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Capítulo 29

28 de julho 

Não há nada mais doce do que o sabor único da ilusão. É fácil se perder em uma fina bolha de mentiras criadas por si próprio para justificar seus anseios nunca saciados. Hierarquias existem, é a ordem natural da vida. E não há nada mais cruel do que hierarquias emocionais. O quanto você se esforça para agradar alguém que jamais moveria um dedo por você? E você sabe, não sabe? Sabe que essa necessidade desesperada por se fazer presente é a busca desenfreada que qualquer olhar em sua direção. Um afago. Uma palavra que funciona como um farelo de pão alimentando pombos famintos. Ratos voadores. Esmolas em migalhas emocionais que alimentam os buracos na alma sem nunca saciar a fome.

E a fome jamais será saciada enquanto o olhar não for fixado na direção correta. Enquanto não parar de olhar para o outro e começar a se preocupar com suas próprias vontades. Próprias necessidades. Com seu próprio futuro. A mão que afaga sua cabeça, condescendente, é a mesma que bate e arranca um pedaço da sua autoestima dia após dia, a cada palavra ácida. Palavras que contaminam sua alma sem que você perceba, que trespassam suas barreiras e invadem suas certezas. E, quando menos se percebe, está envolvido na teia de vontades e maldades daquele que te controla.

Um monstro não deixa de ser um monstro só porque sorri para você.

O ar era frio demais para que qualquer conforto fosse possível. Era como se a punição começasse ali, nos corredores mal iluminados da delegacia enquanto repassava em sua cabeça as mentiras contadas e histórias inventadas, enquanto esperava Pedro ser liberado.

Sentada no banco desconfortável que fazia seu corpo inteiro doer, Bianca encarava os olhos inquietos da amiga, sentindo seus próprios arderem pelas lágrimas derramadas que agora davam lugar ao vazio. Poderia dizer tudo isso a Helena, sem dúvida era algo que ela precisava ouvir. Mas sabia, a essa altura dos acontecimentos, que em nada adiantaria.

Sabia que o desespero exalando por cada poro do corpo esguio e fragilizado da garota em nada tinha a ver com a tragédia que acometera suas vidas sem aviso prévio. Com aviso prévio. Com placas gritantes escritas em néon que profetizavam o final desastroso do pior conto de fadas já escrito.

Sabia que seria em vão.

Sabia e teve a confirmação quando viu Pedro sair da sala para a qual havia sido arrastado algum tempo antes — não saberia dizer se minutos ou horas, o tempo parecia fluido, plástico, irreal. Os olhos fundos e cansados do homem denunciavam seu medo, o terror mal escondido por detrás do castanho, avermelhado pelas lágrimas derramadas.

Agora ele chora, foi o único pensamento sádico que passou pela cabeça de Bianca enquanto assistia a cena patética que era Helena jogando os braços em volto do pescoço do homem. Os olhos de Pedro não estavam sobre a namorada chorosa, contudo.

Ele olhava para ela.

Encarava seus olhos ferinos, transbordando raiva. Nojo.

E, quando Pedro soltou Helena e caminhou em sua direção, ela quis vomitar.

— Bianca... — Sua voz não passava de um sussurro nervoso. Pedro estalava seus dedos, desordenadamente mexendo suas mãos. Em seu rosto passaram incontáveis expressões que queimavam sua pele a cada segundo. — Não sei nem o que dizer... Eu... Obrigado.

— Não se atreva — Bianca rosnou enquanto se levantava da cadeira, apontando um dedo em direção ao homem que deu um passo para trás, assustado com o rompante da normalmente tão pacífica garota. — Não se atreva a me agradecer. Você merece passar o resto da sua vida apodrecendo em uma cela imunda pelo que você fez. Não se atreva a me agradecer.

Sua voz saiu cortada, falhando a cada palavra gritada em um sussurro desesperado, recheado de dor, arrependimento e medo. Helena olhava de um para o outro sem entender o que acontecia, sem entender a dinâmica do que se desenrolada debaixo de seus olhos. Estavam todos alterados demais, como era de se esperar depois da noite que tiveram, mas não entendia o motivo de Bianca estar agindo desta forma. Não entendia pelo que Pedro a agradecia. Não entendia por que estavam se atacando.

E definitivamente não entendia o motivo da amiga dizer que Pedro merecia ser preso. Ele não fizera nada errado, afinal. Seria possível que Bianca estivesse culpando-o por não ter sido capaz de impedir Jorge de cometer tal atrocidade?

— Agradeço, sim — Pedro disse, passando a mão no cabelo, a raiva enchendo seus olhos também. — Agradeço porque é graças a você que não sou eu ali.

Um estalido alto ecoou pela delegacia quando a mão de Bianca acertou o rosto do homem que, pelo susto, cambaleou, olhando-a incrédulo. O peito dela subia e descia com vigor em meio à sua respiração pesada e descompassada; sentia seu corpo tremer, suas mãos inquietas imploravam para acertar Pedro mais uma vez, só mais uma vez. Mal nenhum haveria em fazer dele o descarrego para toda a raiva acumulada em seu corpo.

Mas ela precisava se apegar à raiva. Era tudo que tinha. A raiva e a dor. Sem isso sua alma seria um vazio sem fim.

Quando Helena colocou-se na frente do namorado, encarando-a como se fosse louca, teve vontade de acertá-la também. Talvez se segurasse seus ombros e chacoalhasse com força a garota começasse a criar algum juízo, algum senso do absurdo. Talvez conseguisse começar a enxergar o homem ao seu lado. Talvez. Mas provavelmente não. Porque o problema não era o que Helena enxergava, era o que ela se recusava a ver para não ser obrigada a sair da bolha tão perfeitamente construída, isolando-a da realidade cruel a qual estava sendo submetida no relacionamento destrutivo que construía para si mesma.

Helena não precisava de Pedro para ser tóxica. Era tóxica sozinha. Machucava-se sozinha. Destruía-se sozinha. Apenas buscava no outro um reforço para os abusos que cometia contra si mesma. Recebia o amor que achava merecer.

— Parem vocês dois! — Helena gritou, lágrimas escorrendo por suas bochechas. Sua maquiagem estaria borrada, se usasse alguma. Mas não usava, esse era o quão perdida estava em si mesma, o quão distante da sua essência de encontrava. — Não acha que já tivemos tragédias o suficiente?

A garota andou em torno de si mesma por um segundo, perdida, olhando ao redor como se buscasse um apoio que não encontraria. Pedro nunca estivera ali para ela e Bianca estava ocupada demais sofrendo as próprias dores e culpas para permitir-se afundar em mais qualquer coisa.

— Laura está morta — sussurrou, sentando-se em uma cadeira, a cabeça afundada em suas mãos trêmulas. — Laura está morta e vocês brigando!

Um palavrão escapou de sua boca, surpreendendo os outros dois, mas não o suficiente para que quebrassem o olhar. Bianca tentava desesperadamente encontrar qualquer sinal de culpa ou remorso nos olhos de Pedro. Qualquer coisa que fizesse com que ela conseguisse respirar, conseguisse viver consigo mesma. Mas tudo que via era o alívio da culpa ser jogada para outra pessoa.

"Eu arranquei o sorriso do rosto daquela vagabunda", Pedro dissera ao investigador para finalizar seu monólogo. "Eu arranquei o sorriso do rosto daquela vagabunda. Foi essa a última coisa que Jorge disse quando perguntei o que ele tinha feito".

Pedro e Bianca sabiam que Jorge não cairia facilmente. Estavam cientes que insistiria, que seria revestido dos melhores advogados que o dinheiro dos pais pudessem pagar. Sabiam disso. Sabiam que ambos, por mais que se odiassem naquele momento, precisariam um do outro incondicionalmente para fazer com que o homem pagasse por um crime que não cometera na vã esperança de que alguma punição recaísse sobre seus ombros. Estariam para sempre entrelaçados, seus destinos estariam conectados por sujeira e desonestidade, por tragédia e dor.

Sabiam disso e estavam dispostos a irem até as últimas consequências para ter o objetivo em comum alcançado, cada um com seu próprio motivo. Ainda que isso envolvesse mergulharem em uma trama de mentiras complicadas, falsos testemunhos e impunidade a quem não merecia.

— Não acredito que Jorge fez isso... — A voz de Helena morreu em um suspiro doído. A garota balançou a cabeça, fazendo seu cabelo se rebelar ainda mais. — Não entendo...

— Ele me estuprou — Bianca disse, seca, ainda sem olhar para Helena, mas viu quando a cabeça da garota levantou em sua direção. Podia sentir seus olhos se arregalando, sua boca caindo aberta, as palavras tentando sair da garganta dela, sem sucesso. — Jorge me drogou e me estuprou na Calourada em março. Laura sabia e estava tentando me convencer a denunciar.

Não estava mentindo. Cada palavra dita queimava sua garganta pela verdade dolorosa. Não estava mentindo. Jorge merecia pagar.

— Do mesmo jeito que ela foi no diretor reclamar de Pedro...

Isso fez com que Bianca tirasse os olhos de Pedro. Isso fez com que Bianca olhasse para Helena e enxergasse o que por muito tempo se recusou a ver: não existia uma gota de empatia no corpo da garota. Podia culpar o transtorno que a outra insistia em fingir que não existia, podia culpar o relacionamento abusivo no qual se encontrava, podia culpar sua vida difícil, podia culpar o mundo, os céus e o inferno. Podia. Mas não o fez.

Dessa vez culpou Helena, e ninguém mais.

Ouviu a voz de Vicente gritar seu nome, correndo em sua direção quando deu um passo para trás, distanciando-se de Helena. De Pedro. Daquele ambiente sufocante que a consumiu dia após dia por anos.

Laura estava morta. Jorge seria preso pelo crime não cometido, um pequeno preço a se pagar pelo crime que, de fato, cometera.

Laura estava morta e nada a traria de volta. Pelo menos isso faria com que Bianca dormisse à noite. Saber que aquele que destruiu sua vida estava pagando por algo, ainda que não fosse a punição que a ele caiba. Era isso que dizia a si mesma para justificar ter mentido ao dizer que era ele o responsável pelo crime, isentando Pedro de suas ações, mais uma vez.

Laura estava morta e uma parte de Bianca morrera com ela.

— Me tire daqui — pediu a Vicente, que a envolveu com os braços.

Esperava que o que sobrara de si fosse o suficiente para se reconstruir e não sucumbir ao limbo escuro que tentava devorá-la naquele momento.

Laura estava morta.

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