86
Abri os olhos e me deparei com Diego sentado em uma cadeira próxima da minha cama cabisbaixo e apertando firme a minha mão.
Eu estava no hospital e isso não poderia significar boa notícia.
Encarei o teto, abalada.
As lágrimas escorreram pela lateral dos meus olhos.
Eu não queria perguntar, estava com medo de como seria a resposta.
Pelo menos eu tive a oportunidade de ouvir o coração do meu bebê, de carregá-lo em minha barriga, mesmo que por pouco tempo.
Isso é estar grávida, e eu nunca senti essa sensação.
Sorri eufórica, depois chorei baixinho, porque eu queria muito que essa sensação continuasse.
—– Amor? — Diego levantou a cabeça e me encarou triste.
—– Eu perdi o meu bebê, posso sentir — Sussurrei em meio às lágrimas.
As lágrimas saltaram dos olhos de Diego, mas ele limpou rapidamente se negando a acreditar.
—– Não diga isso, vamos esperar o médico retornar com o resultado dos exames — Ele disse com a voz embargada, porém esperançoso
Sorri fraco pra ele, pelo menos para tranquiliza-lo pois sabia logo viria o avalanche para nos derrubar.
Ele estava tão nervoso quanto eu, seus olhos estavam inchados, sinal de quem passou a noite chorando.
Eu não era a única que estava sofrendo.
Depois de alguns minutos o médico retornou, parecia um pouco sério.
Meu coração batia muito forte e a sensação era sufocante.
Diego levantou por impulso da cadeira e parecia agitado e ofegante.
O médico sorriu fraco pra ele e tocou em seu ombro como se estivesse o consolando de alguma forma.
E isso o fez congelar.
Assim que o médico chegou perto de mim, eu olhei pra ele, contendo as lágrimas, esperando o momento certo para desabar, quando ele pegou na minha mão, meu coração parou de bater, e eu prendi a respiração.
Me vi sofrendo uma morte lenta e dolorosa.
—– Ella, os exames mostraram que...
Diego sentou na cadeira em choque e olhou pro médico como se fosse ter um troço a qualquer momento.
—– Que apesar da hemorragia, não aconteceu nada com o seu bebê... foi apenas um susto.
Soltei um suspiro profundo como se tivesse voltado a vida naquele momento.
Diego demorou um pouco pra raciocinar, coitado, não sabia se ria ou chorava ficou completamente perdido em meio a uma emoção tão grande.
—– Mas a senhorita vai permanecer sob observação e vai ter que se submeter ao acompanhamento médico...
Balancei a cabeça positivamente, com um sorriso enorme no rosto, mesmo o médico falando tudo aquilo.
Não importa o que terei que enfrentar nessa gravidez, eu só quero poder ter a oportunidade de ver o meu bebê nascer.
Assim o médico saiu, Diego e eu nos abraçamos e choramos juntos.
Não tinha espaço dentro de mim pra tanta alegria, era impossível de controlar.
Eu não acredito que vou poder ser mãe.
Não acredito que vou ter uma família, isso parece um sonho.
Recebi alta, e encontrei a minha mãe e o Richard no corredor, assim que me aproximei, ambos se levantaram do banco no mesmo instante.
E olharam pra mim, apreensivos esperando a minha resposta.
—– Deu tudo certo mãe — Falei chorando — Eu vou ter o bebê
Ambos explodiram de alegria, minha mãe já tinha esvaziado toda as reservas de lágrimas dela chorando por mim, então apenas caiu de joelhos no chão e começou a agradecer a Deus ali mesmo.
Não conhecia esse lado religioso dela.
Depois de toda essa emoção no hospital, voltamos todos pra casa, e notei que o resto da família estava esperando pela gente na sala, e isso me deixou ainda mais feliz.
Independente de qual fosse o resultado, todos estavam ali pra me apoiar.
Quando contei pra eles, foi uma festa, alguns choraram, outros gritaram de alegria e o Maycon bebeu metade da garrafa de cerveja e caiu em êxtase no sofá.
Eu estava imensamente feliz.
Voltei ao hospital algumas vezes, fiz muito exames, foram meses difíceis.
Mas eu sabia que todo esse sofrimento era por uma boa causa e em breve eu estaria com o meu bebê nos braços.
Só que quando as dores vinham no meio da noite, eu chorava de medo. Não tem como manter a positividade quando suas entranhas estão perto de sair pra fora.
Mas o meu marido estava sempre do meu lado, segurando firme a minha mão.
E isso se seguiu até o dia do parto.
Eu gritava de dor e as lágrimas se misturavam com o suor que escorria pela minha testa, fazia uma força absurda e nada do bebê sair.
Por um momento eu pensei que iria morrer ali naquela mesa.
E quando vi o médico balançando a cabeça negativamente eu quis morrer mesmo.
Eu já tinha esgotado todas as minhas forças, sentia que não tinha mais, e o bebê sequer dava as caras.
Dor e mais dor.
—– Amor, força, estamos quase lá — Diego incentivou, e eu queria mata-lo por me pedir isso.
Ele respirou fundo junto comigo e a dor veio novamente, gritei e apertei com força a sua mão, sentindo a mesma estralar e ele gemer.
Juntei forças de onde não tinha, e empurrei, urrei.
O médico incentivava a empurrar mais. E eu pensava, mais, eu pensei que estivesse empurrando o suficiente.
Até que um momento eu pensei que Caleb adoraria que essa criança não nascesse, se ele tivesse aqui sentiria prazer em me ver sentir dor em vão.
Haveria um sorriso de satisfação em seu rosto ao me ver perdendo o meu bebê pela segunda vez.
Mas eu não vou dar esse gostinho pra ele.
Esse bebê vai nascer nem que eu ponho o útero pra fora junto com ele.
Empurrei o bebê com todas as forças que me restavam e depois de sentir que coloquei todas as minhas tripas pra fora.
E eu escutei um choro.
Deitei exausta na mesa e abri um sorriso de alívio.
Eu nem sentia mais o meu corpo.
—– É um menino — O médico anunciou
Optamos por saber o sexo depois do parto.
E era um menino como eu havia previsto.
Um lindo e saudável menino.
Quando o médico colocou o meu filho perto de mim, eu não consegui descrever o que senti no momento.
E Diego chorava de felicidade do meu lado, e estava aparentemente exausto
E acho que quebrei uns dedos dele.
No fim deu tudo certo, e eu estava com o meu bebê saudável em meus braços, nunca pensei que esse momento aconteceria.
Eu olhava para aquele rostinho e pensava, como alguém tão pequeno pode despertar um força tão grande dentro da gente.
Sinto que depois desse parto não sou mais a mesma.
Agora eu sou mãe, meu Deus, isso não entra na minha cabeça.
Diego já passou por essa experiência antes, mas eu não, eu sinto que minha vida começou fazer sentido agora.
Passei o dedo de leve no rostinho do meu pequeno, depois olhei feliz para o Diego que me encarava intrigado.
Como se não acreditasse que fosse real.
—– Quer segurar?
Ele balançou a cabeça positivamente e se aproximou, entreguei o bebê pra ele que o apanhou em seus braços com todo o cuidado do mundo.
E a expressão que se formou em seu rosto foi de uma imensa dor.
Ele soltou um breve suspiro, e as lágrimas encheram seus olhos.
Eu sei como ele se sente, sei que ele queria estar segurando o filho que perdeu em seus braços, e isso deve doer a beça.
Ele começou chorar e aquilo foi de partir o coração.
Mas acredito que com o tempo vamos superar toda essa dor e conseguir seguir em frente com as lembranças.
Depois que descobrimos que era um menino, fizemos o chá de bebê e convidamos apenas algumas pessoas.
Mesmo assim meu filho foi mimado com muitos presentes.
Diego e eu passamos a noite inteira desembrulhando eles.
No dia seguinte, eu estava dando de mamar para o meu bebê no sofá quando a campainha tocou.
—– Diego?
Escutei umas risadas vindo da cozinha, e barulho de panela caindo no chão.
Diego e Ana estavam fazendo o que eles chamam de bolo.
—– Amor?
Depois de eu ter chamado umas três vezes, ele apareceu na porta.
Ele se de surdo às vezes, e só está com sorte porque eu ainda não estou podendo me esforçar.
—– Não me escutou chamar?
—– Não, você me chamou? — Mordeu os lábios contendo o riso
Fuzilei ele com o olhar, mas não tinha como ficar séria olhando pra ele.
O cabelo e o rosto dele estavam cobertos de farinha, sem contar a roupa.
Abri um sorriso, admirada, me sentindo a mulher mais sortuda por ter alguém como ele na minha vida.
—– A porta, pode ver que é, por favor, não posso sair daqui
—– Claro, querida — Disse com olhar de quem queria fazer outro bebê.
—– Obrigado
Ele pegou um pano de prato e se limpou, depois arremessou ele na filha e correu até a porta rindo.
—– Pai, eu vou te matar — Ela gritou da cozinha e só me restou ficar rindo dos dois.
Um verdadeiro show de maturidade.
—– Com licença, espero não estar atrapalhando nada — Escutei alguém dizer baixo.
Olhei na direção da porta e vi um rosto familiar de uma amiga que faz um tempo que eu não via.
Com sua cara fechada, sua típica jaqueta de couro e seus cabelos loiros e encaracolados.
Lá estava ela.
Clarice.
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