𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐅𝐓𝐘 𝐅𝐎𝐔𝐑
0 MEMÓRIAS
MIL SENTIMENTOS
Todos estavam agindo como se eu fosse uma grande coitada por não lembrar de Todoroki, o que estava de fato me deixando extremamente irritada. Eles estavam todos preocupados e tudo isso, mas não deveriam gastar o tempo tentando descobrir se eu estava bem. Podia até parecer insensível da minha parte dizer isso, mas eu estava ótima. Aquela situação toda era só muito desconfortável, mas não significava que eu ia passar horas chorando no meu quarto. Afinal de contas, eu realmente não lembrava do garoto de cabelo bicolor, o que me fazia nutrir um total de zero sentimentos por ele. Para mim, eu tinha acabado de o conhecer. Não fazia sentido eu morrer de tristeza por causa dele, apesar de eu ficar chateada vendo ele sofrer por minha causa.
Naquela noite, quando entrei no meu quarto, percebi que de fato devia estar sendo bem complicado pra ele se dar conta que eu não possuía absolutamente nenhuma memória com ele. Olhando para a parede do meu quarto cheia de fotos, entendi um pouco mais o porquê do choque de todos. Afinal, desde que me entendo por gente, coloco fotos apenas com as pessoas mais importantes para mim. E era chocante descobrir que noventa porcento das minhas fotos grudas ali eram com aquele garoto que eu não fazia ideia de quem era.
Essa história toda só servia para dar um nó na minha mente e fazer eu me sentir um pouco culpada. Eu sei que deveria o amar ou sei lá o que esperavam, mas eu não conseguia fazer isso. Olhando para aquelas fotos minha crescendo ao lado dele até a mais recente onde eu o beijava, me fazia perceber que Toya tinha atingido em cheio o alvo para tentar concretizar seu plano. Não que eu entenda que diferença vai fazer para mim saber quem Todoroki era ou não.
Ainda assim, me sentia inquieta. Porque Toya costumava me conhecer muito bem. E se ele tivesse percebido algo que eu não e usou isso contra mim ao fazer Ichiro roubar minhas memórias? O sentimento que predominava dentro de mim era a raiva. Raiva por eles dois terem feito o que fizeram comigo e terem roubado algo que era tão meu. Como isso sequer seria o suficiente para me fazer pender para o lado deles quando tudo o que eu mais sentia era uma vontade absurda de apenas acabar com eles e os vencer de uma vez por todas? Não fazia sentido entrar na Liga dos Vilões por eles.
O que eu estava deixando passar que Toya não tinha deixado? E como diabos eu daria um jeito nessa situação péssima e catastrófica que ele tinha causado? Quer dizer, eu entendia que Toya odiava Enji e queria acabar com ele. Mas porque diabos fazer isso comigo, a pessoa que sempre o amou incondicionalmente e sempre o seguiu? Porque ele faria isso com o próprio irmão? Sim, eu entendia, Toya tinha seus problemas e todos eles gerados por Enji. Mas todos nós tivemos problemas gerados por Enji e mais nenhum de nós decidiu fingir a morte e ser a porra de um vilão!
Apesar disso, apesar de tudo, eu também sabia o conflito interno que ele estava tendo. Que tinha todas às vezes que nos encontrávamos e éramos forçados a lutar um contra o outro por estarmos de lados opostos nessa história toda. Eu passava pelo mesmo toda vez que era obrigada a ficar contra Toya. Eu sabia que uma parte dele não queria me machucar e se arrependia por causa disso, mas ele também não se importava em o fazer para alcançar seus objetivos. Se eu não estava ao lado de Toya, eu era sua inimiga, e ele passaria por cima de tudo o que vivemos juntos pelo que ele desejava. Que era, basicamente, acabar com Enji.
E ai, tinha o meu pai.
Eu não acho que as memórias felizes que tenho ao lado dele quando era mais nova foi algo que ele criou e inventou, colocando dentro da minha mente. Eu sei que, durante aquele tempo que tivemos juntos até sua suposta morte, ele foi o melhor pai do mundo para mim. Sempre arranjando um tempo para ficar comigo, me contando histórias antes que eu fosse dormir e se livrando dos monstros embaixo da minha cama. Ele era gentil e era bondoso comigo. Não era absolutamente nada parecido com a pessoa que eu tinha visto. Porque ele se tornou assim? O que o tinha levado a esse caminho?
Me machucava tão profundamente ver o que meu pai tinha se tornado, ver toda aquela imagem perfeita que eu tinha sobre ele ser destruída daquela forma. Era como se tivessem rasgando uma parte de mim e eu não sabia como colocar as coisas de volta em seu devido lugar. Eu não sabia como enfrentar todos esse sentimentos sozinha, como colocar essa merda toda onde deveria.
Eu não sabia lidar com esses sentimentos, e eu me sinto absurdamente sozinha.
Era como se eu não tivesse um maldito dia de paz na minha vida.
Minha mãe me abandonou quando eu nasci. Meu pai morreu quando eu tinha quatro anos. Eu fui adotada por Enji, uma pessoa que sempre fez eu sentir que não era o suficiente e que não tinha o menor valor. Toya, o melhor amigo que eu tinha na época, meu irmão mais velho que me protegia de tudo e de todos, morreu. Eu voltei a afundar mais e mais dentro da minha própria escuridão. E depois, Rei foi internada na clínica, o que deixou pior.
Como eu tinha enfrentado isso tudo sozinha? Eu nem mesmo sabia. Não conseguia me lembrar. Qual era a fórmula para superar os eventos mais recentes?
Descobrir que minha mãe nunca tinha me deixado, mas sim que havia sido forçada a sentir coisas ruins por mim quase me destruiu. Que isso tudo tinha sido obra de meu pai, que ele era um maldito vilão, isso fez tudo piorar ainda mais. E depois, descobrir que Ichiro estava vivo, assim como Toya, e que ambas as pessoas que eu mais amei eram monstros...
Isso estava corroendo minha alma e eu não sabia o como me livrar desses sentimentos horríveis, eu não sabia em quem me apoiar ou no que, ou o como pedir por ajuda.
No final das contas, eu talvez não estivesse tão bem quanto queria que meus amigos acreditassem. E eu não sabia o como passar por todos esses problemas, não quando a raiva e a tristeza só pareciam crescer mais e mais dentro de mim.
Pra que eu ia querer ser uma super heroína desse jeito? O mundo tá quebrado. Não existe nenhum herói que seja bom e meu pai e Enji são a prova disso, mesmo que as situações sejam diferentes. Como construímos algo melhor que isso? Ou apenas deveríamos ceder a todo o caos? Esse era o caminho mais fácil, não?
Porque eu estava pensando essas coisas e indo pra esse caminho?!
Batidas na porta desviaram minha atenção, me fazendo deixar esses pensamentos de lado. Ainda estava muito, muito cedo, um horário bem antes da aula. Mas eu sequer consegui dormir durante a noite, então não fazia a menor diferença. Fiquei pensando durante todo esse tempo sobre Todoroki e toda a história que Fuyumi tinha me narrado, sobre o como ele significava para mim e eu apenas não lembrava.
Fiquei aliviada ao perceber que a pessoa na minha porta não era ele, mas sim Katsuki. Ele arqueou a sobrancelha para mim, querendo saber o porque eu parecia tão aliviada de o ver, mas eu não disse nada, apenas o puxei para dentro do quarto.
-Porque está fazendo essa cara? - ele perguntou quando voltei a me sentar na cama. Katsuki se apoiou na escrivaninha, me olhando seriamente, mas eu apenas afundei o rosto contra meu travesseiro, me arrastando para embaixo dos cobertores mais uma vez.
-Eu só não aguento mais essa vida. - murmurei, o som saindo completamente abafado.
-Quê?! Fala com a boca, porra! - ele disse com irritação e eu me virei para fitar seus olhos vermelhos.
-Tô cansada dessas merdas acontecendo comigo! - reclamei, me sentando para ter uma visão melhor de Katsuki. Afundei os dedos nos meus cabelos, os bagunçando de forma ansiosa. -Eu tô nervosa! Todo mundo fica me olhando e dizendo que eu deveria sentir coisas pelo Todoroki, mas eu nem conheço ele, entende isso? Não tá nada fácil ou legal, Katsuki. Meu pai tá vivo e é a porra de um vilão, o irmão que eu amei com todo meu coração tentou me matar de novo, como eu lido com essas coisas? Porque não sei nem se eu consigo.
Não tinha percebido que precisava tanto colocar isso para fora. Não tinha percebido que estava chorando até Katsuki se agachar na minha frente e passar a mão pela minha bochecha pra limpar minhas lágrimas, o que só me fez chorar mais ainda. Mas, de uma certa forma, isso tirou uma parte de todo aquele peso em meu coração.
-Tá melhor agora? - ele perguntou, se sentando ao meu lado, e eu apenas suspirei antes de assentir, apoiando minha testa contra o ombro dele e fechando os olhos.
-Não faz sentido. - murmurei depois de um tempo. -Porque acham que tirar minhas memórias dele vai ser útil pra me fazer entrar na Liga dos Vilões?
Katsuki ficou em silêncio, uma de suas mãos deslizando de leve pelo meu cabelo. Mas não era um silêncio como se ele tivesse pensando em uma resposta, mas sim como se soubesse e apenas não quisesse compartilhar ela comigo, o que fez eu me afastar para o fitar, arqueando a sobrancelha para que ele falasse logo que merda estava pensando sem eu precisar ouvir seus pensamentos. Katsuki torceu o nariz.
-Olha, Atsuko, ele era bem mais que seu namorado, você já deve ter percebido isso, não? Esse meio a meio de merda era seu melhor amigo. Vocês viviam grudados um no outro, o que era um saco às vezes. Eu não tô te contando essas coisas pra fazer você ficar mal por não lembrar dele, Atsuko, mas sim pra perceber que faz sentido o Dabi ter mandado seu pai de merda tirar suas memórias dele. Se Dabi é mesmo o irmão de vocês, então ele sabe qual a relação que vocês dois tem, não é? Então ele também sabia que a única coisa que não te fazia desabar era a bolacha trakinas, não? Se ele tira isso de você, o que acontece, então?
Apenas pisquei. Por um lado, fazia sentido. Muito, até. Mas...
-Mas eu ainda tenho você. - falei, franzindo as sobrancelhas em confusão. -Quer dizer, eu não sei como minha relação com Todoroki costumava ser, mas sei como é a minha com você, Katsuki. Você é o melhor amigo que eu tenho. - Katsuki apenas deu um sorrisinho, me empurrando para o lado. -Apesar de você ter terminado comigo...
-Quer mesmo falar disso agora com suas memórias todas fodidas? - ele disse arqueando a sobrancelha para mim e eu revirei os olhos.
-Porque você terminou comigo? - perguntei de forma confusa, franzindo o cenho. Eu realmente não fazia a menor ideia.
-Puta que pariu, Atsuko. - ele murmurou, dando um longo e exagerado suspiro antes de me fitar seriamente. -Terminei com você porque você não gostava de mim do jeito que eu gostava de você. Era isso que você queria ouvir pela segunda vez? Você amava o Todoroki, ponto final. Não guardei mágoas nem porra nenhuma, mas se você ficar enchendo o saco a respeito, eu vou ficar puto.
-Nossa, Katsuki! - reclamei, o olhando com irritação. -Pega leve, porra! Eu nem mesmo lembro de gostar do garoto, então como você acha que tá minha cabeça? Caramba. Pra mim não fazia sentido ter tomado um pé na bunda, muito obrigada por esclarecer. - eu disse com um sorriso sarcástico. Katsuki bufou.
-Não fica se achando aí, vai. Eu não sinto mais nada por você, não desse jeito. - ele retrucou e eu torci o nariz antes de revirar os olhos. Ele riu da minha cara. -Você que entrou no assunto.
-Preciso de alguém pra me ajudar a preencher as lacunas, e, infelizmente, vai ser você, Katsuki. Pode se irritar o quanto quiser, mas vai ter que responder minhas perguntas. Eu não lembro, esqueceu?
-Como vou esquecer disso se vou ter que ficar olhando pra cara de cú do Todoroki todos os dias? É, eu tô bem ciente da situação, Jean Grey. - ele disse e eu apenas suspirei, esfregando a testa com força em uma tentativa falha de mandar embora toda minha dor de cabeça. -Relaxa, Atsuko. - ele falou, empurrando minha cabeça para o lado. Olhei feio para Katsuki, mas ele sorriu. -A gente vai dar um jeito, nem que eu tenha que explodir seu pai no processo. Confia.
Eu apenas sorri pra ele. Me esquecendo, por pelo menos um instante, o quanto eu me sentia vazia por dentro.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Momentinhos Atsuko e Katsuki enquanto ela tá no meio do surto dela🥺
Claro que perder as memórias ia afetar muita coisa já que a Atsuko só é quem é em grande parte por causa do Shoto :')
Se preparem porque piora <3
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 28/08/22
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