Capítulo Trinta e Nove
Noah não pareceu surpreso. Apenas juntou as sobrancelhas por um momento e deu de ombros. A reação durou poucos segundos. Logo em seguida adentrou em seu carro e deu a partida, deixando Samantha sozinha. A noite fria ficou pesada, a neve aos pés da garota derretia em torno de suas botas. Ela se lembrou da promessa que fizera a Noah. Uma promessa que não poderia cumprir. Correu rapidamente para dentro de casa e foi para o interior da garagem. O carro da mãe de Samantha estava estacionado, perfeitamente limpo e quente. A garota entrou e deu à partida, o motor rugiu inicialmente e ela abriu a porta da garagem. Sam saiu para a noite fria, os postes de luzes iluminando a estrada pelo caminho em direção a morte.
Samantha manteve-se no limite da velocidade. Não que ela estivesse seguindo as regras, mas não pretendia encontrar com Noah na estrada. Ele poderia mandá-la de volta, e a garota não pretendia fazer o retorno e se esconder. Em nenhum momento viu algum carro na estrada, o que foi ligeiramente estranho. A estrada vazia deixava uma sensação inquietante dentro da garota, o sentimento aterrorizante de não saber o que viria depois. E se ela morresse naquela noite, o que aconteceria? Para onde iria depois disso? Seria apenas um fim, e nada mais?
A garota tentou evitar tais pensamentos, mas era complicado quando sentia a pressão da faca, guardada dentro do bolso do moletom, contra sua barriga. Como ele podia fazer aquilo? Matar as amigas que tanto se importavam com ele. Amigas que sempre estiveram ao lado dele. Samantha se sentia traída. Traída pela última pessoa que esperava. Seria por que ela se negara ficar com ele? Ou ele teria feito aquilo apenas para provocá-la? Se aproveitando da presa até dar o bote, pensou Sam.
Ela era uma presa como Melanie, Olivia, Charlotte e Sarah foram. E agora Lilly estava sendo aprisionada e torturada por Elliot. As seis garotas confiaram nele, confiaram em um monstro.
Os segredos mais escuros são das pessoas mais próximas. Aquela frase combinava perfeitamente com a situação, combinava perfeitamente com Elliot. Um assassino. Como ele tinha chegado a aquela situação?
Claro que o rapaz tinha passado por vários problemas na adolescência. Os pais brigavam frequentemente e haviam se separado varias vezes. Mas nada daquilo era motivo o suficiente para matar uma pessoa, muito menos seis garotas que o considerava um amigo.
Sam pisou no acelerador, o carro zuniu e correu mais rápido. Nada poderia impedi-la de voltar. Nesse momento Noah já estaria na cabana e teria resolvido o problema. Aos poucos se aproximava do local, a sensação inquietamente armazenada no peito de Sam não desaparecia. E provavelmente nunca o faria. Então a cabana surgiu, muito bem escondida entre as arvores, somente alguém que já tivesse ido a ela anteriormente a veria. Só alguém que soubesse onde ela estava a encontraria. Antes um lugar secreto e seguro, agora um lugar onde Samantha encontraria suas respostas e o fim da própria vida.
Existia a possibilidade de algo ter acontecido a Noah. Ou talvez ele não tivesse cumprido a promessa de ir sozinho e estava com a policia e a detetive Prescott arquitetando um plano para invadir o local e prender Elliot. Samantha ficaria com raiva, mas o compreenderia. Porém, se demorassem em chegar, seria tarde demais. Quando adentrou no caminho de terra que levava a cabana percebeu que o lugar estava completamente escuro, imperceptível a olho nu, mas os faróis do carro iluminaram a entrada da propriedade e o carro de Noah estacionado em meio à árvores. Ele tinha ido, sozinho. Samantha tremeu no banco do carro. Todas as luzes apagadas, o carro deixado, sozinho, no escuro, não poderia ser um bom sinal.
Samantha estacionou o carro e saiu, sem se importar em trancar as portas. Tocou o bolso do moletom e sentiu a faca escondida ali. Usaria se chegasse a ser necessário, mas mesmo assim segurou o cabo com força por dentro do bolso. Tudo estava sombriamente silencioso e o escuro não facilitava a caminhada da garota até a cabana. Ela prosseguiu aos tropeços enquanto com a outra mão apalpava as árvores. Sam tropeçou em alguma coisa e bateu a cabeça contra uma árvore no caminho. A dor nos dois lugares foi insuportável, mas continuou a andar. E então ela sentiu um cheiro. Um perfume masculino invadiu suas narinas. Samantha virou bruscamente e deparou com uma sombra, puxou a faca para se defender, mas não havia nada ali além da sombra. Ela arregalou os olhos e foi tarde demais quando sentiu algo acertando sua cabeça e deixando-a inconsciente.
Quanto tempo demorou em voltar à consciência, não fazia ideia. A primeira coisa que sentiu foi uma dor latejante atrás da cabeça, depois uma forte luz tomou conta de seu campo de visão. Tudo estava tão claro, pensou a garota. Em um instante enquanto piscava e se acostumava com a claridade, algo no aposento chamou sua atenção. Bem diante de Samantha estava sentado alguém. Lilly Price olhou-a de olhos arregalados e balançou a cabeça negativamente varias vezes. Samantha quis dizer algo, mas percebeu que os lábios estavam tampados com fita adesiva. E Lilly também estava na mesma situação, com os pulsos e pernas amarrados. As duas não podiam fugir.
O motivo dos olhos arregalados e a negação de Lilly estava no cômodo, escondido entre as sombras. Samantha não o viu no momento, demorou um pouco tentando entender a amiga até vê-lo. O lugar não estava tão bem iluminado. Continha apenas uma lâmpada que pendia no teto. O lugar cheirava a mofo, mas estava bem conservado. A pessoa alta e esguia que se escondia na escuridão ficou parada por um longo momento como uma estátua, apenas observando. O pânico tomou conta de Samantha e se viu de olhos arregalados com a mesma expressão de medo da amiga. Ele estava ali, há poucos metros, em silêncio, apenas aguardando. Ele estava saboreando o momento da vitória.
Ele deu um passo, dois passos, três passos. Era o suficiente para a luz iluminá-lo. Samantha não viu nada aterrorizante no momento. Ele parecia quase normal. Usava uma camisa preta de mangas compridas, calças jeans no mesmo tom, luvas e botas. Botas manchadas de tinta. Além disso, o traje dele estava composto com a pior parte. Uma mascara do diabo. E Sam lembrava-se perfeitamente daquela máscara.
O rosto vermelho sorria perversamente. O diabo por trás da máscara provavelmente apreciava a cena com o mesmo prazer. Ele se aproximou mais um pouco e puxou algo de trás da calça. A faca que Samantha carregava. Merda, pensou a garota. Ela não tinha mais nada para se defender. Ele girou a faca entre os dedos, as mãos cobertas pelas luvas, e a observou. As duas garotas o observavam, aguardando a sentença final. Qual das duas ele mataria primeiro? Daria um fim na vida de Lilly e faria Samantha assistir?
Ele nada vez, apenas parecia ponderar consigo mesmo. Deu mais alguns passos e parou em frente à Samantha. Agachou-se e ficou cara a cara com ela. Sam ouviu a respiração dele e sentiu o forte perfume vir contra suas narinas. Ela quis cuspir de nojo. Porque aquele perfume era tão familiar e dolorosamente bom. Um perfume que poderia trazer boas lembranças, mas naquele momento só dava lhe repulsa. Os olhos escuros tempestuosos brilharam por trás da máscara, ele estava sorrindo.
- Você trouxe mais um brinquedinho para me divertir. – disse ele. A voz soou abafada por trás da máscara. Lilly choramingou ao ouvi-la e um arrepio desceu pela espinha de Samantha. O corpo da garota tremeu e ela quis chorar. – Muito obrigado.
O agradecimento não soou sarcástico. Ele parecia apreciar consideravelmente a faca. Com a mão direita começou a levantar a mascara e expôs um sorriso largo de dentes perfeitamente brancos. E olhos escuros como o breu. Samantha sentiu o coração bater fortemente contra o próprio peito. Aquilo não parecia real. Definitivamente era um pesadelo. Como o pesadelo com Melanie e Sarah. Parecia real, mas não era. Não quando ele tocou a ponta da faca na mandíbula da garota.
- E eu não estou falando da faca. – disse Elliot. O assassino sorriu maliciosamente. – E sim do detetive.
Elliot arrancou a fita adesiva dos lábios da garota. Afastou-se dela e Sam tentou encontrar o ar para seus pulmões. Nada veio. As amarras nos pulsos estavam apertadas, a dor a inibia de pensar em Noah. Mas as palavras de Elliot a acertaram. Ele havia pegado Noah. O detetive provavelmente estava morto a aquela altura.
- O que você fez com ele?! – indagou Samantha a Elliot. Ele parou de andar. A voz da garota soou de forma desesperada.
Ele se voltou para Sam e com um passo rápido parou a sua frente. A mão esquerda dele tocou com força seu ombro e ela arquejou. A sensação do toque dele. Aquilo era real. Elliot continuou apertando o ombro da garota enquanto a fitava. Samantha quis chorar.
- Ainda não fiz nada. – ele cerrou os dentes. Parecia bastante furioso. – Você me desobedeceu, Samantha.
Ela arregalou os olhos e fitou Lilly. Elas precisavam arranjar um jeito de sair dali, mas a amiga olhava hipnotizada para Elliot, como se não pudesse acreditar no que estava vendo. O assassino se afastou subitamente da garota e olhou para Lilly, sorrindo. A amiga piscou, estupefata, os olhos marejados ainda aterrorizados.
- Veja Lilly. – Ele indicou a garota de cabelos castanhos, sentada em frente de Sam. – Me obedeceu como um cachorrinho. Ela foi esperta. Não vou fazê-la sofrer enquanto morre.
Elliot virou-se para Sam e sorriu.
- Já sobre você, não posso dizer a mesma coisa. – disse Elliot. Ele cerrou os punhos e a olhou com intensidade. – Não queria fazê-la sentir dor, mas como não fez o que eu pedi, vou fazer você suplicar pela própria morte.
Samantha não percebeu, mas lágrimas escorriam pela sua face e Elliot a olhava com aprovação. Sam soluçou e tentou controlar a choradeira.
- Co-mo... Como fez com Sarah? – murmurou Sam. Elliot, que se movimentava perto de uma mesa recostada no canto, parou abruptamente. – Você não hesitou em bater na cabeça dela dezenas de vezes.
Elliot olhou para Sam e deu de ombros.
- Sim, não hesitei. Na verdade, apreciei muito. – ele sorriu marotamente. – Alguém como ela merecia aquela dor.
Lilly choramingou quando ouviu Elliot dizer tais palavras. Samantha segurou o próprio choro e fitou o rapaz com toda a raiva.
- Me diga por que merecemos morrer! O que fizemos para você?! – esbravejou Samantha, a voz rouca.
O assassino ficou boquiaberto e depois desatou a rir. A risada dele antes soava divertida, agora causava repulsa na garota.
- Esta é a pergunta que não quer calar, certo? – perguntou ele, retoricamente. – Pensei muito se diria isso a vocês duas. Obviamente merecem a verdade, mas seria muito clichê.
Ele estalou os dedos e caminhou até Lilly. Levou a mão direita para o cabelo de Lilly e começou a acariciar. A amiga ficou estática, os olhos desesperados na direção de Sam.
- Por que o assassino sempre conta a verdade no final da história? – indagou Elliot, perdido em pensamentos enquanto acariciava as madeixas do cabelo castanho de Lilly. – Não! Seria muito impertinente. Mas a verdade é que vocês vão morrer logo, então merecem saber.
Ele soltou um suspiro entediado e puxou uma cadeira para se sentar. Olhou para Samantha por um longo momento e sorriu gentilmente.
- Pergunte o que quer saber. – disse ele a Sam. Fez um movimento com as mãos como se a incitasse a perguntar.
A garota não sabia o que dizer. Perguntar? Ele não lhe deveria contar a verdade o mais rápido e simplesmente matá-la antes que sentissem sua falta? Mas Elliot agia como se tivesse todo o tempo do mundo.
- Vamos lá, Sam. – insistiu ele. Samantha sentiu a garganta arder quando o ouviu chamá-la pelo apelido. – Já que não vai perguntar nada, é melhor eu começar, certo?
Os segundos passaram. Elliot tamborilou os dedos na perna e ficou a pensar. Ele tinha uma expressão serena, quase entediada, enquanto pensava.
- Pensei muito sobre isso. – ele começou. – Pensei sobre o que iria dizer a você. Porque eu queria que você fosse a última. – a garota se sobressaltou. Ele continuou: - Há muito tempo atrás sou apaixonado por você.
Tais palavras a deixaram sem fôlego.
- Como também fui apaixonado por Charlotte, Olivia. Aah! – Ele soltou um suspiro. – Sarah. E Melanie, é claro. Não posso me esquecer de Melanie. A decisão de matá-la foi tão súbita que nunca vou me esquecer da sensação da vida dela se esvaindo do corpo. Foi tão prazeroso! Melhor ainda quando deixei minhas marcas em seu corpo, marcas que só vão desaparecer depois que ela estiver completamente decomposta.
Samantha gemeu. A ânsia tomou conta de seu estômago, uma dor aguda atravessou-a e ela tentou conter.
- Melanie mentiu para você, mentiu para todos nós. – Elliot semicerrou os olhos, como se lembrasse de algo. – Traiu o namorado com o maldito Parker. Uma garota perfeita como ela não poderia ter feito aquilo. Quando fiquei sabendo a respeito, enlouqueci. Se não ficava comigo, não poderia ficar com ele. Por isso, naquela noite, a festa na casa de Isaac, eu tomei a atitude de dar o fim a ela. Dar um fim ao sofrimento que ela guardava, as mentiras. Ela não podia ter dois ao mesmo tempo. Quando Logan descobriu, nada fez, isso me decepcionou.
O olhar perdido de Elliot vagou pelo assoalho do chão. Por um longo momento nada disse, até recobrar-se do transe e sorrir casualmente a Sam.
- Então, quando a matei, e você viu como fiz, decidi deixá-la pendurada na árvore do seu quintal. Como um presente, sabe? – ele a indicou. – Enquanto você e seu namorado Josh fodiam no sótão.
A garota sobressaltou-se e fitou o assassino. Ele sabia que Josh estava com ela naquela noite. O que mais ele poderia saber? Tudo. Elliot era muito observador.
- Fiz o mesmo com Olivia. O motivo, por incrível que pareça, era o mesmo. Ela traía Nathan toda quinta atrás do vestiário masculino com Josh. – Ele riu consigo mesmo. – Era tão obvio, que quando vi, não pude acreditar. Também não entendia o motivo de ficar com alguém como ele. Josh sempre foi tão repulsivo.
- Repulsivo é o que você faz! – gritou a garota. Elliot pareceu muito irritado, mas se manteve sentado, as mãos pousadas sobre as pernas.
- Se esqueceu do que ele fez a você, Samantha?! – Elliot cerrou os punhos. – Quer que eu a lembre?!
Sam sentiu a garganta fechar. Ela não queria se lembrar. A garota mordeu o lábio inferior com fúria. As amarras machucavam seus pulsos enquanto tentava tira-las, mas qualquer tentativa era inútil. Samantha manteve-se calada e deixou Elliot prosseguir.
- Melhor assim. – disse ele, aprovando o silêncio dela. – Já Charlotte foi muito melhor. Os comprimidos.
Lilly arregalou os olhos, surpresa, e Elliot apreciou a expressão.
- Você sabia sobre os comprimidos, não é, Lilly? – Lilly baixou o olhar quando o assassino se dirigiu a ela. – Charlotte não contou a ninguém, além de Lilly, sobre os medicamentos. Foi tão difícil acreditar que alguém como Lottie se medicava. Ela tinha depressão. E agia como se nada a abatesse.
Elliot balançou a cabeça pesarosamente.
- Uma mentira como aquelas não poderia durar por muito tempo, mas ela nos enganou desde o primeiro ano. Me enganou! – Elliot levantou-se abruptamente, a cadeira tombou e caiu por causa do movimento. – E eu a amava. Amava com toda a força.
O assassino deu alguns passos em volta da cadeira de Sam.
- E pensar que fizemos amor várias vezes, no escuro. Ela se negava a acender a luz, sabe. – comentou Elliot. – Porque tinha vergonha das marcas no corpo dela. Eu a odiei quando mentiu para mim, por isso mereceu morrer. Foi divertido fazê-la ingerir todos os comprimidos antes de matá-la.
Elliot puxou a cadeira para cima e sentou-se de frente a Samantha. A garota forçou as amarras do pé. Ele percebeu o movimento e sorriu ironicamente.
- Para de tentar soltar as amarras, só vai se machucar mais. – disse ele a Sam. – Agora sobre Sarah. Eu adorei matá-la na verdade, como me acusou. Planejava enrolar um pouco com ela, esperar um tempo, mas Sarah começou a suspeitar de mim. Suspeitar de mim depois que a beijei e ofereci dinheiro para transar comigo.
Samantha quis cuspir em Elliot ao ouvi-lo dizer tais coisas sobre Sarah. A garota nunca se submeteria a aquilo.
- Ela se negou, é claro. Então entrei no blog especial dela e ofereci mil dólares. Ela aceitou, mas não sabia que era eu. – Blog especial? – Quando fomos nos encontrar, ficou aterrorizada ao ver que era eu quem tinha proposto os mil dólares. Você não sabia, Samantha? Sarah se prostituía virtualmente.
Tanto Sam quanto Lilly ofegaram. Ninguém sabia sobre aquilo.
- Fiquei furioso quando ela se negou novamente. Mil dólares era muito dinheiro, e pelo que me parecia ela estava juntando grana para a faculdade. Eu só queria ajudar. – disse Elliot, naturalmente. – Me pergunto se os pais dela souberam da onde vinha o dinheiro extra. É estranho imaginar que alguém como ela, alguém que adorava ir à igreja e cantar, fez algo tão pecaminoso como a prostituição.
O assassino suspirou e cruzou as pernas casualmente. Elliot parecia não ter mais nada a dizer. Samantha sentiu a dor no estômago novamente, mas a ignorou. Ela queria saber de mais uma coisa. O que ela tinha feito a ele?
- O que eu fiz a você? – indagou Samantha, a voz rouca.
Ele ergueu os olhos e a fitou. Não tinha um típico sorriso maldoso nos lábios, apenas estava sério. Então, ele disse:
- Nada, e esse é o problema.
N/A: Postei mais um capítulo por causa da insistência das minhas leitoras. Então, em homenagem as Migas da Samantha, tá ai o capitulo. Espero que tenham gostado! E não me matem! Hahah.
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