Capítulo Vinte e Três
UMA SEMANA DEPOIS
A televisão estava ligada no canal de receitas. Sua mãe anotava a receita no caderno, cuidadosamente. Enquanto isso, Sam fitava a televisão, mas era como se não a visse. Há alguns minutos atrás Thomas tinha mandado uma mensagem dizendo que passaria em sua casa para conversar. Mas conversar sobre o quê? Seria sobre aquela noite? Sobre o beijo? Ou sobre a morte de Charlotte? Ou... Josh?
Samantha estava sentada, esperando ansiosamente. Ouviu sua mãe falando lhe algo, mas não prestou atenção.
— Samantha, atenda a porta! — Ela saiu de seus devaneios e percebeu que a campainha tocava.
Deveria ser Thomas, pensou.
Ao abrir a porta se surpreendeu ao encontrar Noah Guzman do outro lado. O detetive estava com um olhar como se fosse dar uma sentença. Ela pensou em fechar a porta na cara dele, mas viu que ele estava acompanhado de dois policiais, um homem e uma mulher.
— Em que posso ajudar? — perguntou cinicamente.
— Samantha Miller, você é suspeita do assassinato de Charlotte Grace, vim buscá-la para levar à delegacia e dar seu depoimento — disse Noah, a feição ainda séria.
— O quê? Eu? Suspeita? — Sam sentiu a boca ficar seca e quis gritar por sua mãe, mas ela surgiu ao seu lado milagrosamente.
— Detetive Noah? O que está acontecendo? — questionou a sra. Miller.
- Sua filha Samantha Miller estava na noite da morte de Charlotte Grace, e encontramos as digitais dela na arma usada no crime. Ela deve nos acompanhar até a delegacia.
Sua mãe ficou sem fala e olhou-a completamente confusa.
— Espere um momento, vou pegar minha bolsa.
Sua mãe desapareceu para dentro de casa. Noah abriu espaço para Samantha passar e a seguiu até o carro da polícia. Sentou-se, totalmente inerte. Sua mãe entrou logo em seguida, segurando a bolsa fortemente.
Samantha nunca imaginou que fosse passar por uma situação como aquela. Viu Noah olhando-a com descrença. Os dois policiais entraram no carro e partiram para a delegacia.
Há quanto tempo estava sentada esperando? Samantha se encontrava sentada bem em frente da sala de Noah, sua mãe já deveria estar lá dentro por meia hora, era tempo suficiente para Sam enlouquecer. Ela olhava para os próprios pés, a espera da sentença final. Mesmo não gostando nenhum pouco de Charlotte, nunca mataria a garota. Mesmo que tenha se deliciado mentalmente com a morte dela e se martirizado por isso. Era errado, alguém tinha morrido e a pessoa que havia feito aquilo ainda estava solta por aí. Nada que a garota tenha feito à Sam justificava seus pensamentos imaturos e repulsivos.
Ouviu uma discussão um pouco longe dali e viu surgir no corredor um Thomas bastante irritado. Ele discutia com um dos policiais.
— Eu não matei aquela garota, dessa vez tudo que está acontecendo não é minha culpa. — falava Thomas. O policial pediu para ele se acalmar, mas ele se recusava. – Naquela noite eu estava com Samantha Miller, pergunte para ela. Ela vai afirmar!
— Sinto muito rapaz, mas pelo visto sua amiga também é suspeita do assassinato de Charlotte Grace.
Thomas olhou-o confuso. Finalmente notou Samantha sentada ali e caminhou apressadamente até ela. Sam o olhou como se não o compreendesse. Dessa vez? Ele já fizera aquilo antes? Seria esse o motivo por ele já ter sido preso uma vez?
— Samantha, o que você está fazendo aqui? O que ele quer dizer com isso? Você, suspeita? Por quê? — Thomas encheu lhe de perguntas.
— É melhor aguardarem, logo o detetive vai chamá-los para ouvir o que tem à dizer — avisou o policial e se retirou.
Thomas se sentou ao lado de Samantha, o olhar perdido.
— Encontraram minhas digitais na faca usada no crime — murmurou Samantha depois de um longo momento de silêncio. Thomas ergueu a cabeça e a olhou.
— Como? Como pode ter sido você, se estava comigo naquela hora?
— Eu não sei, mas ele foi bem inteligente para conseguir isso.
O rapaz apoiou às mãos nas pernas e fitou a porta.
— O que você quis dizer com ''dessa vez''? — perguntou Sam, a curiosidade perceptível em sua voz.
O rapaz ficou em silêncio por um momento antes de responder.
— Aqui não é um bom lugar para te dizer isso, quando tudo isso passar, prometo que lhe contarei.
Samantha estava prestes a abrir a boca para insistir quando a porta da sala foi aberta e surgiu sua mãe. Ela estava com o olhar sério. Noah apareceu logo em seguida, com um olhar bastante misterioso e maçante.
— Vocês dois, entrem! — mandou Noah, indicando com a cabeça a sala.
Os dois, apreensivos, entraram e sentaram-se. Samantha começou a olhar em volta, tentando se distrair. A mesa estava bagunçada. Tinha um copo de café e várias papeladas desarrumadas. A única que estava aberta estampava sua foto. Ela apertou a mão em punho, fazendo os nós dos dedos ficarem brancos.
Noah entrou logo em seguida, o olhar penetrante e bastante avaliador. Estar ali depois de tudo que aconteceu era estranho, ainda mais na companhia de Thomas. O detetive se sentou em sua cadeira e juntou às mãos sob o queixo.
— Certo, vamos começar — falou o detetive.
— Primeiro, posso saber por que estou aqui? — questionou Thomas ao detetive.
Noah deixou escapar uma breve risada.
— O policial que o trouxe aqui deve ter dito, mas para esclarecer melhor, você e Samantha são suspeitos do assassinato de Charlotte Grace.
— E como podemos ser suspeitos se nem estávamos na hora que o corpo dela foi encontrado?
Noah respondeu a pergunta com outra pergunta.
— Primeiro, vocês podem me dizer onde estavam na hora do ocorrido?
— Juntos — responderam os dois ao mesmo tempo.
O olhar de Noah para Samantha não foi muito agradável, mas se ela poderia cogitar em algo, o detetive aparentava estar com ciúmes.
— Aonde?
— Na sala ao lado. Tinha uma porta destrancada e entramos — respondeu Thomas presunçosamente. Ele parecia estar se divertindo com a reação do detetive.
— Exatamente para o quê? — perguntou Noah, os olhos dele pareciam estar em chamas.
Foi uma tolice Noah ter perguntado aquilo, mas Thomas fez questão de responder. O rapaz deu um sorriso debochado, mas contido.
— Para nos beijarmos — respondeu sem pestanejar, o sorriso ainda brincando em seus lábios.
— Isso é verdade? — Dessa vez Noah se dirigiu à Samantha, fitando-a com o olhar enciumado.
— Sim.
O detetive pigarreou e pareceu levemente desconcertado.
—Por incrível coincidência, vocês dois desapareceram no mesmo momento em que Charlotte Grace provavelmente estava sendo assassinada.
— Eu a vi antes — começou Sam. Os dois homens na sala se voltaram para ela. — Antes de ela ser encontrada morta a vi ao lado de Elliot.
— Elliot? — questionou Noah.
— É um amigo meu.
— Onde posso encontrá-lo? — insistiu.
Samantha passou o endereço de seu amigo e o telefone, obrigatoriamente.
— Continuando... — falou o detetive. — As suas digitais foram encontradas na arma do crime, qual é a sua desculpa para isso?
Sam sentiu a garganta seca. Como suas digitais foram para naquela faca? Ela não fazia ideia.
— Eu não sei — respondeu, simplesmente. — Mesmo não gostando de Charlotte, nunca faria uma coisa como essa. E antes dela, duas amigas minhas morreram, você acha que eu também as matei?
Noah somente a avaliou e não respondeu.
— Então, você e a vítima tinham algum imbróglio?
— Ela nunca gostou de mim e eu também não fiz questão de agradá-la, simples assim.
— A faca com suas digitais e a inimizade entre vocês é o suficiente para colocá-la como suspeita, ou motivo suficiente para prendê-la. — Sam sentiu uma vontade súbita de ofender Noah, mas não o fez. Não seria bom para ela.
— E o que Thomas tem haver com isso? — perguntou Samantha, o olhar irritado, tentando a todo custo mostrar que não tinha nada relacionado com aquilo.
— Bom, pelo que parece vocês tem um relacionamento e ele te ajudou. Um cúmplice. Você não é forte o suficiente para matar sozinha a garota, não? Alguém para te ajudar seria o suficiente. – presumiu Noah. — E por incrível coincidência, as mortes começaram logo depois que ele chegou. Vocês dois conheciam a primeira vitima, era sua amiga e amante dele.
A palavra amante soou com bastante desdém nos lábios de Noah. Thomas o olhou furioso, apertando os braços da cadeira.
— Eu nunca faria isso — disse Thomas, cerrando os dentes.
Noah deu um sorriso cínico. Antes que o detetive pudesse dizer qualquer outra coisa, alguém bateu na porta. O policial, que discutia com Thomas mais cedo, abriu-a.
— Detetive Guzman, tem um homem querendo falar com o senhor.
— Diga para esperar — falou Noah, impaciente.
— Mas, senhor, ele disse que viu a pessoa que matou a garota naquela noite.
O detetive ficou subitamente interessado, e havia um resquício de esperança em seu olhar.
— Mande-o entrar. — O policial assentiu e deixou um homem baixo e rechonchudo entrar.
Ele tinha o cabelo castanho escuro e um olhar amedrontado.
— Sente-se — pediu Noah, indicando a cadeira ao lado de Samantha. O homem se sentou. — Então, você viu o assassino naquela noite? Como pode ter certeza de que era ele?
— Ele estava com uma faca na mão, e me ameaçou — respondeu o homem. Suas feições estavam pálidas.
— Você viu o rosto dele, senhor...? Qual é o seu nome mesmo? — indagou Noah, com o olhar bastante suspeito.
— Will Jones, senhor. Eu não vi o rosto dele, ele usava uma...
— Máscara do diabo — completou Samantha. Noah se voltou para ela.
— Você o viu? — indagou Noah a Sam.
— Eu... Eu o vi e ele fugiu.
— Ele usava uma máscara do diabo? — perguntou Noah ao homem.
— Sim, como a menina disse.
— E por qual razão ele fugiu? — questionou Noah novamente para Samantha.
— Eu fui atrás dele, por isso ele fugiu.
— Estava acompanhada de alguém no momento? — Noah a olhou desafiadoramente.
— Com Thomas. — Noah pareceu dizer algo, mas Sam não compreendeu suas palavras por estarem muito baixas.
— E você, senhor Parker, o viu?
— Não.
Noah sorriu, se divertindo com aquele momento constrangedor. Ele deveria pensar que ela era uma maluca, como todos.
— Certo, mas, senhor Jones, aonde viu o suposto assassino? Era Halloween e poderia ser apenas alguém fantasiado, não?
— Sim, senhor, era Halloween, mas eu nunca vou me esquecer daquele sujeito. — O homem ao lado de Samantha fitou a parede, como se não estivesse mais ali, e sim tivesse voltado para àquela noite. — Eu me lembro da voz dele, que jamais vou esquecer. Ele é o diabo de verdade, senhor detetive.
— E como pode ter tanta certeza? Ainda não me respondeu onde o viu? — indagou Noah, parecendo cansado de toda enrolação.
— Me mandaram tomar conta da porta dos fundos, que tem em frente ao beco — respondeu o senhor Jones. Sam se lembrou de ter saído naquele beco enquanto corria atrás da pessoa com a máscara. — Ele surgiu no beco e disse que queria entrar. Eu respondi que a entrada era somente pela frente, e que não permitiam entrar com máscara, mas ele insistiu, porém, continuei recusando. E, então, ele mostrou a faca e me ameaçou.
Thomas, Samantha e Noah prestavam bastante atenção no homem. Naquele momento ele parecia estar revivendo o momento.
— Ele disse que se eu não o deixasse entrar e sumisse daquele lugar o mais rápido, iria atrás de mim e da minha família e faria questão de nos matar. Ele me parecia bastante sincero, por isso, fui embora e disse a minha mulher que não iriam precisar de mim naquela noite. Eu sou segurança do lugar, trabalho há dez anos lá.
Noah não pareceu convencido.
— Então, o senhor fugiu? — perguntou o detetive. O homem assentiu com veemência. — E por qual razão decidiu vir somente agora?
— Eu fiquei com medo, senhor — respondeu o homem, mordendo o lábio inferior. — Mas tomei coragem e vim aqui. Não foi fácil, mas quando contei à minha esposa, ela insistiu para que viesse aqui. Ela sempre diz que a melhor coisa é a verdade, mesmo que cause riscos. Eu estava com medo e vim, mesmo assim.
Sam percebeu que Thomas ficara calado durante toda a conversa. O observou, mas o rapaz fitava as próprias mãos.
— Senhor Parker, posso saber o motivo do silêncio? — Noah também reparou, notou Sam.
Thomas ergueu o rosto. Parecia assustado.
— A minha fantasia era de diabo — respondeu Thomas. Noah arqueou as sobrancelhas, curioso. — E com ela tinha vindo uma máscara, como a que eles descreveram. Mas quando cheguei em casa ela havia desaparecido.
— Curioso... — murmurou o detetive. — Como explica uma máscara ter desaparecido assim?
— Não faço ideia.
— Inexplicável — falou Noah, cinicamente. — E quem poderia ter entrado em sua casa e ter pegado a máscara?
— Eu disse que não faço ideia. — Thomas estava furioso. Samantha conhecia bem o rapaz, e se Noah não fosse alguém que poderia prendê-lo a qualquer momento, provavelmente já teria estrangulado o homem.
— Senhor Jones, você poderia me dizer qual desses dois poderia estar por de baixo daquela máscara?
O senhor Jones olhou Samantha e Thomas atentamente, os avaliando.
— Não — respondeu o homem. Sam se sentiu aliviada. Nem percebera que estava tensa por aquela resposta. — Eu me lembro daquela voz. Nunca na minha vida a esquecerei.
— Tem certeza?! — Noah insistiu. Parecia desesperado por algo.
Samantha sabia que Noah se sentia frustrado em busca de respostas, mas querer que qualquer um deles fosse preso somente para resolver aquilo era bastante ridículo. Agir pela própria necessidade, ao em vez da verdade.
— Absoluta — respondeu o homem, bastante seguro de si.
O silêncio preencheu a sala. Noah estava pensativo. Thomas parecia furioso e assustado ao mesmo tempo. Samantha só queria sair dali rapidamente. O homem ao seu lado parecia apreensivo.
— Esse caso ainda não está resolvido. Vocês três estão dispensados — disse Noah. Ele se levantou e fechou a pasta com a foto de Samantha.
Os três sentados a frente do detetive se levantaram. O homem apertou a mão de Noah e saiu. Thomas fez o mesmo logo em seguida, ignorando o detetive, sem pensar duas vezes.
— O seu amigo parece bastante assustado — falou Noah, antes de Samantha sair.
Ela virou e os dois se encararam.
— Não fui eu e nem Thomas.
— Isso não é o suficiente. Aliás, não deveria confiar nele, acho que seu amigo esconde algumas coisas de você.
— Thomas não está me escondendo nada — respondeu Sam, irritada.
— Tem certeza? Ele te contou que têm uma passagem pela policia?
Samantha ficou confusa. Ela suspeitava daquilo, mas não tinha certeza. Aquilo poderia apenas ser o ciúme de Noah tomando-o e tentando enganá-la. Mas por que mentiria para ela? Será que o motivo por ter sido preso era tão grave assim?
— Isso é mentira.
— Pergunte você mesma — zombou Noah.
— E o testemunho do homem? — perguntou Samantha, mudando o assunto, com olhar fixo nos botões abertos da camisa dele. Parecia tentador, mas desviou olhar. Mesmo sendo tentador, aquilo parecia se tornar um jogo para ele, afinal, Sam conseguia ver perfeitamente a frustração tomando todo o controle do detetive.
— É o suficiente por hoje, pois é a única testemunha que tivemos. Afinal, por qual motivo ele defenderia vocês? — Mentira, não era o suficiente, jamais seria. Contudo, para livrar Samantha daquilo, Noah aceitaria. Seria o suficiente para livrar ela, mas, infelizmente, deveria deixar Thomas também ir. Por enquanto.
Samantha não o respondeu. Apenas se virou e saiu do local. Ela não tinha mais respostas para dar à Noah. Vê-lo já era complicado demais. Ficar a sós na sala com ele não diminuiria a sua traição. Sam não queria olhar no rosto de alguém que a acusava de ser uma assassina.
Após sair da sala encontrou no corredor sua mãe, Thomas e uma mulher com os olhos parecidos com o do rapaz. A mãe dele estava ali, e ela se sentiu mais insegura ainda.
— Samantha, está tudo bem? — questionou Claire, vindo em sua direção e abraçando-a. Sam não retribuiu com o mesmo entusiasmo.
Sua mãe se afastou rapidamente percebendo a rejeição. Sam estava com os olhos focados na mulher que se virou em sua direção. Ela tinha longos cabelos escuros e olhos azuis, era alguns centímetros mais baixa que Sam e parecia bastante jovem. Thomas ficou bastante sem jeito com o encontro das duas. O que o rapaz deveria dizer? Apresente-as, disse mentalmente a si mesmo.
— Samantha, está é minha mãe. — Thomas indicou a mulher parada ao seu lado totalmente interessada na pessoa de Sam.
— Sou Diana. — A mulher estendeu a mão em direção da garota. Samantha fez o mesmo, porém, a mãe de Thomas puxou-a para um abraço. — É um prazer em conhecê-la. Thomas fala sempre de você.
— Fala? — indagou Sam, surpresa, com o olhar indo em direção a Thomas, parecendo levemente curioso e divertido. Thomas revirou os olhos ao comentário da mãe.
— Sim! Bom, devo estar constrangendo ele, então, não direi mais nada, somente que é bem mais bonita do que eu imaginava — respondeu Diana, educadamente
— Ah, está é minha mãe — disse Sam, indicando a mãe, que estava parada ao seu lado observando a situação.
— Já nos conhecemos! — A mãe de Thomas parecia bastante entusiasmada, percebeu Sam. — Logo que cheguei aqui, ela me explicou o que estava acontecendo. Estava no trabalho, por isso demorei em chegar.
Thomas estava prestes a impedir sua própria mãe de ficar tagarelando quando ouviram um pigarro e todos os presentes se viraram para ver a pessoa que os interrompeu. O detetive Noah encontrava-se parado ao batente da porta observando-os. Thomas sentiu uma raiva abrupta invadindo-o. Se aquele homem não fosse um maldito detetive, o rapaz provavelmente já teria esmagado o rosto dele com um soco.
O que incomodava Thomas nele era o fato de olhar Samantha daquela forma, como estava olhando no momento. Ela não parecia perceber, mas Thomas via o desejo, ciúmes e a indignação rasgar seu olhar. O homem era enlouquecido por ela. E Thomas nunca em sua vida tinha visto um olhar como aquele em ninguém, além de si mesmo, e sabia que o detetive era apaixonado pela garota.
Ele olhou daquela maneira somente para uma única garota. Ashley. Ele jamais se esqueceria dela. Seu único e verdadeiro amor. Quando Samantha surgiu em seu campo de visão pela primeira vez, ele gostou dela. A forma como sorria, ou como o vento batia em seus cabelos, ou sua risada. Parecia perfeita, porém, ele temia a relação deles. E quando tivera a única chance de beijá-la, tudo aquilo aconteceu. A morte de Charlotte Grace os afastou. Na verdade, Thomas temeu se aproximar da garota. Nunca em sua vida abriria a boca para dizer aquilo, mas pensou que ela estivesse maluca.
Samantha tinha visto o assassino, ou o que ela dizia ser. Porém, Thomas fez o mesmo caminho que ela e não viu ninguém além dos dois. A atitude dela naquele momento o assustou, por isso decidiu se afastar. Mas quando cogitou na ideia de tentar algo novamente, os dois foram parar na delegacia. Apenas esperava sair dali e tentar novamente, mesmo que eles fossem provavelmente as pessoas mais odiadas da cidade.
O detetive conseguiu a atenção de todo e decidiu dar sua sentença final.
— As provas não são o suficiente, mesmo que tenhamos a arma do crime com as digitais de Samantha. No momento, vocês estão livres, mas não fiquem completamente felizes, o caso está em aberto e estaremos a espera de um erro mínimo e serão presos. — Noah não piscou quando soltou tais palavras. O olhar enciumado dele desapareceu e a frustração ficou estampada em seu rosto.
A mãe de Samantha agradeceu e elas partiram. Com um último olhar Sam viu os olhos de Noah a seguirem. O que estava acontecendo com ele? Ela sentia uma súbita vontade de abraçá-lo, mas seria uma tolice fazê-lo. Ouviu uma tosse a suas costas e percebeu Thomas parado com as mãos nos bolsos da calça jeans.
— Posso falar com você um momento? — indagou para Samantha, parecendo sem jeito.
— Claro — respondeu imediatamente. Sam pediu para que a mãe a esperasse por um momento, e assim o fez. — O que foi?
— Ahn... Hoje foi uma confusão... — começou Thomas, coçando a cabeça, indeciso. — Antes de virmos parar aqui, a única coisa que...
— Samantha. — Ouviu a mãe de Thomas, Diana, chamando-a. A mulher parou ao lado dos dois. — Desculpe atrapalhar a conversa de vocês, mas eu insisto que venha jantar lá em casa. Você e seus pais, o que acha?
Thomas imediatamente ficou vermelho. Samantha não sabia se era de vergonha ou fúria. O rapaz passou a mão no cabelo, sentindo-se desconfortável pela intromissão da própria mãe.
— Eu insisto.
— Eu falarei com meus pais e então passo a resposta para Thomas, tudo bem? — respondeu Sam.
— Deixe-me passar meu número de telefone, será até mais fácil. É provável que ele esqueça. Mas é praticamente impossível ele se esquecer de algo relacionado a você. — Diana deu uma risadinha ao terminar a frase. Ela parecia procurar algo dentro da própria bolsa.
— Mãe! — Thomas chamou-a, parecendo bastante envergonhado. — Deixe-a mandar a resposta pelo meu celular, e depois discutimos sobre isso. Preciso conversar com Sam no momento.
A mãe do rapaz pareceu finalmente se tocar do que estava fazendo, se despediu e saiu rapidamente dali, indo atrás da mãe de Samantha.
— Ela é divertida — comentou Samantha.
— Você ainda não viu nada... — respondeu Thomas, dando uma breve risada. — Mas o que eu estava querendo dizer era que passei os últimos dias querendo fazer isso.
E Thomas a beijou. Foi inesperado, porém, ela desejava aquilo. O beijo foi breve. Os lábios macios dele tocaram com suavidade os seus, mas se separaram rapidamente por estarem em público.
— Venha se quiser ao jantar — sussurrou ele. Tinham os rostos bem próximos um do outro. — Mas gostaria de fazer algo a sós com você.
Sam sentiu as mãos suarem. Apenas balançou a cabeça concordando e o viu saindo em direção ao carro que o esperava. E fez o mesmo, indo em direção ao carro dos pais que a aguardavam. Antes de entrar no carro, viu uma figura ao longe, em pé. A fumaça que saiu de seus lábios era visível. Ele tinha visto tudo... O beijo, os sorrisos. Samantha se achou uma tola e pensou que Thomas havia a beijado de propósito, apenas para deixar Noah com ciúmes. De alguma forma, sabia que o detetive ainda era apaixonado por ela. E Sam dizia a si mesma que não tinha aquele sentimento por ele. Havia sido enganada, e aquilo não se repetiria.
Se Thomas a beijou para deixar Noah com ciúmes, não importava. Se necessário fosse, faria aquilo repetidas vezes. Beijar Thomas não era um problema, era algo seriamente bom.
Tentou não pensar no ocorrido. A única coisa que deveria se preocupar no momento era o fato de ser suspeita do assassinato de Charlotte, e se mais alguma coisa a colocasse como culpada, seria presa. Samantha não queria ser presa, muito menos ver Thomas sendo preso. Decidiu que qualquer ideia que seus pais tivessem, apoiaria. Mesmo que fosse a pior.
Tá gostando da história? Então precisa saber que temos um grupo de leitores no wpp. Se tiver interesse é só mandar seu número (com DDD) e nome, que te adiciono!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro