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Mais tarde, eu fui para o restaurante onde também fui recebida com muito entusiasmo pelos meus colegas de trabalho, principalmente o Maycon.
—– Eu estou feliz que tenha voltado, foi difícil segurar as pontas por aqui sem você — Ele disse depois de me abraçar.
—– Obrigado, Maicon, por sempre ser carinhoso comigo.
Caminhei até a cozinha onde os outros já estavam trabalhando duro para fazer o prato especial.
Maycon veio atrás de mim me deixando a par de tudo que havia acontecido durante os dias que estive fora, e por pouco o restaurante não faliu na supervisão dele.
—– Como chefe, você é um excelente garçom — Falei, e ele riu.
—– Eu não consigo ser como você — Ele falou um pouco chateado — Você consegue mandar em todo mundo sem parecer grossa, e eu por pouco não fui esfaqueado pelo açougueiro carrancudo ali.
Olhei pra trás e vi o Jimmy manuseando com precisão uma faca bem afiada.
Senti uma imensa ternura por ele, acompanhada de uma saudade sem igual.
Voltei os olhos pra Maycon e sorri carinhosamente, eu estava com saudade do seu senso de humor.
Todos ali eram como se fossem da minha família.
—– Pensei que você já tinha feito isso antes — Disse, ajeitando um fio solto do seu cabelo.
—– Não — Ele arregalou os olhos, e eu dei risada.
O Maycon é o nosso mascote, muito querido por todos, apesar de ser novo e um pouco inexperiente, mas em compensação ele é muito prestativo e centrado, não é à toa que o dono do restaurante escolheu ele para ficar no meu lugar.
E também porque ele está sempre comigo, aprendendo uma coisa ou outra.
Eu ensinei um pouco que sei para ele, sobre pratos e também como liderar um grupo de pessoas raivosas e sob pressão, mas pelo visto a autoridade subiu um pouco pra cabeça dele.
—– Um dia, vou comprar esse restaurante e vou colocar você na função de gerente — Falei enquanto colocava a touca.
—– Eu não tenho a menor dúvida disso - Ele disse e logo após isso saiu para que eu pudesse me trocar.
Por um momento eu viajei ali, imaginando ser dona de um lugar só meu.
—– Chefe?
Uma voz me trouxe de volta pra realidade.
—– O que foi Toddy?
—– Prove isso — Ele estendeu a concha na minha direção — Provei, e depois olhei pra ele.
—– Um pouquinho mais de sal, e isso vai ficar perfeito.
Ele sorriu um pouco envergonhado e voltou para a panela.
Nunca imaginei que eu iria liderar um grupo onde a maioria são homens, sem nenhum tipo de intenção a mais, mas esses homens aqui são diferentes dos que conheci, eles me respeitam apesar de eu estar em uma posição superior a deles.
E eu estou muito feliz por ter voltado ao trabalho, voltado para as minhas crianças, e eu não estou falando só das pequenas, esses adultos frustrados também precisam de carinho, respeito e atenção, e acho que é por isso que me respeitam tanto, porque eu não os trato como inúteis, sei a função que cada um deles tem aqui, e eu faço o possível para que todos sejam bem tratados.
Porque eu conheço o desprezo, a falta de carinho e a ingratidão, e são sentimentos que eu não desejo a ninguém.
Maycon havia voltado e estava com um sorriso enorme no rosto.
—– Desembucha Maycon – Falei enquanto temperava a carne.
—– Tem um cara que disse que adoraria conhecer a chefe que preparou um dos pratos mais saborosos que ele já comeu na vida
Sorri estupidamente já imaginando quem poderia ser.
Até porque ele disse que um dia iria conhecer o restaurante onde eu trabalho.
—– Nossa, mas eu não estou apresentável para ir até lá — Falei lavando as mãos e depois retirando a touca.
Se for quem eu estou pensando, acredito que a aparência é o que menos importa.
—– Você está maravilhosa, eu se fosse você, não perderia essa chance.
—– Maycon, como ele é? — Cochichei, animada.
—– Eu não sou de elogiar homens, mas esse sim é bem bonito sem contar que tem os olhos mais azuis que eu já vi - Debochou, modificando o tom da voz.
Meu sorriso se abriu ainda mais.
É ele, eu tenho certeza.
Lancei um olhar para o Tony que veio na minha direção e assumiu a função na qual eu estava.
A gente muitas vezes se comunica assim, apenas pelo olhar.
—– Vou começar a questionar sua sexualidade Maycon — Sorri maliciosa.
Ele sorriu, mas dessa vez um pouco retraído, e depois me seguiu até o banheiro.
—– Eu vou tirar essa roupa, peça para ele aguardar um momento que já estou indo.
—– Está bem, mas deve ser alguém especial, porque você está até brilhando, quando ia me contar que arrumou um namorado? — Maicon debochou espiando na porta.
—– Vaza daqui, seu tarado — Ri empurrando a porta com o pé
Quando eu digo que vou começar a questionar a sexualidade de Maicon, eu não falo brincando, quando entrei aqui, no começo todos me olhavam como um pedaço de carne suculento, e ele foi a única pessoa que nunca deu em cima de mim, e olha que essa não é a primeira vez que tiro a roupa na frente dele.
Pode ser que ele não se sinta atraído por mim, talvez por conta da grande diferença de idade, mas enfim, eu acho isso incrível, nunca convivi com uma pessoa onde não houvesse nenhuma atração sexual.
Terminei de tirar a roupa com uma animação fora do comum.
Espero mesmo que seja o Diego, confesso que estou animada pra revê-lo, faz tanto tempo, eu tenho tanta coisa pra falar pra ele que não cabe dentro de mim.
Aquele encontro foi perfeito e eu queria ter outros e mais outros, eu quero ter ele sempre por perto.
Saí do banheiro e me direcionei até a porta grande que dá acesso ao salão onde ficam as mesas, mas não antes de passar pela cozinha e ser bombardeadas de elogios e piadinhas.
—– Mesa quatro, bonitona — Maycon fez questão de falar assim que passei.
Olhei pra trás, e vi que ele estava escorado no balcão me olhando com puro deboche, só faltou a pipoca pra ele sentar e assistir.
Fiz uma careta pra ele, depois segui caminhando pelo salão, procurando ansiosamente pela mesa correspondente ao número, eu estava tão feliz, mas assim que avistei a pessoa sentada, o sorriso desapareceu completamente do meu rosto e acredito que o meu brilho também.
Meu corpo gelou, meu coração parou, e quando senti que minhas pernas iriam me deixar na mão, eu parei a pouco centímetros da mesa.
O ser ali tinha uma arrogância somada à elegância, e o seu sorriso é tão, mais tão irritante, que chega doer o estômago.
As pessoas que até então estavam distraídas, pararam pra me olhar, confusas e cochichos logo se estenderam por todo o salão.
Meu deus, não consigo respirar.
Depois de ficar parada ali feito idiota, eu limpei a garganta e continuei caminhando rumo a mesa.
Santo Deus! Como minhas pernas tremem, e a vontade de chorar de raiva é tamanha, mas acredito que vou conseguir me conter.
Encarei a pessoa com o maior desprezo do mundo, embora eu tentasse disfarçar com um falso sorriso para não assustar os outros fregueses.
—– O senhor mandou me chamar? — Perguntei entre os dentes.
Ele levantou os olhos e me encarou profundamente.
—– Sim, mon chéri.
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