UMA SEMANA DEPOIS

A semana passou tediosamente, sem novidades. Noah não foi atrás de Samantha como ela esperava — claro que ela não mudaria de ideia em relação a ele, definitivamente o pequeno caso deles tinham acabado, — porém, queria noticias sobre Thomas. Ela sabia que ele escondia alguma coisa e durante a primeira semana de aula pensou em todas as maneiras de se aproximar dele amigavelmente, mas faltava tomar coragem.

Quando se sentou sozinha em uma mesa afastada no refeitório durante o intervalo, viu Thomas acompanhado de algumas garotas. Obviamente elas estavam enfeitiçadas por ele. Coitadas, pensou. Mas quem era ela para falar alguma coisa? Sam se sentia atraída pelo maldito rapaz, e não entendia o motivo. Não sabia se era pelos lindos olhos azuis ou pelo cabelo bagunçado de forma adorável. Ou simplesmente pelo sorriso sedutor, ou a risada divertida.

Só falara uma vez com ele e já se sentia tolamente interessada. Não gostava dele, é claro. Mas ele era carne nova e, bem, era lindo. Ás vezes se pegava pensando em Noah, mas logo se martirizava por isso. Ele não gostava dela. Samantha era só um passatempo para Noah. Enquanto ele cuidava do caso na cidade, Sam seria seu brinquedinho. A própria apostaria que Noah já estava provavelmente paquerando ou ficando com uma garota daquela escola. Ela conteve o ciúme tosco e voltou a observar Thomas Parker.

E foi pega. Maldição! Odiava quando isso acontecia enquanto estava olhando algum garoto e ele a olhava de volta, era uma situação constrangedora. Não sabia se sorria ou se desviava os olhos. Então optou pela segunda opção. Mas se Samantha Miller pensou que tinha passado despercebida, estava enganada. Thomas sorriu na direção dela e despachou as garotas ao seu redor. Claro que não foi rude. Apenas disse que tinha que ir falar com alguém. E obviamente as jovens não gostaram da atitude dele, mas se afastaram sorrindo tolamente como de costume.

Quando ele já estava perto demais para Sam sair daquele lugar rapidamente, ela apenas retribuiu o olhar dele, mas de uma forma confusa.

— Posso me sentar aqui? — perguntou Thomas, a voz soando rouca.

— Pode — respondeu Sam, pigarreando.

Thomas se sentou e colocou a mochila sobre a mesa. Ele parecia confortável. Todavia, aquela situação deixou Sam se sentindo o oposto, afinal, tinha muitos olhares na direção deles. Claro, desde que as aulas voltaram, as pessoas tinham esse costume inconveniente de olhá-la por muito mais tempo do que o normal. Ela não sabia se era porque Isaac já havia espalhado a notícia de que Thomas era suspeito no caso da morte de Melanie ou se as pessoas estranharam a atitude dele de se sentar com ela.

— O seu namorado não para de olhar na nossa direção — comentou Thomas.

Samantha piscou, confusa, por um instante.

— Meu namorado? — perguntou.

— Sim. Joshua. O capitão do time, certo? — insinuou ele, com um sorriso brincalhão em seus lábios.

— Ele não é meu namorado — respondeu firmemente, sentindo-se aborrecida.

Samantha olhou em volta a procura de Josh. E o encontrou encarando os dois, sem ao menos disfarçar. Ela conseguia sentir o ódio dele emanando do outro lado do refeitório. Josh se encontrava sentado entre duas garotas, e uma delas era a tal loira. Samantha trincou os dentes e retribuiu o olhar com a mesma intensidade.

— Fico satisfeito – disse Thomas, sorrindo daquela maneira zombeteira. E como aquele sorriso era lindo. Céus!

— Ele é um idiota, apenas isso. Não precisa se incomodar.

— Não me incomodo, mas ele não parece gostar muito de mim.

 — Ele não gosta de ninguém — admitiu Sam.

Thomas continuou a olhá-la por algum tempo.

— Você também não parece gostar muito de mim.

- Nós mal nos conhecemos. — Sam suspirou, tensa.

— Eu sei o que você pensa sobre mim. — Thomas se levantou bruscamente e pegou a mochila.  — Mas eu não a matei.

Então, ele se foi, assim, de uma hora para a outra, sem dar satisfação. Samantha ficou atordoada por alguns instantes antes de se levantar e partir atrás de Thomas. Uma dúvida surgiu dentro de si. Será que ele não era o assassino de Melanie? Ele pareceu ficar abalado com as suspeitas dela.

Ela o encontrou próximo ao bebedouro. E ele não pareceu muito contente, obviamente. O corredor encontrava-se vazio, o que deixou Samantha mais aliviada. Cansou-se de ser mal olhada por todos.

— Thomas... — Sam chamou seu nome. Ele se virou e a observou se aproximar. — Eu não estou acusando você de ter matado Melanie.

— Não precisa vir aqui me olhar com pena. — Ele cerrou os dentes, tenso. — Você não é a única que pensa assim.

— Eu sei — murmurou ela. — Mas a única coisa que quero saber é, por que estava com ela naquela noite? Por favor, me diga.

O silêncio preencheu o ambiente. Sam o fitou, suplicante.

— Estou cansada de ficar sem respostas. — disse Samantha, enquanto soltava um suspiro exasperado.

Thomas engoliu em seco e esfregou as mãos no jeans escuro.

— Podemos falar sobre isso outra hora... — Ele olhou para trás de Sam, bastante irritado.

— Por quê? — perguntou inocentemente. Entretanto, naquele momento muita coisa aconteceu ao mesmo tempo.

— Você foi rápida. — Sam escutou uma voz a suas costas e se virou.

Josh Turner estava parado bem ali. Punhos serrados e aquele mesmo olhar irradiando ódio.

— Josh, o que esta fazendo aqui? — Sam perguntou, já se sentindo incomoda com a situação.

— Ah, Samantha! Não me venha com perguntas agora... Sou eu quem deve fazê-las. Trocou-me por esse idiota do Parker?!

— Eu não te troquei por ninguém — grunhiu Sam, sentindo um bolo de raiva formando em sua garganta

— Primeiro o detetive e agora ele. Realmente, você é uma vadia, meus amigos me falaram isso... E estavam certos — falou Josh, maldosamente, dando um riso debochado.

— Não fale assim com ela — gritou Thomas, irado. Ele deu uma passada e ficou cara a cara com Josh.

Josh retribuiu o olhar de Thomas. Os dois rapazes pareceriam estar em uma disputa de quem conseguia encarar um ao outro por mais tempo. Thomas era mais alto que Josh, o que poderia se tornar cômico no momento, se não fosse por Josh ter empurrado Thomas contra os armários. Thomas fez um barulho com a boca e se jogou contra Josh.

— Parem! — gritou Samantha. Obviamente os dois rapazes não escutaram seu pedido.

Só que havia um problema. Os alunos que estavam no refeitório e nas salas escutaram, e então surgiram e começaram a tirar fotos e a gravar vídeos. Eles gritavam como animais.

Josh tentou tirar a todo custo Thomas de cima dele. Contudo, Thomas era mais forte e socou o olho direito do rapaz violentamente. Tudo parecia passar lentamente, até o momento em que Elliot apareceu milagrosamente. Ele conseguiu separar os dois, puxando Thomas bruscamente, que antes conseguiu chutar a barriga de Josh, que se encolheu no chão em agonia. E Sam não conseguiu conter o sorriso. Entretanto, se sentiu tola por ser a causadora daquela briga, e antes que pudesse gritar com Thomas ou sair correndo, uma voz preencheu o ambiente fazendo com que todos os alunos parassem a bagunça e escondessem os celulares.

— Vocês quatro! Na minha sala! Agora! — O diretor Paul Scott gritou, deixando explícita a raiva dele.

Samantha pensou em dizer algo, como ''Elliot não tem nada haver com isso'', porém o amigo a olhou pedindo para permanecer calada. E o fez, sem pensar duas vezes.

Josh andou apressadamente à frente. Thomas caminhou normalmente, parecendo satisfeito por espancar o rapaz. Já ela ficou ao lado do amigo, que passou o braço em volta de seus ombros gentilmente.

Os quatro se sentaram na secretária, a espera de serem chamados pelo diretor, que logo entrou em sua sala e mandou-os esperar. Josh se sentou mais afastado deles, com uma cadeira separando ele e Thomas. O pobre rapaz tinha o nariz sangrando e provavelmente os dois olhos iriam ficar roxos. A secretária entregou imediatamente gelo para ele colocar no rosto. Ela não ofereceu a Thomas, apenas fez uma cara feia e voltou para trás da mesa.

Thomas estava curvado com os braços apoiados nas pernas. Ele virou o rosto na direção de Samantha e lançou um sorriso divertido. Imediatamente sentiu as bochechas queimando, mas dessa vez ela não desviou o olhar, apenas retribuiu o sorriso, mas revirou os olhos. Os dois pareciam dividir uma piada interna. O que deixou Sam satisfeita, e naquele momento sentiu aquela sensação. Que passou pelo peito e desceu pra boca do estomago. Como se tivesse algo voando dentro de si, fazendo cócegas. Como borboletas no estômago. Maldição, ela estava gostando dele.

— Entrem — ordenou o diretor Scott.

Os quatro se levantaram e pararam de pé bem em frente ao diretor, que os olhou aborrecido.

— Agora quero saber o motivo dessa estúpida briga — pressionou o diretor, mantendo-se de pé e fitando os alunos.

Ninguém falou nada.

— Estão mudos? — insistiu ele, impaciente.

— Josh me chamou de vadia — disse Samantha, com a voz embargada, acusativa.

O diretor a olhou boquiaberto e se voltou para Josh, que estava com o gelo em um dos olhos.

— E o senhor pode me dizer exatamente porquê a chamou assim?

— Eu... — começou Josh, sem saber exatamente o que dizer.

— Por que ele é um babaca — respondeu Thomas, sarcasticamente.

— Senhor Parker, creio que não me dirigi à você, ainda.

Elliot fez um som com a boca, chocado e se divertindo.

— E você, senhor Cooper, pode me dizer como se meteu nisso também?

— Bem, apenas separei os dois — respondeu Elliot, dando de ombros, naturalmente.

— Interessante... — comentou o Sr. Scott — E então o Sr. Parker decidiu defender a honra da Srta. Miller, agredindo o colega?

— Exatamente, senhor — afirmou Thomas, não dando importância para a situação.

— Sr. Parker, sei muitas coisas que o senhor fez na outra cidade que morava anteriormente e que foi expulso da escola que estudava. Aceitá-lo aqui não foi fácil. Mas queríamos dar uma chance ao senhor e está desperdiçando-a agindo dessa maneira.

— Perdão, diretor. — Thomas ergueu o queixo e olhou o diretor minimamente. — Isso não irá repetir novamente, prometo.

O problema de Thomas era que ele não conseguia conter o sorriso zombeteiro, mas a sorte dele foi que o Sr. Scott voltou à atenção para Josh.

— E o que você me diz, senhor Turner? — insistiu ele.

— Não irá se repetir — repetiu Josh.

— Fico satisfeito. — Ele sorriu, mas ainda parecia desagradável. — Creio que o senhor Turner deve um pedido de desculpas para a srta. Miller.

Naquele momento Sam se empertigou enquanto todos esperavam. Thomas fuzilou Josh até que ele a olhasse e dissesse:

— Me desculpe.

Samantha só balançou a cabeça, sem dar importância, mas se sentia magoada. Porém, empurrou esse sentimento para o fundo da mente.

— Agora ligarei para os pais de vocês, podem ir. — Os quatro quase se empurraram para saírem apressadamente. – Aliás, sr. Parker e sr. Turner estão suspensos por três dias. E senhor Parker?

Thomas se virou, nenhum um pouco feliz por ser chamado novamente.

— Não tenha esse ato heroico novamente, mesmo que seja muito gentil da sua parte, violência não resolve nada.

— Claro, senhor. — E assim Thomas fechou a porta atrás de si.

Josh já havia desaparecido quando Samantha colocou os pés para fora da sala. Elliot perguntou baixinho se Sam queria ir para casa ou algo do tipo, mas ela apenas disse que estava tudo bem. Elliot se foi pelo corredor enquanto Samantha aguardava por Thomas. Ele saiu e os dois se entreolharam.

— Obrigada pelo seu ato heroico — começou, sorrindo docemente.

— Ah, que isso! Gosto de agir como um herói no meu tempo livre — brincou Thomas, retribuindo o sorriso.

— Fico satisfeita por tê-lo deixado com os dois olhos roxos e o nariz sangrando.

— Você é uma garota cruel — comentou ele, sorrindo de lado.

— Ele merecia... Merecia mais.

— Concordo. — Thomas assentiu enquanto abria o próprio armário e jogava a mochila lá dentro. — Mas o tempo vai dar à ele o que merece.

Sam balançou a cabeça desconfortavelmente.

— Agora preciso ir.

— Para onde?  —perguntou ela. E naquele momento a única coisa que queria era a companhia dele.

— Estou suspenso.

— Mas é só a partir de amanhã.

— Eu sei, mas gosto de começar tudo um pouco mais cedo. — Thomas sorriu e então fechou o armário. — Te vejo daqui a três dias.

E então Samantha viu Thomas partir, novamente. E ela estava cansada de vê-lo partir daquela maneira. Só queria ficar ao lado dele por mais algum tempo.    

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