Capítulo Quinze
UMA SEMANA DEPOIS
A morte de Olivia chocou a cidade inteira. A repercussão da morte dela foi bem maior que a de Melanie, tanto que vieram repórteres na pequena cidade. Muitos deles tinham muitas perguntas e, infelizmente, Noah foi o responsável por respondê-las.
Noah se sentia desgastado durante a semana que se passou. Aquele era o trabalho dos seus sonhos, mas se tornou seu pior pesadelo. Ele começou a passar noites acordado, fitando aquelas pastas. Vários rostos e nomes estampados. E somente um suspeito. Noah sabia que devia tomar alguma atitude, porém, ele não tinha provas o suficiente. Sua intuição dizia que era ele com toda convicção. Depois de horas acordado, decidiu tomar alguma daquelas pílulas que a psiquiatra indicou. Elas ajudavam a dormir, foi o que ela havia dito. A última coisa em que pensou antes de apagar era que precisava conversar com Samantha.
Samantha odiou-se por ter ficado escondida dentro de casa durante aquela semana. As aulas não voltariam até as investigações da morte de Olivia acabarem. Sam esperava voltar o fluxo e a atividade normal, mas seria impossível. Olivia era uma parte grande de sua vida, não só sua, como de muitas outras pessoas. Também esperava que os pesadelos parassem. Desde a morte de sua amiga eles vieram, cada vez piores. E ela sabia que seus pais não tinham noção do que fazer com aquela situação.
Toda vez que eles perguntavam como ela estava, à mesma resposta se repetia. Eu estou bem. Ela estava bem, ao menos tentava. As noites em claro não ajudavam. Queria alguém para ficar ao seu lado naquelas noites, porém, a única pessoa que desejava estava ocupada com seus próprios problemas. Noah parecia perturbado, bem, na última vez que o viu não estava com uma das melhores aparências. Ele só não estava pior que ela.
Samantha acordou naquela manhã com um susto e quase caiu da cama. A mãe não estava em seu quarto, como havia acontecendo durante os dias em que os pesadelos vinham com mais frequência. Sam se surpreendeu por ter conseguido acordar sem a mãe balançando-a pelos ombros. Levantou-se e tocou o rosto suado, e o de Noah surgiu em sua mente. Os olhos gélidos e vazios... Como havia visto em seu pesadelo. Samantha se sentiu desconfortável. Já tinha perdido duas amigas, se perdesse Noah ficaria enlouquecida.
Pegou o celular em cima da cômoda e olhou as horas.
6h57min
Dessa vez, ela havia dormido bastante comparando aos outros dias.
Observou algumas mensagens que tinha recebido na noite anterior. Algumas de suas amigas. Ela abriu suas mensagens com Lilly.
As aulas voltam amanhã!
Sam se empertigou. Então, as aulas voltariam hoje. Naquela manhã ensolarada de outubro. Particularmente, o tempo não era um dos melhores naquela cidade. Outubro começara com um frio de endurecer os dedos, mas com o final do mês se aproximando, se tornou quente como o inferno. Ela não gostava nem um pouco dessa bipolaridade do clima, mas não podia fazer nada para mudar a situação.
Samantha saiu da cama ansiosa para contar aquela novidade aos pais. Ela finalmente poderia distrair a mente com algo. Apesar do momento feliz, algo vazio e estranho tocou seu peito. Então, as investigações acabaram e o corpo dela iria ser enterrado, percebeu Sam. Eles iriam se despedir da amiga. Velariam o corpo dela, era o que esperava. Quando Melanie foi enterrada, não teve nenhum velório ou homenagem. Na mesma semana que foi velada, os pais dela saíram da cidade. Foi esquisito. Eles deixaram o corpo da filha para trás e foram para bem longe. Talvez estivessem com medo. Samantha tinha ficado com medo.
Ela desceu as escadas esperando encontrar os pais na cozinha tomando o café da manhã como de costume. Antes de entrar subitamente na cozinha, ouviu uma conversa baixa entre os dois. O que eles cochichavam tão cedo naquele dia? Samantha aguçou os ouvidos, atenta. Escorou-se na parede e prestou bastante atenção.
— É o melhor para ela, você sabe disso, Claire — afirmou o pai, Henry.
— Eu não quero minha filha longe de mim — retruca a mãe, Claire. Longe? Como assim?
— É o melhor para ela — repetiu o homem. — Samantha precisa de alguém que trate o problema dela, e aqui não podemos resolver.
— Não, não! — Claire suspirou tristemente — Minha filha não é maluca, Henry.
- Nossa filha! — corrigiu ele. — Eu sei que não é, mas o hospital psiquiátrico é a melhor decisão no momento. Ela vai poder ser tratada lá.
— Um hospício, é isso que você quer dizer?! — A sra. Miller elevou a voz subitamente.
— Fale baixo... — sussurrou o sr. Miller.
— Eu não quero que ela vá! Se for para cuidar dela, levamos em algum psicólogo, mas não quero interná-la. — Claire colocou um fim na conversa.
Samantha se sentiu consumida por uma tristeza pior. Seu pai queria interná-la... Ele pensava que ela era uma maluca! Sam subiu as escadas silenciosamente de volta para o quarto. Decidiu que se arrumaria para ir à escola e não precisaria de opinião nenhuma dos seus pais se devia ou não ir.
Enfiou-se em uma roupa comum que usava no dia-a-dia. Voltou a descer novamente as escadas depois de pronta, com cabelos presos e dentes escovados. Quando surgiu na porta da cozinha, os pais pararam de conversar para olhá-la, surpresos.
— Querida, o que faz acordada? E por que está arrumada assim? Vai à algum lugar? — questionou Claire, com doçura.
— Vou à escola.
— Sam, não acho que você esteja... —Seu pai pareceu indeciso sobre qual era a melhor palavra adequada para usar no momento. — Preparada para voltar à sociedade.
Boa tentativa, pai, ao evitar usar a palavra normal, pensou Sam. Ela tentou agir naturalmente.
— Eu realmente quero ir — disse Samantha.
— Tudo bem, aguarde um momento que vou pegar as chaves do carro para levá-la — falou sua mãe.
— Eu prefiro ir caminhando.
— Samantha... — começou o pai, mas sua mãe interveio.
— Como quiser, querida, mas deixe-me te dar algo para o lanche.
A sra. Miller preparou algo rapidamente e lhe entregou. Sam colocou dentro da bolsa e se despediu, saindo de casa.
Enquanto caminhava, percebeu como o dia parecia iluminado e tortuoso. Tudo era tão falso e bonito ao mesmo tempo. Sam manteve uma alça da mochila no ombro e a outra solta. Decidiu dar uma verificada no celular e viu que havia recebido recentemente uma mensagem de Noah.
Podemos nos encontrar e conversar?
Samantha estranhou a mensagem, mas mesmo assim respondeu.
Sim. Onde?
A garota atravessou a rua antes de responder.
Pode ser depois da aula?
Recebeu outra mensagem.
Você vai à escola?
Sim, respondeu logo em seguida.
Ok...
Ok? Somente isso?
Okay!
Respondeu e guardou o celular no bolso. Não compreendia a razão da resposta curta e muito menos o motivo dele querer vê-la.
Será que sentia sua falta? Afinal, ela sentia muito a dele.
Samantha olhou à escola do outro lado da rua. Soltou um suspiro. Vamos lá, pensou.
A homenagem para Olivia estava sendo passada no grande painel colocado no ginásio da escola. O sorriso grande nos lábios era o que se via em cada foto que passava pelo painel. Samantha se questionava sobre como ninguém a teria escutado. Olivia estava sendo morta dentro de um banheiro onde qualquer um poderia ver o culpado de sua morte ou ouvir seus gritos. Mas, ela por acaso havia gritado? Ou lutado? De alguma forma havia se defendido? O assassino poderia ser bastante silencioso e ágil para não ser visto por dezenas de jovens em um só lugar.
A garota gostaria da homenagem que estavam fazendo à ela. Olivia sempre gostara de ser o centro das atenções, a mais querida. Talvez a melhor de todas. Era sempre vista como boa e adorável. Tinha um relacionamento longo e um garoto totalmente apaixonado por ela. Será que Nathan sabia que ela o estava traindo com seu melhor amigo? Se soubesse, o que teria feito?
As pessoas choravam. Talvez por sentirem falta dela ou pela música triste que tocava no vídeo. Na opinião de Samantha, essas músicas depressivas que tocavam em vídeos como aquele não ajudavam em nada. As pessoas não conheciam Olivia de verdade, talvez nem mesmo Samantha a conhecesse, de fato. Como nunca conhecera Melanie. Talvez Olivia, como Melanie, houvesse mentido para ela. Não só para ela, mas também para Lilly, Charlotte e Sarah. A única coisa que incomodava Samantha era o suposto caso de Olivia com Josh, e se já ficavam juntos durante o curto namoro dos dois. Pelo que Sam se lembrava, foi Olivia que insistiu no relacionamento dos dois.
A única pessoa que deveria saber tudo sobre o caso de Olivia e Josh era Sarah. Ela tinha os olhos cheios de lágrimas e o rosto avermelhado. Parecia triste, coitada. Quando o vídeo, e toda falação sobre como Olivia era uma garota doce e não merecia ter morrido daquela maneira, acabou, alguns estudantes se dispersaram do ginásio. Samantha se manteve sentada na arquibancada observando o movimento. Lilly tentava confortar Sarah, porém, as duas acompanhavam o choro uma da outra. Charlotte tinha desaparecido alguns minutos depois da homenagem ter terminado. E Elliot estava silencioso. Cada um reagia a sua forma do luto, era o que a psicóloga havia dito. Samantha não estava de luto. Ela sentia um ódio fervente dentro de si. Por cada pessoa que estava naquela festa e não viu o que estava acontecendo.
Sam se levantou e Elliot ergueu o olhar, observando-a. Samantha apenas balançou a cabeça e o amigo entendeu o sinal e se levantou, acompanhando-a. O corredor não encontrava-se tão cheio, as pessoas já haviam entrado nas salas. Todos ali tinham permissão caso preferisseem ficar no ginásio, entrar na sala ou ir embora. Sam parou perto do armário e fitou o melhor amigo.
— Você sabe que fomos os únicos que a vimos brigando com Josh? — perguntou Samantha.
Elliot juntou às sobrancelhas, confuso.
— Sim — afirmou ele. — O que quer dizer com isso?
— Eu acho que o Josh é culpado pela morte dela.
— Samantha, você não pode simplesmente acusar alguém sem provas — disse Elliot, olhando um casal que passava ao lado deles.
— Nós somos testemunhas. Vimos como ele a tratou naquele dia.
— Okay, depois discutimos sobre isso, pode ser? É melhor irmos para a sala.
Sam apenas assentiu e acompanhou o amigo.
A professora falou, mas foi como se Samantha não a ouvisse. Tudo ficou no mudo. Ela observou silenciosamente a forma como Thomas escorava o rosto na palma da própria mão. Ele era incrivelmente lindo e cruel. As mentiras rondavam em torno de seu corpo. A camisa preta era justa e dava bastantes detalhes em suas costas fortes. Ela o odiava. O odiava por ser perfeito e um mentiroso. Por que ele não contou à ela? Enrolou-a durante todo aquele tempo. Melanie e Thomas namorados... Era algo estranho de se imaginar. Pior ainda quando ela se sentia atraída por ele. Apenas se odiava por isso.
Os olhos de Samantha vagaram pela sala até pousar em Josh. A cabeça baixa. A professora Bennet nunca aceitaria um aluno com a cabeça baixa, mas naquele dia parecia estar tudo fora do normal.
Quando o sinal tocou, finalmente Samantha pode ouvir o que estava acontecendo ao seu redor. As carteiras se arrastando e os alunos saindo da sala. Alguns de cabeça baixa, outros evitando falar alto e muitos com o rosto colado na tela do celular.
Com passos agitados e as vozes rápidas, os alunos se moveram rapidamente para dentro das salas depois de alguns minutos. Samantha segurou o cadeado entre os dedos, enfiou alguns livros dentro do armário e pegou outros. Ela observou o corredor ficando vazio e se virou para Elliot.
— Vou ao banheiro, se quiser pode ir para sala — disse ela. Elliot acenou com a cabeça e partiu para sala.
Sam caminhou até o banheiro e empurrou a porta. Ela ficou satisfeita por estar vazio. Por alguns segundos, se observou no espelho do banheiro. O rosto encovado, os lábios secos e o cabelo curto, sem vida. Ela já foi mais bonita, observou. Talvez nos meses anteriores nem imaginaria passar por toda aquela situação. Lavou as mãos sem ao menos usar o banheiro, e passou um pouco de água no rosto, para logo em seguida secá-lo com papel.
Se Samantha soubesse que alguém a esperava do lado de fora, teria ficado mais algum tempo dentro do banheiro. Porém, como tinha que ir para sala, não se demorou. O fato de se encontrar com Thomas novamente naquele corredor uma semana depois de tudo que aconteceu, uma semana depois de ter descoberto que ele namorava uma de suas melhores amigas, não lhe causou um sentimento agradável. Não sabia se era raiva ou até mesmo ciúmes. Ela gostava dele —isso era inegável, — mas nunca lhe contaria.
Thomas estava pacientemente escorado ao lado da porta, por isso Samantha quase deu de cara com ele. Ficaram tão perto, com os rostos a centímetros um do outro. Ela se afastou rapidamente, sobressaltada, e olhou irritada para o rapaz. Thomas pareceu hesitar, mas deu um meio sorriso. Samantha decidiu passar, fingindo não tê-lo visto. Mas, quando deu os primeiros passos para sair dali, ele segurou seu braço.
— Espere. — Sam escutou a voz rouca dele dizendo.
Ela não queria esperar, mas algo lhe incomodava e naquele momento precisava questioná-lo.
— O que quer? — perguntou, encarando-o.
Thomas passou a mão no cabelo de forma inconsciente, como fazia quando estava nervoso. Não que tivesse notado essa atitude dele.
— Sobre aquilo que você me questionou... — começou Thomas.
— Eu já sei — interrompeu Sam, olhando-o seriamente.
— Já sabe?
— Você demorou demais para me dizer, e fui atrás de pessoas que sabiam.
— Quem? — perguntou ele.
— Não importa. Por... Por que demorou tanto para me dizer isso?
Thomas pareceu indeciso ao responder.
— Eu não sabia como você reagiria — respondeu, olhando-a nervosamente. Ele mordeu o lábio inferior.
Samantha o fitou. Ele parecia inseguro, mas não importava. Ela não reagiu da melhor forma o possível, mas só queria que ele tivesse dito a verdade para ela. Porém, Sam não se sentia traída por ele, mas sim por Melanie. A sua amiga de anos havia escondido algo como aquilo dela. Se perguntava o que ela havia sido para Melanie durante todo aquele tempo de amizade. Talvez ninguém, somente uma tola garota.
— Eu não culpo você, culpo Melanie — admitiu Samantha.
— Ela... Melanie não sabia o que dizer à você.
— Não a defenda. Melanie não era inocente, sabia muito bem o que estava fazendo. — Thomas não respondeu rapidamente, deixando Samantha continuar. – Agora não é uma hora apropriada para conversarmos sobre isso, ninguém está passando por uma situação boa no momento.
— Eu sinto muito pela morte de Olivia, ela era sua amiga... Deve ser difícil.
Samantha sentiu uma raiva crescente em seu peito. Seus olhos se voltaram para ele.
— Não sinta. Olivia nunca se importou comigo, muito menos Melanie — disse a garota, a magoa perceptível em suas palavras.
— Samantha, não diga uma coisa dessas...
— Você a amava? — perguntou Sam. As pupilas de Thomas dilataram. Parecia ser um assunto complicado para ele.
— Eu gostava muito dela — respondeu ele.
— Essa não foi à pergunta — insistiu, encarando o belo rosto do rapaz.
Ele ponderou pela questão, deixando Sam ansiosa.
— Não — respondeu Thomas, por fim.
Samantha não sabia se era aquilo que queria ouvir, mas seu coração pareceu gostar de ter ouvido aquela palavra.
— Preciso ir — avisou Samantha, subitamente. Thomas apenas acenou com a cabeça, compreendendo.
Dessa vez, Samantha partiu pelo corredor, deixando pela primeira vez um Thomas Parker perdido em pensamentos.
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