Capítulo 7 - Encontro com o novo
Eu serei verdadeiro, eu serei útil
Eu serei cavalheiro. Eu serei seu, minha querida
E eu pertencerei a você, se você deixar.
Se você simplesmente me deixar
(As Lovers Go - Dashboard Confessional)
🍂
- O que você faria se eu dissesse que odeio?
- Ligaria o carro e dirigiria até um restaurante de sua escolha - afundou no acento - Mas ficaria decepcionado comigo mesmo. Achei que você tivesse me dito que gostava.
Franzi a testa sem entender bem em que contexto eu poderia ter dado aquela informação à ele.
- Puxa, você não lembra de nada mesmo - ele retirou o cinto e me observava com cuidado - Depois do banho e de bebermos, eu perguntei à você se queria comer algo. Sua resposta foi bem curiosa - riu - Você me pediu comida tailandesa.
Gosto de sabores excêntricos, por isso a culinária étnica sempre foi minha favorita. Scott e eu, quando casal, adorávamos experimentar comidas típicas que refletiam a história e a geografia dos países e seus costumes. O que deixei de lado após o casamento com Tyler.
- Isso parece bem verossímil - sorri, também retirando meu cinto de seguranças - Só temo saber o que mais contei à você.
Anthony desceu do carro, deu a volta no mesmo e abriu-me a porta educadamente - Nada além de gostos pessoais simples e o quanto ama sua filha.
O acompanhei em direção a porta de entrada do local - Bem, eu... - era curioso saber que nem estando alterada pela bebida, Lizzie deixava de ser meu norte.
- Não se preocupe, estou ansioso para conhecê-la.
Engoli em seco, enquanto Anthony conversava com o metre, solicitando a mesa já reservada por ele.
O rapaz simpático e de sorriso largo nos levou até os lugares requeridos e pediu que aguardássemos o garçom. Logo em seguida, um outro rapaz, também bastante solícito, veio em nosso auxílio.
- Boa noite! Me chamo Demétrius e estarei responsável por seu atendimento hoje. Desejam fazer o pedido?
- Sim. Obrigado! - respondeu Anthony, analisando o cardápio disponível sobre a mesa - Pra mim um Panaeng Muú de frango. Por favor!
O prato de Anthony consistia em curry vermelho, carne, leite de coco, para dar um toque cremoso e as limas kaffir para um sabor refrescante.
- E a senhorita? - indagou-me Demétrius - O que deseja?
- Pra mim um Pad Thai também de frango. Obrigada!
Já o meu tem como base noddles salteados com soja, carne, camarões, e vegetais. É comum também que se adicione amendoim e algum molho picante.
- Algo para beberem?
- Dois Mai Tai - Anthony me olhou como se essa fosse mais uma das muitas informações que dei à ele naquele dia. Apenas assenti.
O coquetel pedido por ele leva rum, licor de Curaçao, xarope de orgeat e mais tradicionalmente, o suco de limão.
- Então, Anthony - disse assim que o garçom nos deixou - Você já sabe muito sobre mim. Me deixe agora saber um pouco sobre você?
- Claro - sorriu - O que deseja saber, Sarah?
Meu nome continua a soar sensual saído de seus lábios e fazendo com que arrepios percorram meu corpo.
- Já foi casado, tem filhos, com o quê trabalhar algum hobbie... O quiser me contar.
- Pois bem - ele pigarreou, antes de prosseguir - Sim, eu já fui casado por quatro anos, mas não tive filhos. Trabalho como detetive de polícia na delegacia local e meu hobbie é proteger algumas pessoas da crueldade de outras.
A forma orgulhosa com que ele falava de sua profissão me fez lembrar de meu pai. Hoje ele não mais exerce seu trabalho, mas quando criança, lembro-me de vê-lo sair de casa, usando seu uniforme e de todas as histórias heróicas pelas quais passou e que nos contava com brio.
- Então você é policial? - a pergunta retórica foi apenas para ganhar tempo e descobrir uma forma de inserir na conversa o que vem acontecendo comigo nos últimos dias. Talvez Anthony possa me ajudar, de alguma forma, a achar uma solução.
- Sim. Meu pai era um grande inspetor, cheio de honrarias ao mérito por sua bravura e coragem durante seu tempo empregado a profissão - ele fez uma pausa quando o garçom retornou à mesa, trazendo nossos coquetéis, retomando o raciocínio em seguida - Quando ele faleceu, jurei seguir seus passos e ser pelo menos metade do profissional exemplar que ele foi.
- Tenho certeza que onde ele estiver, sente muito orgulho de você, por ter escolhido a mesma carreira que ele - sorri - Meu pai também trabalhou anos com a polícia de Salt Lake.
- É mesmo? Interessante - Anthony deu um gole em sua bebida e redirecionou o olhar à mim novamente - Porque é que eu estou com a sensação de que alguma coisa está te afligindo?
- Suspirei fundo - Tem razão - tomei o coquetel e também a coragem que precisava para falar - No sábado, quando voltei da casa dos meus pais, notei a porta dos fundos aberta, luzes acesas e meu laptop parecia ter sido mexido.
- Não pode ter sido apenas um esquecimento seu? - ele indagou.
- Foi o que pensei, até ontem à noite, quando recebi uma mensagem estranhamente assustadora. Essa pessoa tinha conhecimento de uma informação que somente eu, Emma e meu chefe sabíamos e logo em seguida recebi uma caixa com um livro mais estranho ainda.
- Qual livro? - quis saber ele.
- You - respondi simplesmente - O bilhete dentro da caixa mencionava um amor a primeira vista, mas todos sabemos qual é a verdadeira história desse livro.
- Se tiver o mesmo sentido da série. Sim! - zombou ele - Desculpa, Sarah. Mas esse não é meu tipo favorito de leitura, mas tendo em vista o que você me contou, estamos lidando com um stalker.
O garçom nos serviu e Anthony agradeceu pelo rápido e prestativo atendimento, enquanto eu já salivava diante daquela refeição deliciosa.
- Qual é o seu tipo de leitura preferida então? - fugi do assunto que me interessava para algo mais leve, mas também de meu interesse. Os livros na cabeceira de um homem podem dizer muito sobre ele.
Ele cortou sua carne e mastigou a primeira garfada de seu jantar - Charles Dickens, Jane Austen, William Shakespeare...
- É um romântico, senhor Ricci?
- Um sonhador, eu diria - ele sorriu.
Entre um gole de Mai Tai e garfadas em minha comida, voltei ao assunto anterior, ansiando por uma resposta acalentadora - Sabe, desde a boate tem acontecido coisas realmente estranhas comigo. O sumiço do meu aparelho celular, a suposta invasão da minha casa ...
- Espera! - ele deixou o garfo repousar na borda do prato - Você perdeu seu celular?
- Foi o que eu disse - ironizei sua pergunta.
Ele ignorou - E fez o backup dos arquivos salvos na nuvem depois de transferi-los pro aparelho novo?
Sempre fui uma pessoa leiga quanto a assuntos eletrônicos, não fazia ideia de que com a perca do meu aparelho celular, qualquer pessoa de posse dele poderia ter acesso ao meus dados pessoas. Nunca protegi nada com senha pois Tyler queria sempre se certificar do que eu estava fazendo virtualmente.
- Foi Emma quem me ajudou a recuperar minhas informações, mas acho que ela não tinha ideia de que precisaria se livrar das coisas salvas no outro celular.
- Você não leu You? - Anthony maneou a cabeça em sinal de desaprovação, mas um sorriso irônico dançava por seus lábios diante da comparação entre a história literária e a minha própria - Foi assim que esse cara, seja lá quem ele for, soube das coisas que você confidenciou apenas para sua irmã.
- Acha que devo reportar o ocorrido à polícia?
- Já está fazendo isso, Sarah - ele riu - Esqueceu que sou policial? Não se preocupe, amanhã pela manhã, passe na delegacia bem cedo, vamos fazer um boletim de ocorrência e se mais alguma coisa vier a acontecer, não deixe de me comunicar. Ok?
- Ok! - respondi sorrindo. Era bom ter com quem contar.
Terminamos de jantar e conversamos mais um pouco sobre coisas corriqueiras do dia à dia, sobre o trabalho e do que gostávamos de fazer em nosso tempo livre. Foi uma maneira tranquila e muito agradável de nós conhecermos melhor. Anthony é um homem fascinante e ouvi-lo era como música para meus ouvidos.
Ele pediu ao metre que trouxesse a conta e pagou por ela sozinho, mesmo que eu tivesse insistido em arcar com metade das despesas. Segundo ele, eu era a convidada e ele fazia questão de pagar.
- Quer dar uma esticada até meu apartamento, beber um vinho, conversar mais um pouco?
- Eu adoraria, mas já passa das onze horas e preciso liberar Emma da função de babá - levantei-me, tendo a cadeira puxada gentilmente por Anthony - Isso sem falar que preciso trabalhar amanhã.
- Tudo bem, mas o que me diz de irmos ao cinema no sábado? - convidou.
Quis negar, mas ele me encantou com o restante de seu invite.
- Podíamos levar Lizzie conosco.
Aquela atitude fez meus olhos cintilarem por conta das lágrimas que eu segurava - Tem certeza disso?
Ele me guiou até a porta do restaurante, com uma mão colada à minhas costas - Sim, eu adoro crianças e como disse antes, estou ansioso pra conhecer sua princesa.
- Ela ficará feliz, adora ir ao cinema.
Deixamos o local e já na rua, indo em direção ao carro estacionado em uma vaga à frente do local, nos deparamos com uma pessoa que eu não imaginava encontrar.
- Shane? Shane Rhee? - toquei seu braço para chamar-lhe a atenção - Não acredito nisso.
- Sarah! - disse ele abraçando-me inexperadamente - Quanto tempo faz?
- Eu não sei ao certo, mas parecem uns mil anos - zombei. Mas logo me dei conta da gafe que cometia. Anthony nos avaliava sem reação, apenas encarando Shane como se fosse um rival. Resolvi acabar com aquilo.
- Esse é Anthony, meu... Amigo. Anthony, esse é Shane, nós éramos melhores amigos desde a oitava série, não nos vemos desde a formatura. Acredita nessa coincidência?
Anthony apenas apertou-lhe a mão, mantendo-se em silêncio.
- Então, Shane - prossegui - O que tem feito da vida?
- Bem, o que posso dizer... Estou morando no Kentucky, me casei, minha esposa está grávida e trabalho em um hospital local, sou cirurgião - seu rosto se iluminou ao falar sobre aquilo - E você, o que tem feito, "ma belle"? Como andam as coisas com o Pepe Le Pew?
Gargalhei pelo seu jeito de se referir a Scott - Me casei com outro, tenho uma filha linda de cinco anos, me separei e hoje trabalho pro seu amigo metido a francês.
- Sempre achei que vocês terminariam juntos, mas não dessa maneira - disse Shane sarcasticamente - Bem, foi ótimo te ver Sarah, mas agora preciso ir. Espero poder te encontrar novamente, antes de voltar para o Kentucky.
- Claro! - beijei-lhe o rosto me despedindo - Vamos marcar um jantar. Quero conhecer sua esposa.
- Seria um prazer!
Shane e Anthony se despediram com outro aperto de mão. Shane adentrou o restaurante, enquanto Anthony e eu seguimos para o carro. Ele parecia um pouco sem graça com o que havia acontecido, talvez pensasse que existia algo a mais entre Shane e eu. Mas ele estava redondamente enganado.
Na época da escola, nós éramos como carne e unha, contávamos tudo um ao outro e mesmo com a rixa entre Scott e Shane, por conta do ciúme sem sentido do King, nos mantínhamos unidos. Nunca tivemos nenhum tipo de relação romântica. Entre ele e eu só havia um carinho especial como de irmãos.
Adentramos o Honda Civic e a quietude por parte dele continuava. Enquanto dirigia, Anthony mantinha o olhar fixo na estrada, quase como se estivesse receoso em olhar para mim.
- Anthony, eu... - não sabia bem o que dizer, se deveria lhe dar alguma explicação ou apenas esperar que ele dissesse o que estava lhe incomodando - Shane é apenas um velho amigo, entre nós não existe e nem nunca...
- Ow, ow, ow... - ele me interrompeu - Não precisa me explicar nada, Sarah. Relaxa!
- É que você ficou quieto de repente - baixei o olhar lentamente sem saber o porquê daquele silêncio que se instaurou desde quando deixamos o restaurante.
Inexperadamente, Anthony estacionou o carro. Olhou-me com paixão e tocou meus lábios com um dedo, contornando-os delicadamente. Devagar, ele foi aproximou-se de mim e colou nossas bocas em um beijo quente, de tirar o fôlego.
Não era como os da noite em que transamos, esse beijo era carregado de sentimentos e um carinho que eu jamais havia experimentado ao beijar alguém. Eu podia sentir a ânsia de sua língua que dançava junto à minha, era quase que como uma necessidade, era terno, sincero e romântico.
Quando nos separamos, abri meus olhos e fitei os dele, esboçando um sorriso tímido e doce - O que foi isso?
- Eu sou um tolo - disse ele - Aquela aparição do seu amigo me deixou um pouco retraído. Quando você me apresentou à ele como um amigo também, notei que nem ao menos havia lhe dado um beijo durante todo esse tempo e isso era o que eu mais queria desde que você aceitou sair comigo de novo. Quero que saiba que desejo bem mais que sua amizade, Sarah!
- Isso foi uma gracinha! - selei nossos lábios - E eu amei cada segundo do nosso jantar. Anthony, vamos devagar, tá? Mas também não quero ser apenas uma amiga pra você.
Ele sorriu e voltamos para a estrada. Em poucos minutos eu estava em casa. Ele desceu do carro e me acompanhou até a porta, nos despedimos com um longo beijo e adentrei meu lar, encantada com tudo que havia acontecido.
Lizzie já estava dormindo, como era de se esperar, então sentei-me ao lado de Emma que lia no sofá. Contei resumidamente como fora o jantar e a acompanhei até a porta. Fiquei parada por alguns instantes, vendo minha irmã deixar o local, quando pude então avistar, parado no outro lado da rua, um homem vestindo roupas pedras e protegido por um capuz, olhando diretamente para mim.
O breu da noite escondia sua face, mas vê-lo alí parado me observando, fez com que eu temesse por mim e principalmente por minha filha. A abstração de estar sendo vigiada por um desconhecido, se tornava cada vez mais real e assustadora.
Fechei a porta rapidamente e verifiquei todas as portas e janelas. Quando iria subir até o quarto de Lizzie e ver como ela estava, o telefone fixo tocou, me fazendo exaltar-me e derrubar coisas de sobre o balcão. O identificador não reconhecia o número. Atendi e só pude ouvir uma frase dita por uma voz eletrônica:
"Você não deveria sair com estranhos, Sarah."
Meu coração parecia querer saltar pela boca, só pensava na segurança de minha filha. No impulso, peguei o celular e liguei para Anthony. O diálogo foi curto, mas tranqüilizador:
- Tem alguém vigiando minha casa!
- Estou indo para aí!
Em minutos, ouvi um carro estacionar e pela janela de vidro na sala, vi Anthony percorrer a casa e os arredores dela, com sua arma em punho.
Quando abri a porta para ele, não pude me conter e o abracei fortemente, num claro pedido de socorro.
- Já chequei todo o entorno da casa, não há ninguém - disse ele, retribuindo o abraço - A pessoa que te observava já deve estar longe, mas se quiser e for te deixar mais tranquila, posso ficar, passar a noite e assim deixar o local seguro pra você e Lizzie.
- Seria ótimo - deixei seu enlace e dei espaço para que ele pudesse adentrar minha casa - Mas eu não tenho quarto de hóspedes e se Lizzie vir você no quarto comigo...
- Não se preocupe, eu durmo aqui mesmo no sofá - ele sorriu me acalmando - O importante é que se sinta resguardada.
- Obrigada. É muita gentileza sua.
Fui até o meu quarto e trouxe um travesseiro e uma coberta pra deixá-lo pelo menos um pouco confortável. Era a única maneira de retribuir a amabilidade com que ele lidava com meu problema.
- Obrigada, novamente.
Minhas bochechas coraram quando Anthony me trouxe para seus braços e beijou o topo de minha cabeça.
- Vou proteger você, Sarah. Eu prometo!
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