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Liguei pro Maycon várias vezes, mas como ele não atendia minhas ligações, resolvi ir até o seu apartamento para que pudéssemos conversar.
Bati na porta e depois de alguns minutos um cara abriu.
Ele escorou no batente da porta, e me olhou de cima a baixo.
Parecia ser modelo. Era alto, magro, branco e tinha olhos verdes, contornados por longos cílios e sobrancelhas espessas.
Além de ter cabelos encaracolados.
O que é fascinante, já que todos os homens que conheci tinham cabelo liso.
O fato dele estar seminu me deixou um pouco constrangida.
Fiquei feliz por sua beleza me constranger ao invés de me atrair.
Significa que estou fazendo o dever de casa direitinho.
-- Desculpa, o Maycon está?
-- Maycon, tem uma garota na porta - Ele gritou sem tirar os olhos de mim, depois tomou um gole da cerveja que estava em suas mãos.
Sorri um pouco sem graça.
Maycon apareceu e assim que me viu ficou vermelho.
Desci os olhos para procurar a razão da sua vergonha, e notei que estava apenas de cueca.
Puts!
-- Está fazendo o que aqui? - Questionou, surpreso.
-- Precisamos conversar, espero que eu não esteja atrapalhando nada - Olhei para ele e pro cara que não parava de me fitar.
Ele tinha uma expressão apática que ao mesmo tempo que era intrigante, também intimidava.
-- Não, não está não - Maycon respondeu, enquanto recolhia apressadamente algumas roupas que ficaram espalhadas pela casa.
Além de alguns objetos duvidosos.
O apartamento estava uma zona.
Ele jogou uma camiseta pro cara que a aparou e olhou pra ele confuso.
-- Se veste - Ordenou
-- Que? tá calor - O cara recusou.
-- Se veste logo, caralho, não vê que temos visita - Maycon disse com um tom autoritário que eu não conhecia.
O cara bufou e depois se vestiu, fuzilando Maycon com o olhar.
Maycon também fez o mesmo.
Enquanto eu fiquei ali perdida me sentindo mal por ter atrapalhado sabe se lá o que estavam fazendo.
-- Vai buscar uma cerveja pra Ella - Pediu ao rapaz.
-- Não, não precisa - Recusei, mas fui ignorada.
-- Claro, mestre - O cara provocou.
Maycon fechou os olhos e suspirou impaciente.
Assim que o cara deixou a sala, a tensão se instalou no ambiente.
Eu não sabia o que dizer e Maycon muito menos.
Ficamos estagnados.
Eu não esperava vê-lo com um cara tão cedo. Eu deixei claro que apoiava o fato dele ser bissexual e tal, mas essa situação não deixa de ser estranha.
Afinal, eu tive uma experiência parecida no meu relacionamento anterior que foi um pouco desagradável.
Mas eu vou apoiar Maycon sempre, porque me importo com ele e quero que ele seja feliz da maneira que quiser ser.
O rapaz voltou com uma garrafa de cerveja em mãos e assim que se aproximou, questionou Maycon:
-- Você não disse que seria sexo a três...
Outra vez senti os seus olhos sobre mim e meu corpo se arrepiou.
Maycon lançou um olhar mortal para o cara que encolheu os ombros, despreocupado.
Demonstrando que isso era algo natural na vida dele.
Senti o calor se espalhar pelo meu rosto, com certeza devo ter corado.
E de pensar que eu vivia tendo fantasias com Caleb e Vicent na mesma cama.
Mas a diferença é que eu sentia desejo pelos dois.
-- Não, não - Ri de nervoso - Eu só vim conversar com o Maycon, mas já que ele está ocupado eu posso voltar outra hora.
Dei de ombros
-- Não, espere - Maycon agarrou o meu braço subitamente, depois desviou o olhar para o belo rapaz - Brad, será que você pode nos deixar sozinhos?
-- Tá, eu vou comprar mais cerveja, essa era a última - Resmungou, deixando a garrafa sobre a mesa de centro.
Dito isso, ele saiu batendo a porta.
Olhei pra Maycon e tentei segurar a risada, mas era impossível.
-- Do que você tá rindo sua retardada? Perguntou rindo.
-- Sexo a três?
-- Não liga pro Brad, ele tem um parafuso a menos - Ele disse, timidamente.
-- Ok, depois a gente conversa sobre o que rolou aqui.
-- Sente-se aí - Ele apontou para o sofá.
Sentei em um sofá e ele no outro.
-- Maycon, eu...
-- Ella, antes de mais nada, eu quero te pedir desculpas pela cena do outro dia, aquele foi um momento especial pra você, e eu acabei estragando tudo.
-- Não, tá tudo bem, você não estragou nada.
-- Eu me sinto um idiota
-- Eu também, eu deveria ter te contado, assim você não teria ficado tão confuso...
-- Olha, se você não quiser contar, tudo bem eu entendo.
-- Não, eu vim justamente pra isso, não quero que haja mais segredos entre a gente, você é o meu melhor amigo.
Ele sorriu e seus olhos se encheram de lágrimas.
-- Eu não te contei porque o meu passado não é algo que eu me orgulho, sabe, fiz coisas terríveis, por minha causa uma pessoa muito querida morreu...eu voltei pra cá com o intuito de começar uma vida nova, deixar o passado pra trás, mas tem coisas que é impossível de esquecer...ficaram feridas muito profundas.
-- Quero que me conte o resto da história pra depois eu não tirar conclusões precipitadas, mas primeiro...
Ele pegou a minha cerveja e tomou um gole, depois me ofereceu.
-- Não, eu não posso beber.
-- Ok - Ele me olhou confuso e eu sorri radiante.
Ele tomou o meu gole por mim.
-- Não acredito que me viu de cueca.
-- Nem eu, foi constrangedor
Ele fez uma careta, depois sorriu.
-- Mas você já me viu pelada várias vezes, então estamos kits.
--Confesso que eu não me senti nem um pouco atraído por você, pra mim você sempre foi uma magrela sem graça.
-- Você é afeminado demais, gosto de homens de voz grossa, além de outras coisas, se é que me entende.
-- Entendo perfeitamente, e nesse caso não somos tão diferentes.
A timidez logo tomou conta do meu corpo. Nunca tínhamos falado sobre esse assunto.
-- Quando eu olho pra você não sinto nada, pelo menos nada ligado a sexo - Continuei
-- Não sei se fico triste ou aliviado.
-- Aliviado, nem todos os meus relacionamentos acabaram bem - Falei com um ar sombrio.
Ele arregalou os olhos e tomou metade da cerveja.
-- Enfim, vamos ao que interessa - Ele colocou a garrafa sobre a mesa e se acomodou no sofá.
-- Está bem - Suspirei fundo - Resumindo, eu fui casada durante dez anos...
Eu contava, e um filme passava na minha cabeça.
-- Não era um relacionamento muito saudável, sabe. Ele era cruel, abusava de mim de todas as formas possíveis, e fazia eu acreditar que eu era culpada de tudo.
-- Nossa, eu sinto muito.
-- Ele acabou comigo - Desabafei com os lábios trêmulos, lembrando de momentos dolorosos que eu havia me perdido de mim mesma.
Maycon franziu as sobrancelhas, comovido.
-- Mas antes de conhecê-lo, eu já tinha o psicológico fudido, o meu padrasto abusou de mim quando eu era muito pequena, mas as memórias ficaram reprimidas por um tempo, então eu cresci com uma ideia distorcida sobre amor..e o pior disso tudo, é que a minha mãe sabia...
Maycon tampou a boca, chocado.
-- O abuso me fez adquirir uma compulsão por sexo, então eu comecei a ficar com outros caras, mas essa aventura não durou muito, logo Caleb descobriu e matou todos. E o Ed - Fiz uma pausa pra lágrimas - Eu simplesmente deixei ele morrer, Caleb matou ele na minha frente e o enterrou embaixo da nossa casa, pra me fazer lembrar que todas as minhas ações teriam consequências. E a mãe nunca teve o corpo do filho de volta...
Eu ainda sentia uma dor profunda por não ter ajudado o Ed fugir, eu simplesmente paralisei, não tive reação.
Desabei em lágrimas, e Maycon agarrou impulsivamente as minhas mãos e encarou meus olhos.
-- Não Ella, ele sabia muito bem onde estava se metendo, eu não acho que tem que se culpar pelas escolhas dos outros, ele que se colocou nessa situação...
-- Mas eu podia ter evitado.
-- Ele também poderia ter escolhido não ser o seu amante, ele sabia que você era casada?
Balancei a cabeça positivamente.
-- Então, essas coisas simplesmente acontecem, não tem como a gente prever...
Sorri entre as lágrimas.
-- Obrigado por não atirar pedras em mim.
-- Pode contar comigo, estou aqui pra te compreender e não te julgar.
-- Obrigado - Suspirei, e ele sorriu fraco.
-- Por fim, tem o Vicent, o centro de todo esse caos.
-- Ele também era o seu amante?
-- Vicent era tudo pra mim - Sorri eufórica, mas depois esse sorriso se desmanchou ao lembrar das coisas horríveis que ele fez - Ele ajudou a tornar a minha vida mais leve, me ofereceu um amor destrutivo, porém viciante, mas no fim eu descobri que ele era tão louco quanto Caleb, e ainda descobri que os dois tinha um caso. Na verdade minha casa se transformou em verdadeiro manicômio.
-- Sério isso?
-- Sim, eu não sabia quem era mais louco - Ri de nervoso
-- Poxa, então Caleb é o cara que tentou te matar outro dia no restaurante? Agora eu entendi.
-- Não, aquele é o Mateo, irmão de Caleb, ele era obcecado por mim - Fechei a expressão, e Maycon coçou a cabeça, confuso.
-- Então a psicopatia é de família?
-- Pior que não, o engraçado que eles nem eram irmão de sangue e eram tão parecidos, enquanto o irmão gêmeo de Caleb é totalmente diferente. Enfim, os dois tiveram o fim que mereceram.
-- Credo Ella, então seu ex marido psicopata tem um irmão gêmeo?
-- Sim - Respondi com um sorriso genuíno.
-- E você não tem medo que esse irmão dele possa te machucar, sei lá, ele pode está fingindo, pode ser mais perverso, e se ele querer se vingar?
-- Não, ele me faz muito feliz e me deu o maior presente da minha vida - Falei realizada, alisando a barriga.
Maycon me olhou boquiaberto e em seguida se levantou e começou a andar pela sala.
Depois se virou pra mim.
-- Espera aí, deixa ver se eu entendi, o irmão do seu ex marido psicopata é o seu namorado, e vocês vão ter um filho?
-- Sim - Sorri em meio às lágrimas
-- Ella, isso é maravilhoso, e ao mesmo tempo complexo, minha cabeça deu um nó.
-- Eu disse que era complicado, e olha que eu nem contei todos os detalhes.
-- Nossa - Ele juntou as mãos e levou até os lábios, perplexo - Já pensou em escrever um romance ou um filme, sei lá.
-- Para, eu quero esquecer essa fase da minha vida, e não depender dela pra viver - Me levantei do sofá, pois a minha bunda estava doendo de tanto ficar sentada.
Ele veio até mim e me abraçou forte.
-- Parabéns pelo bebê, estou muito feliz por você, te desejo toda a felicidade do mundo, e que o seu casamento seja perfeito.
-- Obrigado, você está mais do que convidado e pode chamar o Brad também.
-- Não perderia o seu casamento por nada nesse mundo.
Sorri emocionada e o abracei novamente.
-- O Brad demorou com a cerveja.
-- Sim, vou ligar pra ele.
-- Faz isso. Eu vou embora, preciso dar essa notícia pro Diego, aliás deve ter umas trinta ligações dele no celular.
-- Ele ainda não sabe? - Disse com a boca aberta.
-- Digamos que vai ser uma surpresa.
-- Uau, ele vai amar, o primeiro filho ainda...
Eu pensei em contar pro Maycon sobre o aborto que eu sofri, e de como essa gravidez significa muito pra mim e pro Diego que também passou por uma perda terrível.
Mas uma coisa de cada vez.
Um dia ele vai saber de tudo.
Agora o que eu mais quero é chegar em casa e abraçar o meu futuro marido e contar a grande novidade pra ele.
Mas não estou com um pressentimento muito bom.
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