tivesse acabado de o dar um soco no estômago. Eu me senti mal por isso, mas não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Quer dizer, porque Fuyumi estava prestes a chorar? Porque Natsuo subitamente parou de brigar? Porque Enji parecia prestes a ter um colapso?
-Atsuko, se isso é uma brincadeira, não tem graça nenhuma! - Fuyumi disse me censurando, rezando silenciosamente para eu estar brincando.
Mas eu não estava.
Eu realmente não fazia a menor ideia de quem era aquele garoto de olhos heterocromáticos e cabelo bicolor que estava ali na minha frente, totalmente congelado no lugar. Eu sentia como se devesse o conhecer, mas não conhecia. E ele era parecido com Rei e Enji, uma mistura dos dois.
-Porque eu sequer ia brincar com algo assim? - falei, perplexa, sentindo meu coração bater de forma acelerada dentro do peito, tentando a todo custo não olhar para aquele garoto que parecia que tinha acabado de ter o coração completamente destruído. O jeito que ele me olhava, com tanta dor, machucava de uma forma que eu não conseguia entender o porque. -Desculpa, mas eu realmente não conheço ele. Eu deveria?
-O que fizeram com ela?! - Natsuo gritou, apontando para Enji. -Quem fez isso? Porque ela não lembra do Shoto? - então, meu irmão se virou pra mim, parecendo prestes a chorar. -Como você não lembra do Shoto? Vocês cresceram juntos, treinando juntos, nasceram no mesmo dia! São melhores amigos, inseparáveis! Ele é nosso irmão, Atsuko!
-Não! - Fuyumi disse, ainda mais desesperada que Natsuo, agarrando minhas mãos com força. Todos eles estavam visivelmente em estado de choque. Fuyumi segurou o anel na correntinha do meu pescoço, o balançando de leve. -Ele é mais que isso pra você, ele é seu namorado, Atsuko! Você não lembra?
Senti como se tivesse tomado um soco bem no meio do estômago enquanto olhava para o garoto parado atrás de Fuyumi. O jeito que ele me olhava, desesperado e em choque, incapaz de falar alguma coisa. O anel em sua mão direita...
Ah puta que pariu.
-Isso foi coisa do Ichiro. Aquele merda! - Enji disse irritado, calor começando a sair por conta de toda a raiva. -Ele fez isso com você!
Eu queria chorar e eu nem sabia o porque queria chorar. Quer dizer, eu não lembrava do meu próprio namorado, do irmão mais novo dos meus irmãos, alguém com quem eu cresci junto. Não tinha nenhum sentimento por ele já que era incapaz de me lembrar do que ele significava para mim, mas ver o desespero dele me deixou mal de uma forma que eu não imaginava ser possível, ainda mais depois de Ichiro e Dabi terem cruzado meu caminho.
-O Dabi... - eu murmurei, meus olhos se encontrando com aqueles olhos heterocromáticos por um segundo. Engoli em seco. Será que ele sabia que Dabi era o irmão dele? -Ele fez meu pai...
-Quê? Seu pai? Ele tá vivo? - Natsuo estava ainda mais em choque, mas eu apenas assenti em confirmação.
-"Sei exatamente o como ela vai implorar para deixarmos ela entrar na Liga. Tem uma única coisa que precisa tirar dela". Foi isso que Dabi disse para o Ichiro antes de eu apagar. - eu murmurei, esfregando meus olhos para não chorar. -Eu acho que... Foi isso.
Eles ficaram quietos. Ao mesmo tempo que a sala estava quente, também estava gelada, e eu só queria ser capaz de desaparecer daquele lugar. Entendia que eles estavam em choque e perplexos, mas... O que eu poderia fazer?
-Como ele sabia que Shoto era seu ponto fraco? - Enji questionou, me fitando seriamente.
-Não sei. - menti. -Vai fazer diferença agora? Não tenho como responder a essas perguntas se não lembro dele.
-Tudo bem, precisamos ter calma. É. Eu vou chamar o professor de vocês, talvez ele saiba alguma coisa! - Fuyumi disse, as mãos tremendo.
-Não. - o garoto de olhos heterocromáticos finalmente disse algo, chamando a atenção de todos para si mesmo. Mas ele estava olhando diretamente para mim. -Não vai mudar nada.
Ele se aproximou de mim, segurando minhas mãos com força nas dele, como se isso fosse fazer as memórias que não estavam ali voltarem. Eu me senti um pouco desconfortável com aquela situação e também triste por ele que claramente estava chateado com tudo aquilo. Se eu era namorada dele e não lembrava dele, bem, era mesmo um problemão. Eu não conseguia lidar com isso, não quando não conseguia sentir o que deveria por ele. Era chocante saber que eu já o conhecia, que o conhecia a vida inteira. Porque para mim, ele não passava de um desconhecido.
-Lembra quando você entrou na mente da sua mãe e viu que quem tinha feito um estrago ali tinha sido seu pai? E que você conseguiu desfazer isso? Não consegue fazer isso com você mesma? - o tom dele era de alguém desesperado e eu senti a dor em cada palavra. Eu só queria sair dali, daquela atenção toda e desaparecer. Ainda assim, olhei para Shoto Todoroki, alguém que eu deveria conhecer mas não sabia quem era, e assenti.
Respirando fundo, deixei minha individualidade despertar. Entrei dentro de minha própria mente, vasculhando ali para tentar achar algum vestígio de Ichiro, qualquer ponta que ele tenha deixado ali, qualquer nó que eu pudesse desfazer.
Mas não tinha nada. Absolutamente nada.
Nas minhas memórias, percebi que uma das partes que deveria estar ali estava faltando. Tinha um buraco lá. Percebi que Ichiro não deu um nó na minha mente; ele apenas roubou minhas memórias para si mesmo. As memórias, os sentimentos, as emoções, ele tinha tirado tudo o que um dia eu senti por aquele garoto de olhos heterocromáticos, não deixando nada. Absolutamente nada.
-Ele roubou minhas memórias. - falei, por fim, abrindo os olhos para fitar eles. -Não é um nó. Ele só... Tirou uma parte de mim. Foi mal. Não tem nada que eu possa fazer.
-Shoto, espera! - Fuyumi disse quando ele passou por nós e saiu. Natsuo lançou um olhar fulminante para Enji antes de seguir o garoto para fora, e eu me senti extremamente mal. Apesar de não ter sido eu a apagar aquelas memórias, me sentia culpada por não lembrar dele. -Tá, a gente vai dar um jeito nisso, né? Tem que ter um jeito! Olha aqui, vocês dois pequenos. Não se lembra de nada?
Ela enfiou uma fotografia no meu rosto, minha e daquele garoto de cabelo bicolor. Eu apenas neguei, pois não conseguia lembrar daqueles momentos. Não sentia nada.
-A gente vai dar um jeito! - não sabia se Fuyumi estava dizendo isso para mim ou para si mesma. Mas naquela noite, me senti mal como nunca tinha me sentido antes.
Tinham roubado algo de mim. E eu nem mesmo sabia dizer se era importante ou não, porque eu não lembrava. E nem sentia nada.
O caminho até a U.A foi um silêncio muito constrangedor. Claro que tivemos que explicar para Aizawa sensei o que tinha acontecido, e agora precisávamos descobrir se mais alguém tinha sido apagado da minha memória, mesmo eu achando que não era o caso. Aquilo tinha sido ideia de Toya, e depois de escutar Fuyumi narrar minha infância inteira ao lado do Todoroki mais novo, conseguia entender o porquê Toya tinha falado para me fazer esquecer ele. Quer dizer, se ele tinha sido assim tão importante para mim, bom, Toya tinha sido um filha da puta inteligente. Levando em conta que além de termos crescido juntos, aparentemente também éramos namorados...
Todoroki estava olhando pela janela do carro só pra não ter que olhar para mim, sentado o mais distante possível. Eu conseguia sentir o quanto ele estava se sentindo péssimo, mas não era minha culpa não saber quem ele era. Sim, eu tinha entendido que éramos muito próximos, mas se eu não lembrava disso, que sentimentos me restavam? Exatamente, nenhum.
O clima estava uma merda, um silêncio absurdo dentro do carro. Até porque, não tinha exatamente o que falar. Todo mundo já tinha se desesperado, chorado e surtado o suficiente por causa disso, agora, tudo o que restava, era aceitar que Ichiro tinha deixado um buraco nas minhas memórias. Isso me deixava cheia de raiva, por saber que eu não tinha conseguido me proteger o suficiente dele e que ele tinha conseguido tirar algo de mim. Porque? Ele achava que só porque eu não lembrava de alguém, iria entrar na Liga dos Vilões? Qual o sentido disso?
Quando chegamos na U.A, as coisas começaram a ficar um pouco piores, um pouco mais constrangedoras. Todoroki saiu do carro sem nem olhar para trás, caminhando para o dormitório. Porque além de ele ser meu amigo de infância, parte da minha família e aparentemente meu namorado, também estávamos na mesma turma. Tudo isso era tão, tão estranho para mim.
Acho que foi um pouco pior quando entramos e todos estavam tão eufóricos por me verem bem depois de tudo o que tinha acontecido que fez eu me sentir ainda pior do que já estava me sentindo. Aizawa sensei teve que impedir eles de se aproximarem antes que me engolissem em um abraço apertado, e eu teria muito aproveitado esse momento se não tivesse me sentindo um lixo.
Todos ficaram confusos vendo Todoroki apenas desaparecer em direção aos quartos, mas estavam totalmente focados em mim naquele momento.
-Tem algum deles que você não sabe quem é? - Aizawa sensei perguntou, me encarando.
A confusão dos meus amigos foi imensa. Eles pararam de ficar agitados, todos me olhando sem entender o que as palavras de Aizawa sensei significavam. Mas eu apenas neguei, porque lembrava de cada um dos meus amigos ali e de tudo o que tinha passado com eles.
-É só o Todoroki que eu não sei quem é. - falei, por fim.
Silêncio. Mais uma vez naquele dia, fui recebida com um silêncio de velório enquanto alguns deles entendiam o que eu tinha dito e outros tentavam processar minhas palavras.
-Ai meu Deus. - Yao-Momo foi a primeira a se pronunciar, me olhando com choque enquanto levava a mão a boca, como se aquela fosse a pior notícia que ela já tinha recebido na vida.
-Como assim?! - Mina e Kaminari gritaram, fazendo meus ouvidos doerem. Eu apenas fiz uma careta, olhando para o sensei em busca de ajuda.
-Escutem bem e com atenção. Não vou entrar em detalhes sobre isso, porque diz respeito apenas a Atsuko e ao Todoroki, então sejam respeitosos a respeito. Atsuko não sabe quem é o Todoroki, pois teve as memórias roubadas por um dos vilões da Liga. Fim da história. Não perturbem ela e nem ele sobre isso, já é algo ruim o suficiente para ambos. - Aizawa sensei disse seriamente, olhando para cada um. -Vão dormir. Não há nada que possa ser feito hoje. Descansem e amanhã conversamos.
O sensei lançou um olhar duro para cada um antes de apertar meu ombro e sair. Meus amigos ficaram estáticos, como se não fossem sequer capazes de se moverem tamanho era o choque que sentiam naquele momento.
Senti uma mão fechando ao redor do meu pulso e me virei para fitar olhos vermelhos. Tinha uma clara pergunta ali, que eu respondi arqueando a sobrancelha.
-Sim, eu sei quem você é, Katsuki. - falei torcendo o nariz. Ele fingiu não estar aliviado, mas eu literalmente conseguia escutar os pensamentos dele.
-Grande merda. - ele murmurou e eu ri.
-Atsuko, como você pode estar tão calma em relação a isso? Roubaram suas memórias! Do seu namorado! - Kirishima disse me olhando seriamente e eu fiz uma careta.
-É o que ficam me dizendo! Mas o que vocês esperavam, que eu tivesse chorando? Tipo, sim, eu entendi que tenho uma puta história linda com ele e tals, mas o que querem que eu faça se eu não lembro? Pra mim, ele é literalmente alguém que acabei de conhecer! - falei com indignação, estendendo as mãos para cima. -Culpem meu pai por ter feito isso comigo!
-Como assim?! Desculpa te lembrar isso, mas seu pai morreu quando você tinha quatro anos. - Mina disse e eu revirei os olhos.
-Atualização: o vilão que tava com o Dabi tentando me matar era o meu pai. - eu disse, esfregando minha testa. Esse papo estava me dando dor de cabeca. -Aparentemente, Endeavor mentiu a vida toda pra mim e meu pai tava muito bem vivo preso no Tartarus. Surpresa! Ele é da Liga dos Vilões agora.
-Quê?! - Midoriya praticamente gritou, me fazendo torcer o nariz. -Meu Deus! Isso gera tantas perguntas!
-E ela não vai responder mais porra nenhuma pra vocês! - Bakugo disse com irritação, olhando feio para todos eles. -Vocês enfiaram a noção no meio do cú, foi? Ou nem escutaram o que o sensei disse? Olhem pra cara dela de quem não quer ficar entrando em detalhes! Parem de ser um bando de figurantes de merda! Virem gente, porra!
-Ah, olha só quem fala. - Kaminari resmungou e recebeu um olhar mortal.
Não tive tempo nem de dizer boa noite porque Katsuki agarrou meu pulso e me arrastou em direção aos quartos, como se fosse me forçar a ir dormir eu querendo ou não. Apenas fiz uma careta, mas deixei ele me levar. Afinal, ele estava certo: eu realmente não queria ficar falando sobre o que tinha acontecido e sobre Todoroki.
-Se não quiser falar sobre, não precisamos falar sobre. - Katsuki disse assim que paramos na porta do meu quarto e ele se virou para me fitar. -Mas independente disso, eu vou estar aqui se precisar, sabe disso, não é?
Eu sorri para ele e assenti.
-Eu sei, Katsuki. Eu sei.
Tudo tinha virado completamente de cabeça para baixo. E o que me restava era apenas continuar seguindo em frente. E ver onde isso ia dar.
Bom dia povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Postei e saí correndo, por motivos de que não quero ser morta e infelizmente estou entrando no trabalho agora nesse sábado lindo que eu podia estar na praia mas tô tendo que aguentar criança gritando ;')
Sim, eu deixei a fic toda fodida só porque minha vida é fodida, gostaram?
Prometo que as coisas vão ficar menos agitadas nos próximos capítulos depois que vocês aceitaram que shoatsuko não existe mais ;)
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 27/08/22
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