5. APENAS MEU
Meus olhos percorriam os jogadores e seus grupos. Minha expressão era de puro desdém. Se eu entrasse em alguma daquelas equipes, seria morta em questão de minutos por pura incompetência. Respirei fundo. O tempo estava acabando, e eu não tinha escolha a não ser apelar.
Foi então que avistei um grupo. Um dos jogadores ali era o 230, aquele que levou uma porrada do 001. Mas, sinceramente? Que se dane. A briga foi entre eles, não comigo. Parecia que a equipe já estava completa, mas eu daria um jeito.
Me aproximei com um sorriso discreto, chamando a atenção do cara de cabelo roxo, que imediatamente me olhou de cima a baixo com um sorriso malicioso.
— Wow, what a blessed sight, não acham? — murmurou ele para os outros jogadores, que também voltaram os olhos para mim.
— A equipe de vocês já está completa? — perguntei, enrolando uma mecha de cabelo com os dedos, fingindo desinteresse.
— Na verdade, ela já es— — começou o jogador 124, mas foi calado por um tapa nas costas vindo do 230.
Sem dizer uma palavra, 230 lançou um olhar firme para um dos jogadores do grupo, fazendo um sinal para ele se retirar. O rapaz tentou argumentar, mas desistiu e foi procurar outro time.
— Claro que não, senhorita. Welcome to the Thanos World. — Ele se aproximou com um sorriso confiante e passou o braço pelos meus ombros. — Não se preocupe, querida. A partir de agora, você está segura. Eu mesmo vou garantir que nada de ruim aconteça com você.
Dei um sorriso forçado, dando pequenos tapinhas na mão que repousava no meu ombro.
— Hmm, que gentileza a sua. — Disse em um tom falso, mas com um sorriso que não chegava aos olhos.
230 apenas riu, como se estivesse completamente alheio à ironia. Ele apertou levemente meu ombro antes de finalmente me soltar, voltando a se dirigir ao resto do grupo.
— Viu só, pessoal? É assim que se trata uma dama. Agora, preparem-se, porque esse time vai destruir.
Revirei os olhos discretamente enquanto me afastava um pouco. Minha atenção foi capturada por algo mais interessante: 001, parado a poucos metros de distância, me observava com uma expressão que parecia esculpida em pedra. Não havia nenhum traço de emoção evidente, mas algo naquele olhar frio parecia penetrar até a alma.
"Que foi? Nunca viu alguém sobreviver por esperteza?" pensei, mantendo o olhar dele por um breve instante antes de desviar, fingindo desinteresse.
No momento, eu precisava focar no que realmente importava: o maldito jogo. Não adiantava perder tempo com provocações ou dramas, porque a verdade era cruel e simples. Se eu vacilasse, estaria fora. Morta.
Meus olhos voltaram para os jogadores do meu grupo, avaliando cada um deles. Não que a visão fosse muito animadora. Thanos — ou 230, como preferissem chamá-lo — era um completo idiota metido, mas eu precisava admitir que o desgraçado tinha habilidades. Ele se safava das situações mais improváveis e, de algum jeito, sempre acabava de pé. Já os outros dois... bem, eram claramente o elo fraco. Isso era óbvio só de olhar.
A única que me chamou atenção de verdade foi a jogadora 380. Ela me observava de canto, com uma expressão de curiosidade enquanto apoiava a mão no queixo, como se estivesse tentando me decifrar. Assim que nossos olhares se cruzaram, ela disfarçou rapidamente, virando a cabeça para o lado.
"Interessante", pensei. Alguém que presta atenção nos detalhes. Talvez ela não fosse tão ruim assim.
Logo o tempo de escolhas acabou. Um sinal ecoou pela sala, estridente e irritante, obrigando todos a parar o que estavam fazendo. Fomos conduzidos para nos sentarmos no chão em fileiras organizadas. A espera parecia interminável, mas me deu tempo de observar melhor o cenário e entender o que estava por vir.
Os organizadores estavam ocupados ajustando o campo de jogo. As regras começaram a ficar claras conforme observava as equipes sendo chamadas para suas rodadas. Os pés dos jogadores eram presos por uma corrente que limitava seus movimentos, forçando-os a trabalhar em conjunto para avançar. Em frente, havia uma sequência de desafios para cada jogador completar. O problema era evidente: se um jogador vacilasse, atrasaria o resto do grupo, tornando tudo mais difícil.
Suspirei profundamente, mantendo a expressão neutra, mas minha mente trabalhava rápido. Se um dos fracotes errar, estamos ferrados.
Enquanto isso, Thanos estava ocupado tentando animar a nossa equipe. Ele falava alto, gesticulando exageradamente, como se quisesse convencer a si mesmo de que tínhamos uma chance.
— Vamos lá, pessoal! — Ele dizia, batendo palmas. — É só seguir o ritmo. Foco, força, e o Thanos World vai passar por isso com facilidade.
— Se o jogo fosse ganho no grito, a gente já estava no topo. — Murmurei, cruzando os braços.
380 ouviu e soltou uma risada abafada, enquanto Thanos olhava para trás, lançando um olhar confiante como se estivesse me desafiando a duvidar dele.
— Não subestime o poder de um líder carismático, querida. — Ele piscou. — Eu já te disse, estamos seguros comigo aqui.
— Espero que sim. Porque, se você falhar, eu garanto que vou te lembrar disso o resto do tempo que você sobreviver.
Thanos abriu um sorriso largo, mas o brilho nos olhos dele parecia um pouco incerto agora. O resto do grupo ficou quieto, o clima de tensão crescendo conforme as equipes começavam a ser chamadas para jogar.
Quando chegou a nossa vez de jogar, nos organizamos rapidamente, decidindo quem ficaria responsável por cada jogo. Eu fui escolhida para ser a terceira, encarregada de jogar Gonggi. O primeiro a ir foi o jogador 125, que se saiu bem com o jogo de "mirar a pedra". Ele não demorou muito para completar o desafio, acertando com precisão. Em seguida, foi a vez da jogadora 380 no jogo de Ddakji. Ela era realmente boa nisso, e sua habilidade nos poupou tempo. Passamos para a próxima etapa sem maiores dificuldades.
Quando chegou a minha vez, senti o peso das expectativas, mas mantive a calma. Gonggi era um jogo que exigia precisão, paciência e concentração, qualidades que, felizmente, eu sempre considerei como meus pontos fortes. Peguei as pedrinhas, posicionando-as cuidadosamente em minha mão. Com movimentos rápidos e precisos, joguei uma ao ar, recolhendo as outras do chão antes de pegar a que estava no ar. Repeti o processo, sem hesitar, e finalizei a rodada sem deixar cair nenhuma peça. Sorri para mim mesma. Fácil demais.
O mascarado nos observava atentamente. Quando ele sinalizou que minha jogada havia sido aprovada, um grito de comemoração explodiu entre nós. Todos vibraram, o alívio estampado nos rostos.
O próximo a jogar foi o jogador 124, que enfrentou o desafio do pião. Ele demorou um pouco mais, talvez por conta do nervosismo, mas conseguiu completar o jogo antes que o tempo acabasse. Suspirei aliviada por ele; caso contrário, não sei se teria paciência suficiente para lidar com outra derrota.
Por último, foi a vez de Thanos, que ficou com o jegi. Ele era surpreendentemente bom com as embaixadinhas e executou o jogo com uma precisão impressionante, sem cometer nenhum erro. Cada movimento parecia calculado, mas natural, como se ele tivesse feito aquilo durante toda a vida.
Quando todos terminamos, fomos finalmente libertados das correntes. O sentimento de alívio era palpável. Enquanto nos dirigíamos para o dormitório, dei uma última olhada em direção a Gi-hun e seu grupo. Eles pareciam tensos, mas determinados. Acredito que eles dariam um jeito. Enquanto observava, senti o olhar do jogador 001 pousar em mim. Encarei-o por um instante antes de desviar os olhos e seguir meu caminho.
— Porra, somos um time do caralho! — exclamou Thanos, como sempre exagerado e cheio de energia.
— Tenho que admitir, vocês se saíram melhor do que eu esperava — comentei, mantendo minha habitual calma e um tom neutro, mas sincero.
— Você também me impressionou... — respondeu a garota com piercings, lançando-me um sorriso discreto.
Retribuí o sorriso, com a mesma discrição. Estávamos exaustos, mas havia uma sensação de vitória pairando entre nós. Por ora, tínhamos conseguido. E, naquele ambiente onde cada segundo parecia um teste de sobrevivência, isso era tudo que importava.
♥
Depois que chegamos ao dormitório, ficamos jogando conversa fora enquanto esperávamos que todos os jogadores retornassem. O clima era pesado, mas ao mesmo tempo, havia uma tentativa de descontração, como se precisássemos de qualquer distração para ignorar o que tinha acabado de acontecer. Eu, no entanto, estava profundamente entediada.
— Ei, ei. Quantas pessoas vocês acham que sobraram no jogo? — perguntou o jogador 124, dirigindo-se ao 125.
— Quê?
— É, quantos vermes ainda tão vivos? — acrescentou ele, rindo de maneira forçada.
O 125 olhou ao redor, como se pudesse calcular pela quantidade de camas ocupadas.
— Acho que umas 200 pessoas... — respondeu, hesitante.
— Como você sabe? Que quê é? — provocou o 124. — Conta uma por uma.
Eu não pude evitar revirar os olhos. Típico. Ele era o tipo de cara que adorava bancar o engraçadinho, achando que mandava nos outros.
— Agora? — perguntou o 124, simulando que ia se levantar.
— Ah, tá! — disse o 125, balançando a cabeça como se aprovasse a ideia.
Antes que ele pudesse fazer algo, a jogadora de cabelo curto, sentada ao lado, o puxou de volta para o lugar com firmeza.
— Pra quê isso? Coisa mais idiota. Já já os mascarados vão aparecer e contar pra gente — disse ela, a voz cheia de tédio e irritação.
O 124, sem conseguir disfarçar o ego ferido, respondeu de forma agressiva:
— Cala a boca, sua vaca!
Senti uma onda de nojo. Olhei para ele com desprezo, minha expressão deixando claro o quanto aquele comentário foi idiota.
— Quem você acha que é pra chamar ela assim? — perguntei, minha voz firme. Não havia nada que me irritasse mais do que homens que achavam que podiam diminuir mulheres para reafirmar seu ego. Eles eram patéticos.
Ele virou para mim, irritado.
— Ninguém tá falando com você, sua-
— Stop! — Thanos interrompeu, erguendo a mão para silenciar a discussão. Ele então apontou para o 124, agora com um tom mais calmo, mas sério. — Qual é o seu nome?
O 124 hesitou por um momento antes de responder:
— Min-su.
— Certo, Min-su. Quantos anos você tem?
— Tenho 27.
Thanos se virou para o 125.
— E você?
— Também 27.
Thanos arqueou as sobrancelhas e deu uma risadinha.
— Ué, e você tá obedecendo ele por quê? Vocês têm a mesma idade! Ele não é seu chefe, cara. Relaxa, estamos todos no mesmo barco.
Min-su bufou, mas não respondeu. Thanos, sempre o mestre da descontração, se virou para mim com um sorriso brincalhão.
— E você, baby? Qual é a sua idade?
Franzi o cenho imediatamente com o apelido, mas respondi:
— Tenho 26.
— E você? — Ele se virou para a jogadora de cabelo curto.
— 28. — respondeu ela, cruzando os braços e lançando um olhar afiado.
— Tá vendo? — Thanos disse, apontando para cada um de nós. — Ela é a mais nova, vocês dois são da mesma idade, e ela é a... tiazinha do grupo! Nam-ggyu, chama ela de tiazinha agora!
Ele riu, claramente tentando amenizar o clima pesado. Alguns deram risadas discretas, enquanto outros continuaram indiferentes. A jogadora de cabelo curto, no entanto, respondeu com um sorriso irônico.
— Tiazinha? Se você não calar a boca, eu faço você engolir esse apelido.
— Tá, tá. Peguei o recado! — disse Thanos, levantando as mãos em rendição, ainda rindo.
Apesar de sua atitude espalhafatosa, Thanos tinha esse talento irritante de aliviar a tensão, mesmo que fosse de maneira pouco convencional.
Logo depois, decidi me afastar do grupo. Eu precisava de um momento sozinha; minha mente estava um turbilhão, e parecia que eu ia enlouquecer a qualquer instante se não organizasse meus pensamentos. Encostei a cabeça na barra metálica da cama e fechei os olhos por um instante, tentando acalmar a confusão interna.
O silêncio foi interrompido por vozes baixas e murmúrios ao fundo. Abri os olhos devagar e vi o grupo de Gi-hun entrando pela porta. Apesar do cansaço visível em seus rostos, eles haviam vencido. Eu sabia que conseguiriam.
Dae-ho me avistou primeiro e, com o mesmo entusiasmo de sempre, acenou com um sorriso no rosto. Retribuí o aceno de forma discreta, tentando não demonstrar muito. Logo depois, 001 me lançou um olhar calmo, seguido por um leve movimento de cabeça, quase como um cumprimento silencioso. Respondi da mesma maneira.
Embora reconhecesse a familiaridade e o alívio de vê-los bem, não estava pronta para conversar. Precisava desse momento para mim, para reorganizar minha mente e encontrar algum equilíbrio antes de enfrentar qualquer interação. Falar com eles agora só bagunçaria ainda mais meus pensamentos.
Suspirei profundamente e voltei a fechar os olhos.
Meu plano inicial — que era extrair informações de Gi-hun — estava começando a ir por água abaixo. Apesar de eu ter me aproximado relativamente mais dele nos últimos dias, o grupo ao redor dele só crescia. Gente demais, conversas demais, olhos demais. Eu só seria mais uma tentando manipular a situação, e isso tornaria tudo mais complicado. Não tinha escolha: precisaria mudar minha estratégia. O jogo estava tomando um rumo onde eu não podia me dar ao luxo de me envolver emocionalmente, mas, ao mesmo tempo, não podia me afastar completamente. Era um equilíbrio perigoso.
Eu precisava ser cuidadosa, invisível nas minhas intenções. Não podia me destacar nem parecer uma ameaça. Afinal, havia jogos onde o trabalho em equipe era essencial, e garantir que minha formação de grupo permanecesse intacta era uma prioridade. Por mais que isso significasse engolir qualquer desconforto, ainda era minha melhor chance de sobrevivência.
Mas havia um problema. Um pequeno, incômodo e constante problema: o jogador 001. Ele estava me deixando louca. Era impossível ignorar que ele não era tão inocente quanto parecia. Algo naquele velho me incomodava profundamente. Por mais calmo e inofensivo que ele tentasse parecer, suas atitudes eram suspeitas demais para passar despercebidas.
Cada palavra que ele dizia, mesmo as mais tranquilas, tinham um tom afiado, quase ameaçador, como se ele soubesse muito mais do que demonstrava. Ele nunca parecia surpreso com o rumo dos acontecimentos, nunca hesitava. Aquilo não era normal.
E havia o episódio com o guarda. Eu não conseguia tirar isso da cabeça. A relação dele com aquele mascarado naquele dia... foi estranha, pra dizer o mínimo. Não parecia casual, não era algo que você esperaria de um jogador comum. Eu não sabia o que havia ali, mas era suspeito demais para ignorar.
Eu estava presa nesse dilema. Deveria confrontar 001? Investigá-lo mais de perto? Ou era melhor me manter afastada e apenas observar? O problema é que eu não tinha tempo para respostas fáceis. Cada decisão precisava ser calculada, cada passo dado com cuidado.
Suspirei, confusa. No final das contas, sobreviver aqui não era só questão de vencer os jogos. Era saber em quem confiar — Em ninguém na verdade, a quem evitar, e quando mudar o plano antes que ele se voltasse contra você. E no momento, tudo parecia estar à beira de desmoronar.
E os meus "sentimentos" por aquele velho eram uma bagunça que nem eu conseguia explicar. Era uma mistura sufocante de repulsa e fascinação. Parte de mim queria odiá-lo com cada fibra do meu ser. Ele era irritantemente enigmático, um jogo dentro do jogo, cheio de segredos e manipulações que eu ainda não conseguia decifrar. Tudo nele me deixava em alerta — o jeito como ele observava as coisas, como parecia saber mais do que qualquer um ali, como suas palavras sempre tinham um peso que só se revelava depois que era tarde demais.
Mas havia outra parte em mim, mais silenciosa, mais perigosa, que queria se aproximar dele. Não por afeição ou simpatia, mas por uma curiosidade doentia. Era quase como se eu precisasse tê-lo ao meu alcance, prender ele na minha teia e puxar cada fio de seus segredos sujos. Eu queria descobrir quem ele era de verdade, desmascará-lo, entender o que o fazia agir daquele jeito — e, de certa forma, controlá-lo.
Era como se ele fosse um quebra-cabeça que eu precisava resolver. E, ao mesmo tempo, ele me irritava profundamente porque parecia que ele sabia que eu estava tentando. Eu sentia que ele jogava comigo, sutilmente, sem nunca me deixar perceber o quanto estava no controle da situação.
Decidi me levantar e ir até o grupo. Precisava manter minha atuação convincente e, além disso, saber mais sobre o que eles conversavam. Quando me aproximei, pude ouvir um pouco da conversa. Eles estavam falando sobre nomes e seus significados, como se aquele momento de descontração pudesse amenizar o caos ao nosso redor.
— Bom, meu nome é Hwang In-ho, tá? — disse 001 com sua voz calma e calculada. — Mas podem me chamar de 001.
Hwang In-ho. Era um belo nome, pensei, um tanto indiscretamente. Um nome bonito... até para gemer.
— Eai, gente. Como foi o jogo de vocês? Eu sabia que vocês iam conseguir ganhar — falei, forçando um sorriso simpático enquanto me posicionava em frente a eles.
In-ho me encarava, como se pudesse ver através do meu teatro. Havia algo no olhar dele que parecia dizer eu sei exatamente o que você está fazendo.
— Nos saímos bem, mesmo com algumas dificuldades! — respondeu Dae-ho, sempre tão alegre. Ele parecia alheio a qualquer tensão. — Ah, Seulgi, você foi incrível!
Sorri agradecida, mantendo o personagem.
— É verdade, foi mesmo. Fez tudo muito rápido — In-ho comentou, ainda me observando. Senti o peso daquele olhar e, por um breve momento, precisei conter a língua para não fazer algum comentário indecente em resposta.
— Obrigada — murmurei, sem conseguir sustentar o olhar dele por muito tempo.
— Obrigada mesmo por ter me deixado ficar no seu lugar. — A grávida sorriu para mim, com uma expressão sincera e grata.
— Não precisa agradecer, relaxa. O importante é que você e o bebê estão bem! — Falei, tentando soar genuína. Meu tom parecia ter funcionado, já que todos ao redor concordaram com minha fala.
Antes que a conversa pudesse se prolongar, os mascarados entraram na sala, interrompendo o momento. Um deles começou a nos parabenizar pelo desempenho no segundo jogo. Era sempre o mesmo tom formal, frio, como se estivesse anunciando o óbvio.
Logo em seguida, o porquinho dourado no alto da sala desceu, derramando mais dinheiro em sua caixa. As notas empilhadas eram quase hipnóticas, mas, para mim, ainda estava longe de ser suficiente. Não pude evitar conter um xingamento interno. O valor era ridículo para as dívidas que eu precisava pagar. Aquilo sequer chegava perto de resolver a minha situação.
Eles então anunciaram os resultados oficiais do segundo jogo, o número de eliminados. Não era nenhuma surpresa, mas ainda assim foi desconfortável pensar nas pessoas que haviam caído. E, como esperado, fomos direto para a votação.
Como sempre, a votação veio acompanhada de um teatro insuportável. Gi-hun, com sua mania de achar que era o salvador da pátria, começou mais um de seus discursos emotivos. Honestamente, eu não sabia como alguém conseguia levar aquilo a sério. Para piorar, In-ho decidiu participar do espetáculo, soltando suas frases calculadas que, para mim, soavam como abobrinhas. Era irritante. Precisei me segurar para não deixar transparecer a expressão de desgosto diante daqueles discursos tão batidos e previsíveis.
A votação, como de costume, parecia interminável. Quando finalmente chegou a minha vez, me aproximei da urna com passos calculados. Sem hesitar, apertei o botão "X" novamente. Eu precisava manter o teatro, continuar no jogo. Além disso, sabia que, independente do meu voto, sair não era uma opção. A maioria queria ficar.
O que realmente me pegou de surpresa — até mesmo para mim, que sempre me considerei boa em ler as pessoas — foi o momento em que Jeong-bae votou para continuar o jogo. Não pude evitar erguer levemente as sobrancelhas, disfarçando a surpresa. Pobre Gi-hun... Nem mesmo seus próprios amigos estavam dispostos a ouvi-lo.
A decepção no rosto dele e do resto do grupo foi nítida. O silêncio que se seguiu ao voto de Jeong-bae parecia pesar como chumbo no ambiente. Mas, para mim, aquilo apenas fez com que eu gostasse ainda mais dele. Afinal, Jeong-bae não estava ali para seguir discursos moralistas ou alimentar ilusões. Ele entendia o que estava em jogo — literalmente.
[...]
Perto da hora de dormir, Gi-hun teve um surto de paranoia, alertando que poderiam nos atacar no meio da noite. No fundo, ele tinha razão — não havia garantia alguma de segurança ali. A tensão no dormitório era quase palpável, e, por via das dúvidas, decidimos montar um "forte". Empilhamos camas para criar uma barreira improvisada e nos escondemos sob as outras. Era algo rudimentar, mas nos dava uma sensação falsa de proteção, suficiente para que alguns conseguissem respirar com menos dificuldade.
Também combinamos de fazer vigia, revezando ao longo da noite. Ninguém confiava o suficiente para dormir profundamente, e a ideia de ter olhos atentos enquanto outros descansavam era a única coisa que nos mantinha em um frágil equilíbrio.
Quando chegou minha vez de me posicionar, rastejei para debaixo de uma das camas e me ajeitei no chão frio e desconfortável. A escuridão era quase total, exceto por alguns feixes de luz fraca que escapavam por cantos distantes. Fechei os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos ruins, quando ouvi um leve som de movimento.
Para minha surpresa, In-ho rastejou para debaixo da cama pelo outro lado e se posicionou ao meu lado, deitando no chão estreito. Ficamos lado a lado, separados por poucos centímetros, em um silêncio quase opressor. Por um momento, fiquei imóvel, confusa com sua presença ali. Eu não conseguia ver muito de seu rosto por causa da escuridão, mas sua respiração calma preenchia o silêncio.
A proximidade era desconcertante. Não esperava que ele se colocasse tão perto de mim, ainda mais sem dizer uma única palavra. Fiquei alerta, mas ao mesmo tempo intrigada. Ele parecia relaxado, como se aquilo fosse natural, como se já soubesse exatamente onde estar para parecer inofensivo.
Tentei ignorá-lo, focando em qualquer ruído no dormitório. Os sons eram abafados: sussurros distantes, o leve arrastar de passos, talvez alguém mudando de posição. A tensão me mantinha acordada, mas minha mente insistia em voltar para a figura ao meu lado.
— Não sabia que era sua vez de ficar de vigia... — sussurrei, sem olhar para ele. Minha voz soou mais firme do que eu esperava, apesar do tom baixo.
In-ho soltou um som leve, quase um riso abafado.
— E não é. — respondeu, a voz baixa, mas carregada de algo que eu não conseguia definir. — Só achei que ficar ao seu lado seria mais... Interessante.
Virei ligeiramente o rosto em sua direção, tentando decifrá-lo no escuro, mas tudo o que vi foi uma sombra. Sua calma era quase irritante.
— Interessante? — perguntei, tentando não soar provocativa, mas não pude evitar a ponta de curiosidade.
— Sim — ele respondeu simplesmente, como se não precisasse explicar nada.
O silêncio voltou a reinar entre nós, mas eu podia sentir seu olhar. Ele não precisava dizer mais nada, porque, de alguma forma, aquela única palavra já dizia tudo. Interessante. Seja lá o que ele estivesse pensando, eu sabia que ele estava me observando tanto quanto eu estava tentando decifrá-lo.
— Ainda com problemas de sono? — Ele perguntou com uma calma que beirava o desinteresse, mas eu percebia a curiosidade no tom.
— Não é algo passageiro — sussurrei, com uma leveza amarga. — Sempre sofri com insônia.
Ele fez uma pausa, como se ponderasse a resposta.
— E há algum motivo para isso?
Eu soltei uma risada baixa e quase sem humor, mais uma reação automática do que uma resposta genuína.
— Você sempre foi tão curioso, In-ho? — Perguntei, o tom sarcástico escapando sem querer.
Ele não parecia se incomodar com o tom. Apenas respondeu com a mesma frieza.
— Só quando realmente me interesso ou quando faço questão de saber algo. — Ele me lançou um olhar por entre a escuridão, seus olhos quase imperceptíveis, mas ainda assim presentes.
Eu mordi os lábios, hesitando antes de deixar a resposta sair. A tensão entre nós estava começando a ficar palpável.
— Qual é a sua, então? Ainda não entendi essa... — Perguntei, minha voz um pouco mais baixa, mais curiosa do que eu queria admitir.
Ele sorriu de forma sutil, e a resposta que se seguiu veio com uma leveza surpreendente.
— É mais simples do que você imagina, Seulgi. — Sua voz estava suave, quase enigmática. Ele fez uma pausa, como se estivesse me desafiando a entender.
O silêncio que se seguiu pesou mais do que qualquer explicação poderia. Eu sabia que ele não estava apenas falando de insônia, mas havia algo mais por trás. Algo que ele talvez quisesse compartilhar — ou não.
— Eu não sou uma adivinha. Não tenho como saber o que se passa na sua cabeça. — Falei devagar, minha voz quase um desafio. — Então, me diga. Eu quero ouvir isso da sua boca.
Ele soltou uma risada baixa, uma risada que não soou como diversão, mas mais como um prelúdio de algo mais intenso.
— Espero que saiba que, depois disso, não tem volta... — Sua voz estava mais grave, mais pesada. Eu podia sentir o tom de ameaça velada, como se ele estivesse se preparando para dizer algo que não poderia ser ignorado.
Eu o olhei, um pouco confusa, tentando decifrar o que ele queria dizer, mas uma sensação estranha começou a se formar no fundo do meu estômago.
— Eu não sei se percebeu, mas você realmente me deixa instigado. Curioso... — Ele pausou, seus olhos penetrando os meus. Eu podia sentir o peso daquela observação. Ele não estava apenas falando sobre curiosidade. — E eu nunca encontrei uma mulher tão... interessante e misteriosa quanto você.
Minha expressão se manteve em silêncio, mas a surpresa era impossível de esconder. Ele estava me analisando de uma maneira que me fazia me sentir exposta, como se estivesse me decifrando em cada palavra.
Ele continuou, sem se importar com o quanto estava me desestabilizando:
— Mas ao mesmo tempo... — ele respirou fundo, como se o que fosse dizer a seguir fosse algo mais pesado. — Eu não gosto de te ver desse jeito. Tão solta. Dando sorrisos fáceis para outros jogadores.
Porra, esse cara realmente era imprevisível. A mente dele parecia girar em direção a uma possessividade que eu não esperava. Eu fingi que não me identifiquei, mas uma parte de mim se agitou, reconhecendo a dinâmica dele.
— Eu quero você só pra mim, Seulgi. Não tá óbvio o bastante? — Sua voz saiu baixa, rouca, como se fosse uma declaração inevitável. Cada palavra carregava um peso, um desejo que não poderia ser ignorado. Ele não estava pedindo mais, ele estava afirmando algo, algo que ele acreditava ter o direito de exigir.
O tom de posse nas palavras dele me deixou com uma sensação estranha. Eu sabia que ele não estava falando só de controle, mas de algo mais profundo, algo que ele acreditava ser o que eu deveria ser para ele. Algo que ele queria de forma obsessiva, sem espaço para dúvidas.
Eu fiquei em silêncio, tentando processar o que ele acabara de dizer.
Eu não estava pronta para responder aquilo. Eu não era boa em expor o que sentia, nunca fui. As palavras me escapavam, e o que me restava era um silêncio carregado, uma confusão de emoções que eu não sabia como traduzir.
Então, em vez de dizer algo, apenas fiz o que minha mente, e meu corpo, pareciam exigir. Não havia mais espaço para racionalizar. Olhei para ele, diretamente nos olhos escuros, tão próximos de mim agora. Algo naquela intensidade me deixou vulnerável, mas também me envolveu completamente. Era como se os dois estivéssemos em um campo minado, prestes a explodir, mas eu não queria mais me proteger.
Sem pensar, sem palavras, me aproximei dele. O som de sua respiração misturou-se ao meu, e então os nossos lábios se encontraram, silenciosos, mas cheios de tudo o que não tínhamos dito até ali.
O beijo não era suave. Era intenso, como se ele quisesse deixar claro que não havia espaço para dúvidas, e eu, com a mesma necessidade de intensidade, me entreguei ao momento. Minhas mãos foram até sua nuca, puxando os fios que tinham ali. Nossas línguas deslizavam uma na outra como se já se conhecessem a tempos.
Senti a mão dele deslizar para a minha cintura, e então, com um movimento firme, ele apertou minha bunda. O toque foi inesperado, mas a intensidade com que ele fez aquilo fez meu corpo reagir instintivamente, e eu soltei um suspiro abafado, perdido entre nossos lábios. A proximidade entre nós parecia não ser o suficiente, como se tudo fosse insuficiente diante do desejo que começava a nos consumir.
A pressão do beijo aumentou, nossos corpos se pressionando um contra o outro, como se estivéssemos tentando anular qualquer distância, qualquer obstáculo. Eu sentia uma mistura de necessidade e impaciência enquanto tentávamos extrair o máximo de cada movimento, de cada toque, sem conseguir nos satisfazer totalmente.
Foi ali que eu percebi: eu estava completamente perdida. Eu precisava dele, e só dele. Ninguém mais poderia ter o meu homem. Ele tinha que ser meu, e apenas meu.
• O que acharam do capítulo?😈
• no próximo capítulo eu vou continuar essa cena só que do ponto de vista dele!
• Vocês tem alguma coisa pra comentar sobre alguma parte do capítulo?
• Mais uma vez peço desculpas pela demora que tá sendo pra eu atualizar, ultimamente tô com muitos problemas de criatividade e tenho medo de escrever algo muito previsível ou entediante.
• estou tentando o máximo possível desenvolver esse casal. Vocês estão gostando do desenvolvimento deles?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro