81
Fiquei contente por ter finalmente resolvido as coisas com a minha mãe.
Bem melhor do que ficar remoendo isso pelo resto da vida, não temos como voltar atrás e consertar tudo, então só nos resta viver.
Perdoar as pessoas e seguir com o coração livre de ressentimentos.
Parar de tentar achar o culpado pra punir, com a ilusão de que isso vai fazer a gente se sentir melhor.
E não vai.
Só nos corrói ainda mais por dentro.
Eu te perdôo Caleb, por ter me machucado de tantas maneiras, destruído minha auto estima, você descontou em mim toda a sua ira, não sabia lidar consigo mesmo, talvez a morte tenha te servido como descanso, você não disse, mas acredito que estava farto de sofrer e fazer os outros sofrerem, eu captei um pouco disso, durante o tempo que estive com você, você me mostrou um Caleb que eu não conhecia, vulnerável, deprimido, e você pode até ter tentado me matar no final, mas eu acredito que você se esforçou pra me amar a sua maneira, você tentou, lutou contra esse sentimento reprimido mas ele se tornou mais forte do que você e você sucumbiu.
E eu prefiro acreditar que você morreu pra me salvar, já que não conseguiu salvar a si mesmo, você me deixou ir, depois de me prender tanto, você me libertou, me fez enxergar que eu precisava de ajuda.
Eu estava tentando te concertar, tirando as peças de mim, por isso nunca encaixava.
Está na hora de te deixar ir também.
Levantei da cama e andei até a porta, mas antes de sair, olhei pra trás com os olhos encharcados e encarei o nada, imaginando que ele estava ali de alguma forma.
Adeus!
Espiei no quarto de Zyan e vi que ele dormia como um anjo.
Adentrei o cômodo, sentei na cama e delicadamente afastei uma mecha de cabelo do seu rosto e depositei um beijo em sua testa.
Ele não faz ideia do amor que sinto por ele.
Olhei para sua mãozinha, seus dedos pequenos e delicados, imaginando como alguém consegue fazer mal a um ser tão indefeso, tão inocente, jamais vou entender isso.
Jamais vou entender como um homem adulto se aproximou de um menino de oito anos e o machucou a ponto de fazê-lo se perder de si mesmo. Ou outro que tentou mutilar um garoto e fazê-lo duvidar da própria sexualidade. E ainda mais um homem que viu em uma mulher grávida uma oportunidade de satisfazer os seus desejos mais perversos.
Sinceramente a morte pra eles ainda é pouco.
Uma lágrima caiu, e eu a aparei rapidamente.
Enquanto eu estiver viva, ninguém vai tocar em um fio de cabelo do meu irmão, jamais vou permitir que se aproxime dele, ou olhe pra ele com maldade.
Quando eu passava pelo corredor, acabei pegando uma parte da conversa da minha mãe com o Richard, e fiquei comovida ao ver os dois se abraçando no final, meus olhos transbordaram de alegria.
Mas resolvi não interromper esse momento, e passei direto, indo para o meu quarto, pois tinha uma pessoinha lá, precisando de mim.
Ou pelos menos eu acho que ele ainda está lá, me esperando.
E para minha felicidade, encontrei ele sentado na cama.
Virado de costas, com as mãos apoiadas em seu joelho, e cabisbaixo.
Empurrei a porta devagar para não assusta-lo, e entrei.
Ele apenas levantou a cabeça, mas não olhou pra trás.
Caminhei lentamente até ele e me sentei do seu lado.
Ele não disse nada, estava com um olhar triste e distante, e era possível ver as manchas das lágrimas em seu rosto.
Apoiei a mão em seu ombro e massageei de leve, afim de consola-lo.
No fundo eu entendo a sua dor.
Eu tive a oportunidade de ouvir a minha mãe e perdoa-la, ele não.
E isso é muito triste.
Ele deitou no meu colo e eu aproveitei para passar a mão em seus cabelos.
—– Desculpa, por ter escondido isso de você, só estava esperando a melhor hora pra contar — Quebrei o silêncio.
—– Eu entendo
—– Você vai ficar bem?
—– Vou sim, é que foi algo inesperado, eu achei que iria me encontrar com ela algum dia, pra ouvir a versão dela, passei a vida inteira inventando uma resposta pra não ter que pensar que ela me deixou lá pra morrer, ele deve ter tido um outro motivo mais forte.
Seus olhos transbordaram e eu me comovi com a sua dor.
—– Amor, ela te deixou lá pra morrer, é doloroso, mas é melhor do que ficar se enganando, como eu me enganei com o meu pai...
—– Eu sei, mas ainda sim queria ouvir ela dizer, mas se o destino não quis assim, o que mais eu posso fazer.
—– Pode tentar viver com o que tem.
Penteei seus cabelos com as unhas e percebi que havia uma pinta próxima do seu couro cabeludo.
Pode parecer bobagem, mas isso me deixou bastante aliviada, pois Caleb não tem, isso prova que não são a mesma pessoa, me sinto tão culpada por ter desconfiado dele.
—– Você tem uma pinta em um lugar tão incomum — Comentei, passando o dedo por cima da pinta.
—– Sim, ela só aparece quando eu corto o cabelo, é o meu charme, olha só.
Ele fungou, em seguida afastou o cabelo pra trás deixando ela mais visível.
—– Você é tão bobo — Soltei, e ele sorriu entre lágrimas.
—– Fico assim quando eu estou com você — Ele olhou pra mim de uma forma tão intensa que até me arrepiei.
—– Também fico boba quando eu estou com você, eu me sinto muito à vontade.
Ele saiu do meu colo e voltou os olhos pra mim.
Nossos olhos se encontraram.
O sorriso deixou o seu rosto, e ele assumiu uma expressão séria, como se fosse dizer uma coisa importante.
Encarei os seus olhos profundamente e senti meu coração bater mais forte.
—– Eu te amo, Ella Watson.
—– Eu...também te amo.
Ele desceu os olhos pra minha boca e umedeceu os lábios.
—– Eu te amo tanto que dói.
Ele chegou mais perto, e nossa respiração se misturou.
Sua mão foi parar na minha nuca e ele alisou meu rosto com o polegar.
Não consegui desviar os olhos dos seus, era como se eu estivesse hipnotizada.
Senti uma contração na barriga, assim que meus seios tocaram seu peitoral rígido.
Depois ele olhou pra mim, e seus olhos escureceram de desejo.
Vai acontecer o que eu estou pensando? não sei se estou preparada.
Ele segurou meu rosto com as duas mãos e encarou os meus lábios.
Sua língua adentrou a minha boca com intensidade, dando início a um beijo lento e demorado.
Apesar de já ter ficado com outros homens, eu estava nervosa, por ser a primeira vez com alguém que amo.
Mas tentei ficar o mais relaxada possível e corresponder a suas carícias da melhor forma.
E seu toque fazia eu me contorcer toda, e gemer a todo instante.
Fechei os olhos e me deliciei com sua língua passeando pelo me corpo, liberando intensas ondas de calor.
E até aí estava muito bom.
Tínhamos a sintonia perfeita, e nossos corpos nus estavam quase se encaixando.
Ele era cauteloso, preocupado mais em me satisfazer do que a si mesmo.
Mas quando ele me penetrou, senti o seu membro entrando como faca.
Ele tocou em um ponto sensível do meu corpo, que me causou dor e me fez chorar litros.
Porque eu voltei às raízes do trauma.
E eu reagi da pior forma possível, e eu até me segurei para não estragar o clima, eu tentei, mas eu não me sentia confortável.
Então eu o empurrei amargamente.
—– Ei, o que houve? — Perguntou tocando no meu rosto.
Imediatamente eu me afastei, como se não reconhecesse o seu toque, eu sentia nojo de suas mãos pegajosas, sujas.
Eu vi o meu pai nele.
—– Sai de cima de mim, sai daqui — Gritei atordoada, enquanto via aquele sorriso se estender assustadoramente.
Tudo ficou em silêncio de repente, e eu só ouvia as batidas do meu coração descontrolado.
Ele ficou um pouco assustado com a minha atitude. Ele estava com os olhos arregalados, e ofegante.
—– Eu machuquei você? — Ele parecia mais preocupado com o meu estado, do que com todo resto.
Puta merda, eu ferrei com tudo.
Eu imaginei que isso aconteceria depois que eu parasse de buscar o ato sexual como uma fuga e começasse a me relacionar de verdade com as pessoas.
E mesmo eu o empurrando, e batendo nele com força, ele me abraçou e tentou me manter o mais perto dele possível.
Pude ver o quanto o seu coração estava acelerado e seu corpo agitado. Ele não estava entendendo nada.
E na verdade, nem eu, pensei que eu tinha superado.
Ele se agarrou a mim como um garotinho assustado, e escutou calmamente os meus gemidos de dor e agonia.
Eu o amo muito pra permitir que o trauma crie um abismo entre a gente.
Eu não quero perde-lo.
Eu tenho que lutar pra conseguir separar o trauma do amor que sinto por ele e sei que não será nada fácil.
Mas não vou desistir.
Mas agora, nesse momento, eu preciso de espaço.
A vergonha me fez levantar da cama e correr para o banheiro. Diego veio atrás de mim, mas eu bati a porta na cara dele dolorosamente, em seguida me tranquei.
E me entreguei a um choro profundo.
Vomitei, depois sentei e abracei os joelhos e fiquei lá até que a sensação ruim passasse.
—– Ella, abre por favor — Ele disse com a voz abafada do outro lado.
Fiquei em silêncio. O meu corpo tremia e eu tinha a sensação de estar sendo perseguida.
Outra vez as paredes estavam se aproximando. O banheiro de repente virou um cubículo, e minha respiração encurtou.
Não de novo não.
Fechei os olhos e respirei fundo.
—– Eu não estou bravo, meu amor, eu juro, você passou por coisas terríveis...e eu entendo — Ele insistiu.
Permaneci em silêncio, inspirando e expirando para recuperar o controle da minha respiração.
—– Bom, se você resolver sair, saiba que eu estarei aqui te esperando, eu não vou a lugar nenhum.
Você sofre tanto que quando encontra uma pessoa que te ama, pensa que é até mentira.
Como ele pode gostar de mim, assim, toda ferrada?
Por que ele não vai embora?
Eu também não quero que ele vá.
Não é fácil encontrar alguém como ele, outro já teria desistido.
Suspirei fundo e me levantei daquele chão gelado.
E eu vou lutar por ele, estou cansada de perder pessoas.
Caminhei lentamente até a porta.
Apesar de estar nua, eu me posicionei de frente pra ele, e o encarei.
Embora a vontade de me cobrir fosse maior, eu queria que ele visse que eu sou muito mais do que um corpo.
Sou uma mulher traumatizada que deseja ser compreendida, mais do que amada.
Ele também estava nu, com o rosto livre de qualquer constrangimento. Desci os olhos pelo seu corpo e vi as marcas de uma pessoa que foi vítima de maus tratos e negligência.
Tão traumatizado quanto eu.
E as marcas mais visíveis eram dos arranhões em seu peito. Que eu fiz numa tentativa desesperada de afasta-lo.
Enfim, quero deixar claro que se ele quiser ficar comigo vai ter que entender que terá momentos em que eu vou querer descontar tudo nele, momentos em que o amor dele não será o suficiente.
Um dia eu vou estar sorrindo de manhã, e chorando ao entardecer.
E nem sempre ele irá entender, mas é importante que esteja do meu lado quando isso acontecer.
Ele me observou por um tempo, depois pegou a sua camiseta que estava no chão e veio na minha direção.
E mal encostou em mim, em sinal de respeito.
Ele fez um sinal com a cabeça, e eu imediatamente levantei os braços e o tecido de algodão deslizou pelo meu corpo, o cobrindo.
Depois ele se vestiu, ficando apenas de calça.
E me abraçou, deitei a cabeça em seu peito e fiquei escutando seu coração bater, o seu corpo rígido é como uma barreira que me mantém segura.
Não há nenhum outro lugar que eu queira está se não em seus braços, e cometi um grande erro, quando o afastei de mim.
Ficamos assim por um bom tempo, até que eu me sentisse relaxada o suficiente pra voltar pra cama.
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