Capítulo 27 - Adeus, papai!
Mesmo sem nunca ter pressa
Saiu sem avisar
Pra onde ia, ou se algum dia
Voltaria pro ventre do lar
...
E, mesmo numa hora dessa
Não consigo parar de pensar
Onde é que fica a estrela em que você foi morar?
(Onde fica a estrela - Fresno)
🍂
Após cinco longos dias, o corpo do papai enfim foi liberado pelo IML e eu pude lhe dar uma despedida honrada. A capela onde seu corpo foi velado estava decorada com flores brancas e seu caixão coberto por uma bandeira estadunidense.
Foram feitas muitas homenagens por parte da polícia local, já que por muitos anos meu pai os comandou de maneira competente e digna. Ele fora um grande homem e era assim que eu o guardaria na memória e em meu coração.
Minha mãe continuava internada e sua situação não havia melhorado em nada, já que se mantinha em estado colérico. Sua condição era uma tortura para mim, principalmente por não tê-la ao meu lado nessa luta diária para me manter de pé e forte para superar as adversidades que se acumulavam como uma montanha de neve.
Scott me deu um suporte que eu não esperava, ajudou com toda a papelada, levou minha mãe para um hospital mais qualificado e esteve ao meu lado durante a escolha do caixão e até mesmo das flores. Ele se sente como um irmão e leva consigo uma consideração enorme por meus pais, sem falar no amor inabalável por Sarah.
Não sei o porquê, mas senti falta de Anthony em todas essas etapas que fui obrigada a passar. Sei que ele não nos deve nada, nem a Sarah e muito menos a mim, mas eu esperava que ele fosse compassivo ou que pelo menos viesse ao velório prestar seu último adeus ao meu pai.
Quando as pessoas já se preparavam para seguir em procissão até o cemitério, onde ocorreria o enterro, Scott se afastou para atender uma ligação e eu acabei por seguir junto ao meu tio Franklin, já que não estava em condições de dirigir.
Durante todo o enterro, notei que Scott parecia querer me dizer algo, mas talvez por conta de toda a comoção que se estabelecia no local, preferiu apenas se colocar ao meu lado e vez ou outra tocava meus ombros, tentando me confortar.
A recepção na casa dos meus pais não era viável, mesmo isso sendo de praxe, eu não estava com cabeça para aguentar mais nenhum pesar falso de pessoas que não significavam nada para mim e nem mesmo daquelas que de alguma forma, eram especiais. Eu só queria tomar um banho, deitar em minha cama e dormir até que aquele pesadelo finalmente tivesse fim.
Scott levou-me para casa e mesmo sabendo que algo não estava certo com ele, desde a ligação, não tive coragem e nem ânimo para ouvi-lo, então preferi fingir não notar. Ele não quis entrar, disse que estava com pressa e eu, mais uma vez, não fiz questão de entender.
Já em casa, fiz o que ansiava o dia todo. Subi até o quarto de Sarah, liguei a água quente na banheira, escolhi alguns sais aromáticos e me deixei levar, pus toda a tristeza pra fora e chorei por horas, em meio a espuma e vapor no banheiro que pertencia a pessoa que eu mais desejava ter ao meu lado agora.
Tentei contato com Anthony e também com Scott, mas os dois mantinham seus aparelhos desligados, ou apenas estavam ignorando minhas chamadas. A segunda opção era bastante viável, já que tenho tomado muito do tempo deles ultimamente.
Por volta das oito e meia da noite, me enrolei em um roupão felpudo e desci até a sala. Mesmo sem fome, eu sabia que precisava comer, então preparei um bife grelhado e uma salada, me pondo à comer enquanto assistia televisão.
Minha mente estava um caos e meus pensamentos embaralhados iam de encontro ao desejo insano de encontrar Sarah e Lizzie, nem que para isso eu precisasse mover céus e terra.
Eu precisava fazer algo, ficar deitada, lamentando o vazio que elas haviam deixado não era certo, eu tinha que agir, pensar em algo que pudesse ajudar a polícia, começando por ir até a delegacia, saber o porquê de Anthony não ter dado às caras após a morte de meu pai.
Terminei minha refeição e voltei ao quarto. Vesti uma calça jeans, um suéter vermelho e minha inseparável jaqueta de couro preta, calcei botas baixas e procurei por minhas chaves.
Verifiquei se todas as portas e janelas se encontravam trancadas e saí. Meu carro permanecia estacionado em frente à casa, então caminhei até ele, adentrei e girei a chave na ignição, dando partida, em direção à delegacia.
Chegando ao local, fui informada por um dos agentes que Anthony havia saído para uma chamada e que o coronel Donald's, responsável pelo departamento, tinha sido encaminhado até a unidade de polícia em Kingsbury.
Não me restava outra alternativa, a não ser pedir para falar com a superintendente Geller, ou seja, a rainha da soberba. O rapaz, bastante atencioso, anunciou minha chegada e em seguida me indicou a sala da megera.
Com toda a arrogância que lhe cabia, ela já me recebeu de braços cruzados e escorada à frente de sua mesa, com cara de quem acabou de comer jiló.
- Estou bastante ocupada, senhorita McKay - foram suas primeiras palavras ao me ver cruzar a porta - Meu expediente acaba em quinze minutos e preciso terminar umas pesquisas.
- Espero que seja sobre o caso da minha irmã - falei, parando em sua frente e mantendo a mesma postura petulante com que ela me recebia.
- Não sei se sabe - ela deu a volta na mesa, sentando-se na cadeia por de trás dela - Mas sua irmã não é a única com problemas nessa cidade, temos muitos casos de que tratar.
Eu definitivamente estava pronta para esmurrar a cara daquela loira presunçosa, mas isso em nada ajudaria a descobrir a quantas andava a investigação.
Engoli em seco, respirei profundamente e tentei manter a calma - Olha, eu não vim atrás de confusão, só quero saber se há alguma novidade sobre a Sarah.
Ela riu, fazendo meu ódio aumentar ainda mais, pôs os pés, que calçavam belíssimos sapatos de salto alto, sobre a mesa e jogou o corpo para trás na cadeia estofada.
- Isso você pode muito bem perguntar ao detetive Ricci. Não acha? - seu tom de voz acusava certo desconforto em tocar no nome do ex marido - Além do quê, esse caso já não me diz respeito.
- Do quê você está falando? - indaguei.
Ela apoiou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçou as mãos e apoiou o queixo sobre elas - Não se faça de sonsa, as reclamações das dondocas puseram minha integridade à prova e eu fui afastada de tudo que diga respeito aos McKay.
Fiquei surpresa com a revelação. Anthony não havia comentado nada sobre ela ter sido desligada do caso e muito menos que isso se devia ao fato de ter sido negligente com o mesmo, como Sarah já havia mencionado.
- Devem ter tido motivos pra isso. Não acha?
Seus olhos fulminantes pareciam querer me destruir, como raios lasers - O motivo é que eu acho que à essa altura, sua amada irmã já deve estar morta.
As palavras maldosas de Judith me atingiram com sucesso e parti para cima dela, mas no exato momento em que a atingi com um tapa na face, para minha sorte e para a dela também, já que com a fúria que me motivava, eu não sei do que seria capaz, coronel Donald's adentrou o local.
- Senhoritas! - chamou nossa atenção - Tenham compostura, por favor.
- Essa garota que entrou aqui como se fosse a dona do pedaço - defendeu-se ela - Você viu o tapa que ela me deu? Vou prendê-la por desacato.
- É só isso que sabe usar pra se defender? - provoquei - Pare de se esconder atrás desse distintivo e resolva as coisas como mulher.
- Chega! - o coronel interrompeu a briga novamente - Oficial Judith, eu ouvi o que você disse à respeito do caso. Não julgamos pessoas desaparecidas como mortas, a não ser que tenhamos embasamento pra isso. Entendeu?
Um sorriso de satisfação despontou em meu rosto, muito embora as palavras dela tivessem visivelmente me desestruturado, era bom ver que a máscara de policial afrontada não iria colar.
- E você, Senhorita McKay - voltou-se para mim com semblante endurecido - Não pense que pode entrar nessa delegacia à essa hora e exigir o que quer que seja de nossos agentes.
- Desculpe! - abracei meu próprio corpo, sabendo que errei em ser tão afoita - Mas é que não tive notícias do policial Ricci o dia todo e com o enterro do meu pai, tive pouco tempo pra dar atenção a isso.
- Entendo perfeitamente - ele tocou meu ombro com pesar - Seu pai era um grande homem, sinto muito por sua perda.
Assenti. Meus olhos visaram o chão e me segurei para não cair em lágrimas novamente - Podemos conversar por um minuto?
O homem anuiu com a cabeça e indicou para que eu o seguisse até sua sala. Antes de deixar o local onde estávamos, pude ouvir Judith bufar enraivecida e soube que o placar estava dois para mim e nada para ela.
Não sei por que, mas criei uma rivalidade com a loira baixinha e isso ia além dos problemas dela com Sarah, algo nela me incomodava e a forma como se referia a mim e minha irmã foi o estopim para que eu a colocasse no topo da minha lista de desafetos.
Já na sala do homem mais velho, ele me explicou que como o carro de Sarah não havia sido encontrado, desde que ela desaparecera, a busca por ele era um dos pontos chave para os investidores. Fizeram buscas por toda a cidade, mas o veículo parecia ter sido abduzido por extraterrestres, bem como minha irmã e agora minha sobrinha.
O computador também havia sido checado, mas nada nele era suficiente para rastrear quem o tinha rackeado. A transmissão havia sido cortada a bastante tempo, talvez desde que Sarah fora levada, já que não seria mais nescessário vigiar a casa.
Os bilhetes e a autópsia no corpo de Tyler, bem como as caixas em que as partes do homem haviam sido enviadas para Sarah também foram examinadas diversas vezes e nada de novo surgiu.
Saí do local desolada. Peguei meu carro e voltei para casa, dirigindo feito louca, em meio ao choro que me consumia, por ser tão incapaz de solucionar eu mesma esse quebra cabeças insano em que minha família estava sendo submetida.
Ao adentrar a rua, em meio a névoa que caia por conta do horário, vislumbrei o carro de Anthony, junto ao de Scott, parados em frente à casa. Temi pelo pior. O que Judith sugeriu ainda dançava em minha mente e o medo de que o caso de Sarah pudesse ter sofrido um desfecho terrível, me fazia não querer deixar o carro.
Fiquei alguns minutos apenas tentando agrupar minhas ideias e tomando coragem para enfrentar o que quer que a presença daqueles dois alí significasse.
Saí do veículo e caminhei à passos lentos, passando pelo gramado e pelo jardim sempre tão bem cuidado de Sarah. Os homens me aguardavam na varanda, em frente a porta, Scott apoiado no corrimão que cercava o espaço e Anthony sentado sobre o degrau mais alto.
- Onde foi que você se meteu? - indagou Scott, bastante nervoso - Tem noção de que pensamos que você também tinha sido levada?
Passei por eles e andei até a porta, abri a fechadura e ignorando a fala azeda de meu ex futuro cunhado, entrei e me joguei sobre o sofá, exausta e preocupada com o que viria à seguir.
- Emma, você não pode sair desse jeito, sem nos avisar - Anthony também me repreendeu.
- Eu fui até a delegacia - expliquei - Como não tive notícias o dia todo, achei que poderia existir alguma novidade, mas só o que consegui foi arranjar briga com sua amável ex mulher.
Ele baixou o olhar envergonhado - Sinto muito, ela tem sido difícil, não consegue compreender e nem separar nossa vida particular da profissional.
Passei as mãos em meus cabelos, os colocando por trás das orelhas, esfreguei o rosto com aflição e levantei-me - Pois bem, o que vieram fazer aqui? Pelo que vejo estavam juntos quando eu liguei diversas vezes para os dois.
- Emma, o sequestrador fez contato comigo, quando estávamos no velório - Scott esclareceu os motivos da visita - Mas antes que comece a me achincalhar por não ter te contado antes, saiba que tive meus motivos.
Agora tudo fazia sentido, a forma como Scott havia se comportado após a tal ligação, sua pressa em se livrar de mim quando o enterro acabou e as ligações rejeitadas durante todo o resto do dia.
- E qual seria esse motivo? - ergui uma sobrancelha em dúvida.
- Fui procurar o policial Ricci - respondeu-me - Sei que sua cabeça anda em parafusos ultimamente e o que esse cara me disse te deixaria ainda mais confusa, assim como nós estamos.
Revirei os olhos já perdendo totalmente a paciência - O que foi tão anormal nessa porra de ligação que você não podia ter me contado antes de procurar a polícia?
Os dois homens trocaram um olhar cúmplice, como se Scott pedisse permissão para me contar o motivo de todo aquele alarde.
- Emma, ele me pediu quinhentos mil dólares de resgate.
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