2. 001
Eu havia acabado de vencer meu primeiro jogo, e a confiança tomou posse de mim. Não que eu fosse convencida a ponto de acreditar que a vitória em todos os jogos seguintes estava garantida, mas eu tinha uma estratégia que parecia funcionar. Minha aposta foi colar no jogador 456, e, porra, deu muito certo. Ele realmente era uma caixinha de surpresas — nada menos do que o vencedor do último jogo. Meu instinto nunca falhava.
No entanto, minha empolgação durou pouco. O desgraçado não conseguiu manter o segredo e logo abriu a boca para revelar ter sido campeão dos últimos jogos para todo mundo. Agora, o que antes era uma vantagem se tornou uma complicação enorme. Com todos cientes de quem ele é, a atenção estará voltada para ele, e isso vai dificultar meu plano de usá-lo como escudo ou referência.
Depois de toda a ceninha das pessoas implorando e chorando para ficarem — o que, sinceramente, achei patético —, eles finalmente revelaram o valor do primeiro jogo. Foi quase instantâneo ver a mudança nas expressões de todos. O desespero deu lugar à ganância. E, graças ao discurso do coroa campeão, agora estamos em uma votação para decidir: prosseguir com os jogos ou ir embora.
Eu não sou idiota. Depois de ouvir as palavras do jogador 456, seria loucura minha votar para continuar. Ele precisa confiar em mim, e, além disso, eu tinha certeza de que a maioria das pessoas escolheria ficar. Eu conheço o tipinho das pessoas aqui. São pessoas que matariam e morreriam por dinheiro, e, depois daquela demonstração de riqueza, a decisão de muitos já estava tomada.
Então, coloquei minha melhor expressão de inocência, fazendo uma cara de sonsa e coitada, e votei para ir embora, como quem não quer nada. Parecia a pobre vítima do sistema, disposta a voltar à vida miserável lá fora. Para minha surpresa, o coroa até sorriu para mim. Mal sabe ele que esse jogo está só começando.
Quando o jogo empatou, mordi os lábios, apreensiva. Não podia ser verdade. Não agora. Só restava um jogador, e todas as minhas apostas estavam nele.
— Por último, jogador 001.
A sala inteira se virou, todos os olhares cravados nele. As pessoas do "X" e do "Círculo" começaram a gritar desesperadas, tentando influenciar sua decisão. Afinal, era o voto dele que decidiria tudo. Ele passou rápido, e eu não consegui captar seu rosto com clareza. Apenas sua postura chamou minha atenção: firme, mas carregada de hesitação.
Eu o observava atentamente enquanto ele caminhava até o painel. Ele parecia travar uma batalha interna, oscilando entre as opções como se estivesse pesando algo muito maior que um simples voto. Quando, finalmente, ele apertou o botão azul, as comemorações explodiram entre o grupo do "Círculo". Por dentro, eu também comemorava, mas mantive minha expressão neutra. Não era hora de revelar satisfação.
Então, ele se virou, e meu mundo deu uma leve pausa. Meu olhar mudou instantaneamente ao encará-lo. Aquele homem... Ele parecia a personificação de mau caminho. Seus olhos eram fundos, sombrios, como se escondessem segredos inconfessáveis. Cada movimento dele exalava mistério, e havia algo em sua presença que era ao mesmo tempo fascinante e ameaçador. Antes de seguir, ele me lançou um olhar profundo e direto, tão intenso que parecia atravessar minha alma. Era como se ele soubesse de todos os meus pecados, e das verdades que eu tentava esconder.
Por um instante, fiquei paralisada, incapaz de desviar os olhos. Mas logo voltei a realidade, seguindo meu caminho sem olhar para trás.
Esses jogos estavam começando a me fascinar de um jeito que eu nunca imaginei.
♥
Assim que peguei a marmita de comida, caminhei até onde estavam o jogador 456 e o 390. O coroa parecia exausto, quase derrotado. Seu rosto estava pálido, e o olhar vazio entregava algo que eu não sabia ao certo se era medo, culpa ou cansaço. Parecia que tudo estava se repetindo para ele, como um ciclo inevitável.
Parei ao lado da mesa deles e inclinei a cabeça com um sorriso simpático.
— Oi, será que eu poderia me sentar aqui com vocês? — perguntei, tentando soar casual, mas sem esconder o interesse em me aproximar.
Os dois trocaram olhares rápidos. 456 não disse nada, mas 390, sempre esbanjando uma energia nervosa, abriu um sorriso exagerado.
— Claro que pode! Senta aí, tá sobrando espaço! — disse ele, rindo alto. — Como se chama? Meu nome é Jeong-bae!
— Sou Seulgi, é um prazer!
Eu forcei um sorriso educado e me acomodei ao lado do campeão. Ele não olhou para mim, apenas continuou encarando o chão como se estivesse em outro lugar.
— Ele não quer comer nada — reclamou 390, cutucando 456 com o cotovelo. — Já falei pra ele que saco vazio não para em pé! Não é? Você não concorda?
Olhei para o coroa, que suspirou profundamente, ainda perdido nos próprios pensamentos. Resolvi intervir de maneira neutra, tentando manter o tom leve.
— Depois de um jogo desses, é meio difícil ter apetite, né? — comentei enquanto abria a tampa da marmita e dava uma olhada na comida.
Mentira. Eu estava faminta, quase salivando com o cheiro da comida. Mas dizer isso em voz alta seria um erro. Precisava manter a fachada, especialmente com 456 ao meu lado.
390 riu, pegando um pedaço de comida com a mão e mastigando sem cerimônia.
— Pois eu tô comendo por ele e por mim! Tá doido, depois desse show de horrores, só comendo pra esquecer. — Ele engoliu e apontou para a marmita do coroa. — Ei, se você não quiser a sua, pode passar pra cá, viu? Nada de desperdício!
456 finalmente se moveu, levantando o olhar de forma lenta e exausta. Ele não respondeu, mas o jeito que encarou 390 fez o outro ficar em silêncio por alguns segundos. O campeão então empurrou a marmita na direção dele, sem dizer uma palavra, e voltou a se afundar no próprio mundo.
— Opa, valeu! — 390 disse, pegando a comida sem pensar duas vezes.
Observei a cena com cuidado, analisando as expressões de 456. Ele parecia... quebrado, como se estivesse carregando algo muito maior do que apenas o peso do último jogo. Decidi não insistir na conversa e comecei a comer minha marmita em silêncio, mas com os olhos atentos.
— Sabe, não sei como é pra vocês, mas esses 20 milhões não dá nem pra pagar os juros da minha dívida. Se eu passar só mais um jogo e sair... — começou 390, gesticulando com a colher enquanto falava.
Eu continuei comendo, mas, por dentro, não pude deixar de concordar. Errado ele não estava.
— Jeong-bae, dá outra vez que vim pra cá teve uma pessoa que falou exatamente isso — disse 456, interrompendo. — E no fim, ela morreu aqui dentro.
Engoli em seco, mantendo meu olhar fixo na comida. Não disse nada, mas minhas antenas estavam ligadas, captando cada palavra.
— Então ajuda a gente nos jogos.
Minha atenção foi desviada quando 001 se aproximou com outros jogadores. Meu olhar encontrou o dele. Porra, pensei. Agora que todos sabem que o coroa é o campeão, vão grudar nele como carrapatos.
— Você disse que já veio aqui uma vez, né? — insistiu 190, voltando sua atenção para 456. — Eu só apertei o círculo porque você tá aqui. — Seu tom carregava uma sinceridade suspeita.
Mordi os lábios, tentando não demonstrar nada. Reconhecia um mentiroso de longe, e 001 estava fazendo seu teatrinho.
— Admito, eu tava com medo. Quase apertei no "X". Mas aí, te ouvindo, pensei: vale a pena tentar só mais um jogo. — Ele tentou soar verdadeiro, mas algo em suas palavras não me convenciam.
Olhei para 456, que suspirou, visivelmente incomodado com a situação. Então, meus olhos foram atraídos de volta para 001. Ele não tirava os olhos de mim, e dessa vez seu olhar era diferente. Mais decidido. Era como se ele estivesse me estudando, tentando desvendar algo sobre mim. Eu fazia o mesmo.
— Fala. Qual é o próximo jogo?
Fiquei quieta, mas por dentro estava tão curiosa quanto ele. O que diabos era o próximo desafio? E, mais importante, como sobreviver a ele?
Jeong-bae, tomou a frente, invadindo o espaço pessoal de 001.
— Ah, é. Você ganhou, né? Então deve ter ido bem em todos os jogos. Qual vai ser? Conta logo!
456 respirou fundo, parecendo pesar as consequências de falar ou não. Finalmente, ele respondeu com a voz baixa, quase num sussurro:
— O segundo jogo é o da colmeia de açúcar.
Antes que alguém pudesse reagir, um jogador se inclinou da cama de cima, segurando uma marmita na mão e mastigando despreocupadamente.
— Colmeia de açúcar? Isso não é aquele negócio de destacar figuras num doce? — perguntou ele, a boca cheia de comida.
Cruzei os braços, encarando o jogador.
— É, mas está óbvio que não vai ser tão fácil assim. — murmurei, tentando controlar o tom ácido. — Esses jogos nunca são simples.
001 finalmente desviou seu olhar de 456 e voltou a me encarar, como se minha reação o interessasse. Segurei o olhar por um segundo, desafiando-o a desviar primeiro, mas ele permaneceu firme, o que me fez sorrir levemente.
Esse cara é diferente. E eu precisava descobrir o que exatamente o tornava tão perigoso. Era bem excitante na verdade.
— Ela está certa! Tinha quatro figuras, e a gente tinha que escolher uma delas — explicou o coroa, com a voz carregada de memória.
— Quatro figuras? — Jeong-bae repetiu, franzindo a testa. — E qual delas era a mais fácil?
— O triângulo — respondeu 456 sem hesitar.
— E a mais difícil? — 001 perguntou, cruzando os braços com curiosidade maliciosa.
O coroa hesitou por um momento antes de soltar a resposta com um tom derrotado, quase como se revivesse o momento.
— O guarda-chuva.
Silêncio. A palavra pairou no ar por um instante.
— O guarda-chuva? — 001 ergueu as sobrancelhas, soltando uma risada irônica. — Alguém realmente escolheu o guarda-chuva? Quem escolheu isso sem saber o que estava por vir deve ter se ferrado bonito, né? — Ele terminou com um tom de deboche.
Eu não consegui conter um risinho baixo, mas assim que o olhar penetrante de 001 se fixou em mim, meu sorriso desapareceu. Ele parecia estar avaliando cada microexpressão minha.
— Mas você acha mesmo que os próximos jogos serão iguais aos de antes? — perguntei, cruzando os braços e olhando para o coroa. — Ainda mais com você aqui, explicando para todo mundo o que deve fazer. — Minha voz era calma, mas havia um toque discreto de provocação nela.
O coroa suspirou, massageando as têmporas.
— Não sei... Talvez mudem, talvez não. Mas o objetivo deles sempre foi testar as pessoas. Se eles acharem que isso está nos ajudando demais, podem fazer ajustes.
Eu segurei um suspiro, mas, por dentro, torcia para que os jogos não mudassem. Pelo menos, se fossem os mesmos, haveria alguma previsibilidade. Contudo, ao olhar ao redor, percebi que vários jogadores estavam prestando atenção na conversa. Era impossível que eles não soubessem disso também. Alguma coisa mudaria, com certeza.
— Você já tá se contradizendo. — provocou 001, voltando a falar. — Diz que os jogos são pra testar a gente, mas tá aqui, ajudando todo mundo com suas explicações. Ou isso é generosidade, ou você tá tentando formar uma aliança. Qual dos dois é? — Ele inclinou a cabeça, esperando uma resposta.
456 desviou o olhar, evitando o confronto direto.
— Eu só... não quero ver as pessoas cometendo os mesmos erros de antes.
— Erros ou escolhas? — retruquei, estreitando os olhos. — Porque, no fim das contas, todo mundo escolheu estar aqui. Você mesmo disse isso no discurso, lembra?
Infelizmente eu não consegui controlar a minha boca. O coroa olhou para mim, parecendo surpreso com minha ousadia. 001, por outro lado, soltou um pequeno sorriso de canto, como se apreciasse minha observação.
— Bom ponto — ele disse, voltando sua atenção para o 001. — No final, somos todos culpados pelas nossas próprias desgraças, não é?
— Ou sobreviventes delas — retruquei, encarando 001 de volta. Não sabia o que ele estava tentando, mas a idéia de entrar em outro joguinho parecia interessante.
Ele me lançou outro olhar penetrante, dessa vez mais longo, como se estivesse se divertindo com a interação. Eu mantive meu olhar, deixando claro que eu estava brincando de volta.
— De qualquer forma, minha intenção é ajudar todos e evitar o máximo de mortes possível. Mas, para isso, vocês têm que colaborar comigo — disse o coroa, a voz carregada de seriedade e cansaço.
Eu assenti lentamente, concordando com ele. Embora minha mente trabalhasse rápido, considerando o que ele realmente queria dizer com "colaborar". Ao meu redor, os jogadores que haviam se aglomerado para ouvir a conversa começaram a se dispersar. Era claro que muitos estavam registrando mentalmente tudo o que ouviram, mas ninguém queria ficar muito tempo na linha de frente.
Depois daquela conversa toda, resolvi me afastar. Socializar demais não era minha praia, e, para ser honesta, eu já tinha conseguido o que queria. Mais tarde, poderia arrancar mais informações do 456, mas por enquanto, preferia ficar sozinha.
Sentei-me em um degrau mais afastado, onde a agitação e as conversas não me alcançavam tanto. Enrolava uma mecha de cabelo entre os dedos, observando os outros jogadores. Não havia ninguém realmente inteligente ali, pelo menos não à primeira vista. Isso me dava uma certa vantagem. Não seria tão difícil enfrentar essas pessoas quando eu precisasse.
Meus olhos varriam o ambiente enquanto pensamentos estratégicos surgiam e desapareciam na minha mente. Foi quando ouvi passos se aproximando. Virei meu rosto com a intenção de afastar quem quer que fosse, mas me deparei com o jogador 001, que me observava com aquele sorriso calmo e enigmático que eu não sabia se me atraía ou me irritava.
— Tem algum problema eu sentar ao seu lado? — perguntou ele, a voz tão controlada que parecia ensaiada.
Levantei uma sobrancelha, analisando-o por um momento antes de responder.
— Depende. Vai tentar me convencer a ser sua aliada ou está apenas entediado?
Ele riu baixinho, como se estivesse achando graça na minha desconfiança.
— Quem sabe as duas coisas? Você parece... interessante. Não é como os outros jogadores.
— Interessante? — soltei uma risada curta, sarcástica. — É isso que você diz para todo mundo que tenta manipular?
— Não estou tentando manipular você — ele rebateu, mantendo o tom tranquilo. — Pelo menos, não agora.
— Que alívio — respondi, com uma ironia que ele parecia apreciar.
001 se sentou ao meu lado, cruzando as pernas com a mesma calma que parecia ser sua marca registrada. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas observando o restante dos jogadores. Era como se ele estivesse esperando eu falar algo primeiro, mas eu não mordi a isca.
— Então, você acha que pode sobreviver sozinha? — ele perguntou, finalmente, quebrando o silêncio.
Virei o rosto na direção dele, estreitando os olhos.
— A gente nasce sozinho, e morre sozinho. Eu consigo dar conta. — Respondi o analisando. — E também, sei bem que não posso confiar em ninguém aqui.
Ele sorriu de canto, como se minha resposta o tivesse satisfeito.
— Interessante. Mas sobreviver aqui não é só sobre não confiar. É sobre prever. Você é boa nisso?
Eu segurei o olhar dele, tentando decifrar sua intenção.
— Melhor do que você imagina.
— É mesmo? — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, com um brilho quase provocativo nos olhos. — Então, me diga... o que você prevê pra mim?
Eu o estudei por um instante, mordendo os lábios antes de responder. Essa ação não passou despercebida por ele, que fitou meus lábios por um instante.
— Você é perigoso. Mas não no sentido físico. Não é força ou resistência o que faz de você uma ameaça. É o que está na sua cabeça. Você observa, analisa... e usa isso quando menos esperamos.
Ele sorriu de verdade dessa vez, como se eu tivesse passado em algum tipo de teste. O ar que pairava sobre nós era perigoso, parecíamos dois pilantras tentando dar o golpe um no outro. Isso me deixava instigada.
— Nada mal, mesmo que esteja errada a respeito de mim. E você? O que as pessoas veem quando olham pra você?
— Uma mulher que não tem nada a perder. — Minha voz saiu firme, mas havia algo mais ali, algo que ele pareceu captar.
— Hmm... — Ele olhou para mim por mais alguns segundos antes de voltar a encarar os outros jogadores. — Talvez seja isso que nos torna parecidos.
Revirei os olhos, soltando um suspiro baixo.
— Não temos nada em comum. — Eu sabia que tínhamos, mas fingi que não.
— Se você diz... — Ele deu de ombros, ainda sorrindo. — Mas vou te dizer uma coisa. Os jogos não parecem testar só a força ou a inteligência. Eles parecem testar até onde você está disposta a ir. Espero que você esteja preparada quando chegar a hora.
Não respondi de imediato, mas suas palavras ficaram pairando no ar. Ele não parecia estar apenas me provocando. Era como se estivesse tentando me avisar de algo.
— Estou mais preparada do que você pensa — respondi finalmente, olhando-o diretamente nos olhos.
Ele inclinou a cabeça em um leve aceno, como se aceitasse minha resposta, e então se levantou, ajeitando a roupa.
— Veremos.
E, sem mais uma palavra, ele se afastou, deixando-me sozinha novamente.
Eu não pude evitar sorrir e balançar a cabeça em descrença. Esse homem era realmente interessante pra caralho, de um jeito que me incomodava. Havia algo nele que despertava uma sensação estranha dentro de mim, algo que eu conhecia bem demais.
Era aquela sensação que surgia quando eu começava a me perder em alguém, quando a obsessão tomava conta antes mesmo de eu perceber.
E isso, definitivamente, não era nada bom.
• Gostaram do capítulo amores? Eu simplesmente amei escrever ele.
• A doida da Seulgi já tá começando com as paradas obsessiva dela KKKKKKA
• querem que o próximo capítulo seja na visão do Inho ou da Seulgi?
• gente, eu demoro uma eternidade pra escrever o capítulo e penso que tá longo, e quando vou ler vejo que tá muito curto. Próximo capítulo prometo que vou tentar escrever mais longo!😭
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